Longe ou perto?

Não sei se perto ou longe,

Ela está de mim.

Quilômetros nos separam

Mas sinto ela aqui comigo

 

Talvez eu que sonhe demais

Mas é tão bom...

Pra onde eu vou, ela me acompanha.

Tem olhos brilhantes, olha pra mim...

 

Sempre que recosto minha cabeça

Ela está aqui comigo

Quando eu durmo saio de mim

E fico junto dela

 

Ela torna os pesadelos doces

Se estiver assustado ela me acalma

Se estiver com raiva me acalmo

Se estiver alegre fico ainda mais

 

Queria tornar minha fantasia real

Acordar e vê-la comigo

Com carinha de sono

Pedindo mais cinco minutos...

Sobre a escolha da minha profissão

Antes de falar o motivo pelo qual escolhi esse curso eu preciso entrar na questão do trabalho. A palavra não veio do “tripalium” por um motivo acasual. Essa ferramenta de tortura foi associada ao “laborar” da época pelo fato de que em ambos os casos os homens sofrem. Filosoficamente eu suo contra qualquer tipo de trabalho de cunho físico e mecânico (e isso inclui os burocráticos) porque esse tipo de trabalho castra nossa criatividade e nos torna somente mais uma peça na linha de montagem.

Partindo dessa premissa algumas profissões restam: Professor, psicólogo, pesquisador e escritor. Considero todas essas alternativas muito interessantes, pois são profissões exercidas pela alma. Usamos muito mais nosso intelecto e o nosso coração (excluindo a de pesquisador). Mas há de se observar barreiras práticas e íntimas. Que reduzem as possibilidades.

A profissão de pesquisador, para seu preparo, requer um certo nível social: para se formar como um doutor e ser pesquisador é necessário que tenhamos dinheiro, que eu não tenho. Logo, é inviável na prática uma pretensão vinda de mim de ser um pesquisador. Provavelmente eu pararia num mestrado e me tornaria um professor muito atarefado.

Eu admiro profundamente a profissão de professor, mas tenho motivos para crer que não tenho “vocação” para exercer essa profissão. Dentre estes motivos está o fato de que o que há de mais polarizado na minha personalidade é a introversão. Assim sendo, por não ter desenvolvido bem a extroversão(ainda), eu só me relaciono bem com as pessoas com quem tenho um contato mais profundo. Os verdadeiros amigos. Não tenho colegas e prefiro grupos pequenos, o que não pode ser uma exigência de um professor no nosso país. Como ainda não desenvolvi essa habilidade, todas as minhas boas intenções seriam vãs, pois, da minha parte, há um demasiado desprendimento em relação á maioria das pessoas.

O contato do psicólogo com o paciente é mais profundo, e melhor para um introvertido. Há momentos em que penso que um psicólogo é como um professor, só que suas turmas são de só um aluno, que o permitem ter maior concentração. Nessa profissão eu poderei me aventurar nas profundezas das pessoas, e esse é o tipo de relação que me atrai. Ser colega ou ter uma relação afetiva superficial não é algo que seja do meu gosto. Dessa forma, ser psicólogo é algo para que creio ter potencial.

Não creio que eu já tenha o conhecimento necessário e muito menos que já tenha alcançado a plenitude ao ponto de poder transmitir “a mensagem” aos demais. Pra mim esse crescimento é gradual e não pode ser forçado. Mas se formos esperar que todos os psicólogos alcancem a plena maturidade antes mesmo de ingressarem no curso de psicologia não haverá sequer um profissional.

Aliás, mesmo depois de se formar e de anos de profissão uma pessoa pode não ser, de fato, plena. Mas é aí que entra o principal atrativo, para mim, da profissão de psicólogo. Ao entrar em contato com os problemas alheios eu posso colocar os meus sob uma nova perspectiva. Assim, em paralelo a uma terapia aplicada em mim por outro psicólogo, estarei usando a experiência da profissão para descobrir a mim mesmo. Não dispenso, é claro, a sensação boa de ajudar uma pessoa, e isso também me agrada, mas não é o que mais me atrai na profissão.

Isso sem falar no fato de que eu tenho uma paixão pelo estudo teórico do tema, que será útil no decurso da graduação e que essa é uma profissão que pode ser exercida até o fim da vida.

Sou um escritor de coração, e tenho consciência de que essa também é uma ferramenta de autoconhecimento, mas não será uma ferramenta de sustento, pois meu estilo é um tanto incomum. As pessoas gostam de ler aventuras e roteiros. Meus livros são quase como os de Platão: não tem qualquer ação. Diálogos, monólogos, pensamentos. As ações quase não são narradas e não recebem qualquer importância, o que tornará, fatalmente, meus livros um tipo de leitura não atraente.

Dessa maneira, ao ser um psicólogo eu irei unir o útil ao agradável. Uma profissão que vai ajudar no meu desenvolvimento e sustento saudável: estarei trabalhando com algo que está totalmente de acordo com minha filosofia ética.

O raivoso racional

Eu estava determinado e nada mudaria minha resolução: eu e ele tínhamos que brigar. Fui caminhando por aquelas ruas frias com o endereço que consegui através de manipulação. E aí está o prédio. Bem à moda antiga, mas mesmo assim de finíssima qualidade. Ele de fato tem condições financeiras favoráveis. Esperei por 5 minutos de um ponto estratégico onde me escondi, e assim que um morador saiu do prédio eu entrei e fui direto ao quinto andar, onde ficava o apartamento dele e lá bati na porta.

- Quem é?

Disse uma voz de mulher de idade.

- Sou Roberto, estou procurando Reginaldo para discutirmos assuntos particulares de extrema importância.

- Reginaldo, tem um tal de Roberto aqui querendo falar com você. Ele está falando difícil.

Depois de uns instantes apareceu diante de mim meu mortal inimigo, que era da minha altura mais com a musculatura bem mais bem exercitada. Tinha um olhar tranqüilo, e parecia curioso.

- Preciso conversar com o senhor em particular

- Eu te conheço de algum lugar?

- É pouco provável, mas o assunto é relevante, e envolve sua vida pessoal.

- Então entre, vamos ao meu quarto.

O apartamento não era dele, certamente, pois a decoração tinha a essência de uma mulher. O sujeito morava com a mãe, talvez daí que tenha tirado sua covardia: como um homem adulto que já passou dos trinta anos ainda mora com a mãe?

- Então, amigo, o que você quer comigo?

- Já estou aqui dentro e, portanto, agora só posso dar avisos para tornar tudo justo.

- Tudo justo? Até parece que eu e você vamos competir por alguma coisa.

- Vamos competir pela consciência, eu vou te atacar fisicamente e só vou parar se você ou eu estiver incapacitado para continuar o conflito, e meu objetivo é te deixar inconsciente.

- Isso é algum tipo de pegadinha?

- Não é, e sugiro que você indique um lugar deserto, pois senão podemos destruir os móveis da sua mãe, que nada tem a ver com isso.

- Porque você quer brigar comigo?

- Você ofendeu minha amiga. E a única forma de um homem me ofender é essa. Assim sendo, me sinto ofendido e raivoso, e pretendo deixar a violência tomar conta dessa situação.

- Não é possível, só pode ser pegadinha. O que é isso, alguma festa surpresa? Você quer que eu te leve no terreno baldio ali do fim da rua, que é o lugar mais isolado, porque lá você tem uma surpresa?

- Se lá é o lugar mais isolado, então é para lá que vamos. Ande na frente para eu ter certeza de que você não vai fugir, e não leve qualquer objeto que possa ser quebrado.

- Tenho que reconhecer, você é um ator e tanto. Interpreta um louco como ninguém.

- Não estou interpretando e não sou louco, tudo o que estou fazendo tem perfeito sentido.

- Mãe, vou ali com o Roberto e já volto.

- Que gírias novas são essas, meu filho? Nunca que eu ouvi esse negócio de um chegar educadamente na casa do outro avisando que vai bater.

- A conversa era particular, sabia?

- Me enganei, não é lá tão educado.

Saímos como eu planejei, ele andando na frente e meio risonho, tentando adivinhar o que eu estava tramando. Não conseguia entender meu intuito, apesar de ele ser perfeitamente racional. Eu avaliei de forma perfeita, de acordo com experiências dos outros e examinando o que eu sentia. Dizem que quando a ofensa é pequena nós devemos deixar passar, mas que quando é grande devemos tirar satisfações. E o padrão entre homens é conflito físico. Ele me ofendeu profundamente, pois ofendeu minha amiga, e essa é a primeira vez que alguém me ofende então a ofensa naturalmente é sentida de forma mais intensa. Afinal, quem vive no calor não suporta frio, e quem vive no frio não suporta sol quente. Da mesma forma eu, que vivo sem em ofender com nada, quando sou ofendido senti esse desejo incontrolável de agredir o sujeito com todas as minhas forças. Não entendo como ele não entende a racionalidade do meu intuito.

- Pronto, chegamos. Já que não tem ninguém eu presumo que há uma câmera escondida.

- Se há uma câmera escondida então é melhor brigarmos em outro lugar, pois nesse seremos vistos.

- Eu não sei de nenhuma câmera, se você também não sabe não há câmeras.

Agora é a hora, comecei meu alongamento para facilitar o exercício físico.

- Comece seu alongamento também, pois ele facilita o exercício, e você vai precisar e bastante mobilidade para se esquivar de meus ataques.

- Você é louco de verdade?

- Não sou louco, tudo o que estou fazendo tem perfeito sentido. Você ofendeu minha amiga e eu tenho que te agredir fisicamente.

O homem não parava de rir, e eu não consigo entender bem porque, mas isso me deixou com muita raiva. Será que ele está rindo porque me considera fisicamente inapto para agredi-lo, ou será que está rindo do fato de ter ofendido minha amiga? Somente a possibilidade de a segunda hipótese ser verdadeira me deixou muito raivoso, e a primeira, que era irrelevante, não me acalmou. Corri com toda a minha raiva na direção dele, que se esquivou facilmente dos meus primeiros golpes. Eu estava executando golpes repetitivos, e ele começou a repetir os movimentos de esquiva. Quando criei o hábito de esquiva nele completamente eu mudei os movimentos abruptamente e o acertei. Sim, uma bela de uma cotovelada no queixo como nunca havia dado em ninguém antes. O homem, depois de ser atingido, me atacou, e, antes de ser nocauteado, ainda consegui acertar dois socos no olho dele. Ele saiu irritado e apressado.

- Não acredito que perdi todo esse tempo com um louco. Eu tenho coisas muito urgentes para tratar, amigo.

Coisas urgentes como ofender minha amiga, talvez. Talvez eu tenha cometido um erro e deixado ela vulnerável a ofensas sem poder consolá-la. Acho que foi mesmo um erro, então preciso me recuperar em um hospital para poder oferecer meu apoio psicológico a ela. Uma ambulância chegou, e pessoas me rodearam.

