a beleza como ambiguidade sentimental

A sensibilidade

Se existe uma coisa que me irrita é a cama de procusto que o mundo nos impõe. Não se trata apenas de dizer o que você vai pensar: dizem também o que você vai ser, o que você vai dizer. Eles dizem, isso é belo, e aquilo não é. Sua aparência deve ser assim, seus sentimentos assado e especialmente seus pensamentos devem ser fruto do coletivo. O que eu digo é: que o coletivo vá a merda!

Não quero dizer, é claro, que as pessoas deveriam negar todos os valores do mundo. Não mesmo: a ética é essencial para a vida. Mas existe um mundo só nosso, e um mundo de todos. Não podemos querer que o mundo de todos seja como o nosso, e muito menos querer que o nosso mundo seja aquilo que o mundo externo diz.

Em relação á minha sensibilidade eu sempre fui dividido, e não posso escolher entre um lado. Não, minha sensibilidade não pode ser castrada por padrões. Não posso seguir um padrão negativo ou positivo. Para mim a vida abarca os dois, e cada um deles tem sua utilidade.

Em um post recente você poderá ver uma manifestação minha em relação ao que chamo de beleza divina. E eu a amo. Amo a paz, amo a Norah Jones. É minha Deusa, mas não fica na Frente de Ângela Gossow, do Arch Enemy.’

Eles criticaram o heavy metal, dizendo que era musica de gente que não tem classe ou que não sabe apreciar a beleza. Provavelmente ninguém gostará de ler o que se segue a respeito da beleza maligna. Provavelmente dirão: quem pensa isso não tem amor no coração.

Mas eu não deixo de amar pro isso. Muito pelo contrário, eu amo mais graças a isso, porque tira meus demônios de dentro de mim.

A beleza divina me faz flutuar, mas a beleza maligna é aquela que me desprende do chão. É como se o heavy metal e tudo o que é mal fosse útil para me libertar de todas as imposições que vêm de fora. Como se eu tivesse finalmente a oportunidade de ser quem sou, de reagir contra essa pressão. E estranhamente eu faço o caminho que querem que eu faça. Eu amo, eu ajudo os outros, eu estudo...

Eu amo a vida, e quero que esse amor seja o meu amor, e não aquilo que dizem para mim que é amor. Para mim o amor é essencialmente subjetivo: eu amo com o que sou, com o amor que tenho, não com o amor dos outros.

Então fiquem coma definição da beleza maligna, que liberta os sentimentos, e depois com a definição de beleza divina, que dá paz.



Beleza maligna

Para iniciar isso eu cito um verso de Nietzsche:

"Odeio almas pequenas:
não têm nada de bom e quase nada de mau."

Alguns negam e outros abraçam, mas a verdade é que a "sombra" existe dentro de todos. Ela é a essência de tudo o que é perverso dentro de nós.
Para alcançarmos o equilíbrio não basta buscar o bem. Devemos conhecer o mal.

Talvez pareça que falo uma antítese, mas antes devemos conceber a idéia de que não há beleza destituída de observador. Por isso, se para você e para mim o bom é belo, para outro o mal pode ser belo na mesma proporção. A arte não pode ser resumida aos sentimentos sublimes, pois isso é falso.

Quem tem sensibilidade para o lado poético sombrio que sinta isso:

The mark of the gun - deathstars

The barrel looked her
Deep in the eye
And she said:" I want you"
She looked the gun
Deep in the eye
The gun said: "I Want you too"

Doom strikes the tame today
Day with a Bowie in your bed
Bodies in a huge ashtray
Your life spells D.E.A.D.

