Um sonho sobre o grande segredo

Eu estava acompanhando minha mulher para o hospital. Ela estava possuída pelo demônio, conforme ditava a profecia. Apesar de no sonho ela ser minha esposa, eu não tinha nenhum sentimento por ela. Ela era uma estranha, eu nunca a tinha visto na vida. Ela era idêntica à figura de terror da menina no filme o exorcista, mas não me assustava.

Ela me pedia para ir embora, pois a possessão estava se tornando mais forte. E ela podia acabar tomando controle sobre meu corpo, demandando sexo. Eu disse que talvez toda a profecia fosse um erro.

Ela riu e disse: “Eu era como você. Não sabia qual era a real força nesse mundo. Ele já dizia, desde o começo, que quem comandava o mundo era a polícia britânica. A força especial inglesa. Eu não quis acreditar, como Jung, e todos os outros idealistas do mundo. Mas veja agora que isso ficou provado.”.

A mim não pareceu haver nada provado. Não entendi bem. Ela começou a se debater na cama pedindo mais cobertores. Pagou 1,50 por três cobertores e se levantou para ir buscá-los.
De repente eu estava na frente de uma construção gigante. Saímos do pátio externo por uma grade e fomos pela calçada até o outro lado, onde havia uma enorme catedral. Entramos e meu antigo professor de rede estava nos falando sobre tática de guerra. Ele nos disse que iríamos entender o grande mistério. A grande tática. Passamos novamente por fora do pátio e entramos na edificação logo ao lado da catedral. Havia lá dentro alguns prédios, e de repente eu soube que fazia parte do esquadrão de extermínio inglês. Minha missão era pegar uma faca e executar inocentes, mas eu não os vi em lugar nenhum. No lugar deles, aquele sítio de treinamento se tornou como um campo de batalha de verdade e me escondi com um fuzil. O inimigo estava a espreita.

Desci passei pelo corredor até a parte da qual os dois que me acompanhavam estavam incumbidos. Cheguei lá e havia duas pessoas, não lembro nada sobre elas. Me disseram: agora você entende o grande segredo¿ Ninguém extermina mais do que a polícia inglesa.
Eu fiquei espantado e vi os dois que me acompanhavam matando pessoas com facas. Um dele matou mais do que o outro. O outro disse: “porra, não tem como ele matar tanto”!

Eu não tinha certeza se aquelas pessoas eram reais ou se eram só hologramas para treinamento. Mas aí eu entendi o grande mistério: eram eles os grandes poderosos. Na verdade creio que meu espanto era por uma constatação mais profunda, a qual eu nem podia entender bem.

Dessa vez, ao invés de passar pela calçada, do lado de fora do pátio, eu passei dentro do pátio. Tinha um segurança parto e careca vigiando o lugar. Continuei andando até a frente da catedral, quando me surpreendi com o fato de que ela estava totalmente lotada. Outro segurança, também pardo se dispôs a nos contar sobre o que estava acontecendo.
Um dos meus companheiros de antes se sentou na cadeira de plástico dele, mas depois se levantou pelo olhar dele. Ele nos disse que havia começado a terceira guerra mundial. Que fizeram de tudo para evitar, mas não teve jeito. Pensei que era um reservista do exército (não sou), e que, portanto, iriam me convocar para a guerra. Chorei junto com todos no lugar. Estranhamente não era totalmente um choro de tristeza.

Enquanto a platéia ia saindo da catedral, eu buscava entrar e ver o que estava acontecendo. Todos se cumprimentavam, mas eram menores do que eu, então logo eu consegui ver o telão. Apertei a mão e muitos. Alguns a estendiam totalmente e eu tinha que descer minha mão para apertar a deles. Na tela, vi primeiro de relance o nome da Alemanha. Depois, o da França. Quando consegui um bom ângulo, vi a foto de Shiva e debaixo dele havia o nome Geusa (que eu também entendia como Deusa) e do lado oposto, com um X, havia o nome Ciência.

Era uma guerra entre Geusa e Ciência. Fiquei profundamente espantado.

Eu não sabia de que lado estava.

Acordei.

Acerca da vacuidade espistemológica do Único Método Verdadeiro

Este post é na verdade um pequeno fragmento do extenso debate que ocorreu na comunidade Psicologia, do orkut:
(http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=75705&tid=5493355023754923606&start=1)

X Disse: “Apenas fenômenos que não podem ser verificados com a metodologia tradicional.”
 
...

Que fenômenos são esses? E por que não considera que podem ser verificados pela metodologia tradicional?

É bom notar que a primeira frase foi escrita por mim anteriormente e que ele a estava questionando.


Eu respondi: “falo, por exemplo, das mais diversas manifestações do Inconsciente como o coloca a Psicanálise e a Psicologia Analítia de Jung. Talvez eu não tenha sido feliz no uso do termo fenômeno. O melhor deveria ser fato.

Assim, digamos que há o fenômeno sonho.

Uma avaliação científica provavelmente encontraria nesse sonho uma série de lembranças do que ocorreu no dia ou coisas recentes. Assim, essa análise diria: a causa desse sonho reside nas lembranças dela e é das lembranças que as imagens têm origem. Creio ser isso verificável. Eis o fato explicado pela metodologia científica.

Mas daí tem outra perspectiva, um tanto intuitiva. Aquela segundo a qual o sonho não é meramente um apanhado de lembranças sem qualquer sentido, mas que são lembranças organizadas com um propósito. Esse propósito, creio ser consenso entre todos os psicanalistas e analistas Junguinaos, é revelar ao paciente algo que lhe é Inconsciente. Até onde sei, Freud procurava o sinal de recalque sexual e Adler o sinal da vontade de poder, tudo isso tendo sido reprimido por não ser compatível com a moral.
Para Jung, os conteúdos reprimidos são muitas vezes aceitáveis pela sociedade. Por exemplo, um criminoso pode reprimir da consciência o fato de que ele pode ser amável.
Eis um diferente fato, visto sob outra ótica.

E a teoria continua. Isso é extremamente limitado. Mas qual é o ponto?

É que isso não tem como ser baseado em estatística, já que dificilmente veremos sonhos iguais, e mesmo que entremos em contato com duas descrições idênticas, certamente as associações serão diferentes. Isso quer dizer que cada sonho é tão único, idiossincrático, que não há como fazermos um estudo pra comprovar através de testes incansáveis que os sonhos possuem mensagens: Não existe uma linguagem universal e observável para interpretar sonhos. Porque há tanta diferença em significados que pode-se, basicamente, perceber fatos diferentes em sonhos diferentes. A variedade de significados e conteúdos é grande demais e não há como separarmos apenas alguns para estudá-los separadamente. Ou seja, é uma análise onde a razão não é o fator principal. Muito intuitiva e que não pode ser sistematizada.

Estudos quantitativos, nessa área, tendem a não ter muita utilidade. Assim, o método tradicional classifica essa forma de conhecimento como subjetiva e, portanto, não científica.
Mas é aquilo que falei: a comunidade de Jung no Orkut tem mais membros do que essa, sobre psicologia de um modo geral, e mais ainda tem a comunidade de Psicanálise englobando Lacan e Freud.

Considero uma grande covardia e falta de conhecimento quando dizem que essas formas de conhecimento são placebo simplesmente porque lidam com fatos que não podem ser verificados pelo método tradicional. Esquecem que, como Kuhn e Feyerabend apontam, a ciência não evolui pela insistência num método, mas por rupturas: uma nova cosmologia (que envolve novos fatos e novos métodos) não é uma expansão da antiga, mas com freqüência a contradiz diretamente, sendo ambas incomensuráveis.
Para ser mais claro, ficou demonstrado que essa postura de querer reduzir todos os outros paradigmas ao tradicional não só é uma forma de dogmatismo com o Único Método Verdadeiro como é um entrave para a evolução da ciência. Quem inova na ciência não é quem é disciplinado e aceita todas as regras: é precisamente quem as quebra. Porque a realidade se mostra cada vez mais complexa, e vamos percebendo com o tempo que nossas regras são bem efêmeras. Não há sequer um paradigmas que consiga explicar todos os fenômenos que observa, tampouco outro que pode explicar todos os fenômenos que existem (presumindo que todos os fenômenos que existem sejam uma coisa observável).