- Era um homem forte e do tamanho dele, policial. O estava chutando enquanto ele sofria no chão.

- Como era a aparência do elemento?

- Era branco, e tinha aparência até bonita, com olhos claros e cabelo preto e curto.

Nesse momento eu estava entrando na ambulância e o policial me abordou.

- O que foi que aconteceu aqui, senhor? Quem foi que te agrediu?

- Na verdade eu que ataquei o homem, senhor policiai, e ele só estava se defendendo da minha fúria.

- Vou te dar um tempo para pensar melhor no assunto, rapaz. Sabe, quando não damos queixa dessas coisas elas podem se repetir, e acontecer de forma mais violenta.

- Te asseguro que não se repetirá, pois eu já não sinto raiva dele, e perdoei a ofensa que ele fez à minha amiga.

- ele está delirando, leve-o ao hospital.

Tentei argumentar, mas minha boca doía e meu pulmão mal se enchia de tanta dor que eu sentia na barriga e nas costelas, apesar de eu ter certeza de que não havia quebrado nenhum osso. A ambulância me levou, e me identificaram pela identidade.

- Você tem o telefone de algum parente ou amigo com você?

- Não tenho anotado, pois esta no meu celular, que deixei guardado para não ser danificado na briga.

- Sabe pela memória?

- Sei, mas não vou falar.

- E porque não?

- Porque não há necessidade de um amigo vir aqui, já que os médicos já estão tomando conta da minha saúde e meu documento de identidade, bem como minha carteira de plano de saúde estão comigo no meu bolso da frente direito, que não posso alcançar.

- E essa sua amiga, pela qual você lutava?

- Ela é orgulhosa, e se sabe que lutei por ela se ofende comigo. Se ela se ofender comigo eu me ofendo comigo mesmo, e tenho que me agredir. Assim, por efeito de conservação, não posso chamá-la.

- Qual é seu nome.

- Roberto Carmo da Silva,

- Certo, anuncie na rádio que um louco chamado Roberto Carmo da Silva foi encontrado espancado na rua. Os familiares dele devem estar preocupados com o paradeiro dele.

- Você não ouviu o que eu falei? Preciso me preservar, e para isso é fundamental que eu não ofenda ela!

- Descanse um pouco, sua amiga já já está aqui.

Eu não podia argumentar com aquele homem, pois percebi que ele não queria me ouvir, e por mais que tudo fizesse perfeito sentido, ele simplesmente negaria e me chamaria de louco. Além disso, eu estava com a boca doendo, e queria mesmo descansar.

- Roberto, o que houve com você?

- Fui espancado por um homem.

- Quem te espancou?

Reginaldo estava bem atrás dela, e olhei para ele, que estava com um olhar preocupado.

- Você bateu no Roberto, Reginaldo?

- Eu só estava me defendendo, ele que me agrediu primeiro.

- Ele que te agrediu e ele que está na cama de hospital? Você quer que eu acredite nisso?

- Primeiro você me vem com essa estória mirabolante de que sue pai morreu e de que por isso você sumiu, me deixando sozinha, preocupada e atarefada sem avisar nada até agora porque de onde você estava não havia telefone ou internet, e agora você espanca meu melhor amigo e diz que ele que começou?

-Ângela, minha amiga, em relação ao fato de eu começar ele tem toda a razão. Infelizmente tenho que te contar a verdade que me será prejudicial, e faço isso por amor a verdade.

- Que verdade?

- Ao saber que seu noivo te abandonou assim sem mais nem menos, e ver que você estava ofendida e magoada coma atitude dele, eu senti raiva. Como eu ainda não tinha um protocolo para isso, pensei que a opinião de um homem da rua fosse a mais acertada a respeito disso, pois ele parecia muito agressivo, e se ofendia facilmente. Quem se ofende facilmente, se ofende sempre, e por isso eu presumi que devia ouvir a experiência dele em matéria de ofensas. Perguntei a ele o que ele faria se um homem o deixasse muito raivoso e em me disse que arrebentava o sujeito.

- E me deixa adivinhar o resto. Seguindo a voz da experiência você foi atrás do Reginaldo para agredi-lo.

- Sim, foi o que fiz, e peço que você não fique ofendida comigo, pois se ficar vou ter que me agredir a mim mesmo.

- Não estou ofendida com você, mas estou decepcionada com sua falta de lógica.

- Minha falta de lógica?

- Sim, você não agiu logicamente porque se baseou na opinião de apenas um homem, e não na de pelo menos 50 que estabelecemos como mínimo para uma pesquisa rápida de opinião.

- Mas eu não tinha tempo para isso, já que você daria pela minha falta e poderia me achar no meio da pesquisa. Além disso, a minha raiva passaria ao final dela, e eu não poderia verificar as coisas por minha própria conta.

- E como você se sente agora?

- Agora eu me sinto renovado. Esse negócio de agressão física realmente parece ser a melhor forma de aliviar a raiva. Tanto é que depois de dar uns dois ou três golpes nele eu já estava calmo a ponto de dar um abraço nele, mas tive que entender que ele se sentir raivoso sem julgá-lo, pois, pela explicação dele, eu senti raiva dele injustamente. Assim que ele foi embora eu o ouvi nitidamente dizer que tinha algo urgente para tratar, que, evidentemente, foi conversar com você e se explicar.

O sujeito olhava para mim e para ela estupefato. Percebi que ele havia entendido tudo o que dissemos, e que demonstrava certa admiração por Angela por ela argumentar comigo ao invés de me chamar de louco como os outros.

- Parece que você conseguiu encontrar, finalmente uma pessoa que te entende, Roberto.

- Dizendo isso você me obriga a te agredir fisicamente.

- O que? Deixe de ser louco!

- É esse mesmo o ponto. Se você diz que eu sou louco e que ela pode me entender, então diz que ela é louca, e assim me ofende, pois está ofendendo a ela. Se estou ofendido, ao que tudo indica, tenho que te agredir.

- Você entendeu tudo errado, Roberto. Não foi agredi-lo que te fez se sentir assim tão leve, mas perdoá-lo. Na verdade foi sua intenção de resolver o problema, mesmo que de forma errada, que resolveu o problema dentro de você.

- Consigo conceber essa idéia para a situação presente, mas não para aplicar em situações futuras.

- Funciona assim. Você deve dialogar com as pessoas que te ofendem. Se elas não estiverem abertas ao diálogo é porque são ignorantes e não são dignas da sua dedicação.

- Certo. Então vamos dialogar.

- Você propôs o dialogo, então comece a falar.

- Certo, então vou usar o método do discurso corrido. Tendo por base o método científico, eu estou criando uma forma de estabelecer um diálogo de reconciliação. Assim sendo, com eu já identifiquei sua ofensa, preciso perdoá-la. O que se espera desse perdão, que é aceitar sua ofensa como algo que não faz mal, é que ele remova de mim a raiva, e, conseqüentemente, evite o conflito físico. Assim, como eu não devo gastar minha energia com uma pessoa ignorante o bastante para me ofender, parece mesmo ter sentido perdoar.

O sujeito ficou me olhando com uma cara de riso. Como a maioria das pessoas que ri do que não entende e não conhece para evitar que o ridículo delas próprias venha à tona. Apesar disso o experimento foi um sucesso.

E era verdade. Perdoei o sujeito e me sinto leve. Mas uma questão ainda me intriga. Porque eu só consegui encontrar uma pessoa nesse mundo que não é insensata e vê o mundo de forma lógica?

Será que a insensatez é um fator determinante na sociedade atual?

Queria escrever sobre isso, mas essa camisa estranha que vestiram em mim me impede de escrever...

Liberdade e integração: duas faces da mesma moeda

Parece contraditório dizer que um indivíduo é livre enquanto está integrado a algo maior, pois se ele é integrado nesse algo maior ele necessariamente serve à utilidades coletivas, o que fere o senso de liberdade individual.

Colocando em outra perspectiva, pode-se dizer que o amor integra e une, destituindo o indivíduo da liberdade e o prendendo inevitavelmente, e que a liberdade separa o homem, destituindo-o de integração, o que tornaria o amor impossível.

Mas a questão não pode ser vista só duma perspectiva racional, senão cairíamos no “tertium non Datur” (não há terceira alternativa). A forma como a plenitude funciona tem uma estrutura que independe do nosso pensamento lógico de tal maneira que eu abandonei a esperança de que toda a realidade pode ser conhecida através da racionalidade. A mim parece melhor viver as duas características sem considerar a validade lógica de se viver dessa forma.

Uma pessoa livre não se submete ao julgamento alheio para se construir, e não se baseia no pensamento do próximo para moldar os próprios pensamentos. Como os outros têm a terrível tendência de tentar impor seus julgamentos aos demais, a pessoa livre acaba se isolando.

Uma pessoa integrada não se submete à arbitrariedade e ambigüidade do mundo interior. Se sente segura integrada no coletivo e não suporta a solidão por este mesmo motivo. Procura negar (geralmente devido ao pensamento maniqueísta) certos aspectos de suas existência e com isso se prende, não chegando a alcançar sua própria identidade, mas sendo um expelho. “Um Eco”...

Mas ser livre e se integrado são coisas igualmente necessárias para se viver uma vida plena. Ambas têm função crucial para a vida saudável, e por isso há de se buscar uma forma de integrar as duas. Pensando racionalmente seria como unir fogo e água num só elemento, mas na prática as coisas se tornam bem simples.

Se começamos da liberdade para alcançarmos a plenitude, um raciocínio deve ser útil: Se por um lado nossas considerações pessoais são de extrema importância, quando há informações que vêm de fora elas se tornam mais ricas. A integração, nesse caso, seria uma forma de ampliar a liberdade, pois a partir do contato com os outros poderíamos colocar a realidade sob perspectivas que jamais imaginamos, já que essa perspectiva parte da individualidade de outra pessoa. Assim, o contato com o mundo externo torna o mundo interno rico, e o mundo interno rico prende-se menos. É uma ótima forma de nos livrarmos dos nossos próprios preconceitos.

Se começamos da integração para alcançarmos a plenitude, outro raciocínio deve ser útil: como parte de um todo, assim como num organismo, deve-se ter consciência da própria essência (por mais doloroso que isso seja) para que saibamos qual é o nosso lugar nesse todo. Se formos guiados por outros a tendência é a frustração. Como um braço que é designado para sustentar o peso do corpo no lugar da perna. As determinações coletivas são, muitas vezes, arbitrárias, e por isso a individualidade é fundamental para uma integração plena.

É algo que deve ser posto em prática. A dicotomia de ser parte de um todo e ser livre ao mesmo tempo, quando vivida, trás a felicidade e, acima de tudo, a paz. Uns dizem que o ser humano precisa pensar e se emancipar. Outros dizem que o ser humano precisa amar, e entender que somos todos um. Eu digo que somente quando os dois forem realidades simultâneas é que haverá progresso. Sem integração não há cooperação, e sem liberdade os homens são manipulados e adestrados.

