A professional hazard: sobre ser escritor

Estou lembrando duma cena relevante para esse tópico que ocorre no seriado Californication, onde o protagonista (um escritor) começa a conversar com sua ex mulher no carro, e dum momento para o outro ela desaparece.

Não esqueço a fala, pois para um carro do lado do dele e uma mulher diz:

Who are you talking to?

Ao que ele responde:

Me? No nothing, it’s just professional hazard.

E isso às vezes é deprimente para ele, pois ele já não tem mais nada com a ex-mulher que ama. Mas ele idealiza, e nessas idéias a sensação parece idêntica à real.

Eu sou um pouco parecido com ele nesse sentido, com a diferença de que eu sou capaz de imaginar coisas que nunca aconteceram, lugares que nunca vi e pessoas que nunca vi.

Existe o povoado de Santa Agatha e a Cidade vidro. Existe a Angele, a Stela e varias outras coisas que eu amo nesse mundo imaginário. As vezes eu vou pra lá, e fico me maravilhando de como meu mundo ideal é lindo.

Nesse mundo não existem líderes, e todos os homens são iguais. Eles colaboram voluntariamente pois tem motivação e capacidade para isso. Eu vivo, nesse mundo, um amor com a Stela, e uma relação meio difícil de filho-mãe com a Ângela, que já foi confundida com romantismo. De qualquer forma, Ângela e Stela tornam o mundo mais belo. Mas é esse o problema. É claro que essas duas personagens são símbolos, e que, sendo assim, têm representantes na vida real que lhes são quase idênticas(com a diferença de que Ângela é uma deusa). Só que o problema é que, nesse meu mundo, eu controlo o pensamento dos personagens, assim como o Hank. Pra ele, Karen ainda o ama e está com ele, assim como que pra mim, Stela e Ângela estão bem perto. Eu ainda deito no colo da Ângela pra me confessar, e ainda amo tão profundamente a Stela que ela me inspira. Ângela coloca racionalidade na minha cabeça. Ela me entende perfeitamente e, por assim ser, me traz segurança. Stela me inspira. Ela coloca paz no meu coração. Eu sinto como se eu e ela tivéssemos uma ligação profunda.

Só que a vida real não está nem perto disso, e sofro esse professional hazard. Por causa dos sentimentos que tenho, que são muito intensos, eu demonstro excessivo amor tanto por Ângela quanto por Stela, que não pensam como as personagens do meu livro, pois são pessoas que existem independente dos meus pensamentos. Elas têm seus amores e suas vidas, e eu me conformo em ficar por aqui escrevendo sobre as coisas que imagino que poderiam ser verdadeiras.

Elas sabem que falo delas, pois conhecem sua integração no meu livro. Só queria dizer a ambas que minha liberdade cresce a cada dia. Sim, eu me sinto em progresso. Chegando a ser quem eu sou. Quando isso acontecer, meu auto-controle vai permitir que eu controle a manifestação dos meus sentimentos para não as faça sentir culpadas. Principalmente a Stela, minha querida, que mal chegou e já recebeu uma descarga louca e irracional de amor.

Eu não to querendo ser falso e culpá-las: Eu também me sentiria culpado.

Eis a minha confissão de hoje, sobre os ossos do ofício.

Deixo um conselho: Escreva.

Avaliando bem as coisas que você escreve você vai descobrindo quem é, e no fundo o livro irá te curar das suas maiores enfermidades. Ele vai libertar seu intelecto e seu coração.

Um intelecto inquieto e um coração voador foi o que meus livros incompletos trouxeram. Eles me tornaram uma pessoa melhor, mais madura e, especialmente, feliz.

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