Ora, se os paradigmas de Freud, Adler, Fromm, Lacan, Jung, etc. lidam melhor com o fato de que sonhos encerram em si significações idiossincráticas, porque deveríamos reduzi-los ao método tradicional, que claramente não engloba em si esses fatos?

Para reducionistas é mais fácil você dizer que esses paradigmas não passam de “bobagem subjetiva”. É seguro, porque assim continuam com o Único Método Verdadeiro. E negam a existência de qualquer fato que não se adapte à sua visão estreita sobre a realidade.

Veja que não tenho nada contra o método tradicional. Inclusive eu o uso até no meu cotidiano, e você pode imaginar como coisas engraçadas podem sair daí, né? Estilo The big Bang Theory mesmo. Só que para os fatos que mais me chamam a atenção, e que são sim determinantes no comportamento humano (não são de forma alguma os únicos), esse método não é eficaz.

Uma coisa interessante de se notar é que um paradigma não exclui o outro de maneira alguma. O conflito existe só por preconceito de positivistas, que não admitem que há fatos que não tem como ser explorados pela metodologia tradicional, sendo qualquer um deles mero “placebo”. Só existe pela incapacidade, diria, emocional, que alguns indivíduos têm pra “pensar fora da caixa”. Engraçado que placebo também é tabu, mesmo tendo Jung mesmo dado uma idéia legal sobre a psicossomática fora do método tradicional. E basta você entender o paradigma dele e observar a realidade sobre essa ótica pra você ver que o surgimento de doenças psicossomáticas e até mesmo a reação psicossomática contra antígenos não é uma questão de “mero sugestionamento”.”

Resposta à may

Este post contem comentário meus a um artigo. Se você leu, por algum motivo, a minha resposta e tem curiosidade sobre o texto comentado, entre no meu perfil do blogger e, lá, veja meu e-mail.

Hey...!
Em primeiro lugar, não espere uma super crítica, elaborada de maneira extremamente cuidadosa e seguindo à risca seja que método for. Minhas considerações são de um intuitivo, porque não gosto de me prestar ao serviço de robô intelectual. Vou ser humano, vou entrar em contradição e, em alguns aspectos, posso não fazer sentido algum. Apesar de que, até onde eu vejo, minhas idéias parecem ter uma relação de coerência interna (não se contradizem entre si), o mesmo pode não se aplicar á minha linguagem, porque aqui eu posso me dar ao luxo de não escrever submisso à regrinhas acadêmicas. Você verá que minha crítica parte de uma perspectiva bem diferente e que, portanto, corro o risco de interpretar de maneira dúbia a posição do texto. Espero que me perdoe nesse caso e que tenha a paciência de apontar meus equívocos. Então chega de blá blá blá.
Em várias partes do texto eu notei que se fazem críticas ao dogmatismo dos meios de conhecimento técnico, explicitando que há fragmentação e historicidade inclusas nesse conhecimento e que através destas é possível haver uma reflexão mais profunda. E através dessa, o indivíduo pode entender porque está onde está e, assim, construir uma vida crítica em relação a isso.
Para ser o mais claro possível, bem no começo, o texto possui como intenção demonstrar que seria vantajoso para a sociedade se todos os indivíduos tivessem esse tipo de atitude.
No texto, é dito:
“‘nas grades curriculares, são eliminadas quase todas as disciplinas que fazem “pensar”, pois o mercado quer “gente que faz”. As instituições literalmente disputam os “clientes” e estes vão escolher aquelas que são mais atraentes e que, geralmente, não exigem muito em termos de estudo.’”
No entanto, essa parece uma redução. Na verdade o mercado quer gente que saiba inovar para, assim, se manter na competição. Pessoa incapazes de inovar através da reflexão não suportam a competição e precisam abrir mão de suas ambições materialistas.
Na verdade uma coisa marcante nessa idéia de pensar é que ela é bem mais abstrata. O indivíduo refletir sobre sua condição histórica, aqui, é colocado como sendo mais relevante do que o indivíduo conseguir inovar numa oferta de produto ou serviço. Mas porque?
Ora, é aí que chega a minha pesquisa: porque o tipo psicológico dos autores (incluindo você e os citados) é intuitivo. Isso significa, a grosso modo, que é característico que se pressuponha que abstrações, reflexões sobre porque, para que, qual é o sentido são mais relevantes do que como, quando ou onde.
A reflexão filosófica, histórica e a percepção e representação artística, nesse sentido, são coisas valorizadas por esse tipo, para além das coisas práticas da vida. Até aí, está tudo bem. É uma perspectiva sendo apresentada, uma visão tão humana quanto qualquer outra e sem a pretensão de englobar outras em si mesma.
Só que existe outro tipo psicológico. Existe outra maneira de se ver o mundo e lidar com ele, e ela não pode (especialmente enquanto houver escassez) deixar de ser vital. Essa é a visão pragmática, tão criticada nesse texto.
Dentro dessas premissas o ser humano reflete criticamente sobre sua vida sob diferentes perspectivas? pouco provável.
Cria e/ou aprecia a arte (não o entretenimento)? também é pouco provável.
Possui, em si, ainda aquele rastro de humanidade intuitiva, aquela paixão, imaginação? duvido...
Mas por quê?
Segundo o texto, precisamente o contexto induz as pessoas a serem assim. É apresentado o seguinte trecho falando a esse respeito:
“As disposições subjetivas se encontram no âmbito da disciplina de estudo, vontade, objetivos pessoais e acadêmicos, tenacidade, interesse, formação intelectual, vida cultural, capacidade de autoavaliação e auto-organização de seus processos de estudo. [criatividade?]
As disposições objetivas se constituem dos recursos materiais e financeiros, tempo hábil de estudo, instalações institucionais e outros aspectos que proporcionam contato com a cultura e conhecimentos formais e científicos.”
E bem antes diz coisas como: “a promoção da consciência crítica” ou “A formação, enfim, sugere a apropriação dos saberes historicamente constituídos”.
O que logo culmina nisso:
“conhecer os pensadores e os pensamentos, integrar-se pela via das apropriações, às questões filosóficas e científicas que se objetivam em obras humanas imprescindíveis para que o sujeito do conhecimento tome consciência do seu tempo histórico, de suas possibilidades e limites. É preciso compreender o movimento e a gênese daquilo que se tem intenção de conhecer e transformar.”
Quando leio promoção da consciência crítica, não penso em outra coisa que não doutrinação. Felizmente quis Deus que esse tipo de doutrinação seja impossível na prática, mas já que estamos brincando de teorizar, porque não refletir sobre o assunto? Já que isso pra mim não passa de brincadeira, então agora é “à vera”.¹
Porque não é citada a criatividade (como disposição subjetiva), que é basicamente o que há de mais importante na produção de conhecimento? Bem, isso porque parece que há certos autores que procuram induzir estudantes a produzirem o “senso crítico” com base em seus próprios pensamentos. Isso fica claro quando lemos teses (inclusive de mestrado e doutorado) onde os alunos citam basicamente os próprios professores. E ainda têm a cara de pau de dizer que estão “promovendo o pensamento crítico!” (lembre-se que não estou falando de você e que está longe de mim a intenção de ser grosseiro. Isso pra mim é brincadeira!)
E porque o conhecimento tem que ser formal? Porque tem que estar nesse formato acadêmico que, com freqüência, faz meu estômago se revirar, de tão robótico que é? Fico pensando sobre o mesmo tópico: será que a intenção desses autores é realmente promover o pensamento crítico? Ou será que buscam apenas promover a si mesmos através de seus alunos e de suas apresentações e teses?
Como Feyerabend disse e citei no e-mail que te enviei (enrolando por preguiça de escrever isso tudo que eu, se fosse você, teria preguiça de ler):
“um físico talvez prefira um artigo mal-escrito e parcialmente incompreensível, cheio de erros, a uma exposição cristalina porque tal artigo é uma extensão natural de sua própria pesquisa, ainda bastante desorganizada, e ele pode ter êxito bem como clareza muito antes de seu rival que jurou jamais ler uma única linha confusa (uma das qualidades da escola de Copenhague era sua habilidade em evitar decisões prematuras).”
Só que isso pode não ser considerado formal e nem mesmo científico. Aliás, a decisão de que tipo de leitura o indivíduo precisa é sempre e completamente estúpida. Não é assim que as coisas funcionam se o indivíduo busca autonomia intelectual. Não mesmo!