Recomendo um post muito interessante e relevante do Blog do Duan Outsider à beira do abismo:

http://outsidercaos.blogspot.com/2009/05/lxii-acerca-do-papel-social-motriz-de.html

Fala de forma ácida sobre homens que abrem mão da liberdade para viverem uma vida de alienação e servidão.

Sobre as palavras obscenas

Hoje um diálogo do Californication veio à minha mente.

Trixxie: One day I was blowing this persian guy and I tough. I wonder how hank is doing

Hank: Fuck, that’s romantic.

Sei que muitas pessoas poderiam se chocar com a linguagem utilizada pelos personagens, pois ela denota um certo niilismo. Um desrespeito às regras de linguagem, que proíbem qualquer tipo de alusão ao sexo nas conversas.

Assim, Porra, que não passa de uma expressão popular para definir a ejaculação masculina, passa a ser uma palavra proibida. Caralho, buceta, puta, foda. Tudo relacionado a sexo, e tudo proibido. Apesar do fato de que a merda é muito mais desagradável do que o sexo, esse palavrão é tido como “mais leve” do que um “puta que o pariu”.

Vejo isso como uma tremenda banalidade, pois não importam as palavras que uma pessoa usa, e sim seu significado. Nesse diálogo o que a Trixxie falou foi muito belo sim. Demonstrou que não esquece de quem gosta. E o Hank conseguiu sentir isso, dando outra resposta niilista. Os sentimentos dos dois eram bons, apesar de terem sido demonstrados com uma linguagem “inapropriada”.

Outro exemplo é quando o hank pede Karen em casamento:

“- I wanna spend the rest of my life knowing the shit out of you.”

Foi romântico sim, e expresso numa linguagem niilista, o que não tornou o significado menos atraente. Bem melhor do que articulações mirabolantes que só tem a forma a oferecer e nenhum conteúdo.

Qual é a diferença entre dizer: está chovendo abundantemente e está chovendo pra caralho?

Não vejo nenhuma, e evitar termos relacionados à sexualidade parece uma herança da repressão cristã ao sexo, e eu me recuso a aceitar uma coisa dessas.

Sobre o efeito dos jogos virtuais

Acredito que qualquer pessoa que diga que jogar ajuda no desenvolvimento do raciocínio nunca se viciou em um jogo, pois é só sentindo o vício na pele que você percebe o quanto ele é maléfico.

Desde criança eu tenho o hábito de me distrair com esses jogos, e hoje eu passei horas conversando sobre jogos com uns colegas e percebi algo tenebroso. Na medida em que eu me concentrava em me lembrar das peculiaridades do jogo e na expectativa de uma nova atualização para este eu fui tomado por uma espécie de euforia, que é comum para quem está acostumado com esse tipo de coisa. Essa Euforia tirou minha concentração e inibiu parte da minha capacidade de emitir raciocínios! O jogo pode ser uma ferramenta muito inteligente e poderosa de alienação.

É como Rajesh, do “the big bang theory” disse: “it’s horrible to have that multi-player monkey behind your back.”

E vou dizer: é uma merda mesmo. O jogo suga a sua energia e joga ela no nada. Exige concentração e com o tempo começa a sugar essa concentração e sua energia. Depois de jogar por muito tempo você fica com pouca noção da realidade, e mesmo estando parado tudo isso cansa a sua mente.

Você fica agitado e acaba não conseguindo se concentrar em coisas importantes, tais como a leitura. Eu hoje acabei de me irritar ao abrir meu e-book e ter que ler três vezes a mesma página e ainda sim não entender o que o autor quis dizer. Tudo bem que Jung às vezes complica tudo, mas estou certo de que isso aconteceu por causa da minha mente, que ficou dispersa graças ao jogo.

Assim como diversas outras atrações fúteis do mundo moderno, o jogo não precisa ser negado, mas é essencial um controle do tempo que se passa jogando ou pensando sobre o jogo (porque pensar no jogo gasta tanta energia e tempo quanto jogar). Vou sentar com meu notebook na cama e continuar lendo agora, e não pretendo aceitar essa dispersão de raciocínio. O tempo o esforço em geral se mostram suficientes para acalmar a mente dessa agitação do jogo, e assim permite a tranqüilidade e serenidade de uma boa leitura. Também vou revisar meu livro, a primeira parte do Enigma da imortalidade, que está bem perto de ficar pronto. Assim que ficar vou tentar fazer um upload pro blog, e se não for possível eu disponibilizo um e-mail para o envio a quem se interessar. Nessa ocasião vou escrever uma síntese e colocar a introdução do livro no blog.

Deixo aqui um recado a todos os Nerds como o eu. Não deixe o jogo te dominar. Pelo contrário, domine-se a si mesmo, e assim perceberá que não há motivo para pensar num jogo quando não se está jogando, e que também não há motivo para ter raiva ou euforia graça a ele. Tudo isso é maléfico para a consciência e deve ser dosado como uma mera forma de distração e diversão. Um jogo JAMAIS deve ser colocado em primeiro lugar. Nunca apóie crianças (como eu) que desejem faltar a escola para ficar em casa jogando e também nunca deixem de viver e aprender por causa de Jogos.

Sobre o valor da estética

Ontem eu vi um programa na TV em que era noticiada, através do relato de uma menina, a realidade das pessoas que são afetadas por anorexia, e me lembrei de outra reportagem que fala sobre o abuso de anabolizantes. Lembrei também da demanda que há hoje em dia para tratamentos de estética, seja os cirúrgicos ou os “naturais”.

Não pude deixar de relacionar a grande valorização da estética como uma forma de criar uma “persona” atraente e esquecer da essência. Parece que o mundo de hoje está extrovertido de tal maneira que essas doenças sejam apenas um sintoma dessa doença, que deve ser tratada.

Os remédios também são vacina: A introversão e o pensamento. Com esse post eu pretendo demonstrar de que maneira a introversão e o pensamento podem efetivamente ser a solução para o problema. Além de emitir meu julgamento de valor sobre a estética.

Primeiro gostaria de definir o que entendo por introversão e por pensamento, para que não aconteçam equívocos de interpretação.

A introversão é o olhar para dentro. Observar nossas próprias qualidades ignorando a opinião alheia sobre elas. Através dessa introversão nós descobrimos quem somos. Não é justo pensar que o introvertido é “melhor” do que o extrovertido: Introversão e Extroversão são funções que têm sua utilidade, e o erro é escolher entre uma delas.

Se a pessoa for só introvertida, ela projetará no mundo sua realidade. Criará paradigmas que explicam sua própria essência e dirá que esses são os que englobam todas as coisas e todas as pessoas, quando isso é visivelmente absurdo. Apesar de ser boa com lidar consigo mesma, a pessoa que vive no pólo introvertido tende a não ser boa com o convívio social.

Se for só extrovertida poderá cair em diversas armadilhas, dentre as quais estão as que vou falar nesse post, mas o mais importante aqui é que os extrovertidos se dão muito bem no convívio social, e lidam de forma razoável com os outros, mas não consigo mesmos. Ao invés de tomarem sua essência e projetarem no mundo, projetam o mundo na essência. Assim, o extrovertido se define segundo os rótulos externos: sou um professor, empresário, pai, marido, etc. e acaba, no final das contas, sem saber quem é.

Só se alcança a plenitude quando se está integrado, e o introvertido não é integrado. E também só se pode ser pleno quando se é livre, e o extrovertido não é livre. Assim, deve-se extroverter e introverter em igual proporção, já que cada função tem sua utilidade(conhecer-se a si mesmo e ao próximo, além de amar-se a si mesmo e ao próximo).

Nosso corpo tende a nos alarmar com dores sentimentais sobre nossos erros, e se insistimos essas dores se tornam físicas. É como se nós estivéssemos com a alma doente, que precisa ser tratada.

Vou deixar para falar dos males do introvertido noutro tópico, pois neste vou me ater à estética e em sua relação com introversão e pensamento.

O pensamento, em geral, coexiste com o sentimento, pois dentro de nós há o racional e o irracional. Pessoas separam as funções e as consideram inconciliáveis, mas eu nunca vi sentido nisso. A mim parece que, tal como a Introversão e a Extroversão, Pensamento e Sentimento são apenas funções diferentes. O pensamento existe para julgar as questões relevantes ao pensamento, e o sentimento para viver o aspecto emocional/irracional da vida, que tem tanto direito de existir quanto o racional e controlado.

Em geral, se estamos apenas com a função de pensamento, cometemos disparates grosseiros nas relações amorosas, pois criamos critérios racionais que nosso interior não respeita, e ficamos tentando segui-lo. Muito cometem o erro de achar que critérios racionais podem definir que musica é boa, que poesia é boa ou, nos casos mais gritantes, de achar que critérios racionais podem servir para a escolha de parceiros amorosos, como se o amor fosse uma coisa pensada e refletida e não sentida. Achar que é possível existir e mesmo ser imparcial reprimindo os sentimentos é um erro. Eles saem de qualquer maneira, com a diferença de que a negação os camufla.

Se estivermos apenas com a função do sentimento é comum emitirmos julgamentos muito equivocados. Pode-se dar razão a uma pessoa numa discussão pelo fato de ela ser gentil, ao invés de considerar a argumentação com sua relevância lógico-fatual. Uma pessoa que só usa os sentimentos e ignora o pensamento é facilmente manipulada, e fatalmente se frustra com o fato de que “as aparências enganam”. Se prende sentimentalmente á preconceitos (sejam introvertidos ou extrovertidos) e se nega a mudar de opinião.

Parece lógico que há coisas que são apenas vividas com o sentimento, tais como preferência musical, coisas que são vividas sentimentalmente e julgadas racionalmente ao mesmo tempo, tais como o amor, e coisas que são apenas entendidas, como conceitos filosóficos.

Para essa questão deve-se abordar o tipo extrovertido sentimental.

A menina extrovertida sentimental tem o mundo externo como referência, e assimila os sentimentos dos outros para si. O sentimento em questão é o de que a pessoa vale o que aparenta. Aí caímos também num preconceito grosseiro de nossa época, que diz que mulheres magras são mais bonitas, o que é um tremendo absurdo. Não vejo qualquer beleza em modelos raquíticas. Mas o preconceito é esse, e a menina extrovertida sentimental, num dado momento, percebe que sua imagem não se adequa ao padrão de fora. Hoje em dia o padrão é estético, então, vendo as modelos, ela decide não comer para emagrecer. O hábito se torna compulsivo e a menina se torna anoréxica.

Parece bem simples que, se ela refletisse (pensamento) sobre quem é (introversão) ela perceberia que não há necessidade de se moldar segundo o modelo dos outros.

