Biohazard: a limpeza (parte 4)


Zumbis...
Um adjetivo simplório que eu costumava atribuir àqueles que não pensavam por conta própria. Sempre notei, no mundo, um conflito entre bem e mal, onde o mal é a escravidão e o bem a liberdade. Sempre acreditei que conseguiríamos vencer. Que o ser humano é destinado a ser livre. Mas isso não aconteceu. Somente a fatalidade existe agora. As esperanças acabaram, esse é o fim da humanidade.

- ô Roberto. Bora planejar?
- Sim, vamos.

Isabela chegou do meu lado, abraçou meu braço e sussurrou no meu ouvido.

- Há uma saída alternativa. Um duto de esgoto que sai no depósito e vai direto para a rua.
- Porque você não fala isso a todos? – sussurrei a ela em resposta
- Porque a minha alma precisa ainda se construir. Respeite meu tempo.
- Tudo bem.

Os soldados e o sargento nos olhavam. Pareciam um pouco confusos.

- Escutem. Essas coisas são extremamente irracionais, então podemos usar isso como vantagem. Há uma saída pelo esgoto que usaremos como plano B. Se algo sair errado, os que saírem entram pelo esgoto.
- Mas aí eles entram no mercado, porra.
- Não. Nós temos muita munição. Eles vão descer um por um. Os corpos vão se empilhar.
- Caralho, você é cruel.
- Se eu não for, eles serão.
- Então ta tudo certo. Costa, você vem comigo. Roberto, você explode o carro. Vocês três vão me dar cobertura pelo telhado.

O sargento realmente tinha voz de comando. Sua voz transmitia um ar de dignidade que nos impelia à obediência. Claro que tudo foi questionado e estabelecido, mas isso poderia, noutra circunstancia, ser uma forma de alienar indivíduos.
Foi difícil para mim subir no telhado: o rifle é muito pesado. Na em cima, notei que eram muitos os monstros. Um certo desespero tomou conta de mim. Aquela multidão me apavorava profundamente. Um mar de mortos, todos prontos para me devorar.
fixei o rifle no chão apontado para o tanque de um carro a uns quinhentos metros de distância. Olhei para os soldados, que tinham rádios e receberiam o aviso de “Ok” do sargento.
Os soldados me deram o sinal e eu disparei alguns tiros contra o carro. A primeira rajada não surtiu efeito, mas a segunda causou uma grande explosão. Como eu havia planejado, explodiu também outro carro que estava bem ao lado na mesma garagem. Os monstros correram desesperadamente naquela direção. Apenas um ficou. Talvez esteja surdo. Acertei um tiro na cabeça dele, e isso me trouxe uma sensação de bem estar. Sem estar vivendo isso eu jamais acreditaria no prazer de matar. Agora que matar se tornou justificado, posso saborear esse prazer sem nenhum limite. Matei mais dois eu corriam e deitei no telhado. Olhei pro céu. Estava cheio de nuvens, mas claro. Pela posição do sol, suponho que seja manhã. Não tenho relógio.
Um monstro notou Alberto e o sargento Silva instalando o explosivo e berrou, ao que um soldado imediatamente lhe meteu uma bala na cabeça. Mas isso foi inútil. Os monstros não eram tão burros quanto se imaginava, e logo percebi a horda correndo de volta desesperada. Eles pareciam ter ódio nos olhos, um ódio mais perceptível.
Matei alguns, mas viraram na esquina e o cinema me impedia de atirar neles. Corri para a parte dos fundos pelo telhado e de lá já pude vê-los chegando.

- O esgoto, porra! O esgoto! – gritei a um dos soldados.

O sargento correu em direção ao esgoto e Alberto veio para a porta dos fundos. Isabela havia trancado essa porta. Havia um deles logo atrás de Alberto, e o mordeu, ao que ele disparou três tiros com a pistola na cabeça do agressor.
Correu desesperado para o esgoto em que o sargento já havia entrado e tentamos, como pudemos, dar cobertura a ele. Eu preferi matar os que vinham mais distantes por medo de acertá-lo.
Ele pulou dentro do esgoto, e os monstros fizeram o mesmo. A ação dos monstros foi tão parecida com a dele que desconfiei eu ele também estaria infectado.
Desci do telhado correndo e caí de cabeça no chão. Fiquei conto, mas continuei correndo, batendo nas prateleiras e derrubando produtos. Cheguei na abertura de esgoto e ouvi os gritos do sargento. Abri e ele subiu desesperado. Alberto estava parado no meio do caminho tentando criar a parede.

