Estávamos na praia

Eu os vi removendo seu hímen
Cirurgicamente, quase indolor
Mas eu ouvi seu gemido
Eu vi que você me olhou

Você me convidou com seu olhar
Fomos pra água
Estava escuro
A água estava perigosa

Brincamos feito crianças
A correnteza nos arrastou
Você não se importou
Tentei fingir que estava tudo bem

Mas acabei saindo de lá
Te avisei, e você veio comigo
Não tinha medo da água
Só veio porque eu vim

Deitamos na areia, rolamos
Sorrimos, vi seus olhos brilhando
Quis te beijar, e um menino gritou
Percebi a multidão que nos assistia

Afinal, como declarar isso a eles¿
Que uma das regras mais fundamentais,
Meu temperamento contradiz¿
Com discursos racionais¿

Eu poderia dizer-lhes
Que cuidem de sua própria vida
Que não sou um libertino
Que isso é amor...

Mas não...
Eu escolhi fugir.
Corri contigo pela praia, alguns nos seguiram
Tinham veredictos em suas mentes

Eu nem percebi
Mas no meio dessa fuga,
Perdi você
Nosso momento passou

Num instante, eu estava no telefone
Falava com ela
Aquela que amo e que permitem
Que posso abraçar sem ser condenado

E foi bom...

Mas em alguns momentos
De reflexão, meditação
Lembro do que senti
Quando estávamos na praia...

Contato: Psicologia junguiana e mitologia moderna

Introdução

O presente texto tem como objetivo analisar o filme Contato, baseado no livro de Carl Sagan, tendo como base a psicologia analítica Junguiana. O objetivo é ilustrar o potencial analítico da teoria Junguiana e demonstrar que a profundidade do filme vai além de sua precisão no quesito de ficção científica. Será demonstrado que o filme mostra uma trajetória de vida perfeitamente alinhada com o que a teoria Junguiana poderia prever e que pode explicar, narrar.

A mitologia moderna

Quando se fala em mitologia moderna, há duas referências cruciais. As entrevistas de O poder do Mito, feitas a Joseph Campbell e a George Lucas E uma importante, porém não muito prestigiada obre de Jung: Um mito moderno sobre as coisas vistas no céu.
Ambos seguem a mesma trilha, colocando as obras de ficção, especialmente aquelas relacionadas à vida em outros planetas, como a principal fonte de projeção do Inconsciente na construção de mitos.
Anteriormente, em estágios mais elementares da civilização, nossa ignorância acerca dos elementos da natureza era muito maior. Isso permitia que o ser humano projetasse os conteúdos de sua mente nos elementos “misteriosos” da natureza. Conforme o Nominalismo de Occam[1] surgiu, com sua navalha, ficou difícil que novas formas de mitologia se firmassem, pois tal paradigma lógico trazia diferentes explicações para os elementos vistos anteriormente como sagrados.
Por causa de Navalha de Occam, que afirma que se há duas explicações sobre um fenômeno em igualdade de condições, a mais simples é a verdadeira, explicações fantásticas, resultantes da criatividade humana, que emana do inconsciente, deixaram de se manifestar livremente.
Feliz ou infelizmente, nossa ignorância não foi completamente dizimada: ainda há mistérios acerca de objetos voadores não identificados, supostos relatos de contato com alienígenas, a imensidão do universo, na qual é pouquíssimo provável que só um planeta tenha vida. Porque há mistérios, há o desconhecido, há um espaço através do qual os conteúdos mais profundos da nossa mente pode se manifestar, pela produção de mitos modernos, sejam eles colocados como ficção (como no caso de Guerra nas estrelas) ou como aparições reais de ÓVNIS.
Nosso processo de individuação possui conteúdos que dificilmente podem ser formulados através de uma linguagem excessivamente lógica, especialmente por envolver constantes contradições e conflitos, e é justamente por isso que o mito é essencial: ao mesmo tempo pode ser razoável, minimamente possível, mas ainda assim contém em si algo de irracional, “inexistente”, contraditório, Mágico (tecnológico). Isso, no entanto, não torna essa vivência menos intensa, impressionante, marcante para o nosso processo de crescimento pessoal no sentido de nos tornar quem somos.
O presente trabalho pretende avaliar um caso que ilustra essa noção, para mostrar como, em cada detalhe, o filme ilustra um fenômeno psicológico que vem acontecendo com os seres humanos a milhares de anos, apenas pronunciados de maneira diferente, de acordo com a imagem arquetípica[2] possível em sua época. A pretensão de demonstrar que a jornada da heroína ilustra perfeitamente os conceitos de Jung, ou que eles simplesmente se encaixam na mente do autor.

Jornada pessoal e coletiva

O começo do filme mostra a imensidão do universo, de maneira mais e mais assombrosa, na medida em que a velocidade de distanciamento vai aumentando e percebemos que não somos mais do que um pequeno grão no universo. Toda essa imensidão, que nos faz sentir algo como pequenez, se coloca no olhar idealista e imaginativo de Eleanor Arroway (Jodie Foster), a protagonista. Isso já indica a relação proposta, entre a imensidão do universo e a expansividade praticamente ilimitada da nossa imaginação.
A personagem é órfã de mãe e tem grandes aptidões para matemática, coisa que a torna especialmente apta ao fazer científico. Sendo o grande profeta, aquele que nos trás a verdade nos tempos modernos, o cientista, podemos constatar que a menina era como uma profetisa[3] em potencial, com capacidade para desbravar os segredos do universo e trazê-los de volta para a humanidade.
Seu pai, inicialmente tomando a forma de Animus[4], a auxiliava em seu desenvolvimento intelectual, dando orientações valiosas, mas sempre a estimulando a desenvolver os próprios raciocínios, coisa necessária para sua maturação intelectual. Além disso, essa forte presença masculina lança para ela uma frase marcante: se não há ninguém “lá fora”, então temos um tremendo desperdício de espaço.
É notável que, apesar de todo esse contexto coletivo, ainda assim há algo de pessoal na busca e no aprendizado: Depois que o pai foi dormir, a menina Ellie voltou a utilizar seu radio comunicador, buscando encontrar as ondas sonoras que estariam sendo transmitidas por sua mãe, onde quer que ela estivesse. A carga de energia psíquica[5] que ela concentra na busca de vida fora da terra parece ter uma motivação inconsciente pessoal[6]: A busca dos pais falecidos. A personagem inicia sua jornada sem imaginar os mistérios que irá descobrir, mas com muito potencial.
Como a infância não passa de um prólogo, somos levados adiante para quando a protagonista começa se trabalho no projeto SETI, qual continha todas as suas pretensões do mundo: explorar o universo, descobrindo seus segredos e, com eles, a localização de seus pais. Nesse momento fica clara a superação da Persona[7] e a perseguição dos conteúdos da consciência em contraposição às exigências sociais do meio acadêmico. Nesse meio, afinal, a escolha dela era indigna, desproporcional ao seu potencial de trabalho. Ela poderia ser melhor reconhecida em outro campo, com maior potencial de propiciar lucro. Ao invés disso, ela opta por ser idealista, por realizar seu sonho, mesmo que isso pudesse significar um sacrifício.

