Uma brincadeira sobre as implicações éticas do conflito acerca da origem da vida

Introdução

Como o último post recebeu alguma atenção, me senti motivado a levar adiante minhas brincadeiras a esse respeito. No presente texto, pretendo apresentar as implicações éticas e sociais do conflito em torno da origem da vida. Isso porque não se trata apenas de como a vida surgiu, mas sobre interpretações de como a biosfera se organiza. É, em última análise, uma questão filosófica.
Como o evolucionismo é uma visão hegemônica, sendo considerado por muitos uma questão já além do questionamento, falarei primeiro sobre as implicações dessa concepção na história e sobre minha leitura da marca que ela deixa na nossa sociedade atualmente. Depois vou especular filosoficamente sobre como a brincadeira do outro post poderia basicamente curar um grande mal da humanidade. Sim, parece bobagem. E talvez seja mesmo. Mas é divertido, então vou escrever.

Evolucionismo e suas implicações

Para falar sobre isso recorro, primeiramente, a um comentário de Marx¹:

“‘Darwin, que estou relendo, diverte-me quando diz que aplica a teoria de Malthus nos animais e também nas plantas, como se em Malthus não fosse brincadeira aplicar a teoria, inclusive da progressão geométrica, não às plantas e animais, mas aos homens. É notável ver como Darwin encontra nos animais e nas plantas sua sociedade inglesa, com a divisão de trabalho, a competição, a abertura de novos mercados, as ‘invenções’ e a ‘luta pela existência’ de Malthus” (apud. Marco, 1987, p, 75-76)6.”

E Engels:

“‘Toda a teoria de Darwin baseada na luta pela vida é simplesmente a transferência, da sociedade para a natureza animada, da teoria de Hobbes do bellum omnium contra omnes e mais ainda: da teoria burguesa da livre competição e da teoria malthusiana sobre a superpopulação. Uma vez levada a cabo essa proeza (cuja justificação incondicional é ainda muito problemática, especialmente no que se refere à teoria malthusiana) é muito fácil transferir de volta essas teorias, passando-as da história natural para a história da sociedade; e, afinal de contas, é uma grande ingenuidade pretender, com isso, haver demonstrado essas afirmações como sendo leis eternas da sociedade’ (Engels, 1985, p. 163).”

Até que ponto podemos dizer que a teoria de Darwin é uma projeção de seu convívio social, sobrepondo a organização da sociedade inglesa à natureza é determinar. Mas certamente a teoria foi aceita muito porque estava (e está) em concordância com o sistema sócio-econômico. Porque olhar para a natureza a partir de tal ótica foi interessante para tal Zeitgeist.

Mas de que mentalidade estou falando?
Da capitalista, onde surge a noção de indivíduo responsável pelo próprio destino. Nesse momento, no início do iluminismo, onde o “um por todos e todos por um” foi substituído por “cada um por si de Deus por todos”, até que Deus morreu e somente o cada um por si sobrou.

Nesse caso, o individualismo parece andar lado a lado com o evolucionismo, na medida em que ele concebe a estrutura da natureza como milhares, milhões de indivíduos em constante competição, da qual resulta a variedade do mundo.[2]

Em nível social as conseqüências foram devastadoras. A eugenia, que hoje não é mais aceita, procurou “melhorar” a espécie humana, esterilizando a matando milhões de pessoas que, segundo o pensamento da época, foram consideradas inferiores. Culturas foram submetidas à visão etnocêntrica do homem europeu, que buscou classificá-lo como primitivo, menos desenvolvido, legitimando diversos tipos de violência e imposição cultural. Vimos surgir diante dos nossos olhos um sistema econômico cada vez mais competitivo, abonado pela própria natureza para que continue funcionando dessa maneira.

Na vida pessoal, pensar que as próprias leis da natureza abonam o individualismo gera um sem-número de comportamentos aberrantes. Por exemplo, apesar da enorme inflação da nossa densidade demográfica, muitos ainda hoje conservam preconceitos contra a adoção, afirmando que crianças abandonadas carregam “genes ruins” ou que simplesmente querem passar a própria carga genética (ou o sangue, nos mais leigos) adiante. Assim, mesmo no caso de ser menos trabalhoso adotar do que tratar um problema de infertilidade, opta-se por um filho biológico, pois se não há uma conexão genética nós estamos lutando contra o nosso próprio interesse.

Outro exemplo é o de que, em benefício próprio (e em reverência à mãe natureza) os homens cometem inúmeras atrocidades uns com os outros economicamente. Porque, afinal, ajudar os outros pode até ser útil no sentido de dar status social, mas muitas vezes o custo não compensa o benefício. Todos os comportamentos humanos são essencialmente egoístas dentro dessa visão. Porque se fossem verdadeiramente altruístas, nossos genes não seriam passados adiante.