Uma das idéias mais interessantes que já tive e que culminou em várias outras, eu a tive assistindo um filme de zumbi! Exatamente um filme de zumbi!
Isso porque o que propicia a nossa criatividade não é a leitura e o conhecimento da visão de um zilhão de teóricos (que, em sua maioria, só estão copiando o pensamento crítico de alguém). Não mesmo. O que nos propicia essa criatividade (em termos de leitura [não creio que a leitura seja o mais importante, mas isso eu falo depois]) é muito mais deixar nossas leituras fluírem conforme nos agradar, sem regras, sem restrições e, especialmente, sem disciplina.
Existe uma relação direta de oposição entre criatividade e disciplina. Um soldado é disciplinado, mas não é criativo. Um artista é criativo, mas não disciplinado. E a produção de conhecimento também é uma forma de arte. Apenas numa linguagem mais feia e racional. Isso, claro, quando me refiro ao conhecimento sobre o ser humano e sua cultura, que é sempre imerso em subjetividade. E dou Graças à Deus por isso, porque se fosse objetivo, seríamos robôs. Tomei gosto pelas infinitas contradições e incoerências dessas áreas do conhecimento.
Então não, “a relação com o conhecimento [não] está diretamente definida por sua postura de estudo e de conhecimento de mundo em função do acesso a cultura escrita fundamentada por suas disposições objetivas e subjetivas.” Como o Feyerabend aponta (procurei no livro essa citação só pra você!) :
“A criação de uma coisa e a criação mais a compreensão plena de uma idéia correta da coisa são com muita freqüência partes de um mesmo processo indivisível e não podem ser separadas sem interromper esse processo. Tal processo não é guiado por um programa bem definido e não pode ser guiado por um programa dessa espécie, pois encerra as condições para a realização de todos os programas possíveis. É, antes, guiado por um vago anseio, por uma ‘paixão’ (Kierkegaard). Essa paixão dá origem a um comportamento específico que cria as circunstâncias e as idéias necessárias para analisar e explicar o processo, para torná-lo ‘racional’.”
Assim, a relação com o conhecimento é muito mais uma questão de refletir, de estar antenado(a) para esse vago anseio, do que para passar horas e mais horas debaixo de livros numa biblioteca buscando a coisa certa a se pensar. Não falo mal dos livros e de seus autores. Afinal, eu mesmo já escrevi dois livros, continuo escrevendo e lendo livros (a maioria deles teóricos, filosóficos, científicos). Apenas o que digo é que não é assim, não é com a leitura, que o senso crítico se forma. Com a leitura exacerbada, se forma a disciplina. E disciplina no meio intelectual é sinônimo de esterilidade.
Não existem obras humanas imprescindíveis. Não existe sequer um livro nesse mundo que deveria ser lido e estudado por todos os indivíduos. E felizmente, isso nunca será possível, por maior que seja o investimento financeiro e o lobby em relação às outras formas de se pensar.
Daí decorre que, na verdade, tais pensamentos parecem demonstrar basicamente aquela cristalização metodológica que eles criticam. Uma atitude é colocada no pedestal, promovendo a esterilidade intelectual e a chamando de crítica.
Assim, de um modo geral, a diferença entre o indivíduo pragmático e o que vive lendo e estudando um zilhão de livros “obrigatórios” é pequena em nível pessoal. Na prática, no entanto, o pragmático produz, enquanto que o teórico não faz absolutamente nada além de se promover com sua pseudo-intelectualidade. Em nível econômico, um é útil e o outro é inútil.
Não quero, com isso, atacar a própria noção de produção acadêmica. Pelo contrário. Apenas digo que é estéril a concepção apresentada sobre como isso deveria ser feito, e que mesmo aqueles que consideram o pensar crítico importante não poderiam tolerar por muito tempo esse tipo de doutrinação (castração) do intelecto. Você mesma, aliás, se voltou para a arte, contra toda essa besteirada. Isso me lembra uma voz que Jung ouviu, dizendo que a psicologia na verdade é uma arte. Eu extrapolo até para o conhecimento filosófico: isso pra mim é arte. Só assim que pensar, refletir e pesquisar pode realmente ser gratificante. O que existe fora disso é auto-afirmação e bobagem.
Romão (meu lulu na... não vou nem rimar) disse:
“a ciência não significa adequação perfeita dos juízos à realidade, nem é um conhecimento absolutamente certo a orientar uma ação isenta de riscos, mas uma correção progressiva das distorções introduzidas pelo entendimento humano na abordagem da realidade, tanto em função de sua ontologia quanto de sua ideologia.”
Quando eu vejo alguém escrever uma coisa dessas só uma palavra (neologismo?) surge na minha cabeça: whatahell!?
Assim, só lembrando que a ciência também é uma forma de entendimento humano, e que, cientificamente, um zilhão de atrocidades foram cometidas, como o darwinismo social. Parece que é sacanagem quando dizem que a ciência corrige alguma coisa. É só mais uma forma de ver as coisas, só mais um método. Não há como provar que a ciência corrige distorções: em última análise, ela pode muito bem estar introduzindo novas distorções. Não é o melhor e nem o mais interessante (pelo menos na linha racionalista) do que outras formas de se perceber o mundo.
Eu agora me pergunto se você ainda está lendo essa bobagem. Mas enfim, já que me propus a escrever, então pelo menos cumpro minha palavra. Talvez eu publique no meu blog, pra que seja publicamente ignorado. Mas enfim...
Chego agora numa parte que exalta o conhecimento escrito... E eis aqui algo que me deixou ligeiramente indignado:
“[A] ubiqüidade da cultura escrita permite percebê-la como um modo de organização social em que a produção e a circulação do conhecimento, dos costumes e dos valores se fazem por meio de e em função de seu uso.”
(...)
“O ato de ler e de escrever transcende as formas simplesmente de ensino a que se dispõe a escola”
(...)
“O ato de ler e escrever assume um papel fundamental em relação ao pensamento. O indivíduo, ao lidar com a língua e a escrita, toma consciência do mundo e da linguagem e encontra condições favoráveis para monitorar a atividade intelectual.”
Aqui eu planejava encontrar um trecho de um livro com textos de Schopenhauer chamado Sobre o ofício de escritor. No entanto, à despeito dos meus obstinados dois minutos de procura, não achei o bendito. De qualquer maneira, lembro da idéia, então a expresso fingindo ser minha.
O ato de pensar é diferente do de ler e, com freqüência, está oposto a este. É mais importante para um indivíduo refletir sobre o que ele leu cuidadosamente do que simplesmente continuar lendo. Porque a reflexão é ativa e a leitura é passiva. Se o volume de leitura é grande demais, o conteúdo é absorvido através de memória mecânica, não é atribuído a ele nenhum valor, nenhum tipo de juízo. Morre o senso crítico. Claro que na ausência de leitura o indivíduo viverá fechado num ovo, se esperança de transcender seu próprio egocentrismo. Mas isso não quer dizer que a leitura seja o último biscoito do pacote.
A transmissão dos costumes e valores há muito não se faz pela escrita. Pelo contrário, a TV e o Cinema tomaram essa função para si com grande facilidade. Podemos escrever a tese mais límpida coerente e louvável: ela nunca terá mais influência que um filme Avatar ou Crepúsculo (abominação).
Diferentemente do citado, creio que as potencialidades de representação e ensino de uma aula são muito maiores do que as da escrita e da leitura para a maioria das pessoas.
Em primeiro lugar porque uma coisa escrita não responde às suas contestações e nem às suas duvidas. Ela não tem consideração sobre sua forma de se expressar e entender, então não vai tentar te explicar com outras palavras. Isso seria resolvido com o contato virtual, onde você poderia ler e ao mesmo tempo interagir.
Só que aí é necessária uma ferramenta eficiente de comunicação e equipamentos bem eficientes. Seria basicamente uma aula à distância.
Pra mim o abismo em potencial da aula presencial e um livro é a afetividade. É o professor envolver os alunos, demonstrar a eles que se importa, que os ama, que quer pra eles o melhor. Ser divertido, criativo, cativante. Cite pra mim um texto acadêmico que faça isso e eu vou dar um salto mortal pra trás no mesmo instante: todos os que eu vi são um porre, que só consegui mesmo ler por amizade ao autor ou por apresentar uma perspectiva interessante sobre um tema de pesquisa.
Claro que se a aula é uma caricatura do conhecimento escrito, onde o professor faz os alunos lerem a matéria e fica simplesmente falando e esperando que eles memorizem é inferior ao conhecimento registrado nos livros. Mesmo que, na prática, alguns indivíduos aprendam com maior facilidade ouvindo do que lendo, esse tipo de aula é cansativo, chato. É um pé no saco.
Pensar criticamente, refletir, aprender é criar. O pensamento que não envolve um processo criativo onde o sujeito integra o conhecimento em si mesmo (mesmo que seja para criticá-lo) não é aprender. É memorizar. Para isso seria mais adequado o indivíduo instalar um disco rígido na cabeça e “armazenar” a informação.
Sabe, may, eu sou da opinião de que faríamos muito pela sociedade promovendo autonomia e criatividade. Promovendo, através disso, o desenvolvimento da individualidade dos indivíduos ou, como você verá no livro da Nise, o processo de individuação. Promovendo não o conhecimento como forma de reformar a sociedade, mas de o indivíduo tomar consciência de si mesmo. Porque há um conflito entre uma forma chata de saber, onde o indivíduo apenas memoriza informações por obrigação, e uma forma vazia de entretenimento, que é justamente o momento em que ele esvazia a mente. Em nenhum momento o indivíduo é criativo, em nenhum momento alguém o permite ser criativo, ninguém o instiga a isso. Só vemos um monte senhores da verdade, dizendo que obra são obrigatórias e coisas do gênero.