O confronto com a Sombra

Segundo o descrito por Jung, a fase do processo de individuação que sucede a superação da Persona é o confronto com a Sombra. E o filme demonstra estar de acordo, quando coloca David Drumlin (Tom Skerritt) em contraposição à tal visão idealista. A relação tensa entre Ellie e Drumlin durante o filme gera no espectador algo como repulsa em relação a David, sentimento este que é característico no fenômeno de projeção de Sombra[8], como o coloca Jung.
O interessante a na relação entre Ellie e Drumlin é que ele não procura, inicialmente, prejudicar a protagonista, mas tem plena convicção de que está fazendo o melhor por ela. Diferente dela, que é idealista, Intuitiva, ele é pragmático, Sensitivo. Podemos ver claramente um conflito entre dois tipos psicológicos fundamentais, sem que, em última instância, possamos determinar quem está correto. Ele se preocupa com o financiamento das pesquisas, que geralmente decorre do lucro que elas produzem, além do financiamento que decorre de áreas mais quentes da ciência[9]. Ao escolher trabalhar no SETI, Ellie se mostrou contrária aos valores mais fundamentais para a mentalidade de David, o que colocou ambos os personagens em franco conflito.
Justamente porque Drumlin não trabalhava no SETI, ele era um cientista com maior reconhecimento. E isso fez com que ele fosse selecionado para dar relatórios e a responder a perguntas referentes à descobertas feitas por Ellie. O que se nota não é especificamente que ele tomou o lugar dela, assumindo responsabilidade por uma descoberta que não foi sua: ele ter sido selecionado para falar publicamente sobre o assunto apenas mostra os frutos de sua visão de mundo. Pragmático, oportunista. Ele possuía Status, reconhecimento. Ela não.
O mesmo acontece quando ele é escolhido para ser o tripulante na viagem: no momento em que ela falha em entender as imposições da sociedade em relação às manifestações religiosas, mantendo-se apegada a um ideal de verdade, ele é pragmático e sua visão, novamente, se mostra mais eficaz. O último encontro pessoal deles, solicitado por ele, é marcante. Como ele diz, é compreensível que ela seja honesta e ele inclusive admira isso, mas não vivemos num mundo assim[10]. Ela, em resposta, diz que pensava que nós que construímos como o mundo é.[11]
Nota-se, nesse diálogo, a dissolução do conflito entre os dois personagens: quando ela retorna à base para monitorar o processo e encontra o fanático religioso disfarçado de técnico, sua primeira reação não é acionar a segurança, mas tentar alertar pessoalmente Drumlin acerca do perigo eminente. Quando a falha na segurança é detectada, seguranças tentam impedir o ataque, mas não conseguem. Apesar da morte do homem que carregava sobre si a projeção da sombra de Ellie, devemos constatar que a relação conflituosa havia sido superada: não sobraram mágoas entre os dois, como é característico de um confronto positivo com a sombra.
A esse respeito, aliás, devemos notar uma maior carga de adaptação ás demandas externas na segunda estrutura. Ao invés de confrontar os japoneses sobre a cadeira que lhe foi imposta, ela aceita a aceita, numa atitude visivelmente pragmática. Embora isso seja contrário ao projeto e, portanto, contrário ao ideal, ela aceita. Isso pode parecer pouco, mas é um grande progresso em relação á Ellie de antes, que pensava só precisar de uma antena maior para encontrar a mãe, ou aquela que abandonou toda a sua carreira acadêmica, com suas imposições para procurar vida fora da terra com um headphone.[12]

A integração de Animus

Tal como Jung não possuía um raciocínio linear, qualquer um que escreva sobre seu pensamento deve abrir mão disso. Portanto, devemos voltar ao tempo e avaliar outros fatos interessantes que aconteceram simultaneamente e que estão imbricados no que já foi dito, mas que tornariam o texto confuso se fossem narrados paralelamente.
Desde pequena, notamos que Eleanor é unilateralmente racional[13] quando ela responde ao padre que se o remédio estivesse no primeiro andar ela poderia salvar seu pai. Em paralelo ao seu idealismo, portanto, também notamos uma posição excessivamente racionalista, controladora, característica do pensamento científico. Esse tipo de unilateralidade, segundo Jung, fere o equilíbrio psíquico, e, portanto, diversos meios surgem para compensar compensá-lo, vindos do inconsciente.
A relação com Palmer Joss (Matthew McConaughey) é interessante para ilustrar isso. É quando ressurge a relação de Ellie com seu Animus[14], que é tanto o elemento masculino em sua mente como o mensageiro entre ela e seu inconsciente. Notamos que a atração de Ellie por Joss é bastante característica de uma projeção de Animus. Apesar de ela inicialmente resistir ao apelo dele, num segundo encontro, ao vê-lo confrontando Drumlin, suas defesas se quebram e os dois saem da festa pra conversar. Nessa ocasião, ela descobre que ele é teólogo, formação que não só é desconsiderada no meio científico: é inclusive por ele descriminada.
A despeito disso, ela se aproxima dele, que num diálogo marcante ele diz uma frase idêntica á que seu pai havia dito: que se não há vida lá fora, então temos um tremendo desperdício. Justamente nesse momento que a transferência de Animus se torna completa. A relação resulta numa consumação física, depois da qual há um diálogo problemático. Eis aí que nos é relevada a morte trágica de seu pai e que sua relação com o masculino de problematiza novamente. Depois desse choque, da lembrança dolorosa e do confronto com a natureza impulsiva e incontrolável do inconsciente, ela novamente recua, se recusando a vivenciar esse tipo de irracionalidade. Firmada ainda na navalha de Occam, ela se nega a aceitar coisas inexplicáveis e fantásticas, que eram características tanto do que Joss falava como do que ela sentia quando em relação com ele.
Joss, no entanto, se torna consultor espiritual da casa branca, o que denota sua percepção aguda em relação aos sentimentos das pessoas, sobre o problema que acomete o espírito humano no nosso tempo: a solidão, a atomização. A falta de conexão com algo maior, inexplicável, imensurável, comum.
E não importa o quanto ela resiste, eles continuam se esbarrando, se cruzando, e seu sentimento continua se tornando mais forte. Fica bastante claro, a cada encontro, que o que reforça essa simpatia não é nada consciente e planejado. É um drama que acontece a eles, onde são ambos passivos, influenciados pela força maior da relação entre Anima e Animus, o masculino e o feminino.
A cena mais marcante, cheia de elementos pessoais, é a pergunta que Joss faz a Ellie: “Você se considera uma pessoa espiritual?” e depois: “Vocês acredita em Deus?”.
Já vimos que havia aí uma imposição social para uma resposta específica, mas nesse momento algo a mais estava acontecendo. Ela foi confrontada com o espiritual, o misterioso, aquilo que acaba sendo retalhado pela navalha de Occam. E se defendeu, com a posição agnóstica de que não entendia a relevância de tal pergunta. Seguindo seus ideais conscientes, segundo os quais ela poderia controlar todos os mistérios do universo pelo princípio da parcimônia[15], ela negou a própria possibilidade de se questionar a respeito de algo maior.
Claro que Joss falou isso muito mais com o intento de mantê-la na terra, por medo de perdê-la (e inclusive isso salvou sua vida), mas a experiência, o confronto com o princípio da espiritualidade, a desarmou em público. Prova de que ela ainda queria ter as respostas a partir do controle das circunstâncias.
Depois de um conflito com Joss a esse respeito, Ellie rompe com ele, devolvendo sua bússola, e se mostra magoada em relação ao que aconteceu, por Drumlin ter sido escolhido falando o que queriam ouvir, enquanto que ela não foi escolhida por ter falado o que realmente pensa.
Logo depois do incidente no qual Drumlin sofre o atentado terrorista e vem a falecer, ela recebe notícia de que há outro dispositivo alienígena, construído numa ilha japonesa. Era a oportunidade que ela precisava para fazer sua viagem, para encontrar as respostas que ela buscava desde sua infância. Na relação dela com Joss, esse é um momento crucial.
Quando eles se encontram novamente, ela já não está mais magoada. Ele confessa que só fez aquilo porque não queria perdê-la, os dois se reaproximam e ele lhe devolve a bússola[16].
A bússola é claramente um símbolo de como o Animus de Eleanor a auxiliaria em sua jornada pelo inconsciente, em sua aventura pelo desconhecido e potencialmente perigoso espaço sideral. Apesar de não tê-lo consigo, tem sua bússola, um símbolo de que apesar de não estar lá com ela, ele a acompanha psicologicamente.
                                                                                 
