An open wound


Tenho uma ferida aberta
Ela pulsa, emana perfume
Mas apesar da dor...
É ela que me faz respirar

A ferida separa um lado do outro
Nada poderia uni-los, sará-la
Mas é ela que me põe em movimento
A dor move a vida, parece

Eu passo pelos lugares
O sangue vai pingando
Parece até infinito
Ele se dilui no mar do cotidiano

Pragmatismos me distraem
Conhecimentos me arrebatam
Mas nada disso seria possível
Sem o perfume de saudade

Dessa ferida aberta que tenho no peito...

Foi de início como a lança do destino
Não poderia ser de outra maneira
Atravessou a minha alma
Pôs tudo em chamas

Depois a ferida secou
Já até ameaçava sarar
Quando foi reaberta brutalmente
Veio pra ficar...

Então eu aperto e deixo sangrar
Que é pra sentir o aroma
Há alguma força no universo
Que não me deixa esgotar...

Chamemos isso de amor...


A Sombra e o por do sol


Há algum tempo senti
A brisa de uma bela manhã
A luz do sol invadiu o meu quarto
Despertei com vigor

E apesar de algumas nuvens
Apesar da leve chuva
O sol iluminou o dia
Quis congelar aquele momento

Em minha tolice
Quis que a chuva parasse
Mas que chuva responde ao nosso desejo?
Antes do meio dia, a sombra chegou

Justamente na parte mais intensa
Quando o sol te queima
Quando o verão mostra sua natureza
Lá estava aquela enorme nuvem

O Dia ficou cinza

Eu procurei saber
Sobre rituais, danças, alguma coisa
Pra mandar a chuva embora
Até tentei alguns

Nada adiantou

O dia passou assim, frio
A despeito da previsão, que dizia o contrário
Até que chegou o entardecer
E eu vi o sol por um instante

Mas logo desapareceu

Entrei novamente em casa
Deixei o guarda chuva na porta
Tenho minha proteção contra a tempestade
Uma cama quente...

Mas passou-se o por do sol
Passou-se o dia, sem que eu o visse
E agora resta a noite, o abismo
Resta mergulhar

E procurar as belezas do submundo

Afinal, o reino dos céus já não me aprova...

A razão e a loucura numa manhã qualquer



Eu sonhei naquela noite que era uma arvore. Com as minhas raízes profundas e meu tronco grosso eu estava sozinho ali naquele campo. O vento, quando vinha, atingia meus ramos em cheio. Então uma nuvem ganhou formato de rosto e riu de mim. Olhei pra baixo, mesmo na ausência de olhos, e percebi uma florzinha. Lembrei dela como se sempre soubesse de sua existência, como se estivesse gravada na minha alma de tal forma que a conhecia totalmente. Quando eu a vi balançando com a brisa, por mais que não pudesse explicar, lembrei-me de sua essência e pude ver todo o seu ser.
Mas a risada voltou, e com ela veio uma ventania. Eu vi as pétalas dele voarem uma por uma até ela ficar como um graveto. Ela foi arrastada e eu nada podia fazer. Eu nem podia me mover. Aquilo virou um tornado e eu senti minhas raízes se desprendendo do chão. Tudo girou e eu voei.
Acordei na cama como num pulo. Havia uma mulher nua olhando pra mim.