Well, the D is for destroy (under the gun)
The E is for enforce (under the gun)
A is for absolute (under the gun)
And D is for darkness
D.E.A.D. (the mark of the gun)

The razor smiled
At the pale wrists
The wrists said
"Let me smile for you"
The razor kissed
To open the skin
And then said
"Now you're smiling too"
I control you with my hand (the reasons you retrieved)
Damn the deeds you did, my friend ( the panic of this Eve)


Well, the D is for destroy (under the gun)
The E is for enforce (under the gun)
A is for absolute (under the gun)
And D is for darkness
D.E.A.D. (the mark of the gun)
The barrel looked her
Deep in the eye
And she said:" I want you"
She looked the gun
Deep in the eye
The gun said: "I Want you too"

But did you ever see that
The crimes you did were alright
But will you ever taste that
The certain wet taste of fright

Well, the D is for destroy (under the gun)
The E is for enforce (under the gun)
A is for absolute (under the gun)
And D is for darkness
D.E.A.D. (the mark of the gun)

Quem sente essa beleza, ao ler essa parte em negrito e ouvir o som da musica sentirá um calafrio na espinha. Aquele de quando você sente a profundidade do maligno. Quando você sabe que o autor dessa letra (provavelmente não é um dos artistas da banda) conseguiu alcançar um alto nível de progresso dentro do maldito.

“A lâmina sorriu para o pulso pálido
O pulso disse: deixe-me sorrir para você.
A lâmina beijou e abriu a pele e disse: agora você também sorri.”


Vou trazer da minha obra um exemplo para que fique demonstrado de forma mais clara em português.

A escuridão

Andando no escuro
a vista fica aguçada
andando no fogo
o corpo fica forte.

Que venha a maldição
tome conta da existência
essa miserável existência
que nunca desejei.

A desordem reina em mim
e dominará o mundo
só sinto amor pela morte
a destruição é meu guia.

Deixe-me em paz
sozinho no escuro
com ódio no coração
e uma lâmina na mão.

(Emanuel - O enigma da imortalidade)

A beleza do mal reside em saber que a potencialidade não reside somente no bem. Reside em saber que o poder e o mal andam lado a lado, e se você ama um o outro te carrega. Ninguém faz o mal por fazer: até serial killers querem a sensação de controle, de poder. No fundo somos todos um ditador em potencial. Somos todos malignos: se o mundo nos ordenasse nós seríamos selvagens como animais. Aliás, muito pior, pois nos mataríamos a troco de nada (e isso acontece).

A revolta queima o mais profundo do ser, a raiva dá força, o ódio dá determinação. Uma pessoa verdadeiramente má nunca se sente só.

Mas Emanuel e os Deathstars estão errados. Não, não estou entrando em contradição. É que tudo o que fazem é isso. Eles dizem “i am not the slave that you are” ou, “sou livre para viver no meu mundo negro”. Não percebem que há beleza fora disso, e que o mundo não é apenas uma prisão.


Não há amor nas musicas deles. Não há amor na vida de Emanuel.

O que Emanuel queria desde pequeno era liberdade. Primeiro de sue pai opressor que o queria como sendo um canibal, e depois contra a igreja que o queria como santo. A mente dele não suportava a santidade: já havia sido preparada para um mundo violento. Emanuel nunca comeu nenhuma vítima simplesmente porque essa violência não vinha dele.

Logo no final do livro e percebeu que nunca foi ele mesmo. Que violência vinha do pai, que tudo vinha do pai mesmo com ele se esforçando pra ser quem era.

Num ato de desespero ele decide enfrentar Ângela, que na verdade foi a única pessoa que ele amou. Ele sabia que não seria aceito, mas também não permitiria que outras mãos lhe tirassem a vida.


A BELEZA MALIGNA DÁ LIBERDADE!


E We’re not gonna take it anymore- twisted sister


http://www.youtube.com/watch?v=J-jsgousZcA


Mais um belo exemplar de beleza maligna.


http://www.youtube.com/watch?v=De47fjH6RKY&feature=related


A beleza divina



Essa é a beleza que me acompanha, geralmente, nos sonhos. É a beleza que te liberta do lado negativo da beleza maligna, que é o te isolar.