É bom lembrar que a estética preocupa mais os tipos sensitivos por questões óbvias, já que estes se preocupam mais com as coisas palpáveis, enquanto que seu oposto, os intuitivos, se preocupa mais com coisas abstratas. Portanto, se formos falar em tipos psicológicos de Jung, poderíamos dizer, ao menos em teoria, que os tipos mais afetados são os Extrovertidos, Sensitivos Sentimentais(ESF). Não abordei a dicotomia intuição/sensação porque não acho que conceitos abstratos tenham qualquer utilidade nesse caso, pois a questão é estética, e estética só pode ser avaliada através de sensação.

O mesmo acontece com os homens que usam anabolizantes e hormônios de animais: Sacrificam sua saúde, sua mobilidade e sua individualidade por um ideal de que homens devem ser fortes e grandes. É lamentável que um preconceito desses ainda exista no século 21, e o sintoma dessa percepção doentia do mundo é o abuso de anabolizantes, que geram aberrações estéticas tão repulsivas quantos as anoréxicas raquíticas.

A plástica funciona sobre a mesma lógica, sendo apenas o risco e o sacrifício menores, e o resultado é menos repulsivo, embora nunca seja como a estética natural.

Todo esse post me leva a uma inevitável pergunta:

Afinal, qual é o valor da estética?

Penso que a percepção estética é extremamente variável, de forma que dificilmente se podem estabelecer padrões racionais do que é bonito e do que é feio e mesmo de como uma pessoa deve ser para ser atraente.

A função dessa percepção é o estímulo: quando estamos num relacionamento romântico, é inegável, a estética tem um poder grande, mas não há sentido em dar-lhe valor excessivo, como o fazem.

Já ouvi coisas absurdas, como: “ele que perdeu, veja só como ela é bonita”. Um preconceito grosseiro que atribui à pessoa o valor de sua aparência, e não considera as questões mais profundas de um relacionamento, que são muito mais determinantes do que a estética. Até porque, a estética se torna rapidamente redundante e a atração, que deveria se renovar por fatores internos, não se renova através da estética.

Um relacionamento romântico presume uma certa quantidade de estética, contanto que essa estética seja um padrão pessoal e não um padrão imposto de fora. Não há como mantermos uma relação amorosa com uma pessoa que tem a aparência que nos é repulsiva. Mas o essencial não está aí: Está na sintonia, na afinidade. Se há amor, há sintonia de sentimentos, e também deve haver sintonia de pensamentos (ligeiramente menor) que resulta da amizade. Isso é o essencial, não a estética.

As anorexicas e os “marombados” de preocupam tanto com a estética que se tornam esteticamente repulsivos, como uma forma de o corpo reagir a isso. É a alma deles criando uma doença para explicar que esse não é o caminho correto. Buscando um ponto de equilíbrio.

A estética se vai rapidamente, e é apenas mais um dos agrados da vida.

Se alguém cair no erro, no entanto, de negar o valor da estética, viverá em conflito consigo mesmo, pois, apesar de pequena, essa é uma parte da vivência humana que não pode, em qualquer circunstancia, ser negligenciada em favor de uma ideologia.

Censurado

Estávamos deitados na mesma cama. O quarto não tinha nenhuma janela, e o ar condicionado estava ligado. Passei com meu braço por cima das costas dela para abraça-la, pois ela estava virada para o lado oposto e assim ficaríamos de “conchinha”.

- Olha, Roberto, não é porque a gente ta dormindo no mesmo quarto e na mesma cama que devemos fazer isso.
- Isso o que?
- Fazer amor.
- Eu sei querida. Isso você já me disse e eu não planejo quebrar minha promessa. Respeito seus limites e os amo, já que são criação tua. Eu só queria aqui um pouco do teu calor. Te abraçava pra sentir os teus pulmões se expandindo e seu coraçãozinho batendo.

Ela virou para mim com aqueles olhinhos brilhantes e me abraçou. O Ar saia das narinas dela quente e me dava calafrios no pescoço. Ela colocou a mão no meu rosto.

- Lembro que você me falou sobre minha mão macia. Você também quer o contato com ela?
- Sim, eu quero.
- Mas ainda agora eu não tinha oferecido esse carinho e você não pediu
- É que eu não sou do tipo afobado. Abraçar-te já era bom o bastante, porque eu costumo me sentir satisfeito com o que tenho de bom.

Ela sorriu e me deu um beijo. A musica “the nearness of you” da Norah Jones começou a tocar. Eu a beijei de volta, só que dessa vez, com muito esforço, consegui abrir meus olhos, e sair por uns instantes daquele transe para ver como ela se sentia. Ela estava com os olhinhos fechados, e com a sobrancelha que dava um ar sereno no rosto. Uma coisa linda de se ver.

- Sabe, não é bem o beijo que me deixa louco. Não é o contato dos nossos lábios e nem das nossas línguas o que realmente meche comigo. O que me afeta na verdade é que estou beijando você. Finalmente, depois de todo esse tempo, eu estou te beijando. O beijo é assim tão bom porque eu te amo.

Ela sorriu e movimentou o corpo pra baixo do meu. Abriu as pernas e me colocou em cima dela. Aquilo me deixou louco, mas eu não sabia se ela fazia aquilo para testar minha capacidade de manter minha promessa ou se ela estava me pedindo para quebrá-la. Falar é fácil, mas meu amor por ela não é só idealista. Ela me dá um baita tesão, e me colocar nessa posição esperando que eu não faça nada é pensar que eu não desejo fazer amor com ela.

- Sabe do que eu tenho medo, Roberto?
- Do que?
- Meu medo é que você depois disso não queira mais nada comigo. Que você só esteja querendo isso e que amanhã eu acorde aqui sozinha. Esse é meu medo.
- Mas querida, honestamente. Me admira você achar que eu faria uma coisa dessas. Nós vivemos assim tão distantes um do outro, e foi tão difícil para eu conseguir vir aqui te ver. Nós dividimos o quarto porque eu não tenho dinheiro, já que a viagem foi cara, lembra? Ora, se eu fosse um aproveitador eu poderia ter escolhido uma vítima mais perto de mim. Se com minhas palavras e com minhas atitudes eu não fui capaz de te demonstrar que te amo mais do que tudo nesse mundo então não vejo como te provar isso, porque você não quer acreditar.

Ela beijou meu pescoço e foi subindo com a boca até o meu ouvido. Suspirou e eu ouvi aquele som de brisa.

- Me desculpa, querido. Não era pra duvidar do seu amor nem nada. É que já me enganaram, e parece que não consigo tirar isso da minha cabeça. Eu fico assim insegura sem motivo. Eu também te amo, e sei que você me ama também. Então vá devagar. Entenda o meu ritmo, pois não quero me sentir estranha.
- Eu que peço desculpas por desconsiderar sua história assim. Eu te amo, e podemos ir no ritmo que você quiser. Aliás, não sei se você se lembra, mas já te falei que eu gosto de tudo bem devagar também. A prova disso é que nos conhecemos muito bem por um bom tempo antes de termos qualquer coisa. Você não é o resultado de um impulso inconseqüente. É amor profundo que sinto por ti. Daqueles que ficam na alma.

Ela tirou a blusa, e eu olhei bem os contornos dela. Tinha seios pequenos, é verdade, mas não por isso pouco atraentes. Eu reconheço que tudo nela é da mais perfeita beleza para mim, e que talvez isso seja porque eu a amo e nela não sou capaz de ver falhas físicas. Mas para mim eram seios lindos. Meti minha cara entre eles, bem devagar, e ela me puxou devagar pelo cabelo até si e me beijou. Colocou as mãos nas minhas costas e puxou minha camisa. Paramos de nos beijar para minha camisa sair, e quando saiu eu fui direto para o pescoço dela. Minha avidez ganhava volume incontrolável, e sei que da minha parte sozinho já não seria capaz de cumprir minha promessa. O desejo era mais forte do que eu.
Beijei e arrastei meus lábios pelo pescoço dela. Parei num ponto com os dois lábios em contato e encostei minha língua, fazendo, depois disso, movimentos com ela e soltando ar quente. Ouvi dela um suspiro, que entrou direto pelos meus ouvidos e fez todo o meu corpo tremer. Acho que era isso que eu buscava. Arrancar um suspiro de prazer dela.
Ela começou a beijar meu pescoço e arrancou meus suspiros, que são bem mais fáceis do que os dela.
Ela começou a tirar o short do pijama, e naquele ponto eu já estava tomado por um sentimento apressado, então tirei também o meu, e nós dois ficamos só com a roupa de baixo.

- Vai mais devagar, Roberto. Assim rápido eu não gosto.
- Não vou tirar minha cueca ainda não. A gente só vai sentindo um pouco.
- Ainda? Quer dizer que vai tirar?
- Não pode?
- Pode.

Ela começou a tirar a calcinha, mas depois colocou de volta e só puxou um pouco pro lado.
- Não coloca dentro não. Só encosta e esfrega um pouco.

Era bem no meu ritmo. Como eu queria que as coisas fossem. Não gosto disso de fazer tudo com pressa. Aquilo dava uma sensação deliciosa. Um sensação de contato carnal que era combinada com a alegria que esse amor me traz. Eu queria dizer que a amava e que a desejava ao mesmo tempo. Que meu amor por ela é desse tipo, e que eu queria me casar com ela, mas eu não podia dizer nada. Estava muito envolvido para formular uma frase assim tão longa.

- Agora segura ele e fica mexendo pra cima e para baixo, sabe como é?
- Assim?
- Isso, assim mesmo.

Naquele momento eu estava tentado a entrar, e acabei cedendo à tentação, mas ela colocou a mão e sorriu.

- Espera mais um pouco.
- Desculpa.
- Não me pede desculpa

Não insisti e continuei naquele movimento, passando minha mão nas pernas dela pela parte de dentro. Eram tão brancas que só faltava se confundirem com a cor do lençol. Ela retraiu um pouco as pernas, como quem tem uma sensação muito intensa, mas logo relaxou e continuamos daquela maneira por uns momentos até que ela colocou a mão na minha e me deixou entrar.
Não tenho palavras para descrever minhas sensações, e não posso tampouco descrever meus sentimentos. Era tudo ao mesmo tempo. A palavra magnífico parece insignificante. O lugar paraíso não passa de um terreno baldio perto daquele quarto. Eu me movi devagar como eu gosto. Sentindo cada instante. Os beijos e suspiros eram freqüentes agora também da parte dela.

[trecho censurado]

- Eu te amo, Joana.
- Eu também te amo.

Nós fizemos amor naquela noite, e depois ficamos deitados acordados. Fiquei olhando pro teto. Ela me abraçou, colocou uma perna em cima das minhas e a cabeça no meu peito.

- Posso dormir assim?
- Pode. E eu posso dormir assim?
- Hehehehe, seu bobo.