- Pesadelo, querido? – perguntou ela
- Não sei dizer. O que você faz aqui? – disse eu
- Bebeu demais, e não lembra de mim. Imaginei. – disse ela num tom sarcástico desapontado
- Não me esqueci de você, Julia. Apenas lembro-me de você dizer que eu acordaria sozinho. Acontece que eu acordo meio atordoado e vou relembrando as coisas com lentidão quando bebo.
- De lembranças é o que preciso. Você estava por me dizer uma coisa ontem á noite, mas adormeceu e eu não pude te acordar pra ouvir.
- Não me lembro. Diz o que você falava antes de mim.
- Eu falava do meu marido e de sua maldita mania de honra. Falava que acho que não sirvo pra casar.
- hehehehe... Já sei o que eu iria falar.
- E o que era?
- Em primeiro lugar, que fique claro que seu marido é um idiota. Ele serve um imperador corrupto e sanguinário e possui fé numa mentira irracional propagada através das trevas de sua ignorância. Mas isso você já sabe.
- E o que mais?
- Isso de casar... Eu cheguei aqui alguns meses antes do seu casamento e tivemos algo como um caso, mas só com nossos olhares. Você nunca precisou dizer muito: estava escrito nos seus gestos, no seu jeito de falar, de olhar. Você não é pra casar.
- Nossa, falando assim você parece me desavalorizar!
- Pro diabo! Desvalorizar nunca! Acontece que você ama demais pra se apegar!
- Não entendi. Eu não sou nenhuma madre Teresa não, viu?
- Eu não tenho o costume de falar do que não sei, então não falo dessa Teresa e nem da forma como ela ama. O amor de que falo aqui é bem carnal.
- Ah, que ótimo! Está me chamando de vadia!
- Esse nome é baseado numa linguagem que não reconheço. Pra mim, seu espírito é demasiadamente leva e seu amor é perigosamente genuíno. É por isso que você não respeita as regras: porque você ama, e o amor não respeita nenhuma regra. Você não precisa dizer, Julia. Eu vejo nos seus olhos que você ama certo sujeito aí da vila. Particularmente, nunca me interessou. Ao menos tem hábitos de higiene, coisa rara nesses tempos turbulentos.
- Assim tudo parece mais aceitável. Mas como viver como eu mereço como eu sou?
- Nesses tempos, onde você não é pessoa, mas ovelha, é difícil. Mas você é moça hábil e nós sabemos, então pode fazer dinheiro. Só não espere ser respeitada pelos adoradores das regras. Os membros do rebanho não gostam de ovelhas desgarradas, pois elas servem de lembrança de que há um mundo além das cercas.
- Que inferno! Se eu fosse rica, se eu fosse homem, poderia ser livre!
- Estamos no meio do nada, Julia. Podemos não estar bem situados no tempo, mas no espaço, isso com certeza. E você sabe que meu teto é seu, contanto que entenda que não é só seu.
- Que deus me livre de viver contigo! Você tem mania de banho, nunca organiza suas coisas, ronca como um lobo rosnando e nunca está satisfeito! – disse ela enumerando com os dedos.
- Calúnias, todas!
- Defenda-se, então!
- Em primeiro lugar, por mais que sabão seja uma coisa cara, por mais que venha de longe, sem ele nossos corpos fedem a merda. Nem imagino como você pode ter alguma coisa com seu marido com todo esse fedor. Por Deus, com uma armadura o dia inteiro debaixo do sol!
- Mas dizem que tomar banho todos os dias faz mal á saúde...
- Também dizem que mulheres voam com vassouras. As pessoas dizem muita idiotice.
- Tudo bem, dessa acusação você se safou, mas e as outras?

Eu parei, olhei pra ela e lhe dei um beijo lento, duradouro. Ela afastou meu rosto e me olhou com aquele olhar inquisidor, de quem não vai deixar passar. É a única pessoa que consegue fazer esse olhar e me agradar.

- Ta bem! Vamos lá, a próxima acusação era sobre minha organização, certo?
- Isso.
- Então, o que é a organização senão uma tentativa fútil do ser humano de controlar o incontrolável? Empilhar, criar categorias e divisões! Pro diabo com tudo isso!
- Isso não justifica nada. Tem dias que mal da pra andar nesse lugar!
- E não há um dia, no entanto, que você deixe de sorrir por isso quando entra aqui.
- Verdade. Eu te considero condenado, mas não precisa de punição além dos tombos que você já leva aqui quando bêbado.
- Fato. Meu pé dói desde não sei quando... mas então, do meu ronco e não tenho nenhuma evidência. Então é minha palavra contra a sua!
- Argumento desonesto. Pergunta á Gabriela, Joana ou quem sabe à Aline! Certamente ficarão do meu lado!
- Sério que você já ficou sabendo da Aline? Mulheres e a fofoca...
- Todos sabem das mulheres que você “desonra”!
- Enfim, o que você quis dizer com nunca estou satisfeito?
- Mesmo com todas as mulheres e mesmo com o vinho, você leva pelo menos uma hora antes de me deixar sair dessa cama!
- Ora... Como isso não é uma virtude? Não gosta de aproveitar o vigor da minha juventude?
- É que você parece estar procurando algo, sabe?
- Como assim?
- Você faz amor com a ânsia de quem corre numa jornada atrás de algo importante... Não sem explicar direito.