Quer dizer, em nível pessoal, levando essa teoria às suas últimas conseqüências, somente com alternativas Ad Hoc e religiosidade é que podemos ter um comportamento altruísta. Poderíamos dizer que e útil para a sobrevivência do indivíduo que ele coopere com o grupo, mas ainda assim permaneceremos num conflito constante, embora ocultado. A essência, nessa visão, do comportamento do indivíduo no meio social é a do individualismo, bem como pregado no American Way of Life: cada um que cuide do seu jardim. Porque, afinal, a nossa origem, o que nos deu a forma que temos, foi essencialmente a competição.

Apesar das costuras e dos emendos, a lógica evolucionista, quando transposta para termos éticos, traz apenas o egoísmo. E somente alguns niilistas conseguem admitir tal coisa: que tudo, no fim das contas, é motivado pelo egoísmo.

Nosso convívio diário, nossa organização social, nosso mercado de trabalho, nossos meios de produção, nossas classes sociais. Tudo baseado na competição.

Não estou aqui para propor um sistema que elimine a competição, nem tampouco para provar que ela não é a melhor forma de pensarmos e organizarmos a sociedade. Apenas constatando a visão evolucionista é o braço direito do capitalismo, embora os biólogos tenham a tendência de ignorar tais estudos. Nós temos alimento para matar a fome do mundo, mas não o interesse dos indivíduos que detém tais alimentos de fazer isso. Afinal, é cada um por si. E temos uma Deusa[3] apoiando tais ações.

A concepção de engenharia genética como alternativa

Agora, pensando segundo a linha de raciocínio do outro post, no qual foi postulado que fomos construídos artificialmente, a coisa muda profundamente.

Se fomos construídos como uma espécie a se conservar com uma estrutura mais ou menos estática, devemos pressupor que o(s) autor(es) nos desenharam para sobrevivermos. Não desenhou um indivíduo, uma manifestação individual do “código básico” da espécie, mas uma espécie inteira. Se todos os seres humanos, egoístas, buscassem apenas o próprio benefício, a tendência seria a extinção. Assim, a forma mais lógica de programar uma espécie é colocando como base o altruísmo e não o egoísmo. Somente na lógica evolucionista, a partir da qual tivemos origem em mecanismos complexos de competição, é que esta faz algum sentido. Se pensarmos um projeto de espécie inteligente e fisicamente frágil que deve ser capaz de sobreviver, o impulso básico deve ser o de cooperação acima de qualquer outro. Se a base da nossa motivação é a cooperação e não a competição, então podemos explicar alguns fenômenos observáveis na nossa sociedade.

Em bancos, ficou comprovado, há uma taxa muito maior de suicídios e licenças por depressão do que em outros ambiente de trabalho. Os funcionários são submetidos uma carga excessiva de stress, que é compensada por palestrantes, livros de auto-ajuda ou terapias. Os problemas, convenientemente, são projetados para a responsabilidade do indivíduo. Isso, no entanto, não elimina seu problema, mas o suprime através de sucessivas catarses até que ele possa ser substituído.

No entanto, partindo da premissa de que nós não somos naturalmente competitivos e egoístas, mas que tal comportamento nos é internalizado pelo processo de socialização, a coisa fica bem interessante. Partindo dessa premissa, estaríamos basicamente dizendo que o ser humano tem uma propensão “natural” para cooperar, muito mais do que para competir.

Um dos maiores males da sociedade atual, portanto, é a solidão. Pais pensando que podem comprar a felicidade dos filhos, e, quem sabe assim, comprar a própria. Pessoas convivendo entre si por mera conveniência e sozinhas no meio da multidão. Olhando para um lado e para o outro e não vendo nada além de sua própria pequenez e solidão. Uma contradição com a lógica original, que nos preparou parar a cooperação e não para o isolamento. Essa lógica que, no fim das contas, nos lança atrás de amor, como Erich Fromm postula. O que mais queremos, aquilo de que mais sentimos falta, é amor. Um princípio excessivamente altruísta, dificilmente explicável pela lógica de que tudo se baseia no egoísmo.

Seríamos, então, uma espécie muito mais adaptável a um ambiente de cooperação, onde estaríamos conservados. É somente através da estimulação que nossa mentalidade internaliza a competição, sem, contudo, deixar abismos nos indivíduos. A idéia de que fomos programados e não tivemos origem da competição nos faz rever esse hábito social. Afinal, se tivemos a mesma origem e se o propósito de nossa existência física não é apenas passar nossos genes adiante, mas manter toda a espécie coesa e viva, a coisa muda de figura. Nessa lógica, é lícito que indivíduos dediquem toda a sua vida a ajudar os próximos, sem buscar tão somente o prazer para si mesmos e a sobrevivência de sua “prole”.