Ela dormiu, e eu queria assistir o rostinho dela. Dormia feito um anjo, mas depois de uns minutos eu peguei no sono.

De repente eu acordei no meu quarto...

A pedra

Talvez se o blog te interesse você esteja se perguntando: será que ele vai mesmo falar de uma pedra?

Eu não vou falar da pedra, mas sim do que se passa nela.

No meu mundo, eu tenho uma casinha bem pequena. Ela tem dois quartos, uma sala minúscula e uma cozinha. Sem banheiro OMG!

Nos fundos dessa casa o chão é de terra batida e tem uma pedra grande enfiada na terra. Ninguém sabe de onde ela vem, mas ela tem uma forma aconchegante, e nela podemos nos apoiar muito confortavelmente. Daí algumas noites eu sento no chão e me apoio nela. Eu e a Stela. Ficamos olhando ali o céu, as estrelas. Quando estou muito inspirado eu faço poesias ligando as estrelas, já que não tem luz elétrica e da pra ver muitas. Aí eu ligo uma com a outra e formo letras, daí palavras, e então os versos. Digo que as estrelas estão ali para fazerem a representação do meu amor pela vida.

Eu faço poesias românticas, poesias sobre a totalidade da vida e, às vezes, sobre minhas angustias. Só sei que as estrelas têm tudo o que sinto no meu mundo. Acho que é por isso que o nome da personagem é Stela. Porque ela é uma daquelas estrelas que, de alguma forma, tomam a forma dos meus sentimentos. Ela entende os sentimentos. As vezes eu acho que ela entende porque também sente. Porque é como eu.

Eu hoje fui lá. Estava com ela sentado, só que de dia. As nuvens estavam feito algodão, e um menino gritou:

- Até de dia vocês ficam aí!

Joguei um sapato nele e disse:

- Deixa a gente quieto, ué. Quer vir pra cá também?

Ele não respondeu, mas saiu da casinha e veio pro meu lado. Ele era como um filho ou irmão. No livro ele representa o Ítalo, que é uma criança órfã que eu adoto, mas que não tenho idade para ser pai. O menino tem oito anos e eu tenho 19. Me lembra meu irmãozinho.

Daí ficamos olhando as nuvens. Lá da pedra. Quem não vê as nuvens, as estrelas e tudo o que há no mundo com esse espírito, dirá que a pedra é só uma pedra e que eu sou um alucinado. Mas quem vê tudo com o funda da alma, e não consome a realidade com a lógica verá que para mim essa pedra é o santuário.

Nem sempre Stela está lá. Às vezes ela está dormindo, as vezes está ajudando os meninos, ela é professora. Mas ali é sempre meu santuário. É um lugar que todos podem visitar, mas que a maioria não da importância. Mas ela vai lá. Ela sabe que a pedra é muito mais do que um minério.

Tente visitar a pedra, e não a olhe com a racionalidade. Veja o que seu coração tem a dizer sobre ela...

Os insetos do jardim

Eu encontrei uma resposta dentro de mim, que foi plasmada na atividade do pequeno jardim que tem aqui na frente da minha casa.

Há pequenas flores que não sei dizer a cor, pois sou daltônico, mas o que me fez refletir foram os insetos. Sim aqueles serem tão insignificantes e irracionais. Estava voando por entre as flores, insetos de diversas espécies. Eu só reconheci as abelhas e a borboleta (só havia uma). Variavam de tamanho e forma. Mesmo as abelhas, como se sabe através da genética, não são idênticas. Mas ainda assim estavam integradas. Elas trabalhavam juntas. Seria, segundo a biologia, um comportamento análogo e não necessariamente homólogo: dir-se-ia que cada um teve um descendente diferente em algum momento e que todas desenvolveram essa função, da mesma maneira que o beija-flor, mesmo sem ser inseto, realiza a mesma função, mas isso na minha mente ganha valor sentimental.

Eu vejo teleologia no mundo. Pra mim aqueles insetos estavam ali para me ensinar uma lição, e eles sempre estão nos jardins para ensinar a quem quiser aprender.

Vejo o mundo com um propósito, e admito que racionalmente isso é inconcebível, mas a idéia me faz sentir uma paz incomparável. Me sinto integrado, como se fosse um daqueles insetinhos, com uma mínima função, que em nada é especial em relação aos outros, mas que não está afogado em uma solidão sem sentido à procura de algo que não existe.

Essa é minha visão subjetiva. Aonde vêem o caos eu vejo a ordem. Pra mim não há equívocos na natureza. Nós é que distorcemos a realidade, nossa racionalidade e nossa teimosia é que nos impede de entrarmos em contato com o todo, com o amor ou, se preferir, com Deus.

Isso não é apelo emocional. É só uma confissão. Não quero mistificar ninguém, e também não tenho nenhum plano sobre como todas as pessoas podem ser felizes e sobre onde acharemos a verdade. Só que pra mim a felicidade, a plenitude, veio com liberdade e amor.

A liberdade vem do intelecto, e o amor do coração.

A professional hazard: sobre ser escritor

Estou lembrando duma cena relevante para esse tópico que ocorre no seriado Californication, onde o protagonista (um escritor) começa a conversar com sua ex mulher no carro, e dum momento para o outro ela desaparece.

Não esqueço a fala, pois para um carro do lado do dele e uma mulher diz:

Who are you talking to?

Ao que ele responde:

Me? No nothing, it’s just professional hazard.

E isso às vezes é deprimente para ele, pois ele já não tem mais nada com a ex-mulher que ama. Mas ele idealiza, e nessas idéias a sensação parece idêntica à real.

Eu sou um pouco parecido com ele nesse sentido, com a diferença de que eu sou capaz de imaginar coisas que nunca aconteceram, lugares que nunca vi e pessoas que nunca vi.

Existe o povoado de Santa Agatha e a Cidade vidro. Existe a Angele, a Stela e varias outras coisas que eu amo nesse mundo imaginário. As vezes eu vou pra lá, e fico me maravilhando de como meu mundo ideal é lindo.

Nesse mundo não existem líderes, e todos os homens são iguais. Eles colaboram voluntariamente pois tem motivação e capacidade para isso. Eu vivo, nesse mundo, um amor com a Stela, e uma relação meio difícil de filho-mãe com a Ângela, que já foi confundida com romantismo. De qualquer forma, Ângela e Stela tornam o mundo mais belo. Mas é esse o problema. É claro que essas duas personagens são símbolos, e que, sendo assim, têm representantes na vida real que lhes são quase idênticas(com a diferença de que Ângela é uma deusa). Só que o problema é que, nesse meu mundo, eu controlo o pensamento dos personagens, assim como o Hank. Pra ele, Karen ainda o ama e está com ele, assim como que pra mim, Stela e Ângela estão bem perto. Eu ainda deito no colo da Ângela pra me confessar, e ainda amo tão profundamente a Stela que ela me inspira. Ângela coloca racionalidade na minha cabeça. Ela me entende perfeitamente e, por assim ser, me traz segurança. Stela me inspira. Ela coloca paz no meu coração. Eu sinto como se eu e ela tivéssemos uma ligação profunda.

Só que a vida real não está nem perto disso, e sofro esse professional hazard. Por causa dos sentimentos que tenho, que são muito intensos, eu demonstro excessivo amor tanto por Ângela quanto por Stela, que não pensam como as personagens do meu livro, pois são pessoas que existem independente dos meus pensamentos. Elas têm seus amores e suas vidas, e eu me conformo em ficar por aqui escrevendo sobre as coisas que imagino que poderiam ser verdadeiras.

Elas sabem que falo delas, pois conhecem sua integração no meu livro. Só queria dizer a ambas que minha liberdade cresce a cada dia. Sim, eu me sinto em progresso. Chegando a ser quem eu sou. Quando isso acontecer, meu auto-controle vai permitir que eu controle a manifestação dos meus sentimentos para não as faça sentir culpadas. Principalmente a Stela, minha querida, que mal chegou e já recebeu uma descarga louca e irracional de amor.

Eu não to querendo ser falso e culpá-las: Eu também me sentiria culpado.

Eis a minha confissão de hoje, sobre os ossos do ofício.

Deixo um conselho: Escreva.

Avaliando bem as coisas que você escreve você vai descobrindo quem é, e no fundo o livro irá te curar das suas maiores enfermidades. Ele vai libertar seu intelecto e seu coração.

Um intelecto inquieto e um coração voador foi o que meus livros incompletos trouxeram. Eles me tornaram uma pessoa melhor, mais madura e, especialmente, feliz.

Flor de ouro

Uma pequena flor,
Toda feita de ouro,
Foi o que ela me deu.
Logo agora, a uns minutos..

Meus olhos a fitaram.
Estavam semi-abertos.
Desfocados, adormecidos.
Mas algo mudou.

De repente a flor brilhou.
Aquela florzinha miúda,
Iluminou todo o meu mundo.
Deu mais cores a ele.

Agachei diante dela,
Para sentir o cheiro.
É um cheiro doce,
Cheiro de amor...

O pequeno messias

Sujei o sofá de novo. Ninguém mais senta nele desde que passei a dormir aqui. Brigam comigo, mas eu não sei como fazer parar. O xixi simplesmente sai.
Eu ouvi um suspiro vindo lá da cozinha, é minha mãe que está chorando.
Fui lá e a vi agachada lá no canto, com um braço em volta das pernas e a outra mão no rosto.

- porque você está chorando?
- por nada, filho.
- se fosse por nada você não chorava.
- é que não tem dinheiro.

Eu bem sei como é o dinheiro. Às vezes é de papel e às vezes de ferro. Acho que o de ferro vale mais, porque o de papel rasga fácil e o de ferro dura. Um dia achei um dinheiro de ferro na rua. Ele estava lá jogado no chão e peguei para mim. Valeu uma bala. Não posso sair para a rua, mas tem o pátio, então vou procurar dinheiro ali pelo chão. Logo depois que sai de casa já achei uma moeda. Era de ferro, mas era o menor de todos. Eu vi que os maiores valiam mais, e os menores valiam menos, mas pelo menos era do de ferro e não do de papel.

- mãe, mãe, olha só. Achei dinheiro.

Eu dei a moeda a ela e ela chorou mais. Eu já sou esperto, e sei que às vezes as pessoas choram só de alegria. Preciso só achar mais dinheiro. O dia foi inútil: não achei mais nenhuma moeda.
Vou dormir no sofá denovo.

- Vá no banheiro senão você faz xixi no sofá denovo!

Isso nunca adianta, mas assim eu faço menos, então eu vou sem reclamar.Amanhã eu procuro mais dinheiro para a minha mãe.

- boa noite, filho.
- boa noite, mãe.

