Meu maior pesadelo



- Você conhece o terror, Roberto?
- Quem é você?
- Eu? Eu sou você!

Havia um gigante diante de mim, com as mãos sujas de sangue. Ele tinha um sorriso maléfico no rosto.

- Conhece o terror?
- Nada me traz terror.
- A não? Bem, isso é o que veremos...

Uma faca penetrou meu peito e saiu. Tinha sangue na minha boca. Meu corpo foi ficando fraco, eu tentava me arrastar, mas aquele gigante não me deixava.

- Não adianta fugir, Roberto. Nunca vai se livrar de mim!

Eu tentei gritar, mas não pude encher os pulmões de ar. Tudo foi ganhando um aspecto mais escuro, mais sombrio.

- É a hora do show!

O homem colocou a mão na minha boca, e deslocou minha mandíbula. Num instante todo o braço dele tinha passado pela minha boca. Ele se remexia dentro de mim. Apertou alguma coisa que me fez desmaiar.

- Deixe o espetáculo acontecer, Roberto. Deixe a fera tomar conta!
- Não!

Acordei num leito de hospital. Talvez tenham me salvado daquilo. Talvez eu ainda esteja sonhando. Eu não sei dizer. Minhas mãos e meus pés estão amarrados. Não reconheço a mim mesmo. Estou grande, minha voz quando grito é outra. Eu não sou eu. Quem será que sou? Isso é um sonho?

A porta abriu e um homem de branco entrou.

- Como concordamos, Joana, a esposa do falecido Roberto está aqui para vê-lo.
- Olhe, senhor, deve haver um engano. Eu não sou quem você pensa que eu sou. Sou o Roberto!
- Ele está delirando, não pode receba-la.
- Eu não estou delirando! Não! Joana!

Joana entrou com lagrimas de ódio nos olhos, mas nesse ponto eu estava dopado. Perdi a consciência logo depois de ouvir. Você é um doente! Um doente! Ela gritava como eu nunca havia visto antes, e aquilo me tomou no íntimo de tal forma que tudo em mim parecia imerso num caos insuportável.

- Você conhece o terror, Roberto?
- Quem é você? O que eu fiz contra você?
- Eu sou você. O que você fez? Você se matou!
- Do que você está falando? Eu nunca me mataria. Eu era feliz!
- Sabe que eu fico me perguntando sobre isso? Você era feliz sim. Como é que foi se matar? Talvez não fosse tão feliz quanto achava.
- Não! Isso não é real!
- Quem é você, Roberto? Quem é você?
- Eu sei quem eu sou!
- Sabe é? Então o que você acha que faz nessa cama?
- Você não é o Roberto não. Na verdade nada disso é real.
- Quem é você?
- Eu sou a única coisa que sobrou em você que tem contato com o mundo real.
- Eu tenho contato com o mundo real, você não sabe do que está falando!
- Você sabe? Acorde e verá!

Acordei naquela mesma cama. Estava anoitecendo, e havia uma mulher sentada numa cadeira de plástico me olhando.
- Está mais calmo, Augusto?
- Quem é augusto? Eu sou Roberto!

Ela pegou um rádio e falou:

- Ainda está alucinado, quer aumentar a dose?
- Não. Quero tentar algo novo hoje.
- Certo.

Ela se levantou e esperou um pouco, até que cinco homens entraram na sala. Seguraram meus braços e minhas pernas. Sei que pensam que sou louco, e por isso esperam que eu seja agressivo. Acho que com minhas atitudes eu posso provar que não sou louco.

- O que vocês querem?
- É a hora de comer.
- Não precisam me segurar, não vou fazer nada.

Os homens hesitaram, mas me soltaram. Percebi que ficaram alertas para o caso de eu ataca-los. Um deles tinha um spray de pimenta. Eu me sentei e minha cabeça estava muito alta. Levantei e percebi que a cama não era tão alta. O homem mais alto dali batia com a cabeça um pouco acima do meu cotovelo. Eu estava gigante como Aquele homem que me veio falar no sonho. Num lampejo eu percebi que eu estava exatamente igual a ele.

- Quem sou eu?
- Não somos autorizados a conversar com você.
- Eu sei que isso é mentira. Seus olhos me dizem. Porque você não quer falar comigo?
- Escuta aqui seu louco. Não troco uma palavra com gente como você. O que você fez com aquelas pessoas não tem perdão.
- O que foi que eu fiz?
- Fingir que não sabe de nada não vai te inocentar. Espero que você seja condenado à morte
- Morte? Mas eu sou inocente! Não podem me matar!


Os homens me seguraram e me derrubaram no chão.

- Você vai por bem ou vai por mal?
- Eu vou por bem.
- Depois da refeição você conversará com um psiquiatra e com um padre.
- Tudo bem.

Isso não pode ser real, mas talvez tenha algum significado. Vou ver o que acontece.
Uma mulher trouxe um prato com talheres descartáveis.

- Não quero isso. A faca não corta.
- Brilhante observação.

Eu comecei a comer e senti o sabor da comida de Joana. Estava delicioso.

- Isso aqui está muito bom. Quem foi que cozinhou?
- Você sabe muito bem que cozinhou...
- A Joana?
- Quantas vezes vou ter que te dizer que meu nome é Elisa?
- Foi você quem fez isso?
- Meu deus! Todo o dia a mesma história? Como você não enjoa?
- Enjoa de que?