- Ele foi mordido, sargento. Já era.
- Caralho, então eles vão vir pra cá. Tão fazendo o que no telhado, soldados? Cai pra cá, caralho!

Alberto chegou diante da escada com a pistola na mão. Parou e nos olhou por uns instantes. Pensamos que ele poderia estar ainda consciente, ma ele berrou e tentou súber a escada para dentro do mercado, ao eu o matamos.

- A gente não pode atirar ao mesmo tempo, Roberto. Vamos ficar sem munição ao mesmo tempo, e aí fodeu.
- Beleza.

Sargento Silva estava nervoso, mas não perdeu o controle. Ficou atirando nos monstros assim que se achegavam na escada. Um tiro de cada vez. Pegou minha arma e também atirou com ela. Largou o dele para eu recarregar, mas eu não sabia fazer isso. Por sorte, esse fuzil continha trinta balas, e eu só havia dado uns dez tiros. Então ele foi matando um por um, até que os soldados chegaram começaram a atira também.
A montanha de mortos foi se avolumando, e no final os mortos já tinham que arrastar os corpos para fora do caminho. Mesmo assim, com o tempo isso se mostrou inútil.
Como eventualmente algum poderia conseguir passar, colocamos uma caixa grande cheia de ração para cachorro em cima do bueiro.
- cadê aquela vadia!? – gritou o sargento.
- Que foi, cara? – disse eu.
- Ela amtou o Alberto, caralho! Puta de merda!
- Mato pe o caralho. Se ele entrasse aquele monstro entrava também. Ele tava na cola do Alberto.
- Vai tomar no cu! Ta defendendo ela porque ta apaixonadinho, seu viado. Ela fez merda. Caralho, ele atirava bem! Ela nem agüenta o peso de um fuzil! Puta que o pariu!
- Vai à merda, porra. Quer dizer que ele só te servia pra atirar. Seu egoísta.
- Cadê ela?

Isabela entrou no depósito com uma pistola na mão.

- Sei atirar sim. Posso te matar agora, seu estuprador de merda.
- Os soldados apontaram os fuzis para ela e eu apontei minha pistola para eles.
- Vai ficar do lado dela mesmo, Roberto. Vocês dois são inúteis. Não têm nenhum treinamento. Se matarmos você a gente não perde nada.
- Augusto - falou um dos soldados abaixando a arma.
- Eu? Disse eu
- É esse o meu nome. Meu nome não é soldado.

Ficamos por alguns instantes em silêncio, E augusto passou para o nosso lado.

- Agora são três contra três.
- Caralho, Palhares. Vai trair seu sargento?
- Prefiro te trair do eu trair a mim mesmo. Tomar no cu, você ta errado.
- Errado nada, cara. Ela fechou a porta e o costa morreu!
- Se ela não tivesse fechado eles iam entrar.
- Iam porra nenhuma!
- Não há utilidade em brigarmos entre nós. Há uma horda de mortos vivos lá fora. Se não trabalharmos juntos, acabaremos mortos.
- Vai tomar no cu. Eu não vou colaborar com essa vadia.
- Não é vadia...
- É sim. Vamos logo explodir esses miseráveis.

Todos abaixamos as armas e o sargento passou por nós. Foi para a parte da frente do mercado, onde ficava a saída para o telhado. Ouvimos a sirene tocar, e os berros dos monstros correndo até lá. Depois de alguns segundos, a explosão.
O chão tremeu, mas estávamos os três parados ali. O que seria de nós dali pra frente?

- Augusto. – disse eu
- Oi – respondeu ele.
- Valeu. Você nos salvou.
- Digo o mesmo, cara. Me salvaram dessa servidão. Nem tinha mais sentido obedecer ao sargento se o exercito caiu.
- Caiu?
- É. Agora só vai sobreviver quem conseguir chegar no sul. Ninguém vai vir resgatar sobreviventes.

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