Pensamentos prático e conceitual. Behaviorimo e o leito de procusto

Procusto, segundo a mitologia grega, era um bandido que vivia na Ática, e que oferecia seu leito aos viajantes. Mas seu leito tinha um tamanho(o dele) e ele não aceitava o fato de que nenhum viajante tinha o mesmo tamanho que ele. Os hóspedes de Procusto sobreviviam, pois ele amputava os que eram maiores e esticava sobre o leito os que eram menores. Em termos filosóficos, podemos representar procusto como sendo o símbolo da intolerância humana, e do hábito que se tem de reduzir um indivíduo ao que somos ou a algo que idealizamos para as pessoas.

Para desenvolver o raciocínio é necessário definir o que entendo por pensamento prático e pensamento conceitual, para poder depois fazer uma análise da relação entre Procusto, o behaviorismo, a filosofia e a psicologia analítica. Sem querer fazer propaganda, cito um trecho do meu livro que exemplifica o que estou prestes a demonstrar:

"- sempre o considerei o homem que tem a sabedoria oposta a minha, que as nossas sabedorias se completavam. Eu sem ele não percebia, ele sem mim não pensava. Nós guerreávamos juntos, atrás do assassino de meu pai. Eu estudava a posição dos outros exércitos, e decidia para onde mos moveríamos e quando seria a batalha. Criava toda a estratégia e ele seguia, mas na hora da batalha, percebendo como tudo se sucedia, ele tomava decisões rápidas. Assim, o meu planejamento prévio com a capacidade dele de modificar tudo na hora da batalha eram cruciais. Como éramos amigos íntimos, alguns nos chamavam de senhores da morte. "


O pensamento prático é o que Jung chama de pensamento sensorial, ou, pelo MBTI, um tipo ST.

Nesse tipo de pensamento,
a avaliação através dos sentidos é de caráter essencial para entendermos os verdadeiros fatos, e por causa da incerteza das deduções e conclusões exclusivamente conceituais, somente o observável deve ser levado em consideração.
Em geral, esse tipo psicológico não assimila perfeitamente a filosofia, a não ser que se trate de um pensador como Maquiavel. Os pensadores sensoriais tendem a ter uma visão mais objetiva dos fatos, e por isso mesmo são bons na aplicação tecnica e com ciencias exatas. No entanto, dependendo da intensidade com que eles reprimem a função da abstração(intuição) eles podem emitir conclusões totalmente infundadas a respeito das coisas, justamente porque não refletiram com calma sobre os fatos, mas somente os avaliaram. além disso têm a tendencia a não dar valor a planejamentos feitos a muito longo prazo, justamente porque esses podem não ser exatos, e eles têm a necessidade de lidar com coisas meticulosamente exatas.

para eles, o pensamento dos NTs não passa de especulação arbitrária, o que em muitos casos,
não deixa de ser verdade.

Um bom exemplo de psicologia ST é a psicologia Behaviorista ou comportamentalista.
Em uma breve definição, inicialmente o behaviorismo se baseava em estímulo-resposta. Dizia, em suma, que todo o comportamento do individuo era resultado de um estimulo sensorial. Os behavioristas nunca negaram que os processos mentais existem, mas acabaram por usar a navalha de occam na mente humana ao afirmarem que o principal objeto de estudo da psicologia é o comportamento. Como presumível no comportamento ST, os comportamentalistas tentavam comparar humanos a animais, ou outras coisas extremamente limitadoras, tais como o experimento do pequeno albert.

Ao criar um pequeno trauma num bebe, eles pretenderam provar com isso que todo o comportamento humano era condicionado de forma mecânica e que poderia ser objetivamente entendido e controlado.

O que eles fizeram, em suma, foi deixar a plasticidade do comportamento humano de lado para tentar submeter a mente humana ao método científico. a psicologia cognitiva veio corrigindo os mais graves erros behavioristas e colocando uma base mais abstrata na psicolgoia científica.
ainda assim a psicologia congnitiva é uma psicologia ST.