Uma jornada interrompida

Mas antes de falar sobre a jornada, que é a conclusão de tudo, algo mais ainda deve ser brevemente discutido. O fanático suicida.
Não só no meio científico há uma resistência extremada contra aquilo que é desconhecido. Isso não é uma característica de um grupo ou de uma instituição, mas de indivíduos, que acabam se reunindo e que são numerosos. São indivíduos que escolhem viver unilateralmente e que, portanto, se tornam neuróticos ou até mesmo psicóticos[17]. O suicida é um exemplo interessante de uma pessoa que não conclui o próprio processo de individuação, que é contra a busca dos mistérios do universo, do inconsciente ou de qualquer outra coisa. Homens que pretendem, reafirmando a própria ignorância, exercer um tipo de controle egocêntrico sobre o universo e se sentirem seguros. Buscam, à todo o custo, resistir à natureza misteriosa, incontrolável, autônoma dessas coisas. Se negam a perder o controle, por mais que ele seja uma ilusão. O fanático é um exemplo de indivíduo que não seguiu o mesmo caminho que Ellie: que ficou parado no caminho. Segundo Jung, o que causa a psicose é precisamente algo nesse processo que deu errado, coisa que acontece com certa freqüência.
Vamos, então, à aventura de Eleanor.

O desfecho

Quando a protagonista entra no compartimento, rapidamente é presa a uma cadeira e recebe um microfone e uma câmera, que além de servirem para a comunicação, também recordariam o fato com um tipo de precisão que a memória sozinha não poderia suportar. Além disso, ela é vestida numa armadura, através da qual deveria se proteger de qualquer perigo encontrado no universo. Para o leitor atento e com alguma imaginação, pode-se perceber como é ridícula a pretensão de se proteger de perigos extra-terrestes com uma armadura. Esses foram, no entanto, os mecanismos de segurança (controle) impostos pelos responsáveis, então ela aceitou. Afinal, apesar de estar com maior propensão a aceitar coisas irracionais, incontroláveis, por conta da relação positiva com seu Animus (Joss), ela ainda conservava em si o desejo de controle.
Quando o mecanismo se iniciou, ela continuou tentando se comunicar com a base, afirmando que estava tudo bem e que deveriam continuar. Na conclusão, quando a cápsula foi liberada, sua jornada foi bastante problemática.
Ainda afirmando que estava tudo bem, sofrendo turbulência, ela passa pelos “Wormholes”[18] gritando, assustada com todo aquele processo estranho e incontrolável.
Toda a tensão, no entanto, passa precisamente quando sua bússola[19] se solta e começa a flutuar, indicando que não há gravidade dentro da cápsula. Nesse caso, portanto, o mais lógico a fazer seria abrir mão de todos os mecanismos de controle impostos pela base e seguir o plano estabelecido.
Algo característico do processo de individuação é que ele não pode ser controlado: ele deve fluir, é autônomo. Ele nos vive, e não o contrário. A bússola, representando Joss(Animus), mostrou a ela como ela deveria lidar com a situação. Dessa vez, ela não resistiu mais.
Muitos astros, e caminhos tortuosos pelo universo ela seguiu até chegar ao seu destino: a praia na Flórida, na qual vivia um dos homens que ela contatou em seu rádio comunicador, quando ainda pequena.
Ao reconstruir a praia e tomar a forma do pai de Ellie, o alienígena[20] mostrou algo que ela buscava em seu íntimo, o que a deixou profundamente impressionada e incapaz de se impor com suas perguntas acumuladas por toda uma vida. Antes, ela ficou tão atônita diante da imagem do pai, que ela buscara até então, que foi desarmada. Ao invés de falar a ela sobre problemas que ocupavam sua consciência, o alienígena deu a ela precisamente o que ela precisava ouvir: A consciência de que não estamos sozinhos, de que há algo maior. Algo presente no nosso inconsciente coletivo. Essa vivência, essa espiritualização, é forte, devastadora. Destrói todo e qualquer vestígio da antiga Ellie, quebra a Navalha que ela carregava consigo. Ao invés de combater mistérios com simplificações, ela passa a visualizar uma forma de realidade fantástica, ampla. Acolhedora.
Contrariamente ao seu desejo, ela retorna à terra rapidamente, trazendo consigo o mistério intergaláctico. Trazendo consigo a resposta que a humanidade precisa. Que Joss comunicava por meios religiosos. De que não estamos sozinhos.
Ela retorna individuada, madura. E volta para um grupo de juízes que não conseguem ouvi-la, que não entendem o que ela diz.[21] Que aceitam apenas que sua jornada não durou mais do que alguns segundos na terra, e que não há registros de que qualquer experiência que ela teve tenha sido algo além de sua imaginação. Aplicam o princípio que era a base de suas declarações contra ela mesma, e ela reconhece que faria o mesmo no lugar deles. Mas ela já não era mais parcial. Já não era capaz de negar essa vivência intensa, essa relação com o desconhecido. Ela passou por uma experiência arquetípica, atemporal, sagrada.
Apesar de decidirem que o que ela diz é falso, fora do da audiência a multidão a proclama. Apesar da ausência de evidência, da ausência de provas, todos reconhecem, todos vivem essa experiência. E não há paradigma que possa provar algo assim como sendo falso.
Notamos no filme todo um contexto de física teórica, que preenche a vivência mítica moderna da mesma maneira que a religiosidade o faria num homem vivendo na idade média. Os conceitos de Wormhole, por exemplo, substituindo uma Starway to heaven.[22] Vemos a imagem arquetípica mudar, mas o arquétipo permanecer.