Pra mim, a pessoa pode ter escrito a maior abobrinha do mundo. Se ao menos ela se deu ao trabalho de pensar essa abobrinha sozinha, com a informação que ela possui integrada na própria mente, isso já é um milagre. Eu, afinal, comecei convencido de que semanas na verdade possuem 8 dias e de que morango é o exato oposto de chocolate! Por sorte eu era calado demais ou não houve ninguém pra me dizer que o que eu pensava é idiota e indigno. Não, eu segui pensando isso até comer o biscoito de doce de leite!
Pra mim não tem diferença se é um robô pragmático ou um robô acadêmico. Ainda assim ele só segue algoritmos, ele só repete padrões. É estéril...!
Nesse ponto eu fui dormir, então talvez fique evidente uma diferença na minha forma de me expressar. Tomara que não piore :p
Não texto, foi dito:
“diante da atual conformação do capitalismo, em que se destacam as inovações tecnológicas, seria grande a necessidade de uma educação ampla, formativa, que transcendesse o tecnicismo e o pragmatismo
(...)
“O reconhecimento do caráter histórico, dinâmico, inacabado e provisório do conhecimento, estendendo essa compreensão da mutabilidade e historicidade para a análise da sociedade e da própria humanidade. (MACHADO, 1995, p. 84)”
Aqui parece haver um juízo pragmático implícito. À saber, que a educação ampla e formativa seja de utilidade para o desenvolvimento tecnológico, auxiliando no avanço da ciência. Para isso, seria necessário tomar consciência da verdadeira “fragilidade” do conhecimento, para que a ciência e a tecnologia possam se desenvolver de maneira apropriada, sem cristalização paradigmática. Só que há um pequeno problema: o avanço da tecnologia ocorre com rupturas. Novos princípios físicos, por exemplo, fundamentam novas formas de tecnologias, mas esses princípios não surgem da extrapolação de uma teoria mais antiga, tampouco da observação de novos fatos. Antes, uma teoria antiga é literalmente demolida para ser substituída por outra, que trará novas implicações tecnológicas. E, de um modo geral, essa mudança se faz pratica apenas lentamente: no início, tecnologias surgem com a combinação prática dos dois princípios, até que um substitua completamente o outro.
Só que há um problema todos os paradigmas possuem implicações técnicas e tecnológicas próprias. Um indivíduo com os paradigmas físicos da época em que Nikola Tesla não tinha inventado a corrente alternada (que usamos hoje em dia) usava a corrente contínua e fazia a sociedade funcionar com esse princípio. Naquela época, de nada adiantaria reconhecer que esse ou aquele paradigma é frágil em nível histórico e/ou ontológico: para ele trazer luz pra casa das pessoas, era o paradigma daquela época que ele usava.
Não adiantaria para um empresário, por exemplo, conhecer o contexto histórico da economia e ter lido O capital, de Marx. O que ele precisa saber, onde ele precisa inovar, são coisas que existem no nosso Zeitgeist² de agora. Não é relevante para quem vai produzir saber uma coisa assim. A relevância desse conhecimento está mais na hora de entender o contexto local para a implementação de políticas públicas. Mas para a educação de todas as pessoas isso está longe de ser necessário: é bom que aqueles que vão precisar desse conhecimento o possuam, e vantajoso que quem possua interesse também o possua. Nossa sociedade é dinâmica demais para se afirmar que existe algum tipo de conhecimento teórico que todos deviam ter, algum livro que todos deveriam ler. Nem todas as pessoas querem analisar a realidade, e é lícito que elas façam o que bem entenderem...
“A assunção da educação geral como um bem intrínseco e não como algo que se determina em função de seus fins. A verdade mais nobre seria a procura do conhecimento enquanto tal, de modo que a Universidade se caracterizaria como lugar da procura da verdade e, só depois, como o lugar de sua aplicação; as faculdades profissionais só têm razão se submetidas ao cultivo da ciência.” (PEREIRA, 2008, p. 70).
É aquilo que falei. Procurar a verdade é bonito, mas não enche barriga. É bonito, mas fútil, porque há tanta multiplicidade paradigmática que não vejo como alguém pode realmente acreditar que há uma verdade. Existem universidades que formam trabalhadores e outras que formam cientistas e pensadores. E, até onde sei, há um equilíbrio entre oferta e procura desses cargos. Que a educação como bem intrínseco seja apresentada por professores (como com freqüência o é) e que os alunos decidam se isso é verdadeiro ou não.
“A compreensão da formação profissional incorporando a perspectiva de cidadão instruído, culto e ético. A educação completa ofereceria mais que conhecimentos e habilidades pragmáticos, contribuindo para que o indivíduo seja ativo e reflexivo. O princípio básico dos estudos de educação geral encorajaria a participação na vida social como pessoa livre, instruída e culta (PEREIRA, 2008, p.70).”
Ficou vago. Na prática, o que isso significaria? se todos nós lêssemos a constituição, conhecêssemos a lógica da luta entre as classes. O que isso mudaria na nossa vida? a mim parece que não há consciência que seja mais poderosa do que as exigências do mercado. A mobilização popular, por mais que seja bela, é economicamente desastrosa. Vivemos num mundo de escassez e precisamos de um mercado. E o mercado demanda esse tipo de educação. Isso é feio e desagradável, mas fazer o que? (não é uma pergunta retórica)...
É aquilo que eu falei: se 40% da humanidade fosse precisamente como eu, passando todo esse tempo lendo e estudando coisas teóricas, nossa população nunca poderia ter se tornado tão grande. Porque nossa população é muito grande e não é necessário que tantos indivíduos produzam conhecimento dessa natureza. Temos nossa demanda e nossa oferta. Um desequilíbrio aqui seria economicamente desastroso. Aliás, se todos fossem intelectuais, nossa espécie desapareceria. O pragmatismo não é uma praga. É desumano, feio, irritante, mas completamente necessário á nossa sobrevivência.
Eu mesmo lendo isso (se é que chegaria a ler tudo) ficaria irritado. Tal nível de pragmatismo me dá nos nervos, precisamente porque não está na minha natureza, no meu modo operante, aceitar coisas assim. E a humanidade, apesar de que em grau pequeno, ainda necessita de alimento para o espírito. Ainda é crucial pararmos para ouvir uma música, lermos um romance, assistirmos um filme (que não seja clichê de Hollywood). No fim do dia, o ser humano ainda quer filosofia, ainda quer arte, ainda quer sua humanidade. E, segundo minha visão, isso é mais freqüente hoje do que antigamente, especialmente por conta da Internet e da diminuição da escassez.
De fato, a indústria cultural produz merda diariamente. E de fato cria produtos que mais esvaziam a mente do indivíduo do que o fazem refletir. E realmente eu consideraria preferível que programas que instigam que fazem o indivíduo pensar, tomassem frente. Mas a verdade é que não há demanda. Esse não é o nosso Zeitgeist. Pessoas comuns gostam de coisas banais e comuns, e não seremos nós a moldar suas mentes. Sim, o mundo está uma merda, vemos coisas revoltantes acontecendo todos os dias. Coisas que não fazem sentido³. Só que é isso que temos...! E felizmente, para nós, há espaço para manifestarmos nossa arte e o nosso pensamento, não?
Nossa função aqui é conservar o espírito humano e deixá-lo sempre disponível a quem quiser procurá-lo. Tenho para mim que conforme a escassez for diminuindo através do avanço tecnológico, os trabalhadores sairão do setor de produção (que produzirá mais com custos menores) e passarão para o setor de serviços.
E não é a educação parte desse setor. Na prática, creio que só precisamos viver mais e que a proporção entre o número de professores e alunos mude. Um professor de ensino médio com uma turma de 35, 40 alunos, simplesmente não tem como transmitir o conhecimento de maneira dinâmica: o tamanho do grupo inibe qualquer manifestação individualizada.
Por enquanto, as coisas permanecerão como estão. Creio que é possível que vejamos essa mudança começar no nosso tempo de vida. Daqui a uns 50 anos, quando a biotecnologia estiver mais desenvolvida, teremos uma diminuição dramática na escassez. Aí a produção será mais barata e teremos que nos preocupar cada vez menos com a sobrevivência, tendo mais tempo para a reflexão.
Isso me leva à parte mais mística das minhas opiniões, que talvez pareça ridícula ou revoltante.
Estamos num período de transição na nossa sociedade, onde valores como o conhecimento, a liberdade e o amor estão se tornando mais... Psicologicamente imperativos. Temos o Movimento Zeitgeist⁴. Inclusive escrevi um texto⁵ a respeito disso, onde expus que nosso psiquismo está se alterando em nível coletivo, especialmente por conta das mudanças climáticas. Aconselho que você dê uma olhada nesse material quando tiver tempo. Nossa civilização está se emancipando e somos parte disso.
Estou honestamente de saco cheio. Considerarei um milagre se você chegar a ler isso. Se nos correspondermos, no entanto, você verá que esse texto dá uma introduzida (mesmo que mais ou menos incoerente) à minha forma de pensar, de maneira que se você ler mais alguma coisa, será muito mais fácil assimilar.
Anyways, chega dessa bobagem intelectual por hoje...
1)      Não sei se dizem isso por aí, mas por aqui isso significa que um jogo de bolinha de gude valia a bolinha. Se você é acertado jogando à vera, você perde sua bolinha.
2)      O espírito do tempo, o conjunto de conhecimentos de uma determinada época.
4)      Movimento que surgiu depois do lançamento de dois documentários na Internet por Peter Joseph:
Esses vídeos foram apresentados num festival artístico e depois postados na internet. Incrivelmente, logo nos primeiro meses eles tiveram dez milhões de vizualizações e ficaram muito populares sem nunca ter sido publicado na TV.