Nossa missão natural, então, deixa de ser sobreviver e deixar descendentes férteis, mas amar e ajudar a conservar toda a espécie. E mais além: conservar toda a biosfera para que isso seja possível.

Essa visão se adapta muito melhor a qualquer concepção metafísica que pregue o amor do que a evolucionismo, e, se levada às ultimas conseqüência, nos levara a uma estruturação social onde a afetividade, o companheirismo, o amor, se tornarão prioridade. Onde todos buscarão se ajudar num ambiente de trabalho ao invés de se ignorarem ou simplesmente prejudicarem o outro. Com essa concepção de natureza, nossa vida seria mais agradável e nossa sociedade incrivelmente mais produtiva. Somos seres afetivos, capazes de amar. Está na base do projeto...


[1] Pra dar o texto a aparência de ser algo sério, claro. (http://designinteligente.blogspot.com/2010/01/darwinismo-e-marxismo.html)
[2] Parece estranho, no entanto, que elas admitam normalmente o fato de que muitas formigas nunca passem seus códigos genéticos adiante, servindo apenas para o funcionamento da colônia, sem que tal comportamento tenha feito com que tais formigas entrassem em extinção. Se algum evolucionista quiser, me explicar tal fenômeno dentro da teoria evolutiva deve ser bastante interessante.
[3] Gaia, a mãe natureza.

Uma brincadeira epistemológica com o Macro-evolucionismo e órgãos vestigiais

Introdução

Em primeiro lugar, para quem nunca leu esse blog e acabou aqui por acaso, deixo evidente no título o caráter desse texto. Não se trata de um texto com zombarias pueris, mas de uma concepção filosófica: que a reflexão, a busca por conhecimento, não passa de uma brincadeira. Na verdade, a impressão que tenho é que, se não fosse pela diversão, aprender e pensar seria uma perda total de tempo. Se você não tem prazer nisso, nem se preocupe em ler, porque não será um texto pequeno. Basta você descer a barrinha do seu navegador pra constatar a veracidade do que digo.

Já em segundo, e mais direcionado ao tema em questão, o que proponho aqui é fazer uma brincadeira com dois preceitos do evolucionismo, o de Macro-evolução e o que postula a existências de órgãos vestigiais. O que farei aqui é tomar a evidência que encontrei nesse site[1] e reinterpretá-la longe da visão evolucionista, dando ênfase noutro conjunto de premissas teóricas. Se eu for refutado por alguém, o que é provável, apesar de poucas pessoas se interessarem pelo tema e/ou pelo meu blog, ainda assim ficará como um registro de como são frágeis nossos modelos de interpretação dos fenômenos.

Premissas fundamentais

Em primeiro lugar, eu gostaria de postular premissas para essa base epistemológica com a qual irei interpretar os dados.

1)      As espécies em sua variedade cromossômica foram geneticamente contruídas.
2)      A construção foi gradual, tendo várias espécies sido construídas a partir de outras que a precederam.
3)      Não houve apenas um engenheiro trabalhando, mas vários. E em diferentes épocas do planeta.
4)      Micro-evolução é uma realidade observável.