Naquele momento eu lembrei da florzinha despedaçada pelo vento, mas não a mencionei.

- O meu rumo é o seu prazer e nada mais! – disse sorrindo
- Fugindo de mim agora? – perguntou ela
- Não entendo.
- Quando tento mergulhar mais fundo na sua alma você foge do assunto assim.
- É que me ocorre uma florzinha, uma borboleta, um pequeno pedaço de algodão. Sempre sendo arrancado de mim violentamente. Isso me angustia, Julia.
- E o que isso significa?
- Meu passado, aquilo que me atormenta.
- Foi essa flor que foi arrancada de você que te manteve solteiro com todo esse dinheiro?
- Não. Ela sabia que minha natureza é volátil. Casado ou não, eu viveria dessa mesma maneira.
- O que aconteceu com ela, Leandro?
- O vento a levou... – disse antes de enfiar minha cabeça no cobertor.

Lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto Julia me acariciava a cabeça.

- Ele pode até tê-la levado pra longe dos seus olhos, mas não pra longe do seu coração. Eu nunca te vi tão triste assim...
- Ela vive em mim. Sempre viverá, mesmo depois da minha morte.
- A morte... Porventura o importante não está na vida aqui e agora?
- Ah sim. E sabe o que eu vejo agora?

Ela me olhou surpresa, como quem olha pra uma criança que fez besteira.

- Você acabou de se abrir pra mim e já vem me olhando com esse olhar de desejo!
- Sabe, eu estava lá no passado e você me trouxe pro presente. No presente eu vejo você e sinto desejo.
- Isso é loucura! Como você pode ser tão lascivo?
- Eu inventei um termo novo, que talvez em alguns séculos fique famoso. Sad fuck. É lenta, longa e banhada a lágrimas. Tive meus melhores orgasmos assim!
- Louco, fique longe de mim – disse ela rindo.

Mas eu a agarrei. Por uns segundos ela lutou e tentou se soltar, mas logo desistiu. Deitamos de lado e ela me deu as costas. Minhas mãos correram por todo o seu corpo enquanto minha boca marcava sua pele branca. Aqueles ombros, aquele pescoço. Sempre adorei beijá-los. Eu soltava o ar quente na nuca dela e a assistia se contorcer. Ela também sabia me agradar. Passava o braço por trás da minha cabeça e acariciava minha nuca.

- Louco...! – disse ela entre os suspiros

Eu meu soltei dela e desci minha boca até sua barriga. Ela sempre adorou que eu beijasse sua barriga enquanto lhe acariciava os peitos. Eram movimentos ensaiados, que nós tínhamos. Desci até os lábios dela. Úmidos, com cheiro de sexo. Provavelmente fizemos muito na noite anterior, mas não me lembro bem. Ela colocou as pernas em volta da minha cabeça e apertou. Adoro quando ela faz isso, embora não seja sempre. Como sei do ritmo dela, comecei bem devagar com a língua e com a ponta do dedo logo abaixo fazendo movimentos pra cima e pra baixo. Eu sorria por sentir a musculatura do abdome dela se retrair, por ouvir os suspiros. Conforme o ritmo com a língua aumentava e se diversificavam as formas de movimento, meu dedo ia se aprofundando. E com facilidade, se melando no interior dela.
Quando estou nessa situação eu perco a noção do tempo. Chego numa espécie de êxtase na ocasião de a mulher estar apreciando. Por isso não sei quanto tempo passou e nem me importo. Só sei que num momento meu dedo estava entrando e saindo completamente e eu já não movia apenas a língua, mas também a cabeça. Eu senti a mágica, meu dedo sendo comprimido lá dentro. Meu convite.
Subi lentamente pra chegar na outra boa, mas ela me empurrou e virou-se de bruços. Levantou e ficou de quatro olhando pra mim. Balançou o quadril de um lado pro outro até eu segurá-lo com firmeza. Entrei rápido, não havia qualquer resistência. Os movimentos eram tão fluídos...
A vantagem daquela casa grande era que os barulhos dos impactos, da cama, nossos gemidos eram todos inaudíveis. Eu cansei daquela posição, pois queria sentir a pele dela. Então joguei meu peso sobre suas costas e ela caiu de bruços na cama. Fechei suas pernas, que até então estavam abertas e levei adiante meus movimentos lentos. A sensação de que ela está mais apertada sempre me estimulou.
O cabelo negro dela faz um lindo contraste com a pele clara e os suspiros parecem ficar mais intensos nesse momento. Eu continuei acelerando até ver a expressão facial dela mudar. Aí comecei a aumentar a força, aumentando com isso o barulho. Ela cerrou os olhos e abriu a boca. Senti as contrações me dizendo pra continuar ali. E foi o que fiz, por alguns minutos.
Saí de dentro dela por uns segundos.

