Introdução
Em primeiro lugar, para quem nunca leu esse blog e acabou aqui por acaso, deixo evidente no título o caráter desse texto. Não se trata de um texto com zombarias pueris, mas de uma concepção filosófica: que a reflexão, a busca por conhecimento, não passa de uma brincadeira. Na verdade, a impressão que tenho é que, se não fosse pela diversão, aprender e pensar seria uma perda total de tempo. Se você não tem prazer nisso, nem se preocupe em ler, porque não será um texto pequeno. Basta você descer a barrinha do seu navegador pra constatar a veracidade do que digo.
Já em segundo, e mais direcionado ao tema em questão, o que proponho aqui é fazer uma brincadeira com dois preceitos do evolucionismo, o de Macro-evolução e o que postula a existências de órgãos vestigiais. O que farei aqui é tomar a evidência que encontrei nesse site
e reinterpretá-la longe da visão evolucionista, dando ênfase noutro conjunto de premissas teóricas. Se eu for refutado por alguém, o que é provável, apesar de poucas pessoas se interessarem pelo tema e/ou pelo meu blog, ainda assim ficará como um registro de como são frágeis nossos modelos de interpretação dos fenômenos.
Premissas fundamentais
Em primeiro lugar, eu gostaria de postular premissas para essa base epistemológica com a qual irei interpretar os dados.
1) As espécies em sua variedade cromossômica foram geneticamente contruídas.
2) A construção foi gradual, tendo várias espécies sido construídas a partir de outras que a precederam.
3) Não houve apenas um engenheiro trabalhando, mas vários. E em diferentes épocas do planeta.
4) Micro-evolução é uma realidade observável.
Sobre a primeira, deixo claro do que estou falando. Se uma espécie de lagartos se separou e sofreu mutações morfológicas e comportamentais, inibindo a reprodução no caso do reencontro, isso não quer dizer que tenham mudado em nível cromossômico. Se duas espécies podem se reproduzir no nível das gônadas, então podemos dizer que são iguais em nível cromossômico. Portanto, que têm a mesma origem em Design e que se adaptaram a diferentes ambientes apenas, sem se transformarem em algo diverso.
Sobre o primeiro, é bom recorrermos ao conceito de Scrip em programação. Um Script de uma determinada linguagem de programação é um fragmento de programa que pode ser utilizado em outros programas para facilitar a programação. Assim, muitas vezes ao invés de programar todo o código, o programador usa scripts para facilitar a própria vida, o que pode tornar alguns programas bastante similares. No caso dos seres vivos, poderíamos presumir que os programadores construíram as diferentes espécies partindo de um preceito análogo a esse.
Ou seja, que usaram códigos genéticos já prontos para construir novas espécies. Nesse aspecto, a aparência de que as espécies se transformam gradualmente é verdadeira, mas tais transformações não foram, de forma alguma, espontâneas. Antes, foram o resultado de sucessivas reprogramações.
Quando presumimos que há vários programadores criando novas espécies a partir de outras que conseguiram sobreviver em épocas diferentes, fica claro que eles não possuíam um “backup” com um código puro da espécie. Portanto, não refuta tal proposta que humanos tenham marcas de DNA viral em seu organismo que são idênticas as dos chimpanzés. Isso só prova, segundo tais premissas, que ambas as espécies foram programadas segundo o mesmo DNA-base, de uma espécie ancestral.
Daí, portanto, decorreriam todas as semelhanças ontogenéticas, genéticas, fenotópicas e comportamentais dos animais.
Quando falo que há mais de um programador, postulo que Deus ou forças divinas estão excluídas de tal hipótese e que as evidências apontam para o fato de que as espécies são, em nível da biosfera, muitas vezes redundantes em função, além de terem comprovadamente idades diferentes. Presumir que todas foram feitas por um só “criador”, presume uma espécie que vive milhões de anos e que cria espécies redundantes ao invés de simplesmente reproduzir as mesmas de dada função no ciclo da vida.
Quando falo de micro-evolução, me refiro ás mudanças morfológicas e comportamentais que os animais sofrem dependendo da pressão seletiva de determinado meio. Assim, essa forma de pensamento admite a seleção natural, mas a integra noutro contexto.
Vamos, então, à brincadeira em si.