Sobre a primeira, deixo claro do que estou falando. Se uma espécie de lagartos se separou e sofreu mutações morfológicas e comportamentais, inibindo a reprodução no caso do reencontro, isso não quer dizer que tenham mudado em nível cromossômico. Se duas espécies podem se reproduzir no nível das gônadas, então podemos dizer que são iguais em nível cromossômico. Portanto, que têm a mesma origem em Design e que se adaptaram a diferentes ambientes apenas, sem se transformarem em algo diverso.
Sobre o primeiro, é bom recorrermos ao conceito de Scrip em programação. Um Script de uma determinada linguagem de programação é um fragmento de programa que pode ser utilizado em outros programas para facilitar a programação. Assim, muitas vezes ao invés de programar todo o código, o programador usa scripts para facilitar a própria vida, o que pode tornar alguns programas bastante similares. No caso dos seres vivos, poderíamos presumir que os programadores construíram as diferentes espécies partindo de um preceito análogo a esse.
Ou seja, que usaram códigos genéticos já prontos para construir novas espécies. Nesse aspecto, a aparência de que as espécies se transformam gradualmente é verdadeira, mas tais transformações não foram, de forma alguma, espontâneas. Antes, foram o resultado de sucessivas reprogramações.
Quando presumimos que há vários programadores criando novas espécies a partir de outras que conseguiram sobreviver em épocas diferentes, fica claro que eles não possuíam um “backup” com um código puro da espécie. Portanto, não refuta tal proposta que humanos tenham marcas de DNA viral em seu organismo que são idênticas as dos chimpanzés. Isso só prova, segundo tais premissas, que ambas as espécies foram programadas segundo o mesmo DNA-base, de uma espécie ancestral.
Daí, portanto, decorreriam todas as semelhanças ontogenéticas, genéticas, fenotópicas e comportamentais dos animais.
Quando falo que há mais de um programador, postulo que Deus ou forças divinas estão excluídas de tal hipótese e que as evidências apontam para o fato de que as espécies são, em nível da biosfera, muitas vezes redundantes em função, além de terem comprovadamente idades diferentes. Presumir que todas foram feitas por um só “criador”, presume uma espécie que vive milhões de anos e que cria espécies redundantes ao invés de simplesmente reproduzir as mesmas de dada função no ciclo da vida.
Quando falo de micro-evolução, me refiro ás mudanças morfológicas e comportamentais que os animais sofrem dependendo da pressão seletiva de determinado meio. Assim, essa forma de pensamento admite a seleção natural, mas a integra noutro contexto.

Vamos, então, à brincadeira em si.

Analisando os dados

Ao buscar defender os órgãos vestigiais de adeptos do Design Inteligente, o autor do site indicado no início do site mostra autores usando uma definição deficiente desse conceito. Segundo ele, os autores em questão dizem que órgãos vestigiais são aqueles que não possuem mais função alguma. Ele coloca, para refutar tal postulado, que mesmo em A origem das espécies tal colocação nunca foi feita:

“‘Rudimentary organs, on the other hand, are either quite useless, such as teeth which never cut through the gums, or almost useless, such as the wings of an ostrich, which serve merely as sails.’ (Darwin 1872, p. 603) [Orgãos rudimentares, por outro lado, são ou praticamente inúteis, como dentes que nunca atravessam a gengiva, ou quase inúteis, como asas de uma avestruz, que servem apenas como uma vela(para o equilíbrio na corrida).]

E além disso:

“‘... as was pointed out in the introduction, the term vestigial, is, as a rule, only applied to such organs as have lost their original physiological significance.’ (Wiedersheim 1893, p. 205)”[Como foi indicado na introdução, o termo vestigial, é, via de regra, apenas aplicado a a órgãos que tenham perdido sua significância fisiológica original] {grifo meu}

Logo, os órgãos vestigiais não são necessariamente, mas apenas são aqueles não possuem mais a função original. Dessa maneira, pensar em órgãos vestigiais é observar tal fenômeno já com uma projeção evolucionista. Com a hipótese que pretendo colocar nessa brincadeira, os órgãos vestigiais são um absurdo. Na verdade, vou apresentar uma proposta explicativa alternativa pra demonstrar que essa evidência só tem peso para o evolucionismo se for vista sob a ótica evolucionista.

Como aponta este autor[2], no século XIX 180 órgãos eram considerados destituídos de função pelo simples fato de que sua função não havia sido clarificada. Além disso, postula a função do cóccix e do apêndice, tendo o primeiro a função de “anexar vários músculos pélvicos, formando o diafragma pélvico”.
Segundo o autor, “O cóccix, com seu diafragma pélvico, mantém fixos muitos órgãos em nossa cavidade abdominal evitando que estes literalmente caiam por entre as pernas. Alguns dos músculos do diafragma pélvico também são importantes para o controle de eliminação de dejetos de nosso organismo pelo intestino reto.”

Infelizmente, numa distorção do conceito de órgão vestigial, ele postula que o cóccix não é vestigial porque ele tem uma utilidade, enquanto que ele trabalha com um conceito de órgão vestigial que não pode possuir função. Diferente do que ele postula, os evolucionistas colocam que um órgão que não possui a função original é vestigial. Assim, o autor não refuta os evolucionistas, já que emprega um conceito que não é utilizado por eles.
Para os evolucionistas, o Cóccix, embora tenha funções próprias no organismo, é uma cauda vestigial. Para provar isso, mostram as evidências ontogenéticas, onde fetos apresentam uma espécie de cauda primitiva.