Vira de frente pra mim?

Ela virou, com o corpo mole e um sorriso lindo no rosto. Beijei sua boca impetuosamente com os olhos firmemente cerrados. Sem desgrudar de sua boca, entrei novamente. Foram os movimentos que interromperam o beijo, pois acabei suspirando. Segurei com firmeza nos ombros dela, que em resposta me prendeu com suas pernas.

Alguém bateu na porta da minha casa, me irritando por uns instantes.

- Um minuto! – gritei

Ela olhou pra mim rindo.

- Um minuto, é?

Voltei pra ela como se nada tivesse acontecido e realmente acelerei meu ritmo pra terminar. Embora não tivesse sido a melhor que já tivemos, tinha sido interessante. Mas surpreendentemente, quando cheguei ao orgasmo ela chegou junto. Isso nunca tinha acontecido.

Fiquei parado um pouco ali, até a porta voltou a me incomodar, então tive que sair. Vesti qualquer coisa e saí do quarto, mas não sem antes olhar pra e vê-la a se vestir apressadamente. Ela não me olhou de volta, então desci as escadas correndo atendi a porta.
Foi só aí que eu fui perceber que estava chovendo intensamente. Na porta estava um jovem noviço e uma moça exuberantemente linda... E limpa!

- O que vocês querem aqui?- perguntei
- Precisamos de abrigo. Essa foi a primeira casa que encontramos. Você pode nos ajudar? – disse a moça
- Eu nunca negaria com você pedindo dessa maneira. – respondi
- Mas sua esposa não acharia ruim? – perguntou o noviço olhando para dentro da minha casa.
- Não tenho esposa, rapaz. Entrem e saiam da chuva. Vou preparar um banho pra vocês.
- Mal conhece as visitas e já obriga a tomarem banho! Você é louco, Leandro! Louco!
- É... Você tem razão... – respondi.

Deixem-me voltar pra casa



Esse mundo é frio, congelado
Vocês o sabem, já vieram aqui
Andar por aqui queima a pele
Fere o coração, mesmo de um soldado

Selvageria, brutalidade, imbecilidade

A noite está fria
Quero meu cobertor
Ele está em casa, com os meus
Tudo o que eu amo está em casa

As palavras falham, sabe?
Na verdade nem sei mais nomear
As coisas que mais amo
Não tenho capacidade de relembrar

São idéias inconcebíveis de um mundo antigo

Mas essa noite está silenciosa
Quero os sons do lar
Então deixem o sono me levar
Só por essa noite, voltar pra casa

Porque vivendo nesse mundo
Carregando essa sensação horrível
Tudo o que eu preciso agora é disso
Ir para o meu lar, onde nada mais importa

Poderiam vocês, generais dos astros,
Conceder um dia de folga dessa tarefa?
Deixar-me esquecer meu posto
E voar no túnel pelo espaço?

Reflexões sobre a poligamia: despedaçamento e costura


Eu não poderia deixar de começar esse texto com uma fala de uma professora minha. Estou certo de que ela não se importará.
Certo dia, relutante de abordar assunto (provavelmente por ser cristã), a professora tentou trazer o assunto da sexualidade e dos “ritos” que usamos pra criarmos pares. Se enrolando pra pronunciar o que ela queria dizer, ela acabou perguntando quem eram os solteiros da turma e ninguém respondeu. Talvez ela não tivesse em mente que se declarar solteiro traz uma série de compromissos e, quiçá, danos à auto-estima. Ninguém respondeu, e a reação dela eu nunca mais vou esquecer:

- “Mas é só o Silas que é solteiro nessa sala?” – disse ela.
- “Espere um pouco, quem disse que eu sou solteiro?” – disse ela
- “Ah, você não é?” - disse ela num tom de descrença

Eu me perguntei se minha conduta mostrava isso: sempre pensei que a poligamia fosse facilmente escondida, bastando apenas não declará-la tão abertamente. Mas não foi o caso...
E não acabou por aqui.