Gosto de lembrar do início do livro de Matias, que, apesar de ser primo de Emanuel e gostar dele, era o oposto. A beleza que ele admirava era a divina.

Quando essa beleza o abandonou ele ficou preso. Era só isso que o alimentava, era dáiq eu ele tirava sua força.

Eu digo com honestidades que se fosse possível eu viveria em função dessa beleza. É a mais bela de todas, a que mais me agrada pessoalmente.

Mas infelizmente não é isso que o mundo me diz. O mundo é cruel, e eu queria fazer como Matias:

“Lá fora hoje eu matei dois homens. Eles mataram Gabriela e espancaram Augusto. Um homem normal estaria perturbado, mas eu não. Estou deitando aqui com Stela contando as estrelas. Ela já pegou no sono e sinto a respiração dela no meu pescoço. Nem todos os tormentos do mundo me tirariam a paz.”

Mas Stela morreu, e ele não estava pronto para enfrentar as adversidades da vida sem o contato com essa beleza magnífica. Com esse amor profundo. Caiu em miséria, só se curando dessa prisão momentos antes de morrer, simplesmente porque só apreciava a beleza divina.

Emanuel, por outro lado, viu seu pai ser morto, e sua mãe ser dovorada. Viu seu único amigo ser queimado e não perdeu o controle sobre si. Mas de que adianta ter esse poder sem amor?

Emanuel, no final do livro dele, finalmente entende o que Matias quer dizer com tudo aquilo sobre amor. Ele é o combustível da nossa existência.

Vou colocar de novo minha poesia “ela vem” para representar esse sentimento, agora contextualizado como sendo escrito de Matias para Stela:


Ela vem


Ela vem bem devagar,

Não há alvoroço.

Ela me cura assoprando de leve,

Sabe meu ritmo.


Ela monta o meu coração,

Um pedacinho de cada vez.

Não tem pressa,

Não me deixa inquieto.


Ela sorri bem suavemente,

Respira lenta e profundamente.

Anda na mesma velocidade que eu,

Ama da mesma forma que eu.


O meu mundo já foi invadido,

Muros pulados, portas arrombadas.

Mas ela tinha a chave,

Entrou sem danificar.


Ela não vem desestruturar,

Ela traz ordem, harmonia.

Não vem para me agitar,

Me traz paz, amor e bons sonhos.


Sempre que essa personagem me vem a mente eu sinto tranqüilidade. Depois que as dificuldades da vida são aniquiladas pela beleza maligna, e parece que não vai sobrar nada dentro de mim, ela entra. Com um sorriso singelo, tudo da minha imaginação. Eu saio de Blitzkrieg para Wish i could, e me sinto feliz. Sim, aí eu estou livre e sendo quem eu sou: um amante.

Para finalizar vuo invocar minha amada Norah Jones, que atualmente é a única mulher que me faria casar sem pensar duas vezes. =P


Come away with me in the night
Come away with me
And I will write you a song

Come away with me on a bus
Come away where they cant tempt us
With their lies

I want to walk with you
On a cloudy day
In fields where the yellow grass grows knee-high
So wont you try to come

Come away with me and well kiss
On a mountaintop
Come away with me
And Ill never stop loving you

And I want to wake up with the rain
Falling on a tin roof
While Im safe there in your arms
So all I ask is for you
To come away with me in the night
Come away with me


É beleza. Pura beleza divina que Norah coloca em suas musicas. Eu amei ontem, amo hoje e amarei amanhã. Contra as adversidades eu tenho a beleza maligna, o Death metal, e contra meus vícios e minhas falhas eu tenho o amor.

Posso dizer honestamente que entender e viver essa beleza sentimental torna a vida mais fácil e mais feliz.

Abrir o coração para o amor que sempre vem, e fechar os punhos para as adversidades. Não chorar com os problemas ou ridicularizar o amor.