Sonhei que estava em casa e que no lugar do banheiro havia uma entrada para uma caverna.
Eram paredes de pedra, e estávamos eu, minhas irmãs, uma amiga delas e meu amigo aqui do prédio. Ele mora lá em cima no segundo andar. Fomos andando até um lugar que tinha um buraco, e lá no fundo do buraco dava para ver fogo. Era um buraco alto, eu só via o que tinha dentro dele levantando o pé. Eu e meu amigo jogávamos bolinha de gude, e eu como sempre errava tudo. Numa vez eu errei tão feio que dei um jeito de jogar a bolinha dentro do buraco.
Era minha favorita, a branca que eu chamava de leitinho, então eu queria ir buscar. Olhei pelo buraco e vi um lagarto gigante com olhos que eram como bolas de fogo. Era um dragão, porque tinha asas e eu soube que dragões são lagartos grandes com asas. Eu avisei e eles não acreditaram em mim até ele cuspir fogo. Aí correram, e como eu era menor fui ficando para trás. O dragão atrás de nós e eu ficando para trás. Gritei pela minha irmã mais velha e ela veio me buscar. Ela me levou carregado no colo até de volta para a sala, e olhei pra trás e vi apenas o banheiro. Virei de novo para frente e vi minha tia na porta, ela estava ali para nos salvar.

Contei meu sonho no dia seguinte e minha mão nem ligou. Acho que ela não acredita em mim.
Mas eu não disse que tinha dragão em casa, só que eu sonhei. Acho que ela ainda está triste por não ter dinheiro. Vou sair pra procurar. Assim que eu saí havia uma moeda igual no quintal. Mais uma das menores. Nem pensei muito, peguei e dei a minha mãe, ela estava deitada na cama.

Os dias foram se passando, as vezes eu lembrava do sonho e contava, as vezes eu só acordava chorando. Todos os dias eu achava a moeda no mesmo canto, e não via onde todas essas moedas iam parar. A dona que morava ao lado da minha casa me chamou para ir na casa dela. De tão distraído procurando moedas eu nem tinha comido nada de manhã, e ela me deu pão com leite.
Enquanto eu comia eu vi uma pedra preta. Era um imã daqueles em que grudam as coisas de ferro. Tinha muitas moedas no imã, e eu fiquei olhando os números nelas. A minha moeda era 1, mas ali tinha dez, vinte e cinco e cinqüenta. Tinha até uma que era um, só que maior.

- Qual é a moeda que vale mais de todas, dona?
- A moeda que vale mais é a de ouro.
- Elas valem mais que as fichas do fliper?
- Elas valem mais do que todas as fichas do fliper juntas.

Perfeito, agora tudo o que eu tinha que fazer era encontrar algumas moedas de ouro e eu resolveria a tristeza da minha mãe. Eu sei como é, parece com o sol. Procurei o dia todo, mas percebi que no chão ninguém deixaria moeda de ouro. Elas deviam estar guardadas em algum lugar, mas onde?
Perguntei à minha irmã do meio onde eu as encontraria:

- Eu sei onde você acha.
- Onde?
- Tem alças de gaveta na parede, iguais às do armário.
- Onde?
- É nessa parede aí, mas é invisível. Se você puxar no lugar certo abre uma gaveta cheia de moedas de ouro.

Eu fiquei tentando por um bom tempo, até perceber que estava muitas vezes tentando nos mesmo lugares. Eu nem via que já tinha tentado ali, não dava pra lembrar.
Bolei um plano. Subi na cama e com a ponta do pé tentei puxar lá no alto no canto da porta.
Não deu, então eu fui só um pouco pro lado, e depois mais um pouco pro lado. Quando fui ver já tinha tentado de um lado até o outro, e depois desci um pouco e fui de um lado até o outro.
Fui até de baixo da cama e não achei nenhuma gaveta. Minha irmã chegou da escola.

- Onde é a gaveta que eu não acho?
- haha! Você acreditou nisso. Não tem gaveta não!
- Mas você disse que tinha gaveta!

Ela ficou rindo de mim e depois continuou.

- Eu pego a moeda de um centavo todo o dia e jogo de volta no quintal.

Fiquei com raiva bati nela. Girei os braços nela, mas eram pequenos e nem doía.
Fui dormir no sofá e sonhei. Nesse sonho meu pai aparecia aqui em casa. Ele tinha um carro, e ia me levar pra passear. Tem um menino do outro lado da rua que tem pai, e ele disse que é bom. Eu queria ir com meu pai, mas quando eu fui buscar a bolsa a minha irmã do meio entrou no carro e disse que eu não queria vir. Meu pai saiu com ela e me deixou lá no portão.
Acho que eu sonho coisas assim quando acordo chorando, porque dessa vez acordei chorando.
Fui na cozinha e minha mãe estava lá denovo, dessa vez com minha irmã do lado dela.
O saco de pão duro não tinha pão.

- Eu queria pão, mas não tem dinheiro.

Quando eu disse isso minha mãe ficou um tempo me olhando, eu não entendi por que.
Acho que é porque fiz xixi no sofá. Ela levantou e disse pra minha irmã mais velha tomar conta de mim e da irmã do meio. Saiu, e quando voltou tinha pão com manteiga e leite.

- A gente precisa confiar em Deus, disse ela. Ele ajuda.
- Onde é que deus fica?
- Ele fica lá no céu.

Eu não caio mais nessa de acreditar no que não da pra ver, mas minha mãe fica falando que teremos uma casa na praia, e pede pra eu falar com ela. Eu falo, mas não sei nem o que é praia.
Será que tem dinheiro no chão da praia pra achar?

A girl trouble…

Sometimes i feel like i wasn’t born to be in this world. Like I’m some sort of alien.

I feel like I’m far away from home. Like I was left in a scary place full of selfish people. I mean, there is always this great never ending flow of love coming out of me but i don’t see it coming from other people. Well, I didn’t at least.

They don’t really love, and the few who have the guts to talk about it are most likely using that sacred word to manipulate people. It’s like: “I’m sorry that i didn’t let you go see that person. I did it because i love you.”

Well that kind of love I’ll have to pass, because I’m not only a lover, I’m a free man, and it’s up to me the choice to where the flow of love is going to come. Eventually i found someone. Someone really special that could really feel my love.

I could see her going trough all the things i went trough. Giving out all her sweet Beautiful love and getting nothing in return. Her love wasn’t for me, and i don’t think it will ever be, but that didn’t stop me from falling for her. I guess that’s a rule in love: you only fall for the person that is like you. She’s a jesus walking on the earth, with a heart full of love thinking that maybe once she loved it enough it would eventually love her back.

But that doesn't’t seem to be working for her or for me. I can’t avoid the love i feel for her, so eventually it just came out of me. Now she knows it, and it seem like she doesn’t feel the same for me, which is something that really break my heart. Sometmes e feel like she loves me, but i think that’s just a result my wishes.

I have a few friends, and i love them all. But she is different. She makes me feel like life is really worth living. Like i actually found someone that could feel and understand my love. She’s free as a bird, and no mather how hard people try to lock her down, she’ll always find her way up to the skies.

We’re both that free, and we both love the world. That’s what i think.

Sometimes i feel some love coming out of her to me. Sometimes it actually seems that we could be happy together, and those are the times when i fly up to the sky. But i guess i’ll eventually just crash into the ground, because all of this is nothing but an illusion. Loving her is not going to make her love me back.

The love spirit

It comes and goes,
That love spirit.
It’s shiny, attractive.
Takes smiles out of you.

Once it leaves it hurts,
So i hate only thinking,
That it will never come again.
But it always returns.

Where is it from?
Does it shine for me?
Is it real at all?
I just don’t know.

Maybe i created it.
Maybe it’s a ghost.
But dam it’s so wonderful.
How could i create that?

I can’t live like this.
At least not forever.
Guess i’ll leave when i can,
And see if it comes back,
If it comes after me.

To tell me: I love you

I can’t keep living a dream anymore. Dam, I need to help someone. I need to see someone happy. That’s the only way i could smile today. I knew you would be kind to me, my destiny. You sent me such a sweet little angel. I know I’ll never touch it, but that don’t stop me from wanting to. Your kindness sometimes seems like hatred…

Alegria, felicidade e as atrações do mundo moderno.

A perspectiva dos meus textos sempre acabará sendo introvertida, devido à minha própria personalidade não individuada, mas garanto que isso não torna esse post menos importante, pois a perspectiva interna no que se refere á existência íntima do ser humano é tão importante quanto medidas objetivas extrovertidas.

Como Jung disse: “O que há de mais perigoso no mundo são os homens.”

Portanto, o que eu vou tratar aqui é de extrema importância para o progresso da humanidade enquanto um conjunto de indivíduos que buscam a felicidade em ilusões de forma sistemática e controlada por agentes externos. São “eles”.

Para apresentar o assunto eu colocarei a origem da minha reflexão, citando outras fontes interessantes sobre o assunto e depois narrarei visões distorcidas do que vem a ser felicidade, desconstruindo-as.

Minha reflexão a respeito disso veio, inicialmente, junto com O andarilho, que foi de inspiração tanto pessoal quanto externa. Ou seja, graças a uma pessoa eu encontrei esse andarilho, que me ocorreu na minha própria linguagem. Na forma de andarilho, talvez poucos o entendam, mas eu expandi esse pequeno conto no post “Vontade de amor”. Nesse post eu falei muito superficialmente sobre a questão da felicidade, pois eu presumia e ainda presumo que através do amor a encontraremos, mas a reflexão está incompleta, pois a definição do amor em si ficou vaga e especialmente porque ficou faltando uma perspectiva do que é a felicidade em si. Falei da vontade de amor mas não de motivação, então esse novo post é uma tentativa de objetivar um conteúdo subjetivo, e tornar a vontade de amor mais aplicável a um contexto coletivo ao invés de deixa-la apenas como uma narração do meu próprio desenvolvimento mental.

Depois disso eu assisti o documentário Zietgeist: Addendum, que é como um Zietgeist 2. Se você nunca ouviu falar nesse documentário e fala inglês eu recomendo o link onde eles estão disponíveis na íntegra:

http://www.zeitgeistmovie.com/

Esse documentário foi escrito obviamente duma perspectiva extrovertida, e falou incrivelmente bem a respeito das questões externas do mundo, mas falou, apear de corretamente, superficialmente a respeito da felicidade, justamente, talvez, por esse não ser o tema. Por isso eu pretendo, nesse blog, mesmo sabendo que poucos chegarão a lê-lo, expandir, segundo meu entendimento, o conceito ali tratado superficialmente cm maior profundidade da perspectiva introvertida, ou seja, da perspectiva interna.

O ponto de vista do introvertido é assim: assim que subimos de um degrau para o outro, o degrau abaixo deixa de existir, pois no nosso mundo só o que achamos existe. Ou seja, se eu superei uma idéia que não em fazia feliz a respeito de como viver e encontrei outra que é revolucionária então todo o mundo também encontrou. Isso é um terrível erro, pois eu ainda vejo pessoas cometendo os três erros fundamentais na busca pela felicidade, e o fato de que eu descobri uma forma de ser feliz e livre não muda o fato de que existem pessoas deprimidas pelo sistema, ou que têm felicidades ilusórias, tais como a religiosa ou a do consumo compulsivo.