No link da nota 1, o autor diz: “As discussed below in detail, the development of the normal human tail in the early embryo has been investigated extensively, and apoptosis (programmed cell death) plays a significant role in removing the tail of a human embryo after it has formed. It is now known that down-regulation of the Wnt-3a gene induces apoptosis of tail cells during mouse development (Greco et al. 1996; Shum et al. 1999; Takada et al. 1994), and similar effects are observed in humans (Chan et al. 2002).”
[Como foi discutido abaixo com detalhamento, o desenvolvimento da cauda humana normal nos embriões jovens foi investidado extensivamente, e a apoptose (morte celular programada) tem um papel importante na remoção da cauda do embrião humano depois que ele está formado. É sabido atualmente que a down-regulation(Regulação para baixo)[3] do gene Wnt-3a induz a apoptose das células da causa durante o desenvolvimento do rato, e efeitos similares são observados em humanos.]


Ou seja, para os evolucionistas o cóccix é uma cauda vestigial que se apresenta numa fase inicial do desenvolvimento embrionário e, inclusive muitas vezes não sofre a apoptose. Nesses casos, humanos desenvolvem caudas que inclusive reagem a estados emocionais.
Ora, isso comprova que há uma semelhança entre os humanos e outros mamíferos, e é confirmado quando tratam do Gene Wnt-3a, que está presente em ratos e em humanos.
Não há dúvidas, então, de que há semelhanças entre essas espécies em nível ontogenético, e a partir da teoria evolucionista poderíamos concluir que essa é uma evidência de que ambas as espécies possuem um ancestral em comum, do qual herdaram tais genes.

Tais dados, no entanto, podem ser reinterpretados segundo as premissas que postulei no início do texto.

Ora, se ambas as espécies foram programadas a partir de estruturas análogas, é mais lógico que os órgãos e estruturas aproveitáveis para outras funções permaneçam. Afinal, presumimos que o autor de tal espécie estivesse tentando construir animais capazes de sobreviver. Se o cóccix é parte de uma estrutura que auxilia no nosso desenvolvimento embrionário e se ele serve, como indicado, como ponto auxiliar para o diafragma pélvico, seria sensato presumirmos que tal estrutura é útil para a nossa sobrevivência. Logo, o autor teria alterado a cauda e mantido o cóccix, com utilidade própria.

De um modo geral, o cóccix continua sendo vestigial, mas é analisado por outra ótica, que não presume o macro-evolucionismo.

Mas, afinal, pra que apresentar uma alternativa interpretativa?

1)      Para demonstrar que essa não é uma evidência para a macro-evolução exclusivamente, e que, portanto, não deveria ser usada dessa maneira.
2)      Para evidenciar diferenças práticas fundamentais:
a)      Se interpretarmos um órgão como recessivo, a tendência é pensar que ele é uma estrutura com pouca ou nenhuma função no organismo. Nesse caso, a tendência é não considerarmos esses órgãos relevantes em intervenções cirúrgicas, o que pode ser fatal no caso de ele possuir algum tipo de relevância que desconhecemos.
b)      Além disso, se presumimos que todos os órgãos vestigiais permaneceram no nosso corpo por uma intenção racional, provavelmente entenderemos melhor as estruturas dos organismos no momento em que nós mesmos formos programar espécies. Afinal, como alguns já devem fazer, já foi produzida uma bactéria 100% sintética. Essa perspectiva poderia, portanto, auxiliar os programadores de organismos a trabalhar em novas espécies a partir de antigas, como um programador aprendiz lendo o programa de outro mais experiente.
c)       Além disso, pode apresentar uma abertura metodológica para a aquisição de novas evidências, que não podem nem ser vistas dentro da perspectiva evolucionista. Afinal, nossa linguagem, nosso discurso de mundo, com freqüência delimita o conjunto de fatos que somos capazes de perceber. Pressupor alguma função oculta, alguma utilidade escondida, pode inclusive instigar a investigação.

 Conclusão

A utilização de órgãos vestigiais como evidência para a macro-evolução é no mínimo parcial, já que tal evidência poderia indicar uma programação logicamente estruturada. Afinal, é muito mais lógico preservar estruturas com utilidade apenas alterando-as do que eliminá-las completamente e desenhar outras. Tal programação daria mais trabalho ao autor e aumentaria as chances de erro. É sempre melhor manter o máximo possível do código que já está em funcionamento do que recriar tudo do zero. Vejam, aqui, que não se trata de um programador onisciente, portanto, mas apenas de um programador racional. Conseqüentemente, tal teoria também poderia prever e explicar a cauda em seres humanos e qualquer outro órgão recessivo, não sendo este um privilégio do evolucionismo.
Na verdade, se presumirmos que há uma infinidade de diferentes programadores que realizaram seus trabalhos em diferentes épocas, todos os fenômenos expostos pela macro-evolução podem ser reinterpretados. Apenas alguns conceitos, como o de que tal coisa acontece sem intervenção racional, seriam abandonados como irrelevantes.