The Gust of Desire

It was the perfect day. I know it makes no sense to say that, but who cares? The old walls where wrecked, the old forbidden was now suddenly allowed. I took my car at the same our as every day and she was there, waiting for me with that happy but sorrowful smile on her face. She was using makeup, and fancy clothes. She knows that brings up my attention. Guess that's what she wanted in the first place. We arrived at my place, left the car and started walking on the neighborhood. The same as always.

- You know, i was thinking about what to say to you in our conversation, but i have no idea. Maybe today is not the day to talk after all... - she said looking at me with expectations

Last time, yesterday, we got in a close point to that and i ran away. There was a wall between us, and i was too scared to jump over it. But not that day. I woke up wild, like a beast.

- I wonder if you think about the things we say to each other often. I have been thinking a lot, lately. Seems like, even though i have all my issues, sometimes a just stop to think about it. It feels... wierd, strong... exciting – i Said
- I think about it everytime i get an oportunity. It's like i'm forbiden to do so, then i only think about it alone. But tell me, what are your thoughts?
- I keep thinking about those walls we face in the end of our journey. What if they where magicaly gone for good? What if we crossed them and arrived at the other side?
- I supose the sensation would be... enpowering... But what about the consequences?
- I woke up mad today, dear. Like i spent the night flying with a gust. Consequences are a matter of logic, reasoning. I could'nt care less about such things...
- But will it be only once?
- I don't know about the future and have no interest on it. Right now a just want to cross that wall and see what happens.
- But i't wrong!
- How can you be so sure? Why is it that we, little dots in the universe, always want to say what can happen and what cannot happen? To hell with that. Let the gods decide!
- What are you saying…?
- Do you feel the wind?
- Yes... pretty cold, today...
- Well, the blow from my direction towards yours. Lick the point of your finger and point to the moon. If the wind changes, we'll cross the wall…
- That's not going to happen. It never happens!
- Then maybe we won’t cross the walls. But it is not worth the atempt?
- I don't know...
- Yes you do...

She looked up to de sky. Started breathing faster, stronger. She put her finger um my mouth. Don’t really know why, but I kind of enjoyed it. She closed her eyes and pointed the finger up to the moon.

- For how long¿ - she said
- Try for one minute…
- But that not enough. The wind will never change in time
- the we’ll wait for two minutes.

I started looked in my watch to count the time. One minute passed, nothing happened. Maybe I was just crazy. That was the though in my mind. Just a mad man. When the clock marked minute and fifty five seconds, o dropped my arm and almost started talking. But the wind closed my mouth shut, as it changed so violently that she was dragged to me. There was this littler pipe on the ground and I slipped and fell. She fell with me in the grass, on top of me. We looked at each other for some time. Everything got calm, clear. We kissed. I never hugged her like that. Never imagined she was so soft…

- Shall we cross the walls, then¿ said she
- Yes. I heard there is an apple three there…
- You want to eat from it¿
- yes…
- But… What about her¿ - she said looking back to the street, pointing to my house
- She’s my soulmate, sweetie. And will remain like that.
- And what about me¿
- You will always have a share of my heart, my soul, my mind and my body.

She walked in the direction of the wall. Looked up, took a long and strong breath. I helped her up and managed to get up by myself. There where Christmas lights in the three. We ate from it peacefully. No longer we were in a hurry, nor scared or fighting fate. No. That was love…

Uma dúvida sobre o conflito entre Monogamia e Poligamia

O presente post foi criado como um tópico na comunidade de Carl Jung, no Orkut. Por questões de compreensão mais clara, terei que colocar o debate dentro do próprio post. Se alguém se prestar a comentar isso aqui no blog, também ficarei grato... Como o leitor atento poderá perceber, essa está longe de ser uma questão sobre a qual eu tirei alguma conclusão. Se e quando isso acontecer, ela virá noutro post. E tem apenas como objetivo manter o bruto do debate, que está bem produtivo.


Estive pensando sobre as atitudes descritos por Jung em Tipos Psicológicos, especificamente depois de ler a seguinte passagem:

“Biologicamente falando, a relação entre sujeito e objeto é sempre uma relação de adaptação. Cada relação dessas pressupõe efeitos modificativos de um sobre o outro. Essas modificações constituem a adaptação. As atitudes típicas para com o objeto são, portanto, processos de adaptação. A natureza conhece dois caminhos fundamentais diferentes de adaptação que tornam possível a sobrevivência dos organismos: um caminho é a enorme proliferação, mas com relativamente pouca força defensiva e curta duração; o outro é a dotação do indivíduo com inúmeros meios de autoconservação, mas com relativamente pequena proliferação. parece-me que este contraste biológico não é apenas análogo, mas o fundamento geral de nossos dois modos psicológicos de adaptação.”