Ser pleno em sentimentos.


Quem vê a beleza maligna se liberta, que vê a beleza divina liberta os outros. Não seja tirano e nem escravo!

Somos todos iguais!

Vou colocar, só pra terminar, um texto da minha amada amiga Alley, que despertou em mim esse amor adormecido. Para mim ela tem a beleza divina perfeitamente desenvolvida. É pura luz, minha menina...


Eu Desejo...
Que a felicidade não dependa do tempo,
nem da paisagem, nem da sorte, nem do dinheiro.
Que ela possa vir com toda a simplicidade,
de dentro para fora, de cada um para todos.
Que as pessoas saibam falar, calar, e acima de tudo ouvir.
Que tenham amor ou então sintam falta de não tê-lo.
Que tenham ideal e medo de perdê-lo.
Que amem ao próximo e respeitem sua dor,
para que tenhamos certeza de que viver vale a pena.


Eis aí minha menininha de ouro! Queria eu ter tanto amor dentro de mim...

2 comentários:

Anônimo disse...

Beleza Maligna, entendo esta sua definição, que pra mim é um soltar os cachorros.
Costumo pensar que vivo com os cães soltos, assim seus latidos não incham miha cabeça, faço o que penso ser certo ou que me agrada, dane-se os conceitos sociais ou se acharão certo, como sabes sou umbandista e isso só seria pior na sociedade que vivo se além disso eu fosse negro e gay, rss, o que quero dizer é que por ser criticado por puro preconceito deixe de ouvir criticas, parei de me importar com o que dizem, ligo com freqüência o botão do “foda-se” em minha cabeça e assim sou mais eu e portanto mais feliz, também amo Heavy Metal, comparo-o à música clássica de meu tempo, Black Sabbath, Led Zeppelin, Robert Plant (já aviso que prefiro as velharias, rs), Sepultura e o maior de todos pra mim Iron Mayden, há tbem uma banda alemã que eu gosto demais mas não me recordo o nome pois é um destes palavrões em alemão, mas tenho dois CDs já gastos pelo uso dessa banda. Uma vez vi um comentário que não existe heavy metal bom, vejo isso como limitação cultural, o mesmo que dizer que Beethoven não presta, pura falta de cultura e de uma sensibilidade mais... digamos mais... arrojada? Talvez seja essa a palavra, bem enfim entendo sua libertação na beleza maligna, entendo seu soltas os cães e demônios, mas não me ocorre qual seria a minha forma de fazer isso, talvez escrever seja uma destas forma.
Sempre afirmo que o berço do mal é o coração humano, conhecer o mal nos avisa em que solo podemos pisar sempre.

Seu poema A Escuridão, ouso chamar de poema negro, profundo e tocante como uma navalha bem afiada, não economiza o sentir de quem o narra e o seu estar no escuro do narrador.
Não convida impõe a condição de negativo, muito bom e profundo. Mostra que nem tudo seriam flores a todos.

Seu poema Ela vem, parece uma valsa, dá quase pra sentir a dependência, o bem feito pelo amor nos versos, um amor que podes ser real ou idealizado, não importa pois dele só vem o somar, o construir e até o refazer do que foi perdido, bravo!!!, Realmente gostei muito.

Seu poema Eu Desejo, é uma sublimação um desejo abnegado, o titulo parece convidativo a algo particularmente sexual, ao romântico, mas as linhas dos versos revelam o nobre, o abnegado amor e desejo pelo bem comum, realmente muito boa as sensações despertadas entre o título e o texto, primeiro o negro, depois o amor verdadeiro e em seguida o amor pelo próximo.
Parece uma definição de equilíbrio
Abraços grande Silas.
Boa Páscoa (feriado e chocolate, uhuu)

White Cat, J Neto

Silas disse...

O Poema do desejo é da uma amiga, a Alley...

ela que fez.

valeu pela visita e por tomar um pouco de tempo para ler...