Portanto, pretendo agora demonstrar o caráter falacioso de casa uma dessas três visões sobre a felicidade na ordem que, através do meu próprio julgamento de valores, parece adequada: uma ordem ascendente de profundidade, onde a mais superficial das idéias enganosas sobre a felicidade é o consumismo e a mais profunda, e digna de profundo debate é a de que a felicidade não existe. Provavelmente eu não chegarei a falar a totalidade de coiss que penso a respeito disso, pois isso tornaria o post grande demais, mas no final eu recomendarei textos complementares, tanto meus quando de outras pessoas, que complementarão o post e deixarão a minha visão total a respeito do assunto clara(se é que alguém se importa honestamente com isso).

O consumismo

Certa vez, no segundo grau, eu fiz um teste que definiria, por brincadeira, o nível de loucura de uma pessoa. Talvez sem perceber todas as implicações daquele meu ponto de vista, pois ele era para mim intuitivo, eu elaborei a seguinte pergunta:

Você faz compras para compensar as suas frustrações?

Segundo o teste, a pessoa poderia responder sempre, nunca ou ocasionalmente, sendo que, segundo a estrutura de pontos que criei, a maioria das pessoas que respondia sempre era considerada louca, pois isso acrescentava três pontos de loucura dos dez necessários para a pessoa ser classificada como insana.

Infelizmente, o número de pessoas que respondeu sempre ao meu teste foi muito maior do que eu previa: a maiorias das pessoas que responderam não foram crianças(já que foi brincadeira) ou adolescentes que não tinham dinheiro próprio, sendo que aproximadamente 60% dos adultos ou adolescentes com renda que foram entrevistados responderam sempre.

É claro que isso foi uma entrevista superficial com poucas pessoas respondendo, mas certamente me trouxe preocupação, hoje, suficiente para que eu escreva algo que a mim parece óbvio, mas que parece não ser para todas as pessoas: o dinheiro não trás felicidade.

A prova disso é que as pessoas ricas não são livres da depressão, que é justamente o oposto da felicidade. Afinal, porque essas pessoas são infelizes. Já ouvi comentários deprimentes do tipo: “Esses aí são uns idiotas. Como podem ser infelizes se têm tanto dinheiro?”. Essa pergunta, infelizmente, no ponto de vista dessas pessoas, é retórica.

Mas para mim não é, e vou tentar responde-la.

Para isso é necessário entendermos uma coisa que coloquei no título, que é a definição de felicidade e alegria. Para esse post eu vou usar as seguintes definições:

Alegria: um sentimento temporário de contentamento que pode ser causado por um número inconstável de coisas, dentre as quais muitas estão na sua TV. Filmes, jogos, musicas etc.

Felicidade: um estado de contentamento contínuo, que tem sua origem sendo debatida mais profundamente nesse texto.

Não quero dizer, vejam só, que a felicidade sobre ponha a alegria, no sentido de que para vivermos na felicidade devemos nos abster da alegria. Segundo minha vida são ciosas diferentes e que não se excluem de qualquer maneira.

E é justamente em não diferenciar uam coisa da outras que o primeiro ponto de vista sobre a felicidade erra, pois, segundo este, a felicidade não é nada mais do que a repetição ininterrupta de eventos que causam alegria. Sendo assim, a felicidade vem de fora e não de dentro, pois ela é condicionada através das alegrias.

Segundo esse pontod e vita, uma pessoas feliz é aquela que é rica, e que sendo rico tem muitos carros, é famosa e reconhecida pelos outros, e usufrui de todos os tipos de prazer que a mídia e os meios tecnilógicos têm para oferecer. Em suma, a pessoa feliz é aquela que pode viver dentro dum circo cheio de atrações com os quais ela irá se distrair.

Esse ponto de vista pra mim é estúpido desde que me entendo por gente, mas parece que ainda há pessoas que não entendem que o princípio da redundância destrói essa visão diante dos olhos de qualquer pessoa racional.

Por mais divertido que seja jogar um jogo de azar como o poker, essa alegria se tornará logo menos intensa do que antes. Por siso, se antes era divertido jogar apostando um real, depois só será se forem apostados dez reais. E o valor vai aumentando cada vez, porque a redundância torna o jogo entediante.

Para todos os tipos de alegria superficial acontece o mesmo. Se você decide, por exemplo, começar a transar com todas as melhores prostitutas, isso não te tornará uma pessoa feliz. Pelo contrário, uma hora a redundância acabará com a alegria desse contato superficial e você sentirá que, mesmo tendo todas alegrias que o sistema tem pra te oferecer, você ainda é infeliz.

Em suma: com as melhores roupas, os melhores carros, os melhores jogos, etc. você sempre cairá na redundância, e sempre continuará infeliz.

Há dois pontos de vista que transcendem essa ilusão, que são o religioso e o de negação da vida.

A religião

A religião, como muitos religiosos dizem, é a forma de religar o homem à Deus. Eu poderia dizer que a religião, em teoria, seria o meio de unir todas as pessoas de torna-las felizes, mas não é bem assim que as coisas funcionam na prática.

Pelo que eu observei, em troca do sentimento de felicidade que a integração trás, a religião exige que o indivíduo nega diversas facetas de sua existência, dentre as quais está a racionalidade.

O pensamento abstrato, que é o tipo de raciocínio responsável pela reflexão acerca da existência em si, é completamente reprimido por premissas absurdas. Em outras palavras, a religião limita o pensamento dos indivíduos à princípios como: Porque Deus fez isso? Ou Porque Deus permitiu aqui?

Fazendo assim, a religião reprime o pensamento das pessoas e institui uma máxima doutrinária, que estabelece que todas as informações necessárias para a vida estão nos livros sagrados, e criam um forte laço de culpa e coação social.

A culpa vem de um sistema moral que é imposto aos indivíduos desde sua infância e que acaba guiando a consciência deles ao ponto de se sentirem mal por causa de qualquer impulso natural que tenham, tais como o desejo sexual ou o impulso abstrativo.

Os indivíduos que, mesmo tendo sido criados no meio religioso, conseguem superar o pensamento predominante são excluídos pelos outros sem a necessidade da intervenção de um líder, já que os outros estão sob o efeito da culpa causada pela fé.

Mas a culpa e a coação social são fatores pequenos frente à maior fonte de poder das religiões, que para mim é a vontade de amor. Colocando em outras palavras, já que para mim amor presume união, eles exploram o sentimento de necessidade de integração com o todo. De religar-se com Deus.

Depois de sentirem esse amor e de chamá-lo de Deus, eles estão provavelmente presos por toda a sua vida, porque a religião consegue, com sucesso, fazer os indivíduos se sentirem felizes, com a adição de que a essa felicidade natural eles adicionam imagens mitológicas que têm caráter antropomórfico, e assim eles manipulam o comportamento das pessoas através da vontade de amor. Qualquer um que já sentiu a alegria dessa integração sabe a sensação de harmonia que ela trás. É como se estivéssemos verdadeiramente ligados à Deus quando amamos ao próximo, e garanto que para alcançar esse tipo de felicidade sentimental não é necessários eguir nenhum dogma irracional: a ética e o bom senso sentimental bastam.

Viver segundo dogmas religiosos, apesar de trazer essa felicidade sentimental da integração, causa a infelicidade da repressão da função do pensamento, o que geralmente causa revolta e negação das religiões, gerando o outro oposto da visão sobre liberdade, que, assim como a visão da religião, acerta num aspecto sobre a felicidade e erra noutro. A religião trás a felicidade do amor ao próximo, enquanto que a liberdade(ateísmo) trás a felicidade do amor a si mesmo, e acaba que a parcialidade das pessoas tornam as duas visões contrárias quando na verdade são complementares.

Um religioso pode muito bem ser livre. Contanto que ele tenha religião própria, e não um conjunto de dogmas impostos por outra pessoa e que não respeita sua individualidade. Ser religioso não é o mesmo que ser ovelha. Acreditar em Deus não é o mesmo que ser um escravo.

Igualmente um ateu pode muito bem ser integrado ao todo através do amor, contanto que ele elimine a hostilidade em relação às religiões que tomou conta dele provavelmente logo que abandonou a vida religiosa. Ser ateu não é o mesmo que ser infeliz e egoísta.

A religião não é inimiga do homem, mas também não é a redentora do mundo: pelo menos não as religiões patriarcais, que são as maiores atualmente.

Ceticismo e negação

Essa visão de mundo tem inúmeras variações, mas creio que posso ousar uma generalização de que, independente da atitude pessoal do indivíduo, todos eles buscam o mesmo ideal: a liberdade.

É claro que não é pelo fato de um indivíduo buscar a liberdade que ele deve ir contra as premissas de amor e integração da religião, mas é freqüente que essas pessoas que buscam a liberdade estavam aprisionadas em sua vida intelectual e criativa pela religião, de forma que negam todos os fundamentos desta.

Uns regridem, e ao se livrarem da religião se entregam ao niilismo cego, onde vivem exclusivamente atrás de alegrias fúteis, mas outros conseguem perceber que essas alegrias fúteis não trazem felicidade, mas também não aceitam a religião, e isso cria um conflito aparentemente indissolúvel.

Torna a vida vazia, e na medida em que negam os impulsos de se buscar a alegria eles se tornam cada vez mais fortes. Então são obrigados a negar a tudo e viver num estado onde vegetam sentimentalmente para existirem apenas intelectualmente. Pegam a religião e idéias como a do amor e jogam tudo no saco das ilusões, e isso torna a vida deles miserável.

Gosto de pensar nesse tipo de gente como sendo parecidos com um personagem de um livro meu: foi exilado de um mundo onde havia felicidade e plenitude para um mundo cheio de gente egoísta e ignorante que torna a vida quase insuportável, e com o tempo vivendo com essas pessoas eles passaram a desprezar a si mesmos.

Diferente dos religiosos, esses céticos são completamente livre, mas essa liberdade carrega um pouco de rancor ás religiões que torna qualquer idéia minimamente relacionada a elas um insulto á sua liberdade. Viveram por tanto tempo enjaulados que não aceitam ser dominados. Que negam o coletivo por não quererem perder a si mesmos, e por isso acabam perdendo-se em desespero.

Porque a religião tem sua razão de ser, que nada tem a ver com ilusões e senso comum: a única coisa que faz a religião se manter intacta é o fato de as pessoas encontrarem amor e motivação nela. A religião trás felicidade, mesmo imbutindo “impostos” sobre ela.