Analisando os dados
Ao buscar defender os órgãos vestigiais de adeptos do Design Inteligente, o autor do site indicado no início do site mostra autores usando uma definição deficiente desse conceito. Segundo ele, os autores em questão dizem que órgãos vestigiais são aqueles que não possuem mais função alguma. Ele coloca, para refutar tal postulado, que mesmo em A origem das espécies tal colocação nunca foi feita:
“‘Rudimentary organs, on the other hand, are either quite useless, such as teeth which never cut through the gums, or almost useless, such as the wings of an ostrich, which serve merely as sails.’ (
Darwin 1872, p. 603) [Orgãos rudimentares, por outro lado, são ou praticamente inúteis, como dentes que nunca atravessam a gengiva, ou quase inúteis, como asas de uma avestruz, que servem apenas como uma vela(para o equilíbrio na corrida).]
E além disso:
“‘... as was pointed out in the introduction, the term vestigial, is, as a rule, only applied to such organs as have lost their original physiological significance.’ (
Wiedersheim 1893, p. 205)”[Como foi indicado na introdução, o termo vestigial, é, via de regra, apenas aplicado a a órgãos que tenham perdido sua significância fisiológica original] {grifo meu}
Logo, os órgãos vestigiais não são necessariamente, mas apenas são aqueles não possuem mais a função original. Dessa maneira, pensar em órgãos vestigiais é observar tal fenômeno já com uma projeção evolucionista. Com a hipótese que pretendo colocar nessa brincadeira, os órgãos vestigiais são um absurdo. Na verdade, vou apresentar uma proposta explicativa alternativa pra demonstrar que essa evidência só tem peso para o evolucionismo se for vista sob a ótica evolucionista.
Como aponta este autor
, no século XIX 180 órgãos eram considerados destituídos de função pelo simples fato de que sua função não havia sido clarificada. Além disso, postula a função do cóccix e do apêndice, tendo o primeiro a função de “anexar vários músculos pélvicos, formando o diafragma pélvico”.
Segundo o autor, “O cóccix, com seu diafragma pélvico, mantém fixos muitos órgãos em nossa cavidade abdominal evitando que estes literalmente caiam por entre as pernas. Alguns dos músculos do diafragma pélvico também são importantes para o controle de eliminação de dejetos de nosso organismo pelo intestino reto.”
Infelizmente, numa distorção do conceito de órgão vestigial, ele postula que o cóccix não é vestigial porque ele tem uma utilidade, enquanto que ele trabalha com um conceito de órgão vestigial que não pode possuir função. Diferente do que ele postula, os evolucionistas colocam que um órgão que não possui a função original é vestigial. Assim, o autor não refuta os evolucionistas, já que emprega um conceito que não é utilizado por eles.
Para os evolucionistas, o Cóccix, embora tenha funções próprias no organismo, é uma cauda vestigial. Para provar isso, mostram as evidências ontogenéticas, onde fetos apresentam uma espécie de cauda primitiva.
No link da nota 1, o autor diz: “As discussed below in detail, the development of the normal human tail in the early embryo has been investigated extensively, and apoptosis (programmed cell death) plays a significant role in removing the tail of a human embryo after it has formed. It is now known that down-regulation of the Wnt-3a gene induces apoptosis of tail cells during mouse development (Greco et al. 1996; Shum et al. 1999; Takada et al. 1994), and similar effects are observed in humans (Chan et al. 2002).” [Como foi discutido abaixo com detalhamento, o desenvolvimento da cauda humana normal nos embriões jovens foi investidado extensivamente, e a apoptose (morte celular
programada) tem um papel importante na remoção da cauda do embrião humano depois que ele está formado. É sabido atualmente que a down-regulation(Regulação para baixo)
do gene Wnt-3a induz a apoptose das células da causa durante o desenvolvimento do rato, e efeitos similares são observados em humanos.]
Ou seja, para os evolucionistas o cóccix é uma cauda vestigial que se apresenta numa fase inicial do desenvolvimento embrionário e, inclusive muitas vezes não sofre a apoptose. Nesses casos, humanos desenvolvem caudas que inclusive reagem a estados emocionais.
Ora, isso comprova que há uma semelhança entre os humanos e outros mamíferos, e é confirmado quando tratam do Gene Wnt-3a, que está presente em ratos e em humanos.
Não há dúvidas, então, de que há semelhanças entre essas espécies em nível ontogenético, e a partir da teoria evolucionista poderíamos concluir que essa é uma evidência de que ambas as espécies possuem um ancestral em comum, do qual herdaram tais genes.
Tais dados, no entanto, podem ser reinterpretados segundo as premissas que postulei no início do texto.