Fica estabelecido, portanto, que o evolucionismo está longe de ser a única proposta coerente para explicar os fenômenos naturais.

E digo mais: em termos de probabilidade, creio ser mais razoável supormos que houve intervenção inteligente do que imaginarmos que tudo se deu a partir da lógica evolucionista. Afinal, nós mesmos já estamos começando a programar o DNA. Deixo uma questão relevante para ser tratada noutro post:
1)      Numa mutação que implica a mudança na estrutura cromossômica, não teríamos os filhotes do mutante como híbridos muito provavelmente estéreis?
(afinal, os híbridos geralmente possuem um número impar de cromossomos, o que inviabiliza a espermatogênese, além de outras complicações)[4]
2)      E se não forem estéreis, a tendência não seria que a terceira geração fosse estéril?
(Para ser mais claro, se um mutante com 25 pares de cromossomos e um espécime normal com 23 pares dão origem a um hibrido com 24, não seria esse híbrido capaz apenas de deixar descendentes férteis acasalando com outro híbrido [seu irmão]?)
3)      Não é correto postular que a pressão do meio só causa mudanças morfológicas e comportamentais, mas nunca em nível dos cromossomos?

Que me responda o aventureiro que leu esse texto até o fim.


[1] http://www.talkorigins.org/faqs/comdesc/section2.html#atavisms_ex2
[2] http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:qQ42heALOcIJ:www.veritatis.com.br/article/3888+http://www.veritatis.com.br/article/3888&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a
[3] http://en.wikipedia.org/wiki/Downregulation_and_upregulation
[4] http://www.artigonal.com/biologia-artigos/genetica-e-citogenetica-na-caracterizacao-de-hibridacoes-interespecificas-em-diferentes-ordens-de-mamiferos-2626451.html

O encontro com Perséfone

- Atenção, homens, pois hoje veremos mais um rio de sangue. – disse o gigante sem nome
- Ele está certo! – gritou Emanuel – estou sedento!

Os homens gritaram, alguns ainda de posse das mulheres da última batalha. Há dois dias haviam dizimado um feudo. Não queimaram nenhuma casa, embora apenas meia dúzia de pessoas tenha conseguido se esconder e sobreviver. Colocaram uma estaca na terra com o crânio do senhor daquelas terras e a declararam maldita.

- Iremos eu, meu irmão e mais cinqüenta homens. Quero comigo somente os cães mais sedentos, as bestas mais insaciáveis. O resto pode continuar bebendo e usufruindo as mulheres. Se mais de cinqüenta quiserem, se matem pelo direito, pois nenhum a mais me seguirá. Vamos lutar contra 300 soldados e toda a criatura que possuir vida naquele castelo.

Os homens gritaram e se acumularam em torno de Emanuel. Alguns se mataram, e no final se formou a tropa, alinhada. Todos eles sorriam, seus olharem brilhando diante do sol nascente. Todos estavam montados em sues cavalos.

- Não temos o dia inteiro! Vamos! – gritou o gigante sem nome

Os dois irmãos correram a pé, à frente da tropa. Sua velocidade de corrida era maior do que a de um cavalo, então a reduziram para os homens não os perderam de vista. Emanuel sentiu um frio na espinha. Algo como um presságio. Ele seguia um sonho, que compartilhou com seu irmão. Ambos viram, na noite anterior, que deveriam perseguir a estrela que ficava acima da torre daquele castelo. Difícil ver outros casos em que dois irmãos compartilham tantos sonhos assim. Correram por quatro horas até avistarem o castelo.

- Deixem seus cavalos aqui, homens. Agora marchamos a pé – disse o gigante sem nome
- Pego a direita, irmão? - disse Emanuel
- Sim, como preferir. Mas subimos à torre juntos.

Emanuel rosnou com empolgação e os homens gritaram logo em seguida.

- Vamos, seus cães. Em nome da morte! – Berrou Emanuel

E todos correram em direção ao castelo, demorando mais vinte minutos para chegarem perto da zona de alcançe dos arcos da muralha. A corneta de alerta soou e o portão se fechou. Arqueiros lotaram a parte superior do muro. Um cavaleiro saiu do castelo para negociar a rendição.