Da mesma forma que um religiosos corre o risco se perder-se a si mesmo num fanatismo desmedido, um cético corre o risco de perder-se a si mesmo num individualismo deprimente. O nosso mundo prega que devemos pensar somente em nós e em quem está próximo, mas se desintegrar do todo tem implicações muito negativas para quem o fizer.

Isso fere a “Vontade de amor”.

Me lembro de um filme que retrata muito bem o que eu quero dizer. Não me lembro do nome, infelizmente, mas é atual. O médico está conversando com sua amiga a caminho do dormitório dela e diz que a melhor coisa que lhe aconteceu foi ter passado um tempo no sanatório, pois lá ele descobriu que ajudando as pessoas com seus problemas ele podia esquecer os dele.

E é a mais pura verdade. Ajudar as pessoas nos faz um bem que jamais poderia ser limitado através de uma racionalização.

E não se trata de dar esmola a um mendigo na rua, pois é a intenção e a conclusão dessa ajuda que contam. É dar comida e não dinheiro o que gratifica.

Mas a ajuda nem sempre é física. Muito pelo contrário, muitas vezes encontramos pessoas com a alma atormentada. Com angustias de todos os tipos, e com a vida sem esperança e tudo o que ela precisa é de um amigo, que a ouvirá e entenderá seus problemas.

Um amigo vale mais do que uma montanha de ouro.

A felicidade plena

Segundo a minha visão a real felicidade reside numa combinação das três visões que acabei de definir.

Creio que a primeira e mais importante é a liberdade. Nenhum homem pode provar o verdadeiro amor sem antes ser livre, pois senão ele sentirá apenas algo falso que se assemelha ao amor, mas que não passa de uma artimanha de um esperto qualquer para lhe demover se sua consciência.

Um homem livre pensa, pois é nisso que consiste a liberdade. Não adianta amar todas as coisas, mas ser preso a elas. Só canta de forma bela o pássaro que voa livre.

Mas ser livre não é necessariamente o mesmo que servir apenas a si mesmo em intentos mesquinhos. Eu posso, como um homem livre, decidir me integrar no todo. Assim eu serei um individuo único, mas não separado do todo.

Quando um homem é livre de verdade ele perde a necessidade de ter um inimigo, perde a necessidade de ter um oposto que seja equivalente, pois isso só ocorre quando as pessoas estão negando a si mesmas ao ponto de terem que projetar nesse inimigo suas aspirações.

Dessa forma, se eu desejo uma mulher e estou reprimindo com todas as forças esse desejo, possivelmente eu serei hostil a ela como forma de reprimir a mim mesmo no desejo. Viverei numa prisão que existe só dentro de mim mesmo.

Depois de alcançar a liberdade, de ter sua mente emancipada e de ser o próprio mestre, deve haver uma integração com o todo. Não para ser guiado cegamente por este, mas para ser parte atuante, de forma que a felicidade do altruísmo possa inspirar a felicidade.

A felicidade reside em estar inspirado pelo amor, que nos integra com o todo e em sermos guiados apenas por nós mesmo, sendo livres.

A felicidade não exclui a alegria: pelo contrário. Depois de alcançar a verdadeira felicidade as alegrias se tornam menos atrativas, mas não menos satisfatórias. Assim, nós não buscamos a alegria tão compulsivamente, e ela não cai em redundância. Qualquer besteira trás alegria, porque não estamos querendo dar a esta a função da felicidade.

Com essa felicidade, o mundo pode nos abalar uma vez ou outra, mas no fim do dia, quando tudo passou e vamos nos deitar, só sobra a paz. Por pior que seja a nossa situação, nós estamos bem. É como me disse certa vez um homem: “a minha vida é muito difícil, mas eu vivo sorrindo porque eu sei que Deus está comigo”. O homem não estava mentindo. Ele encontrou a fonte de felicidade, que é o amor. Se ele a chama de Deus, isso não me diz respeito.

Ilusões acabam, mas o amor dura para sempre.

primeiro o Andarilho alcançou a liberdade ao sair do castelo, e depois ele alcançou a Vontade de amor como sendo um caminho no qual reside a vida feliz.

Sobre o futuro da humanidade

Escrevi a mensagem abaixo em resposta à um tema de debate proposto por um amigo.

http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=117923&tid=5330750358001940831&start=1

É bem comum que eu seja chamado de um otimista, ou mesmo de um iludido por ter as opiniões que tenho a respeito disso, mas isso são reações sentimentais: a psicologia analítica tem um papel fundamental no futuro da humanidade, mas não só ela.

Vou avisando que minha resposta será grande.

Eu vejo esperança em algumas coisas tais como: o mundo como holograma, o pensamento sistêmico (filho da psicologia analítica), a organização mundial em rede e, finalmente, o anarquismo.

Depois que eu descobri uma idéia que chamo de “Vontade de amor”, que chamo de caminho florido no conto do “Andarilho”, minha perspectiva do mundo mudou completamente. Mudou ao ponto de eu querer compartilhar as boas novas com os outros.

Para consultar a Vontade de amor e O andarilho vá no meu blog:

http://insilasbrain.blogspot.com/

Muito do que vou escrever aqui terá caráter sentimental, e não vejo nenhum motivo pelo qual os sentimentos não devem ser levados em consideração para se imaginar uma solução.

Vamos ao que interessa:

No blog de um amigo meu eu li uma matéria muito interessante que fala do mundo como um holograma.

Veja na integra:

http://outsidercaos.blogspot.com/2009/01/15-o-universo-como-um-holograma.html

É feito todo um complicado processo através do qual se “imprime” um holograma num filme. Quando um feixe laser atinge esse filme, se forma o holograma. Esse filme foi dividido em duas partes, mas quando o feixe do laser atingiu as duas partes cada uma delas mostrou um holograma completo idêntico ao original, só que em menor proporção.

Foram dividindo o filme e descobriram uma coisa espetacular: todas as partes do filme continham um holograma inteiro.

A partir desse raciocínio podemos ver o próprio homem de uma diferente perspectiva, pois mesmo pesquisas na área da neurologia demonstram que não há uma parte específica da nossa mente que armazena a memória: ela se integra no todo que é a nossa psique.

Por isso é assim que se dá o nosso aprendizado. Nós vamos agregando novos paradigmas, mas estes não funcionam por conta própria: se integram no todo inseparavelmente.

Dessa forma, todo e qualquer conhecimento que nós agregamos é útil, seja o conhecimento que vem de você e de mim ou um que vem do livro de Jung.

Talvez possa parecer que isso tudo não tenha relação direta com o tema proposto, mas na verdade tem sim. Se colocarmos essa visão holográfica na sociedade, acabamos por encontrar o tipo de sociedade que nos é apresentada atualmente pelos meios de comunicação: a organização social em rede.

Essa incrível comunidade é um exemplo do que eu estou falando. Quando debatemos aqui não há autoridades. Você não é melhor do que eu, e nem eu do que você: o que eu falo é tão incerto quanto o que você fala, e desconstruímos a idéia de que há autoridades no assunto que for. Isso desconstroi a idéia de que as pessoas são ovelhas a serem guiadas por pastores e, especialmente, da abertura para um sujeito como você começar a colaborar com a sociedade por conta própria, sendo mais um soldado do que chamo de exercito sem general.

Assim, quando eu entrei nessa comunidade eu te vi debatendo com o Marcos sobre a relação entre Jung e Freud, e isso me causou uma extrema atração pela comunidade.

Ao freqüenta-la mais assiduamente eu me interessei mais pelo pensamento junguiano e acabei por comprar alguns livros, entre eles o “tipos psicológicos” que mudou para sempre a minha forma de pensar. Á maneiro do holograma, se integrou ao meu pensamento.

Dessa maneira, você que provavelmente nem é famoso e que, na organização social anterior, nunca teria contato comigo, contribuiu de forma extremamente positiva para o meu desenvolvimento, e não só você: esse meu amigo e muitos outros que jamais teriam tido contato comifo, mas tiveram e expandiram minha mente graças a essa nova organização mundial em rede. Graças à internet.

Nesse espaço é que o pensamento sistêmico ganha força, porque aqui as pessoas têm uma pressão muito menor do mundo externo, tendo assim a possibilidade de introverterem com mais facilidade. Assim, na internet você pode ver as pessoas manifestando sua essência verdadeira, e ao perceber essa manifestação uma idéia que pode te ocorrer é: “como essa pessoa é diferente de mim!” E isso é o que mais me acontece.

Aí a idéia de que a realidade é simples e estável, principalmente no que se refere à existência humana é desconstruída, e todo um padrão que queremos atribuir aos outros cai por terra diante da máxima de que todas as pessoas são essencialmente diferentes.

Essa troca de informação não poderá ser controlada, e creio que a internet em breve estará ocupando o mundo todo, de forma que a interação venha a expandir a consciência das pessoas nesse e noutros aspectos. A consciência mais plena levará à baixa taxa de natalidade, e a Europa é a prova disso: eles importam mão de obra para serviços ordinários porque seus cidadãos são conscientes o bastante para controlarem a natalidade espontaneamente.

Talvez fique um elo perdido no que se refere à minha afirmação sobre o anarquismo, mas eu acho que essa é uma coisa que jamais veremos acontecendo, porque presume uma quantidade extremamente menor de pessoas habitando o planeta. Não viveremos para isso. Creio que com o tempo a população será muito menor, e a tecnologia (inclusive a de comunicação) estará desenvolvida ao ponto de não precisarmos mais de líderes para guiar o povo, pois todos os cidadãos terão plena consciência da importância de viver segundo a ética(não a moral). Não haverá a necessidade de uma pessoa selecionar as informações que serão distribuídas aos demais.

Não haverá mais a possibilidade de um ditador tomar um poder, porque as pessoas já não poderão ser caladas. Cada um será um nó na teia social. Cada um será seu próprio senhor e dono de sua individualidade. A expectativa de vida se tornará extremamente maior e finalmente a humanidade poderá viver em harmonia.

Não digo com isso que nossos impulsos mais doentios deixarão de existir. Só que por mais doentio que um homem for, ele não poderá agregar poder e dominar os outros. E se ele for criado num sistema onde há harmonia, eu duvido que ele se torne um doente como os que vemos hoje, pois esses são fruto do nosso sistema falho. De qualquer maneira, já hoje os sistema eletrônicos já nos aliviam de tensões como fobias e mesmo a raiva: a realidade virtual está e tornando cada vez mais detalhada, e eu mesmo já descontei minha raiva num jogo chamado “God of war”.

Em suma, eu creio que entrar na internet e trocar idéias sobre a vida é a nossa forma de reagir contra as injustiças do mundo. Não podemos lutar contra o sistema através de força armada, mas podemos ser um exercito sem general, composto por pessoas com um interesse em comum: tornar o mundo um lugar melhor para se viver.

Por isso você é importante, assim como todas as pessoas que compartilham seu conhecimento pela internet com tanta boa vontade.