[1] Guilherme de Occam foi um filósofo nominalista da baixa idade média que inseriu o princípio conhecido posteriormente como a Navalha de Occam, um dos principais princípios científicos da modernidade. Esse princípio afirma que se há duas explicações sobre um fenômeno em igualdade de condições, a mais simples é a verdadeira.
[2] Uma imagem arquetípica é um elemento psíquico formado tanto pro estruturas inatas quanto por experiências pessoais. Ela carrega a essência do arquétipo, que é constituinte da nossa estrutura psíquica, e também a substância da nossa vivência pessoal. A imagem arquetípica é a manifestação visível do arquétipo, através da qual detectamos os fenômenos mentais arquetípicos.
[3] O profeta é que dita as verdades, assim como o cientista. Poderíamos dizer, então, que ambos ocupam a mesma posição, arquetipicamente falando, embora a imagem seja diferente.
[4] O personagem, assim como muitos pais, ocupa o único espaço reservado na mente da menina para o aspecto masculino da vida. Um interessante aspecto do Animus é a constante instigação do desenvolvimento intelectual na mulher, coisa que seu pai faz com freqüência. O contato afetivo, notamos, não é menos forte nessa relação.
[5] Notamos a manifestação da energia psíquica diferenciada quando ela busca sua mãe: tamanha é sua motivação, que ela não desiste diante da primeira falha. Essa é uma característica de um alto grau de energia psíquica concentrada na direção de um objetivo específico.
[6] Pode-se perceber, ainda, que essa motivação é de natureza pessoal. No fundo de seu inconsciente pessoal, há o desejo de encontrar a mãe, de conhecê-la. Embora ela não fale sobre isso, essa busca pela mãe e, posteriormente, pelo pai, parece estar presente em toda a sua vida.
[7] Uma persona bastante comum no meio acadêmico é a de professor universitário de grandes universidades e pesquisador de assuntos que geram maior reconhecimento. Vemos Eleanor negar ambas as coisas e se unir ao projeto SETI, que estava próximo de ser encerrado. Fica clara, portanto, a superação da Persona pela personagem.
[8] A forma mais indicada a constatarmos a presença da sombra é sua manifestação de projeção. Através dessa projeção, escolhemos um bode expiatório, que deverá receber em todas as nossas características que não aceitamos. Nesse caso, Ellie não aceita suas caracerísticas mais pragmáticas, que relega à sombra. Drumlin, portanto, com seu pragmatismo, é o objeto perfeito para essa projeção. Notemos que a razão pela qual ela se aborrece por ele é justa e unicamente o fato de ele ser pragmático, nunca idealista.
[9] As ares quentes são, de um modo geral, promissoras em relação à mídia e em relação a lucros futuros, embora não sejam imediatamente lucrativas.
[10] Eis aí uma característica marcante do pensamento pragmático sensitivo: a noção de lidam com a realidade, diferentemente dos idealistas intuitivos. Entende-se que eles sejam mais práticos e que atendam a demandas mais claras, visíveis. E que sua visão de mundo seja adequada a isso.
[11] Vemos Ellie recorre a um conceito bastante abstrato. Uma noção de que somos nós, com nossas atitudes, que moldamos o mundo. Ora, essa é uma visão coerente, e não deixa de ser verdadeira, mas não trás as mesmas implicações que a pragmática. É um ideal parecido com o de Ghandi: devemos ser a mudança que queremos para o mundo. É uma visão coerente, é verdade, mas qual é seu potencial de ação¿
[12] O próprio colaborador dela, cego e que também ouve, coment que esse não é um hábito comum. Ele o faz porque computadores processam muito mais rapidamente esses dados, e muitas freqüências simultaneamente, enquanto que com o headphone você só pode ouvir uma, sendo as chances de se encontrar algo dessa forma é a mesma que ganha na mega-sena dez vezes seguidas.
[13] O tipo racional, segundo definido por Jung, é aquele que busca encontrar todas as resposta para sua vida em critérios lógicos. Outra característica desse tipo é sua necessidade de estabelecer critérios a partir dos quais poderá interpretar todas as coisas em sua vida, não admitindo que qualquer coisa esteja fora de seu controle, ou que simplesmente não responda às regras imposta pela razão.
[14] No momento da morte de seu pai, não nos é mostrada nenhuma outra forma de relação com o Animus até o encontro com Joss. Nesse momento, no entanto, o contato com ele denota a projeção do Animus, que se constata pela atração da personagem pelo teólogo. A transferência da energia concentrada nas lembranças do pai para o pretendente é uma notável manifestação do Animus.
[15] Outra forma de definir a Navalha.
[16] No momento em que ela aceita sua bússola e que a carrega por sua jornada, fica claro como ela integrou em sua consciência os conteúdos de seu Animus, o que é essencial para a sua jornada heróica. O contato com o Self, segundo descrito por Jung, sucede a integração do Animus e geralmente exige essa integração para ser bem sucedido, como será mostrado no desfecho.
[17] Para Jung, as psicoses eram o resultado da falha da mente em restabelecer o equilíbrio psíquico. Quando os elementos do inconsciente, supostamente destinados a curar o indivíduo de suas doenças da alma, não obtem o resultado apropriado, acabam voltando-se contra o indivíduo e tomando o controle sobre seu comportamento. Nesse momento, perde-se a noção do que é fruto de sua mente e do que não é, cria-se crenças absurdas e surgem outras personalidades, percepções ilusórias., etc.
[18] Wormholes são passagens nas quais é criada uma fenda na relação entre tempo e espaço. Assim, indivíduos viajam não só pelas coordenadas do espaço tridimensional, mas por uma quarta dimensão, que é o tempo. Como não há evidências empíricas para esse conceito, há de se admitir ao menos a possibilidade de ele ser um símbolo psicológico.
[19] Vemos, portanto, que é precisamente seu Animus que a guia em sua jornada em direção ao Self, que ele a mostra que era necessário abrir mão do controle para que a jornada fosse possível de modo harmonioso.
[20] De um modo geral, o Self toma uma forma que nos causará forte impressão de grandiosidade, respeito, sacralidade. Essa forma faz com que lhe prestemos reverência.
[21] Aqui vemos uma característica interessante da viagem ao Inconsciente. A irracionalidade, a ausência de evidências palpáveis, cientificamente reconhecíveis. Foi por causa disso, Segundo Jung, que Nietzsche não recebeu qualquer atenção em sua época: porque não há meios de descrever essa vivência a quem não a viveu por conta própria. É como falar de cores a um cego esperando que ele as entenda como um vidente.
[22] A escada entre o mundo dos céus e o mundo dos homens. Por ela Jacó viu anjos subindo e descendo.

Uma breve correspondência intergaláctica

De: Roberto
Para: O Místico da Montanha

Caro amigo e conselheiro. Venho por meio dessa correspondência solicitar o contato imediato entre as nossas civilizações, no intuito de, nesse contato, expandir o conhecimento humano à nossa disposição e, conseqüentemente, propiciar maior avanço tecnológico. Espero que você entenda que o que busco não é tecnologias e paradigmas prontos para que possamos copiar, mas uma forma de influência que possa mudar o curso de ação das pessoas, que faça com que elas tentem criticar a epistemologia da vida. Meu intuito é causa uma massiva onda de revisão paradigmática, na qual a humanidade poderia evoluir. Temo que minha civilização possa se autodestruir. Ou quem sabe se afundar em mitos milenares, entendidos como destituídos de história e de contexto social.