- Não queremos problemas com o imperador. Nosso rei não desafia sua autoridade. Podem levar nosso ouro e nossos animais. – disse o Arauto
- Não estamos a serviço do imperador, tampouco queremos sua propriedade. Nós viemos atrás de sangue. Somos 50 e desafiamos vocês a luta.
O homem se espantou. Pálido, deu as costas à Emanuel e voltou para o interior do castelo, onde o Rei o esperava. Sem perder a compostura, o Rei convocou seus soldados e fez um inflamado discurso, do qual só se pode ouvir um grito: “até a morte!”
Pelo menos 500 soldados saíram pelos portões, dos quais 200 possuíam montaria. Emanuel sorriu, tendo em vista que tal quantidade de soldados era proibida pelo imperador. Eram conspiradores, o que justificava a carnificina. Não teriam problemas com Frederico.

- Não deixem nenhum homem, velho ou criança vivos! As mulheres, quem quiser as tome para si!

Ele gritou e os homens avançaram, debaixo das flechas dos arqueiros. Dos cinqüenta, dois foram atingidos, enquanto que os outros conseguiram se esquivar ou se defender com seus escudos. As tropas do castelo avançaram e os dois irmãos saltaram, cada um do seu lado. Emanuel com sua Espada da Morte, e o Gigante apenas com seu gigantesco escudo.
O Gigante lançou um cavaleiro a dois metros do cavalo quando caiu, dando em seguida um giro que matou alguns e afastou outros, que se esquivaram. Quando Emanuel caiu, cortando três homens ao meio, ele berrou, ao que seu irmão o acompanhou.
Os inimigos mal atacavam, paralisados de medo dos irmãos, enquanto a tropa de cavaleiros negros se chocou com a formação de infantaria na linha de frente.
Não muito diferente de outras batalhas, essa durou pouco tempo. O gigante matava uns com o impacto do escudo e outros simplesmente os pegando e mordendo, como preferia. O exército logo de dissipou, e foi perseguido até certo ponto. A maioria dos soldados foi dizimada.
Os arqueiros voltaram a atirar, derrubando dez dos cavaleiros negros antes que eles fizessem a formação de proteção com o escudo.

- Esperem o nosso comando! – berrou Emanuel enquanto corria na direção da muralha.

Os dois irmãos saltaram em direção aos muros e caíram próximos ao topo, escalando o resto. Os poucos arqueiros que não estava amedrontados e conseguiram atirar acertaram algumas flechas neles em pleno ar, o que pareceu não ser de grande incômodo. No topo, rapidamente avançaram partindo em pedaços os arqueiros. Alguns se jogavam do muro em direção á morte certa, por puro medo dos gigantes. Ouvia-se gritos dentro do castelo.

- Os Demônios! Os Demônios!

O último arqueiro pegou uma adaga e atacou Emanuel. Em seu desespero, tropeçou e caiu. Ele fechou os olhos, esperando ser esmagado, e Emanuel o ergueu com o braço esquerdo. Ele berrou e os soldados avançaram na direção do portão. O homem desmaiou de terror e foi lançado em direção a torre, sua cabeça como a ponta de uma lança. O Gigante abriu os portões e os soldados entraram. Pessoa corriam de um lado para o outro, desorientadas. Aparentemente essa era a única saída disponível.
Pessoas pedindo clemência, outras desmaiadas ou fingindo-se de mortas. Incrível como diferentes táticas surgem para a sobrevivência. Mas um Cão bem treinado não se deixa sensibilizar ou enganar.
Logo o último grito se silenciou, sobrando apenas murmúrios de dentro do castelo trancado.

- Descubram um meio de arrombar a porta e nos encontrem lá dentro. Estuprem a rainha! – Gritou Emanuel

Os dois irmãos saltaram e escalaram as paredes, cada um entrando numa janela. La dentro, alguns soldados o enfrentaram. Era difícil dizer se eram corajosos ou simplesmente suicidas. Pareciam, no entanto, guardar um enorme tesouro, que logo Emanuel pôde contemplar.
Numa espécie de salão principal, ele encontrou um grupos de clérigos, nobres, serviçais e soldados. Pela aparência das vestimentas, parecia que um casamento estava acontecendo. Ele e o irmão saltaram do segundo andar para um lado daquele salão, enquanto que os outros se amontoaram do outro. Todos apavorados, menos alguns soldados, que foram rapidamente massacrados.
Eles avançaram sorrindo e com curiosidade nos olhos. Buscando humilhar o Rei, convocaram a Noiva, sua filha.

- Onde está a Noiva!? - Gritou o Gigante

Ninguém respondeu, e ele logo avançou a começou a matar as pessoas que corriam e se empurravam. Emanuel, no entanto, a avistou. E não pôde acreditar. Era ela, a sua guia dos sonhos. Ela mesma, vestida de branco.
Os homens conseguiram arrombar a porta e se uniram ao Gigante na matança, enquanto Emanuel se apressou em capturar a Noiva. Pegou-a em seus braços e saltou de volta para o segundo andar. A deixou lá e desceu para avisar o irmão. Acabou se distraindo e matou algumas pessoas. Os homens perceberam a noiva e subiram ao terceiro andar para estuprá-la. Ele, prontamente, saltou e volta e matou o primeiro.