Em contrapartida a esse tipo de pensamento há o tipo Pensamento intuitivo, ou o NT no MBTI.
nesse tipo de pensamento, a abstração tem maior valor do que a sensação. Enquanto o ST reúne muita informação e reduz, o NT reúne pouca informação e amplia. As reflexões conceituais, avaliações subejtivas, filosificas e planejamentos a longo prazo são o forte dos NT. Em geral, os NTs não estão tão preocupados com a aplicação prática de seus conceitos. "O mundo como vontade e representação" , livro de Schopenhauer, que considero, em avaliação pessoal e detalhada, um NT, mostra uma realidade diferente da de O príncipe, pois não trata de coisas diretamente objetivas. Ele lida com o profundo, o invisível.
Trata mais especificamente de características do ser humanos que não podem ser submetidas diretamente aos sentidos.
Os Nts têm a tendencia de ampliar e idealizar, o que os faz distorcer a realidade perceptível. Se são do tipo introvertido, projetam suas idéias na realidade objetiva, colocando os fatos no leito de Procusto, e se são Extrovertidos colocam as idéias como modeladoras de si mesmo, colocando a si mesmos no leito.

os NTs tendem a considerar o pensamento dos ST como sendo superficiais, o que também, em alguns casos, não deixa de ser verdade.

A psicologia NT, em seu início, não passava de especulação filosofica. assim você pdoeria definir sua natureza a partir da Filosofia de Nietzsche ou de Schopenhauer. basicamente, se você se identificasse com Schopenhauer isso, automaticamente, queria dizer que a psicologia dos outros se limitava às definições dele, e o mesmo acontecia com Nietzsche. assim, por não ter o carater objetivo dos STs, a psicologia como filosofia não tinha um carater objetivo, mas apenas subjetivo.

Jung fala isso da psicanálise de Freud em contraposição à de Adler. São baseadas na natureza de cada um. Enquanto um colocava maior valor no objeto, justamente por sua natureza extrovertida o levar a isso, o outro colocava o maior valor no eu, por causa de sua natureza introvertida.

Como tanto a psicanálise de Freud como a de Adler têm perfeito sentido,, poendo ser usadas como base paradigmatica que justifica as neuroses, e uma nega o ponto fundamental da outra, a psicologia como filosofia e a psicanálise perderam credibilidade no mundo que foi progressivamente dominado pelo paradigma naturalista.

Em contrapartida ao pensamento NT pode-se citar a navalha de occam.

Como creio já ter demonstrado, ambos os pensamentos são limitados e limitadores. Um reduz às idéias e outro às sensações.

Em geral os STs se direcionam para areas que presumem mais exatidão, enquanto que os NTs lidam com maior facilidade com coisas inexatas.
Os STs são os que colocam a psicologia como ciência, e os NTs os que a colocam como filosofia.

Assim como a psicologia cognitiva equilibrou a psicolgoia científica, dando a ela um carater mais reflexivo, a psicanalise deu mais equilibrio à psicologia filosófica, dando a ela um carater mais objetivo, mas a seleção entre uma e outra ainda acontece segundo o tipo psicológico do aluno.

No entanto, a proposta de Jung sobre os tipos psicológicos elucidou a questão, criando uma visão equilibrada entre o objetivo e o subejtivo.

O pensamento sistêmico, que é uma tendência, segundo creio, extremamente equilibrada, coloca as seguintes premissas para o estudo da mente humana.

"1) O pressuposto da complexidade reconhece que a simplificação obscurece as inter-relações dos fenômenos do universo e de que é imprescindível ver e lidar com a complexidade do mundo em todos os seus níveis. Um exemplo de uma descrição baseada nesse pressuposto é a Sincronicidade, que prevê outras relações, que não são causais, para os eventos do universo. Além disso, a psicologia analítica lida de modo sistêmico com a psique, daí seu homônimo: psicologia complexa, ou profunda.

2) O pressuposto da instabilidade reconhece que o mundo está em processo de tornar-se, advindo daí a consideração da indeterminação, com a consequente imprevisibilidade, irreversibilidade e incontrolabilidade dos fenômenos. A abordagem orgânica, a homeostase psíquica, e a noção de inconsciente (o que inclui a freudiana), com os seus componentes arquetípicos e complexos são exemplos de abordagem sistêmica da psicologia analítica.

3) O pressuposto da intersubjetividade reconhece que não existe uma realidade independente de um observador e que o conhecimento científico é uma construção social, em espaços consensuais, por diferentes sujeitos/observadores. Então o cientista trabalha com múltiplas versões da realidade, em diferentes domínios linguísticos de explicações. Os tipos psicológicos junguianos são o que há de mais inovador nesse sentido, tendo inclusive reconhecimento científico tradicional na detecção dos tipos de personalidade."

É obvio que esse tipo de pensamento não se aplica à ciencias exatas ou de avaliação biológica, pois tratamos de fatos objetivos ao lidar com essas, mas em se tratando de investigar a mente humana não podemos nos limitar à filosofia subejtiva ou ao naturalismo científico.

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