De: O Místico da Montanha
Para: Roberto

Caro habitante dos vales terráqueos. Entendo sua angústia em relação aos paradigmas do seu planeta, que você considera primitivos, mas a verdade é que essa sensação é endógena. Não estou dizendo que sua civilização não tenha lições para a aprender com a minha, mas que essa sensação não decorre da imperfeição da sociedade, mas da inconformidade dela com sua identidade. Para ser mais claro, uso a mim mesmo como exemplo. Meu nome de nascimento é pobremente traduzido como criador de tecnologia. No entanto, contrariamente às expectativas da sociedade, eu tive uma espécie de vivência interna, uma espécie de contato com algo maior, que mudou o curso das minhas ações mais ou menos na época da aquisição dos robôs moleculares individuais, aos 20 anos. Eu me tornei um místico para uns, um conselheiro espiritual para outros, um charlatão para muitos. Com freqüência fico pasmo com a falta de sabedoria, a falta de espiritualidade de alguns de meus companheiros. E também me causa muita aflição que eles tenham tamanha influência na sociedade.
Essa aflição, no entanto, decorre apenas da diferença. Se eu modificasse esse aspecto da sociedade, haveria outro que tomaria seu lugar como fonte de insatisfação. O que você manifesta pra mim é um desejo de submeter o mundo aos seus ideais, plasmados na minha sociedade. Estou falando isso porque te conheço, e porque seu sofrimento pode ser resolvido de dentro pra fora.
Com relação ao contato, estou de acordo com os estudos cognitivos mais recentes acerca da mentalidade dos habitantes do planeta. É comprovado que a esmagadora maioria da população do planeta não possui capacidade cognitiva para entender sequer 10% da complexidade das nossas tecnologias. Além de que ainda impera na população um sentimento de apego à tradições, decorrente do seu sistema de comunicação insuficiente. Na verdade, quando vocês estabelecerem sua teia de comunicação global e facilitarem a interface de acesso, passarão ainda boas décadas até que se torne suficientemente frágil o apego à tradições. Com esse apego, nossa cultura parecerá repugnante, pecaminosa, sagrada. Jamais chegará perto de se parecer, aos olhos dos habitantes, o que é.
Se você quer exemplos disso, tome a chegada de Matias no Planeta. Primeiro foi interpretado como anjo dos céus, depois como suspeito de criminoso. Imagine como seria a reação da sua população ao saber que nossas relações são com freqüência polígamas, que as pessoas mudam de aparência completamente em segundos, ou até mesmo de sexo, e que nossa identidade não possui nenhuma relação com nossa aparência estética (afinal, nós a construímos e reconstruímos freqüentemente em cada mínimo detalhe desde os 20 anos de idade)¿
Não entenderiam como o fazemos, pensariam que somos corruptos, demoníacos. Tentariam ataques fúteis, que não nos causariam nenhum dano, mas que acabaria por reforçar a noção de que somos criaturas perigosas, por não sermos passíveis de assassínio por meio de suas armas primitivas.
Seu conceito de evolução é vago, e ainda mais a própria noção de evolução social é um erro etimológico: o que se observa na história não é o desenvolvimento de uma única tendência, mas o surgimento e o desaparecimento de diferentes tendências. O que você interpreta como nova etapa da evolução humana não passa de mais uma tendência, a qual será “superada” na próxima geração por outra que não a complementa de maneira alguma, mas que será adequada ao novo contexto.
Acerca dos mitos, é uma questão de assimilação: algumas pessoas não desenvolveram sua capacidade cognitiva, mas ainda assim precisam saber. É um impulso básico, a vontade de saber. Para isso, estabelecem ou recebem critérios proporcionais ao seu potencial e dão seu próprio sentido à vida. Recriminar essas pessoas é o mesmo que recriminar um cachorro por insistir em latir, mesmo quando instruído a falar.
Espero não ter te desanimado.

Um desafio à autoridade: Sobre a impossibilidade da origem da civilização em termos evolucionistas e piagetianos

Introdução

Em primeiro lugar, vou confirmar a suspeita de alguns a respeito do texto: trata-se de uma crítica que não coloca algo satisfatório no lugar daquilo que desconstrói. O que se irá propor em contrapartida é vago, com poucas informações reunidas que dêem base. Não pensem que sou daqueles que pensam que o importante é sempre manter o debate. Na verdade, pra mim o debate é fundamental enquanto exercício do intelecto e como forma de aprimoramento do conhecimento, mas é um fenômeno e não uma criação: Não precisamos propiciar o debate, pois ele surge espontaneamente. Nesse sentido, trata-se de um argumento com início meio e fim e, embora seja passível de críticas, possui uma conclusão.
A proposta aqui é demonstrar como a nossa estrutura cognitiva, que permite nossa organização social complexa atual não tem como ter surgido por meio da seleção natural, tendo por base os dados que os próprios evolucionistas e biólogos reuniram a esse respeito. Venho aqui criticar o fato de que é somente pela força que ainda se assume que nossa origem tenha sido o resultado de um processo evolutivo como concebido por Darwin e sua turma. E venho trazer uma alternativa, que certamente será um incômodo para a maioria dos leitores (se é que há leitores pra essa “bodega”). Ao trabalho, então...

Dados relevantes

Segundo fontes recentes (Bussab 2000), nossa espécie passou pelo menos 99% do seu tempo de existência no planeta em organização de caçadores e coletores. Isso significa que, na ausência de agricultura, nós simplesmente não saímos do lugar por milhares de anos. Aliás, essa época é caracterizada como pré-histórica justamente porque não havia linguagem escrita. Como observado por Silva (1998), sociedades de estrutura caçadora-coletora não possuem linguagem escrita, matemática básica ou mesmo capacidade de descrição de suas ações, que são realizadas de um modo classificado como intuitivo.

Embate teórico

Pinker(2010) apresenta hipóteses para explicar o surgimento das nossas faculdades cognitivas superiores nesse contexto:

“Although Darwin insisted that human intelligence could be fully explained by the theory of evolution, the codiscoverer of natural selection, Alfred Russel Wallace, claimed that abstract intelligence was of no use to ancestral humans and could only be explained by intelligent design. Wallace’s apparent paradox can be dissolved with two hypotheses about human cognition.”
[Apesar de Darwin ter insistido que a inteligência poderia ser explicada completamente pela teoria da evolução, o co-descobridor da seleção natural, Alfred Russel Wallace, alegou que a inteligências abstrata não tinha utilidade para os humanos ancestrais e só poderia ser explicada por design inteligente. O aparente paradoxo de Wallace pode ser dissolvido com duas hipóteses sobre a  cognição humana.]
Então, o autor apresenta duas hipóteses, que deveriam realmente dissolver o paradoxo de Wallace:

“One is that intelligence is an adaptation to a knowledge-using, socially interdependent lifestyle, the “cognitive niche.” This embraces the ability to overcome the evolutionary fixed defenses of plants and animals by applications of reasoning, including weapons, traps, coordinated driving of game, and detoxification of plants. Such reasoning exploits intuitive theories about different aspects of the world, such as objects, forces, paths, places, states, substances, and other people’s beliefs and desires. The theory explains many zoologically unusual traits in Homo sapiens, including our complex toolkit, wide range of habitats and diets, extended childhoods and long lives, hypersociality, complex mating, division into cultures, and language (which multiplies the benefit of knowledge because know-how is useful not only for its practical benefits but as a trade good with others, enhancing the evolution of cooperation).”
[A inteligência é uma adaptação para um estilo de vida onde há interdependência social por meio do uso de conhecimento, o nicho cognitivo. Isso inclui a habilidade de superar defesas evolutivamente fixadas de plantas e animais pela aplicação da racionalidade, incluindo armamento, armadilhas, manejo de atividade coordenada e desintoxicação de plantas. Tal racionalidade explora teorias intuitivas sobre diferentes aspectos do mundo, como objetos, forças, caminhos, lugares, estados, substâncias e as crenças e desejos de outras pessoas. A teoria explica muitos traços zoologicamente incomuns no homo sapiens, incluindo nosso vasto conjunto de ferramentas, amplo alcance nutricional e de habitats, infância extendida, vida longa, hipersocialidade, pareamento complexo, divisão em culturas e linguagem (o que multiplica o benefício do conhecimento, pois o conhecimento é útil não apenas para termos práticos, mas também como bem de troca com outros, ampliando a capacidade de cooperação).


