O déspota das cores


O pássaro rei era colorido. Daqueles que chamam a atenção quando passam voando. Como era o mais colorido de todos, era forçoso querer ser o único. Afinal, quem ousaria entrar no seu caminho?

Certo dia outro como ele apareceu. Um concorrente. Deveria ser afastado imediatamente, pois poderia atrair as atenções já direcionadas ao rei. Talvez não. Olhando com atenção O déspota das cores percebeu suas falhas. Era cheio de gafes. A asa direita não batia direito. Voava tão desajeitado que jamais chamaria a atenção de alguém. E os olhos do invasor? Totalmente desalinhados, nem parecia da mesma espécie: um horror! Com a pata esquerda como era, ele jamais se manteria fixo num graveto ou num fio!

Ele tinha que sumir, pois era uma má referência. Que credibilidade sobraria aos pássaros plumados se um tão imperfeito fosse visto?

Mas o intruso não pensava em ir embora. Olhava o rei de volta com o mesmo olhar de desprezo. Quem ele pensava ser para olhar pro rei dessa maneira? Provavelmente pensava ser muito mais do que era pra pensar que seria capaz de enfrentar um pássaro tão saudável.

O déspota das cores perdeu a paciência e decidiu que o intruso deveria ir embora. Era desajeitado, mas não inspira pena: o olhar maligno dele sugeria algum plano ruim. Deve estar se preparando para atacar. Para descontar a frustração de ser tão imperfeito. Seus olhos não mentiam, nenhum pássaro escondia as coisas do déspota.

A hora do duelo entre os pássaros chegou. O rei ficou parado observando a tática de combate do seu oponente, que parecia fazer o mesmo, só que meio torto por causa da pata ruim. Pelo menos besta ele não era. Seu olhar era concentrado e agressivo, embora seus olhos fossem desalinhados.

O rei se cansou do jogo e avançou, e em resposta a isso o intruso também avançou. Bateram um na cabeça do outro, e o rei se espantou. Era muito mais dura do que ele imaginava. Mas ele também parecia assustado. Deveria estar, porque a cabeça de um déspota é sempre mais dura do que a dos outros pássaros.

O bico do oponente era torto, então se eles lutassem com o bico o rei teria vantagem. Fechou os olhos para o seu movimento fatal e voou para cima. Como o vento é agradável quando sopra na direção dos vencedores!

Foi direto na direção do intruso, que, para sua surpresa, também vinha atacar. Bateram um no bico do outro, e o rei ficou atordoado. Felizmente o outro pássaro também estava, e tudo o que o rei tinha que fazer era esperar que ele fosse embora. Não podia mais lutar, mas o outro também não. Bastava se manter firme.

O carro foi ligado e começou a andar. Levou embora o retrovisor. O intruso se foi. A luta é sempre difícil, mas a vitória continua a ser gratificante. Por hoje o rei descansa, mas amanhã jura que expulsará qualquer intruso.

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