- Quem tocar nela morrerá. É minha e do meu irmão. – Disse Emanuel

Os homens recuaram e voltaram ao primeiro andar, onde as mulheres foram agrupadas. Dos cinqüenta iniciais, trinta estavam de pé. Avançaram sobre as mulheres, como de costume, matando algumas e estuprando outras.

- Irmão! Meu irmão! – gritou Emanuel

O gigante subiu rapidamente, pois nunca foi chamado com tanta urgência por Emanuel. Chegando lá, logo se viu hipnotizado pela visão da princesa.

- Perséfone! – exclamou ele
- Que nome é esse? - perguntou Emanuel
- É o nome de nossa mãe! Não se lembra
- Não lembro de nada sobre nossa mãe. Aliás, com freqüência imagino que ele nunca existiu.
- Pois existiu, e cá está renascida!

Os dois ficaram pasmos, olhando para o olhar vazio da moça. Emanuel, invadido por uma estranha emoção, nem se movia. Ele não sabia o que fazer com tal emoção. Parecia tão poderosa quando seu ódio, podendo fazê-lo desvanecer ou aumentá-lo. Aquela estranha força, que ele chamou de Amor em nome de Matias, parecia um espírito livre agindo em seu corpo e sua alma. Aqueles cachos loiros voando com a brisa vinda da janela, aquelas marcas de lágrima secas no rosto. Cada mísero detalhe ele armazenava. Era um Anjo¿ Só poderia ser de origem divina, para paralisá-lo de maneira tão forte. O despedaçava, embora a sensação fosse melhor do que qualquer chacina.

- Hades, o Deus do Submundo, deve ter-nos presenteado por termos mandado tantas almas ao seu encontro. – Disse o gigante. – Os Deuses nos favorecem.
- Não há deus algum nos céus. Há apenas uma Deusa, que habita entre nós. Ela é a deusa da morte e da vida, da destruição e da construção. Ela odeia e ama, acolha e abandona.
- Então talvez tenha sido ela a nos presentear de tal forma. É apropriado que aceitemos tal presente, o honrando com maiores e mais grandiosas chuvas de carne e sangue.

Emanuel concordou e pegou a mulher. Ela não reagia. Parecia estar morta, embora seus pulmões ainda se enchessem de ar. Seu espírito estava noutro lugar, alheio àquela situação. Seus olhos pareciam tão vazios quanto os de condenados esperando a morte. Aquele olhar que toma o ser humano quando a palavra esperança não tem mais nenhum significado.
Eles saíram do castelo, se deparando com a lua. Os homens carregavam mulheres. Eles perderam a noção de tempo, olhando para Perséfone.
A pele dela era tão macia, tão quente... Emanuel esfregava o rosto no braço dela, enquanto observava seu vestido cheio de sangue e lama. O sangue de sua família e a lama de sua terra, todos agora uma coisa do passado.
Surgiu nele uma coisa diferente. Amor, Luxúria. Um impulso por vida.
E assim foi o encontro de Emanuel com Perséfone, e o nascimento do Amor no coração de um cão do submundo...

Lua

E eis que você surge
No meio da escuridão
Vem encantar, encaminhar
Tomar para si toda a atenção

Denomino-te Deusa
Presto-te homenagens
Subo em altas montanhas
Senão para tocá-la,

Para ao menos vê-la mais de perto

Sou eu que imagino coisas,
Ou você tem mesmo esse rosto lindo¿
Sou louco,
Ou você olha pra mim¿

Eu quero me banhar na sua luz,
Girar na tua órbita
Quero ser um com você,
E esquecer todo o resto...

Eu sou um lunático!

Hell's Fire(Flower)


Tem um calor em mim
Uma chama ardente
Por mais que eu tente
Não se apaga...

É uma chama infernal
Daquelas que dão alegria
Ela move meu espírito
Num jogo irracional

Num dia me centro
Delibero meu próprio destino
Pra no outro, surpreso,
Ver esse fogo consumir tudo

Isso é amor¿
É paixão, luxúria¿
Não...
Tenho que dizê-lo na minha língua:

Isso é o fogo do inferno

Vem das profundezas
Tira-nos o sono
Derruba-nos pedestal
Nos torna humanos...

E eu queimo, minha musa
Eu, Dante, vou queimando
Espero com paciência
Que você me leve ao paraíso

Eu sinto teu aroma daqui...