Ora, se ambas as espécies foram programadas a partir de estruturas análogas, é mais lógico que os órgãos e estruturas aproveitáveis para outras funções permaneçam. Afinal, presumimos que o autor de tal espécie estivesse tentando construir animais capazes de sobreviver. Se o cóccix é parte de uma estrutura que auxilia no nosso desenvolvimento embrionário e se ele serve, como indicado, como ponto auxiliar para o diafragma pélvico, seria sensato presumirmos que tal estrutura é útil para a nossa sobrevivência. Logo, o autor teria alterado a cauda e mantido o cóccix, com utilidade própria.
De um modo geral, o cóccix continua sendo vestigial, mas é analisado por outra ótica, que não presume o macro-evolucionismo.
Mas, afinal, pra que apresentar uma alternativa interpretativa?
1) Para demonstrar que essa não é uma evidência para a macro-evolução exclusivamente, e que, portanto, não deveria ser usada dessa maneira.
2) Para evidenciar diferenças práticas fundamentais:
a) Se interpretarmos um órgão como recessivo, a tendência é pensar que ele é uma estrutura com pouca ou nenhuma função no organismo. Nesse caso, a tendência é não considerarmos esses órgãos relevantes em intervenções cirúrgicas, o que pode ser fatal no caso de ele possuir algum tipo de relevância que desconhecemos.
b) Além disso, se presumimos que todos os órgãos vestigiais permaneceram no nosso corpo por uma intenção racional, provavelmente entenderemos melhor as estruturas dos organismos no momento em que nós mesmos formos programar espécies. Afinal, como alguns já devem fazer, já foi produzida uma bactéria 100% sintética. Essa perspectiva poderia, portanto, auxiliar os programadores de organismos a trabalhar em novas espécies a partir de antigas, como um programador aprendiz lendo o programa de outro mais experiente.
c) Além disso, pode apresentar uma abertura metodológica para a aquisição de novas evidências, que não podem nem ser vistas dentro da perspectiva evolucionista. Afinal, nossa linguagem, nosso discurso de mundo, com freqüência delimita o conjunto de fatos que somos capazes de perceber. Pressupor alguma função oculta, alguma utilidade escondida, pode inclusive instigar a investigação.
Conclusão
A utilização de órgãos vestigiais como evidência para a macro-evolução é no mínimo parcial, já que tal evidência poderia indicar uma programação logicamente estruturada. Afinal, é muito mais lógico preservar estruturas com utilidade apenas alterando-as do que eliminá-las completamente e desenhar outras. Tal programação daria mais trabalho ao autor e aumentaria as chances de erro. É sempre melhor manter o máximo possível do código que já está em funcionamento do que recriar tudo do zero. Vejam, aqui, que não se trata de um programador onisciente, portanto, mas apenas de um programador racional. Conseqüentemente, tal teoria também poderia prever e explicar a cauda em seres humanos e qualquer outro órgão recessivo, não sendo este um privilégio do evolucionismo.
Na verdade, se presumirmos que há uma infinidade de diferentes programadores que realizaram seus trabalhos em diferentes épocas, todos os fenômenos expostos pela macro-evolução podem ser reinterpretados. Apenas alguns conceitos, como o de que tal coisa acontece sem intervenção racional, seriam abandonados como irrelevantes.
Fica estabelecido, portanto, que o evolucionismo está longe de ser a única proposta coerente para explicar os fenômenos naturais.
E digo mais: em termos de probabilidade, creio ser mais razoável supormos que houve intervenção inteligente do que imaginarmos que tudo se deu a partir da lógica evolucionista. Afinal, nós mesmos já estamos começando a programar o DNA. Deixo uma questão relevante para ser tratada noutro post:
1) Numa mutação que implica a mudança na estrutura cromossômica, não teríamos os filhotes do mutante como híbridos muito provavelmente estéreis?
(afinal, os híbridos geralmente possuem um número impar de cromossomos, o que inviabiliza a espermatogênese, além de outras complicações)
2) E se não forem estéreis, a tendência não seria que a terceira geração fosse estéril?
(Para ser mais claro, se um mutante com 25 pares de cromossomos e um espécime normal com 23 pares dão origem a um hibrido com 24, não seria esse híbrido capaz apenas de deixar descendentes férteis acasalando com outro híbrido [seu irmão]?)
3) Não é correto postular que a pressão do meio só causa mudanças morfológicas e comportamentais, mas nunca em nível dos cromossomos?
Que me responda o aventureiro que leu esse texto até o fim.