(Tipos Psicológicos, Vol VI segunda edição, Editora Vozes, parágrafo 624 - página 317)

Até onde pude ver nesse trecho, Jung parece ter aberto um enorme espaço para implicações nas relações humanas, especificamente nas relações reprodutivas e, portanto, amorosas. Imaginei que isso poderia ser visto no nosso contexto (que considera a bigamia um crime) segundo casos bem típicos: algumas pessoas facilmente se envolvem e relações vitalíceas enquanto outras vivem pulando de relação em relação sem envolvimento demasiadamente profundo. Ficou, então, demonstrado para mim que essa descrição de Jung se aplica na interpretação de porque há tais diferenças típicas.

No entanto, continuei pensando e fui levado à outras considerações, lembrando de uma passagem no início do livro(prólogo, parágrafo 4):

“Mas todo o indivíduo possui os dois mecanismos, tanto o da introversão como o da extroversão; e apenas a relativa preponderância de um ou de outro define o tipo.”

E depois, no parágrafo 73(da tentativa de conciliação de Abelardo):

“Toda expressão lógico-intelectual, por mais perfeita que seja, retira da impressão objetiva sua vitalidade e imediatidade. Ela tem que fazer assim para poder chegar a uma formulação. Com isso se perde, no entanto, o que parece ser o mais essencial para a atitude extrovertida: a relação com o objeto real. Não há, portanto, nenhuma possibilidade de encontrar, através de uma ou de outra atitude, uma formula de conciliação satisfatória. (...) Para a solução, é preciso um terceiro ponto de vista, intermediário.

Confesso que, nessa parte, ficou confuso em que trechos ele fala sobre a diferenciação de Sensação e Intuição e quando fala de Extroversão e Introversão. Parece que nessa parte ele associa Intuição à Introversão e Sensação a Extroversão. Mas isso eu deixo de lado pois não vem ao caso.

Então, reformulando, a Extroversão e a introversão são formas típicas de manifestação que podem ser vistas até entre os animais. É algo como um par de opostos natural: tartarugas deixam milhares de ovos na praia e Baleias carregam um filhote por meses na barriga, que demora anos para amadurecer e exige muita dedicação e proteção.

E, segundo a teoria de Jung, o ser humano não possui apenas uma dessas atitudes, mas ambas. As duas se manifestam na sociedade e até mesmo num indivíduo. Apesar de nosso mecanismo biológico exigir dedicação natural para a proliferação, nossa atitude psicológica com é tão variável quanto é grande a diferença de reprodução entre tartarugas e baleias.

Para fora do contexto, poderíamos classificar uma relação tribal de poligamia:

No regime de matrimônio por grupos, ou talvez antes, já se formavam uniões por pares, de duração mais ou menos longa; o homem tinha uma mulher principal (ainda não se pode dizer que fosse uma favorita) entre suas numerosas esposas, e era para ela o esposo principal entre todos os outros. Esta circunstância contribuiu bastante para a confusão produzida na mente dos missionários, que vêem no matrimônio por grupos ora uma comunidade promíscua das mulheres, ora um adultério arbitrário.” (Friedrich Engels, 1891)

Lendo isso, vi que essa forma de relação é, em essência, extrovertida, embora, em seu âmago, exista algo de introversão: porque há uma (e um) principal. E vendo nossa forma, vejo precisamente o contrário: temos relações monogâmicas, mas que se quebram tão facilmente que é possível ao indivíduo ter relações com diversas pessoas. Assim, em ambos os contextos, as duas atitudes são manifestas (e não pode ser de outra maneira), mas cada um favorece um tipo psicológico diferente.

Pode-se dizer, portanto, que são casos parciais os de ambos os contextos. No regime “primitivo”, o matrimônio por grupos é mais extrovertido, e no nosso, o casamento monogâmico é mais introvertido: apesar de que no caso do primitivo há uma (um) conjugue principal e que, no nosso contexto, a traição seja extremamente freqüente.

Jung, por exemplo, teve um caso vitalício com Toni Wolff, que Jung considerou como uma “segunda esposa”. Isso sem falar nos possíveis casos com Sabina Spielrein e Maria Moltzer. Inclusive, até onde sei, a relação de Jung co Wolff foi essencial para o processo de individuação dos dois, mesmo contrariando o estabelecimento cultural monogâmico (apesar de que com o consentimento de Emma).

Considerando esses pontos e a explicação sobre o processo de individuação, onde fica claro que todas as funções e atitudes psicológicas estão envolvidas no processo, minha duvida surgiu:

Nesse caso, as relações íntimas de “individuados” não é monogâmica e nem grupal: Então como é?

Se for como o caso de Jung, então como pode um indivíduo alcançar a individuação numa sociedade que certamente recrimina tais hábitos?

Aceito (e busco) qualquer tipo de correção no presente texto e também a indicação de artigos e livros vindos de qualquer autor sobre esse tema, mas prefiro ler comentários feitos diretamente pelo pessoal daqui.



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A partir daqui começa o debate da comunidade do orkut. O indicativo de quem fala o que é o nome seguido de dois pontos e logo depois um texto entre aspas. Quando as aspas se fecham, uma linha divisa o fim da fala de um dos participantes e o início de outro, com o nome, dois pontos, etc.
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Charles:

“Nesse caso, as relações íntimas de “individuados” não é monogâmica e nem grupal: Então como é?

Essa é uma expressão que afirma existir seres individuados... Mas será que existem? Eu diria que é uma proposição mais idealista. Quando afirma que as relações de individuados não é monogâmica e nem grupal, é como se afirmasse que não é nem introvertida nem extrovertida... É como se o equilíbrio no individuado fosse total. Mas não é. O individuado é um indivíduo no mundo e não fora dele. Assim, ele considerará o meio em que vive, assim como sua própria pessoa, pois a individuação não exclui o outro, mas inclusive, é instigada por ele. Como indivíduo ainda mais exclusivo que qualquer outro, é difícil prevermos o comportamento de um "individuado", pois ele leva em conta a totalidade de seu ser e das situações porque passa, e faz justiça a elas. Mas veja bem: todas essas são considerações ideais. Se considerarmos Jung como um "individuado", já que ele disse que realizou o inconsciente em sua vida, seu comportamento teria sido previsível? Ele foi monogâmico ou grupal? Ele traiu a esposa, mas outro "individuado" a teria traído? Não sei...

Se for como o caso de Jung, então como pode um indivíduo alcançar a individuação numa sociedade que certamente recrimina tais hábitos?

Em termos de individuação, eu diria que a recriminação pode servir tanto de estímulo quanto de desencorajamento. Se você ler o livro de Hillmann - "O código do ser", compreenderá o que quero dizer. Dei uma pesquisada e aqui na comunidade há tópicos a respeito:

- O código do ser
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Eu:

“Charles,

Eu li esse livro. Baixei, inclusive, do seu 4shared e editei. Diminuí consideravelmente a quantidade de páginas, mas ele perdeu a proporção com o original por isso. Se quiser te envio, só passar o e-mail por depoimento.

Enfim, de que trecho desse livro você fala? Da determinação platônica da poligamia, que poderia ser para alguns e não para outros?

Não lembro se há algo específico sobre esse assunto.

Teríamos, então, que esquecer qualquer classificação genérica e deixar esse ponto para um plano essencialmente pessoal, sem que seja possível um mínimo de "tipificação"?”
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Trismegistos:

“Silas;

Acho que é possível uma “tipificação”, só que muito mais branda. Penso que a forma como você assimilou a questão é que está um pouquinho equivocada, veja bem:

As relações mono e poligâmicas não são determinadas pelos tipos e os tipos, por sua vez, à questão da proliferação, como se fossem seu fundamento orgânico. O que Jung quis dizer com “fundamento geral” é apenas esse “traço energético”, essa potência, que segue uma “tendência a” adaptação de uma forma ou de outra, essa é a raiz da fenomenologia dos tipos, mais é bem mais complexa do que uma questão puramente biológica ou padrões de comportamento sexual.