O problema aqui reside no fato de que há confusão entre adaptação e evolução. Parece que não conseguem observar que determinado comportamento é adaptativo sem que, por isso, tenha tido origem da seleção natural. Isso porque a própria noção de adaptação surgiu com a de seleção natural. Nesse sentido, ele vai fazendo uma leitura dos hábitos e demonstrando que eles são adaptativos, sem, no entanto, criar uma linha temporal e causal. O problema é que o que se observa em tribos de caçadores e coletores simplesmente não dá base a esse pensamento. A racionalidade mais básica, que poderia ser classificada como pré-operatória ou operatória concreta, é mais do que necessária para a realização das atividades mencionadas pelo autor. Na verdade, é interessante que se observe que as primeiras sociedades não possuíam linguagem escrita e nem matemáticas. O pensamento abstrato se baseia em semântica e cálculos matemáticos. Esse tipo de pensamento, inexistente naquela época, foi classificado por Piaget como Operatório Formal.
Na verdade, essa forma de pensamento surgiu precisamente quando o ser humano se tornou sedentário. O problema é que essa é uma revolução drástica nas nossas estruturas cognitivas e não um simples detalhe no cérebro. É de se esperar, segundo as premissas evolutivas, que esses traços, sob forma de mutação levassem milhares, quiçá milhões de anos. No entanto, não levamos nem 10 mil anos e cá estamos na era digital.
Nossa escrita e nossas noções numéricas surgiram quando houve demanda e quando nossa infância pode ser mais prolongada: quando nos tornamos sedentários, há mais ou menos sete mil anos atrás! Essa demanda e essa infância prolongada, devo salientar, só existiam para os nobres.

The second hypothesis is that humans possess an ability of metaphorical abstraction, which allows them to co-opt faculties that originally evolved for physical problem-solving and social coordination, apply them to abstract subject matter, and combine them productively. These abilities can help explain the emergence of abstract cognition without supernatural or exotic evolutionary forces and are in principle testable by analyses of statistical signs of selection in the human genome.
[A segunda hipótese é que humanos possuem uma habilidade de abstração metafórica, que os permite combinar faculdades que originalmente evoluíram para a resolução de problemas físicos e coordenação social e adaptá-las a assuntos abstratos e subjetivos, combinando-os de maneira produtiva. Essas habilidades podem ajudar a explicar a emergência da cognição abstrata sem forças evolucionárias exóticas ou sobrenaturais e são, em princípio, testáveis pela análise de sinais estatísticos de seleção no genoma humano.]

Ao perceber a fraqueza do argumento, o autor foge pra questões epistemológicas e valorativas do materialismo, no qual hipóteses alternativas, só por serem alternativas, seriam exóticas ou sobrenaturais. E esse sobrenatural seria basicamente o que se assume como sendo natural, dentro de um paradigma específico. Nesse sentido, busca uma explicação que possa ser testada nos métodos aceitos pelos evolucionistas.
O que ele diz, basicamente, é que nossas estruturas mentais responsáveis pela cognição abstrata são o resultado de uma complicada combinação de outras habilidades. Combinação esta que precisa ter surgido ao acaso, pelos motivos que vou apresentar abaixo:

Segundo Terra:

resultados de pesquisas têm indicado que adultos "pouco-letrados/escolarizados" apresentam modo de funcionamento cognitivo "balizado pelas informações provenientes de dados perceptuais, do contexto concreto e da experiência pessoal" (Oliveira, 2001a:148). De acordo com os pressupostos da teoria de Piaget, tais adultos estariam, portanto, no estágio operatório-concreto, ou seja, não teriam alcançado, ainda, o estágio final do desenvolvimento que caracteriza o funcionamento do adulto (lógico-formal).”

Ora, o que a autora mostra aqui é que os indivíduos que não recebem estimulação para chegar até a fase operatória formal, simplesmente não adquirem esse modo de funcionamento cognitivo. Isso significa dizer que essa função é muito mais uma construção social, o resultado da estimulação, do que propriamente uma característica genética da nossa estrutura. Nesse sentido, quando somos devidamente estimulados e temos a infâncias mais prolongada, essas funções se desenvolvem, e fica bem clara a razão pela qual somente a elite dominada a linguagem escrita no início da história: porque só essa camada da sociedade recebia devida estimulação. Em todas as fases e aspectos do nosso desenvolvimento, a estimulação é mais essencial do que nossa carga genética.
Isso significa, basicamente, que foi na ocasião do desenvolvimento da agricultura, na mesopotâmia, que adquirimos uma estrutura social que permitiu o desenvolvimento dessas habilidades, e que antes disso esse tipo de habilidade não era observada.

Ora, se encontrarmos na nossa carga genética um traço que indica terem sido essas estruturas cognitivas selecionadas, teremos um paradoxo. Porque, num ambiente em que não havia estimulação, tais características jamais se manifestariam. Portanto, na medida em que não ajudavam em nada o indivíduo, não deveriam ser mais selecionadas do que qualquer característica. Nesse sentido, não existe a possibilidade de tais estruturas terem sido selecionadas, pois 7 mil anos é um período muito curto e antes essas características não tinham como se manifestar. Nossa espécie parecia estar pronta a desenvolver essas faculdades, assim que fossem apresentadas as condições, a despeito de essas características poderem ser selecionadas ou não.

O problema e que, porque essas características não podem ter sido selecionadas, então não se pode explicar nossa cognição abstrata por meio da teoria da evolução. E se algo não pode ser explicado por essa teoria, deve-se colocar um ainda antes do não, pois ela é tida como infalível.

Eu, no entanto, não estou (ainda) no meio acadêmico para sofrer lobby, então me presto a confrontar essa teoria sem medo. Para mim, não se trata de acumularmos mais e mais informação acerca da teoria evolucionista e, assim, conseguirmos explicar esse fenômeno com alguma racionalização tecnológica. O que vejo é que precisamos de uma revolução paradigmática, bem no sentido de Thomas Kuhn. Precisamos rever todo o assento no qual nossas teorias atuais se firma. Para isso, farei minha viagem pessoa, nalguns parágrafos, e creio que o bom leitor verá que meu objetivo é fazer um exercício de um paradigma alternativo e não propor um novo.

Poderíamos supor que não tivemos origem por meio de seleção natural, mas de construção inteligente. Que fomos realmente programados por uma forma de inteligência que nos precedeu. Sem ir longe a especulações metafísicas, podemos presumir que foram vários os programadores de diversas espécies em épocas distintas. Mais além, que possivelmente não se comunicaram diretamente.