A mulher não me respondeu. Somente fez uma cara de quem já não tem paciência.
Decidi comer em silêncio, pois parece que todos ali me odiavam. Só queriam me ver morto.
Eles me levaram pra fora do refeitório em total silencio, mas eu podia sentir o ódio deles. Ele me penetrava e me assustava. Eu só queria acordar desse pesadelo, isso me assusta.

Um dos homens sussurrou no meu ouvido.

- Escuta aqui seu animal, você nunca será bem vindo em nenhum lugar. Espero que você morra e que vá pro inferno.

Comecei a chorar. Não podia me controlar.

- O que está acontecendo? Quem são vocês? Quem sou eu!?
- Não se faça de inocente, seu maníaco maldito!
- Hey! Quantas vezes vou ter que dizer que vocês não podem conversar com o prisioneiro?
- Prisioneiro? Mas que lugar é esse?
- Venha Augusto, vamos até nossa sala.
- Que sala?
- Você logo verá.

Eu continuava a chorar. Não sabia o que está havendo. Nada estava certo. Isso não podia ser real!
Uma raiva repentina tomou conta de mim. Senti vontade de destruir, de matar todos aqueles homens e me livrar daquilo.

- Você não me conhecem! Não sabem que eu sou!

Derrubei os cinco homens e corri em direção do médico, que parecia assustado, mas não tentou fugir ou reagir. Levantei ele do chão pela camisa.

- O que vocês fizeram comigo? Isso é algum tipo de experimento doentio? Eu vou matar todos vocês! Cada um de vocês irá morrer!

Algo me atingiu e eu perdi a consciência. Quando me dei conta estava novamente na cama. Amarrado, e tive mais um surto repentino de raiva. Arrebentei o que me prendia e olhei ao redor. Havia uma janela que me mostrava a luz e uma campina. Tudo escuro.

Um alarme tocou, e uma luz ficou brilhando do outro lado da porta do quarto.

- Atenção, O prisioneiro da ala psiquiátrica no leito 45 se soltou da cama.
- Desgraçados! Vou comer a sua carne! Deixem-me sair!

Eu bati na porta e percebi que não há via como abri-la. Era de ferro. A janela era de vidro, mas havia barras de ferro.

- Porque vocês estão fazendo isso comigo!? Vocês são doentes! Deixem-me ir embra.

Um homem parou diante da porta. Era o psiquiatra.

- Vamos conversar, Augusto. Fique calmo.
- Não em diga pra ficar calmo! Eu não me chamo Augusto! Meu nome é Roberto!
- Você prefere conversar ou ser imobilizado por 10 agentes penitenciários?

Parecia tudo uma mentira. Agentes penitenciários, psiquiatras. Tudo o teste para verem como eu reagiria a isso. Pensei em superar as expectativas deles.

- Vamos conversar. Estou indo me deitar na cama.
- Muito bem.

Deitei e os dez agentes entraram. Rapidamente me seguraram e não reagi. Posso provar que não sou um assassino pelo simples fato de que sei quem sou. Eles verão.

- Incomoda-te estar sendo segurado?
- Sim, mas como não posso dar nenhuma garantia da minha sanidade creio que devemos conversar assim. Não vou apresentar nenhuma objeção.
- Então não deve se objetar a vestir a camisa de força também, certo?
- Não.

Vestiram a camisa em mim, e algemaram minhas pernas. Amarraram-me contra as barras da janela. Eu estava totalmente imobilizado.

- O senhor pode me dizer o que está acontecendo aqui?
- Vou te explicar. Tragam o notebook, por favor.

O homem pegou o notebook e colocou diante de mim. Eram imagens daquele homem que me matou matando outras pessoas.

- Eu conheço esse homem! Ele me atacou. Enfiou uma faca no meu peito.
- Conhece sim, é fato. Fale-me da faca.
- Ele veio à minha cama durante a noite, e falou algumas loucuras sobre terror. Depois afundou uma faca no meu peito.
- E você acha que sobreviveria a isso?
- Não, e isso me deixa confuso.
- Vou te mostrar uma coisa.

O homem pegou um espelho e colocou diante do meu rosto.

- Eu sei que minha aparência é igual à dele. Mas estou lhe dizendo, eu sou Roberto. Não sei como te explicar isso, e sei que parece loucura, mas é verdade. Eu não sou um assassino.

O médico suspirou e se sentou na cama. Parecia não saber o que fazer.

- O que vou fazer contigo, augusto?
- Do que você está falando?
- Todas as manhãs você acorda dizendo isso. Que é Roberto. Já está aqui há cinco meses. Às vezes perde a memória e acorda achando que é Roberto de novo. Acho que não progredimos em nada, e seu julgamento é depois de amanhã.
- Vou processar vocês. Não têm o direito de fazer uma pegadinha dessas.
- Como você pode ser tão repetitivo?
- Isso é algum tipo de teste?
- Não é teste, Augusto. Roberto foi sua ultima vítima. Você o matou e seqüestrou a mulher dele, mas foi capturado. Ela foi encontrada amarrada numa cama.
- Do que você está falando?
- Você, por algum motivo, pensou ser o Roberto, e por isso seqüestrou Joana, mas na verdade você não é Roberto. Ela concordou vir aqui para conversar com você depois de cinco meses insistindo ser Roberto, e quando ela apareceu você teve um ataque de agressividade. Amanhã estará aqui de novo, e espero que você fique calmo. Sei que não quer aceitar que é Augusto, mas vai ter que enfrentar a verdade.

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