Toda a ênfase está na possibilidade de “oscilação” dessa energia, de como a adaptabilidade pode ser levada a cabo de maneiras opostas (e aqui temos o “problema” dos opostos). É isso que Jung põe no “fundamento geral”, entende?
Quando falamos em aspectos culturais das relações amorosas falamos, num ponto de vista amplificado, das estruturas de parentesco de uma sociedade, algo tão elementar de qualquer organização social que não podemos reduzir aos aspectos tipológicos, somente tentar identificar pequenos pontos em que essa dinâmica ocorre no âmbito dessas relações.

Podemos identificar, por exemplo, um tipo de sociedade que dá mais ênfase a uma ou outra atitude de uma maneira mais ou menos clara, daí compreender uma nuance no sujeito de tipo oposto. Aqui concordo com o que o Charles disse, isso pode encorajá-lo ou dificultar o processo de individuação. Aqui caímos no plano da subjetividade particular, e as coisas se tornam tanto mais claras (pela fala do sujeito) quanto mais complexas.

É difícil teorizar, já que entre “introversão” e “extroversão” (que é pura teoria), ou seja, nas possibilidades opostas dessa fenomenologia, existem milhões de graus intermediários. Por isso só podemos dizer “mais para introvertido”, “mais para extrovertido”, “Meu Deus, ele é um extrovertido unilateral!” etc,etc ... Lembrando sempre que ainda temos a questão da “marca” subjetiva.

Você traz a questão do “individuado”, por isso a argumentação não pode fugir do “sujeito”, no que ele tem de mais particular como, por exemplo, sua tipologia. Na resposta às suas perguntas eu concordo com o Charles também, depois eu acrescento alguma coisa.
Eu entendi bem sua linha de raciocínio, é muito interessante, se você amadurecer mais essa idéia com certeza ficará mais ainda.

Se eu puder ajudar, estou aí.

Abraços.”
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Eu:

 

“trismegistos

 

Você disse : “As relações mono e poligâmicas não são determinadas pelos tipos e os tipos, por sua vez, à questão da proliferação, como se fossem seu fundamento orgânico.”

Na verdade o que penso sobre isso é mais abstrato. Não estou cometendo a ofensa comum de redução ao biológico. Apenas disse que Jung amplificou as atitudes psicológicas de modo que elas possam também classificar a forma de reprodução dos animais. Ou seja, é um princípio natural e abstrato que se manifesta tanto no nosso psiquismo quando na natureza de um modo geral. Na verdade, por conta do tempo de gestação e dos cuidados que precisamos ter com nossos filhos, se eu fosse levar isso pro puramente biológico, provavelmente o argumento daria maior ênfase à monogamia, que permite maior concentração do pai no bebê.

Você disse: “Quando falamos em aspectos culturais das relações amorosas falamos, num ponto de vista amplificado, das estruturas de parentesco de uma sociedade, algo tão elementar de qualquer organização social que não podemos reduzir aos aspectos tipológicos, somente tentar identificar pequenos pontos em que essa dinâmica ocorre no âmbito dessas relações.”

Pois esse é um ponto que me deixa pensativo. A tipificação de Jung, até onde sei, pode ser transposta para as idéias (sendo assim, podemos avaliar premissas e até metodologias correspondentes a um tipo ou outro), para o reino animal e para grupos de indivíduos. Não sei você, mas parece que em tudo eu vejo essa dicotomia extroversão X introversão. Daí, como coloquei, há traços de monogamia e poligamia nas duas sociedades, mas cada uma tende para um lado. E agora que chega o ponto: não seria, porventura, um ser humano harmonizado precisamente aquele que pode, dentro do seu contexto, manifestar as mais diversas formas de relacionamento? E não é o relacionamento introvertido mais profundo e o extrovertido mais amplo?
O que quero dizer é que poderíamos tipificar as próprias relações: a relação poligâmica seria extrovertida, e a monogâmica introvertida. Isso implica dizer que pessoas introvertidas se adaptariam melhor numa relação monogâmica, e as extrovertidas numa poligâmica.

Uma coisa que me deixa meio confuso sobre o processo de individuação é isso: que todos nós tomamos consciência da Persona; confrontamos e integramos a Sombra; integramos Anima/Animus (alcançando, assim, uma espécie de condição psicologicamente andrógina original, como aquela apresentada em O Banquete); e daí chegamos no Self (que é um conceito meio nebuloso pra mim). E, até onde sei, individuar-se implica a vivência das mais diversas faculdades humanas, que incluem as atitudes e as funções psicológicas. Não podemos esperar, por exemplo, que nos individuemos sem desenvolver o sentimento ou sem o pensamento. Da mesma maneira, sem desenvolver a extroversão e a introversão, porque o próprio processo nos mantém numa constante alternância tipológica, mesmo mantendo o tipo primordial mais ou menos fixo.

Ora, se a relação introvertida é monogâmica e a extrovertida é poligâmica e nosso tipo se alterna durante a vida, isso quer dizer que temos “períodos poligâmicos”. Pra isso não ficar demasiadamente abstrato, basta recorrer aos fenômenos que essa exposição explica: a constante infidelidade e o fato de que nossas relações, na ausência de coerções sociais, geralmente não duram a vida inteira (O que, de certa forma, é uma poligamia parcial). E também em relações poligâmicas, que exista uma primeira esposa, uma principal, a mais amada entre as esposas (como a relação entre Jacó, Raquel e Lea, da bíblia). Outra coisa interessante, embora não tão significativa, é que postei esse texto no meu blog e, como sempre faço, anunciei no meu perfil: a quantidade de cliques foi pelo menos três vezes maior do que meus contos mais populares (as pessoas geralmente não entram no blog, mas nesse caso houve mais interesse do que o normal :p).
A mim parece que nosso contexto social vive uma contradição: porque dá tanta ênfase às relações amorosas, mas estabelece regras que tornam a maioria dessas relações impossíveis e dolorosas, porque, à despeito do regulamento social, nossa mente continua buscando sua manifestação plena e harmônica, e isso contraria nossos paradigmas.
Talvez isso não seja um pensamento na língua Junguiana, mas me parece que nosso tipo psicológico diz apenas como funcionamos, e não quem somos. Não posso dizer que sou um introvertido-racional com intuição. Isso é como eu funciono (e nem tenho certeza). Quem eu sou, isso se define por outros termos. Nem sei quais.

A nossa cultura parece estar se tornando mais... declaradamente múltipla: mesmo diante das imposições, mórmons e muçulmanos continuam realizando esse tipo de relação, e as informações cruzam pela internet de maneira que, conforme o tempo passa, vai ficando mais difícil o indivíduo viver preso apenas em sua cultura local. Assim, conforme o tempo passa isso vai se tornando mais uma manifestação do indivíduo do que do contexto coletivo, já que praticamente tudo o que ele pode imaginar tem alguém defendendo por aí (até coprofagia!).

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Marlon:

“chê, há MUITAS questões neste tópico, o que torna difícil responder... mas, sobre alguns pontos:
-- sobre a tipologia: às vezes acho que vocês levam demasiado a sério essa "classificação". a tipologia de Jung é um "compasso psicológico", como diz o Meier. talvez seja útil ter em mente que Jung (as citações a seguir são de diversos materiais de Jung citados por Shamdasani [2005], Jung and the making of modern Psychology)não propôs uma caracterologia, mas sim uma tipologia: "My intentions and interests are also in no way directed to characterology, but in complete contrast, to typology. But not in the sense that I have established types in order to classify people with, but to have a schema with which I can order psychological material (...) Hence my typology aims, not at characterizing personalities, but at classifying the empirical material in relatively simple and clear categories, just as it is presented to a practising psychologist and therapist." (p. 86) - e especialmente esta frase: "The theory of types, he [Jung] stated, was a theoretical function “without muscle or flesh, and if you identify with it you identify with a corpse”. por último, acho que estás vendo como equivalentes fatores que não o são (extroversão e poligamia, intro e mono).

-- concordo com Charles e Trismegistos. algumas coisas que considero importantes: Emma não deu "consentimento" pro Jung (mesmo porque, para um homem como ele, isso seria ridículo); acho que Toni foi o grande amor do Jung (sem dúvida foi sua musa, sua Anima realmente criativa); Jung não tava nem aí pro "estabelecimento cultural'. Jung é UM modelo de individuação; mas não quer dizer que tenhamos que serguir uma imitatio Jungi - por exemplo, para um cara essencialmente monogâmico, isso seria errado.