Isso explicaria as semelhanças genéticas, morfológicas e comportamentais entre as espécies numa noção parecida com a de Script, em programação. Uma espécie que já está pronta, com sua carga genética, é um programa plástico que se molda segundo as demandas do meio. A complexidade do programa varia de acordo com a plasticidade da espécie: quanto mais automatizado e previsível o comportamento e a morfologia do animal, mais simples é o projeto. E vice-versa.

Na medida em que se programa, é notável que quando maior a complexidade do programa, maior a chance de erros e maior é o trabalho. Por isso mesmo, o mais lógico a se fazer é usar fragmentos prontos e comprovadamente funcionais de programas anteriores em programas novos. Diferente da programação digital, a genética não varia em sua linguagem, sendo as bases nitrogenadas as mesmas num humano e num vírus. Por isso, há a possibilidade de acúmulo de códigos e a conseqüente sucessividade de projetos. Assim, ficam explicadas todas as semelhanças entre as espécies por uma hipótese alternativa.

Seria possível falar mais do assunto, mas nesse caso o foco seria perdido. Voltando ao problema original, a questão fica facilmente passível de explicação. Fomos programados, a partir de outra(s) espécie(s) com uma estrutura cerebral capaz de fazer as conexões cognitivas entre as diferentes funções, como sugeriu Pinker. No entanto, somente a sete mil anos atrás conseguimos manifestar essa estrutura mais plenamente, na medida em que moldamos o meio ambiente para que possibilitasse o desenvolvimento dessas características.

Se Deus existe, se foi alguma divindade que nos construiu ou qualquer hipótese análoga são questões que não me dizem respeito e que considero irrelevantes. O que observo, no entanto, é que a teoria evolucionista é menos eficaz em explicar o fenômeno do que a minha, sendo que eu tenho pouquíssima informação acumulada de estudos para embasar isso. Isso mostra como as falhas dessa teoria estão na cara, são óbvias. Que essa teoria tem que cair.

As implicações da tecnologia meta-biológica no aprendizado



Joana estava no colégio, onde mostravam as informações passadas para os mais jovens. Sua primeira impressão foi de que tal coisa se afigurava cruel, inumana, e eis as suas objeções.

- Como vocês podem esperar que essas crianças gravem todo esse conhecimento de uma vez só? não percebem como esse esforço torna a vida delas miserável, na medida em que gastam toda a sua energia memorizando coisas?
- Seria inumano no seu planeta, onde as crianças lamentavelmente dependem apenas do próprio cérebro ou de tecnologia arcaica pra armazenar informação. Aliás, fazem coisas parecidas no seu planeta, o que cria seres humanos complexados, descontrolados, infelizes.
- Como as crianças memorizam as coisas senão com o cérebro?
- Através dos dispositivos meta-biológicos que elas recebem aos dois anos de idade.
- Mas o que é um dispositivos meta-biológico?
- O termo meta-biológico é uma adaptação à sua linguagem. Imaginávamos que sua significação estaria implícita. Desculpe o engano. Artefatos de tecnologia meta-biológica são dispositivos feitos com estrutura de DNA específica desenhada pra se integrarem ao sistema nervoso central. Nesse sentido, poderíamos dizer que é um computador biológicos. Apenas a analogia com sua tecnologia eletrônica não vai longe, pois esse sistema tecnológico é plástico. Ele se adapta às mudanças na estrutura do pensamento do indivíduo, sempre refazendo o processamento das informações armazenadas, e mantém uma leitura das sinapses cerebrais. Assim, quando o indivíduo pensa em se lembrar de determinada informação, ela surge em sua consciência da interface dos dispositivos meta-cerebrais. Esses dispositivos são capazes de realizar traduções de todas as linguagens da terra e da nossa civilização, além de realizar cálculos matemáticos, resolver algoritmos complexos e diversos problemas lógicos mais mecânicos. Além disso, ele possui uma capacidade de armazenamento virtualmente infinita e se integra com o sistema de coordenação motora, além de complementar o sistema nervoso periférico.
- O que? Vocês colocam chips nas suas crianças?
- Chip é um artefato eletrônico. Nós não usamos mais tecnologia eletrônica há alguns séculos.
- Não estou entendendo.

O homenzinho projetou, aparentemente com as mãos, um holograma que ia demonstrando passo a passo a interação entre os dispositivos e o sistema nervoso. Segundo ficou demonstrado, a estrutura do artefato é tão perfeitamente imbricada com o organismo que os próprios neurônios da caixa craniana realizam sinapses com os neurônios artificiais e buscam as informações, sem necessidade de uma interface que interage com os sentidos. Assim, a velocidade do fluxo de informação se torna muito mais rápida e o excesso de informação não sobrecarrega o cérebro.

- Mas... Então como são as provas?
- Não usamos provas como as empregadas por vocês. Elas são um teste de memória, raciocínio mecânico e até resistência física. São uma forma cruel de seleção entre os aptos e os inaptos. Nossas avaliações são se outra natureza. Nossas crianças desenvolvem hipóteses acerca das coisas que observam, criam princípios explicativos, falam sobre suas emoções acerca dessas coisas. Sempre com orientação dos especialistas, que indicam caminhos, entendem a linha de raciocínio da criança e fazem perguntas cruciais. O que buscamos exercitar no sistema de ensino, numa palavra, é a criatividade em suas mais diversas formas.
- Mas como vocês podem dar tanta atenção aos alunos?
- Conseguimos através da tecnologia meta-biológica no organismo dos professores, que permite maior armazenamento de informações sobre os alunos. Além disso, temos uma média de dois professores pra cada aluno, por mais que se formem turmas. Os alunos escolhem cerca de cinco orientadores para seus projetos.
- Isso me deixa angustiada.
- Porque?
- Porque parece que a solução pra educação é tecnologia que não temos a uma quantidade de professores capacitados que não temos.
- Viemos persuadir os habitantes do planeta que nos aceitem como seus visitantes. No entanto, sabemos que o estranho assusta e que a nossa tecnologia causará horror, veneração e diversos outros resultados que não desejamos. Por isso optamos por trazer grupos de nativos para a nossa nave para entenderem melhor como é o nosso modo de vida. Assim, quando chegarmos uma grande parcela da população não nos estranhará, mas antes lembrará daquele sonho que tiveram a nosso respeito.
- como assim sonho?
- Quando você acordar na sua casa hoje, pensará que isso não passou de um sonho.
- Entendi... Posso ver suas crianças?
- Pode claro. Entre por essa porta e vá até o fim do corredor.

Joana foi e a mulher que a acompanhava a seguiu até a porta, onde ela pode entrar e ver três crianças escrevendo, cada uma num ponto diferente da sala. Ela sentou ao lado de uma delas que estava escrevendo com um olhar carinhoso. A criança parecia pequena, de uns seis anos de idade, mas escrevia rapidamente. Quando percebeu a presença de Joana colocou o que usava para escrever de lado. Era como papel, só que virtual.

- Oi. Qual é o seu nome?
- Aquele que traz a mudança.
- Que bom! Tenho certeza de que seus pais gostam muito de você.
- Gostam nada. Tenho pais novos.
- Claro que gostam! Não fale assim. Seus pais escolheram ter você.
- Que base você tem pra falar, ô gigante? Meus pais não são sentimentais. Eles só escolheram meu nascimento para comprovar que a tese a respeito dos filhos que é aceito por muito está errado. Meu nome é assim porque eu, segundo eles, vim para provar que ter filhos é um erro. Eles que se fodam.
- Olha, não precisa ficar assim tão bravo. Sabe, as pessoas cometem erros, mas elas mudam. Perdoe seus pais. Um dia eu sei que eles entenderão o erro que cometeram. Você vai ver.
- Nunca me ofendi com eles. Na verdade eles não são nada pra mim além de pessoas doaram um pouco de energia para meu nascimento. Eles que se fodam, não são família pra mim.

Joana ficou com um olhar triste. Passou a mão nos cabelos do menino e começou a falar

- Quantos anos você tem?- Tenho doze anos. O que foi, esperava outra coisa?
- É que no meu planeta as coisas são diferentes. O que você está escrevendo aí?
- É um sonho que eu tive. Eu vou ser artista, sabe? Quero ser um vagabundo inútil.
- Você quer ser inútil?
- Só estou usando os termos dos meus pais. Pensam que artistas ficam inventando qualquer besteira sem qualquer fundamento e que artistas são inúteis. Mas eu sou artista, e não me importo com o que eles pensam, eu não sou eles, nem quero ser, eles que se fodam.
- Olha, apesar de tudo são seus pais. Você devia respeitá—los.
- Por quê?
- Porque eles te criaram.
- Eu não sou nada pra eles. São uns robôs! Que tal a gente mudar de assunto?
- Você tem alguma ideia?
- Já que você se interessa tanto pela minha vida pessoal eu quero saber sobre a sua.
- Tudo bem.
- Soube que seus hábitos de reprodução são parecidos com os nossos. Você se masturba muito?
- O quê?
- O tradutor está funcionando direito. Ouvi dizer que o seu planeta é cheio de niilistas e que vocês vivem transando e se masturbando o tempo todo. Deve ser o paraíso. Olha, nós não podemos ter filhos por causa do código genético, mas podemos transar, sabia?
- Isso é falta de educação! Não fale assim comigo ou com ninguém. É uma coisa íntima e muito pessoal.
- Por quê?
- Porque sim.
- Há! Você é uma acorrentada! Você tem fetiche com isso?

Joana levantou e saiu de perto do garoto, que continuou escrevendo tranquilamente. Na sala externa foi falar com a mestra em educação sobre o comportamento do garoto.

- Fui desrespeitada por um de seus alunos. Perguntou se eu me masturbo!
- Você não se masturba?
- Isso é problema meu!
- Masturbação é um problema?
- Olha. Eu não me masturbo, tá bem?
- Então faz sexo com frequência?
- Qual é o problema com vocês? Não respeitam a intimidade dos outros, não? Não sabem educar as crianças e por isso ficam mal criadas desse jeito! Aquele menino odeia os pais!
- São sentimentos dele, e não são um perigo para a sociedade. Não podemos reprimi—los.
- São sentimentos negativos e devem ser evitados.
- Você é uma acorrentada.
- O que?
- Você está presa á moral. É uma acorrentada! Cheia de inibições criadas pelos outros no próprio comportamento. Mas isso não é você!
- Eu sei muito bem quem eu sou!
- Não sabe não. Grande parte do que você é não passa de uma mentira. Você fecha seus olhos e glorifica a ingenuidade, mas não é tão ingênua quanto parece.
- Eu não sou ingênua. Só acho que não é certo ensinar crianças a serem revoltadas.
- E então o que é certo ensinar?
- A serem bem comportadas.
- Um erro! Uma criança bem comportada é um robô. Ela se comporta exatamente como os outros acham certo, e faz tudo o que disseram que é certo, mas é acorrentada e nunca desenvolve a si mesma. O problema não estava naquele que traz a mudança, está em você, que tem inibições primitivas de impulsos naturais. Aliás, não são só seus impulsos que você inibe. Veja só, há fatos claros diante dos seus olhos na sua vida que demonstram o meu ponto.

Foi exibido um vídeo para Joana, no qual ela estava transando aos quatorze anos, e depois outro dela grávida. Ela ficou chocada por alguns segundos e começou a chorar, mas logo se recompôs.

- Porra, vocês ensinam suas crianças a transar. Isso é pedofilia.
- As crianças só podem ter relações sexuais dentro de realidade virtual nessa idade. Em uns 3 anos, quando ele demonstrar que possui maturidade, poderá ter relações com robôs, e mais tarde, quando terminar sua primeira tese, poderá ter relações com pessoas de todas as idades. Não temos interesse em fingir que as crianças não possuem sexualidade em época de puberdade. Aquele que trás a mudança está nessa fase, e na realidade virtual, somente programas específicos interagem com ele. Não há abuso por parte de adultos. Se não fosse nessa realidade, ele se masturbaria evocando com a própria mente imagens análogas. É até mesmo estúpido dizer que o estamos corrompendo por deixarmos seus impulsos fluírem com relativa liberdade.

Joana encheu o pulmão de ar, mas não falou nada de imediato.

- Vejo que voe se chateou. Não é minha intenção te aborrecer, mas na interação com nossa civilização é comum que o choque entre culturas cause estranhamento. Depois de um tempo, creio, isso se tornará mais comum.
- Eu melhoro. Só que tem mais uma coisa que me deixa preocupada.
- O Que?
- E se isso for realmente um sonho? E se não houver visitantes? O que faremos para resolver nossos problemas educacionais?
- Pessoalmente, tenho sugestões.
- Me diga
- Em primeiro lugar, façam o maior esforço possível pra integrar a tecnologia no ensino. Depois, deixem de determinar coletivamente o que deve e o que não deve ser aprendido. Que a partir da puberdade, os indivíduos já possam escolher suas preferências, mas que tudo seja como se fosse uma brincadeira.
- Mas a vida não é brincadeira!
- A criança aprenderá sobre os diferentes grupos sociais de sua sociedade globalizada sem ser coagida por alguns deles, como o religioso, esportivo ou científico. Nesse sentido, poderá ter maior autonomia em escolher o que quer ser, e terá menos pressão para aprender coisas que lhe serão irrelevantes no futuro. Devem, também, dar condição de vida digna aos professores, e aumentar, sempre que possível, a quantidade de professores trabalhando. Só isso já resolverá uma infinidade de problemas que vocês possuem.
- Vou pensar nisso. Parece bonito, mas praticamente impossível de aplicar.
- Não será sempre assim. Nossa esperança é que o nosso contato com vocês vá modificando progressivamente a sua forma de ver o mundo. Assim, pretendemos um preparo de dentro pra fora antes de termos contato com os nativos.

Angel's Sleep

Às vezes quando alguém dorme
Devemos parar por uns instantes
Porque se quebram barreiras
Que dividem a alma da luz mundana

Algo como uma expressão
Linguagem corporal espontânea
Imaginamos sonhos, pesadelos
E aí nosso próprio coração se revela

Sentimos desejo ou repulsa
Queremos acolher ou rejeitar
Seja o que for, é claro, límpido
Certeza louca, intuitiva

As pessoas mostram sua identidade
O que são lá no fundo
E se amamos essa vista
Então amamos essa alma

São coisa que você descobre
Assistindo o sono de um anjo