-- Charles: não considero que Jung tenha "traído" a esposa. ela sabia muito bem de tudo. a Toni inclusive almoçava com Jung e família determinados dias da semana (Emma provavelmente odiava isso...). Compara isso com a moral burguesa hipócrita do Freud (que, encarnada no superego, é obrigatória para o funcionamento "normal" tanto do indivíduo como da sociedade), que teve caso com a cunhada e fez ela abortar...”

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Charles:

“Tipologia x tipificação

Silas, se vc mandar eu agradeço. Tentei baixar um, mas muitas palavras encontram-se truncadas (o seu deve estar melhor).

Com relação ao "Código do Ser", eu me referi somente aos exemplos que ele dá. É incrível, por exemplo, como a oposição a determinados aspectos de uma criança pode fazê-la desenvolvê-lo num grau ainda maior... O que mais achei importante no livro foi a desconstrução que Hillmann faz do aspecto parental. Também o acho essencialista, como o Fernando colocou no tópico sobre o livro

A tipificação só é possível na medida em que as pessoas não são plenamente elas mesmas, na medida em que se aferram a determinadas características em detrimento de outras, em que se tornam unilaterais. A tipologia não pode abarcar - não tem esse poder - de classificar as pessoas que estão sequer trilhando a individuação conscientemente. Isso porque de repente você aplica um teste a ela num momento em que ela está desenvolvendo outra função ou atitude... Se bem que seria também correto perguntar: mas a tipologia inata é a que classifica realmente uma pessoa? A resposta seria tanto mais negativa quanto mais a pessoa se conhecesse. O autoconhecimento liberta a pessoa do destino, da fatalidade da previsibilidade, da massificação.

Como o Marlon disse, Jung usava a tipologia como uma forma de se nortear na psicoterapia e não para classificar as pessoas. Embora ache útil em certo sentido, não gosto da tipologia Myer-Briggs, pois parece passar uma filosofia onde as pessoas se aferram ao seu tipo e não adotam uma perspectiva de autodesenvolvimento. Elas ficam presas no que podem fazer, no que fazem melhor e esquecem sua sombra. É a tipologia voltada à desumanização: "faço o que é mais fácil e mais prático", como uma máquina. Esse tipo de esquema não é nada dinâmico, ao contrário do que Jung fazia. Para você ter uma idéia, Jung sequer usava testes (pelo que sei), ele deduzia um tipo via observação...”

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Eu:

“Marlon

Um dos entrevistados no documentário Matter of the Heart (se não em engano, Van der Post) disse o seguinte:

“Emma Jung said to a close friend of mine just before she died... That she had never ceased to be grateful in her life for Toni Wollf... Because Tone Wolff was able to do for her husband something she could not have done”

E depois uma mulher entrevistada disse:

“I think that what’s remarkable is that… They made it… And I think that they are the ones, Tonni and Emma, they are the ones that made the threesome relation possible… they worked out something between them.”

O vídeo está no google videos:

http://video.google.com/videoplay?docid=-3225765193573569458#

Pra ver do que estou falando, vá para 1:05:25 no vídeo. Talvez você saiba quem é quem lá.

O meu ponto aqui não é a tipificação de pessoas, mas de idéias de hábitos. No Tipos Psicológicos, vemos Jung tipificar os pensamentos realista e nominalista. Tem um trecho bem relevante para esse argumento:

Parágrafo 31:
“Reconhecemos, sem dificuldade, nesta briga, novamente aqueles elementos fundamentais que já encontramos nas disputas mencionadas antes, isto é, o ponto de vista abstrato que rejeita a mistura com o objeto concreto, e o concretista que está voltado para o objeto.(...)”

Parágrafo 32:
“Quero ressaltar que esses argumentos nada pretendem ter dito de decisivo sobre a psicologia individual dos dois personagens. O que conhecemos da pessoa de SCOTO ERÍGENA – apenas o pouco necessário – não é suficiente para fazer diagnóstico seguro de seu tipo.”

Ou seja, ele identificou o conflito em nível ideológico como típico, mas ainda assim não considerou seguro determinar o tipo do pensador. Isso significa que ele admitia que uma pessoa do tipo sensação, por exemplo, poderia ter uma idéia que, em si, é abstrata, intuitiva. Mas as idéias em si, a divergência teológica, o conflito entre realistas e nominalistas, são típicas e tipificáveis. Então não se trata de tipificar as pessoas. Muito pelo contrário. Trata-se de tipificar idéias e hábitos. Assim, se determinada pessoa tem muitos hábitos e idéias de um tipo, esse provavelmente é seu tipo pessoal.

E aí que vem a questão:

Marlon disse: “por último, acho que estás vendo como equivalentes fatores que não o são (extroversão e poligamia, intro e mono)”
Não estou vendo como fatores equivalentes. Talvez eu não tenha entendido bem o que foi dito. Me explica melhor? Mas estou dizendo aquilo que Jung disse:

“um caminho é a enorme proliferação, mas com relativamente pouca força defensiva e curta duração; o outro é a dotação do indivíduo com inúmeros meios de autoconservação, mas com relativamente pequena proliferação.”

Não é característico do introvertido entrar em relações vitalíceas enquanto que o extrovertido entra em muitas relações curtas? Ou, para ser mais leal à idéia original, não é um hábito introvertido possuir relações menos numerosas e mais profundas, e um extrovertido justamente o contrário?

E, nesse caso, não poderíamos levar essas implicações para o nível dos relacionamentos amorosos e dizer que o relacionamentos amorosos? Dizendo, por exemplo, que é uma característica extrovertida que o indivíduo tenha muitas relações de menor profundidade no âmbito amoroso (porque não há como um indivíduo ser tão próximo de mais de uma companheira quanto ele seria com uma esposa única) e também que o exato oposto, a monogamia, é de natureza introvertida?

to have a schema with which I can order psychological material (...) Hence my typology aims, not at characterizing personalities, but at classifying the empirical material

O que você postou aqui parece estar diretamente relacionado ao que eu estou falando. Sobre classificar o material empírico. Só que o material empírico aqui seria os hábitos monogâmico e poligâmico.

E é aqui que o ponto principal chega: se os indivíduos não são enraizados numa atitude, então é plausível que eles se alternem entre hábitos monogâmicos e poligâmicos durante a vida e que, portanto, ambas as formas de relação deveriam estar integradas na cultura para que as relações se manifestassem “plenamente”.

Vejam bem: não estou falando necessariamente do que Jung disse ou deixou de dizer. É mais sobre as implicações filosóficas dessa classificação. O livro Tipos Psicológicos é genial porque ele corre pela cultura: não fica apenas preso na utilidade clínica da tipologia. Ele fornece meios de compreensão de hábitos, costumes e idéias em nível filosófico. Conhecem algum autor que fala sobre isso, mesmo que de passagem, ou contra isso?

Charles

Tentei revisar o arquivo e arrumei diversos erros decorrentes da interpretação do scanner: como “rn” no lugar de “m” por causa da tinta apagada, além de remover a paginação original (o arquivo ficou com 186 páginas) pra ocupar plenamente as páginas e não apenas metade como estava. Daí deve ficar difícil citar referência do livro par quem tem a versão impressa, mas pra ler no computador está bom. Me passa seu e-mail por depoimento (se estiver no seu perfil, depois eu acho e envio) que te mando hoje mesmo.”

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Marlon:

“bá, essa discussão é bastante complexa. acho que não havia entendido o que o Silas queria dizer. agora infelizmente não tenho tempo pra reler todos os comentários e pensar numa resposta... mas uma hora eu respondo.
sobre a Emma e a Toni, se a Emma realmente disse isso... o que eu não duvido... sinal de que foi uma grande mulher. (mas foi realmente um processo, e acho que bem complicado, aceitar e fazer funcionar essa relação entre os 3). vi a parte do video agora, muito interessante (quero ver inteiro uma hora); acho que o senhor é Van der Post, a mulher eu não sei... talvez Barbara Hannah, mas tem sotaque americano, me parece, e Hannah era inglesa...”