- “Eu quis saber quem eram os solteiros pra perguntar como os rapazes paqueram” – disse ela com aquela risada de criança arteira
- “Mas quem disse que só os solteiros paqueram?” - eu comentei
- “A, mas esses são os safados” – ela disse num tom de voz baixo sem me olhar nos olhos.

Não acredito que ela tenha percebido o impacto que aquilo teve e como isso se ligou a tudo que se passa nesse mundo estranho. Depois dessa introdução só me resta fazer algumas confissões e assumir que faço parte de um grupo para o qual a sociedade dá as costas. Um grupo de “safados” que são “contra os direitos humanos” e que estão deflorando, por sua própria condição, toda a secular idéia de família. Os polígamos.

Acredito que descobrir algo assim tem algumas semelhanças e diferenças com descobrir a homossexualidade. Trata-se de uma condição, não de uma escolha; e também é uma coisa discriminada, considerada pecaminosa, moralmente incorreta; é, aliás, praticada desde que o mundo é mundo inclusive em sociedades que a proíbem. Mas, diferente dos homossexuais, os polígamos não possuem um movimento forte e politicamente engajado; não têm uma identidade atrelada à sua condição e nem locais onde realizam suas atividades. Não há quem os ampare, nem onde possam recolher nossa cabeça. Além disso, há pouca perseguição sistemática e violência física, como acontece com os homossexuais, especialmente porque a cultura masculina tende a não reprovar essa conduta. Exceto, é claro, quando isso os afeta: se sua mulher decidiu ser polígama, por exemplo. Nesse caso, os polígamos são mortos por pessoas pessoalmente afetadas enquanto que, com freqüência, homossexuais são mortos por estranhos que os perseguem por razões culturais e psicológicas.

Boa parte dos polígamos fogem da honestidade. Assim, se envolvem em relações onde se presume a monogamia e simplesmente pulam a cerca. Para alguns a verdade não é tão importante quanto amar, então vivem cada momento com seus segredos, suas vidas duplas. A respeito de tal classe de polígamos nem tenho muito a dizer. Talvez mintam pra si mesmos dizendo que o outro parceiro é somente algo do momento ou só carnal, talvez só mintam pra todos, inclusive seus parceiros e só se preocupem consigo mesmos. Talvez sejam eles os responsáveis pelo sofrimento dos demais, na medida em que criam o estereótipo de promiscuidade que se associa a tal grupo.

Há outros que estão por aí nos guetos. São com freqüência bissexuais, usuários de drogas ou simplesmente marginais. Sua anomia tem tamanha proporção que a poligamia nem é um problema. Não sei se são corajosos ou loucos, mas a realidade é que não vão ser aceitos como cidadãos decentes e dificilmente os veremos sendo publicamente respeitados. Aliás, tenho a impressão de que esses grupos marginais tendem a funcionar com mecanismos que levam seus membros à progressiva entropia: sendo eles rejeitados, revoltados, anarquistas, acabam vivendo uma vida de pouca perspectiva onde só possuem respeito entre seus pares íntimos.

Seja pelo meu temperamento, seja pela minha criação, não consigo me adaptar a nenhum dos dois.

A idéia de mentir para as pessoas que amo é repulsiva. Tal atitude denotaria apenas que amo a mim mesmo acima de todas as coisas, e isso não é verdade. Nada, pra mim, vai além do amor. Isso é mais uma realidade do que uma escolha: se não compartilho tudo, não compartilho nada. E se não compartilho nada, não há relação, não há intimidade de nenhuma forma.

A idéia de sair pro gueto simplesmente não se encaixa em mim. Não tenho os traços de personalidade que são necessários para a integração num grupo desses. Sou excessivamente tranqüilo, excessivamente pacífico, seguro, estudioso, etc. Eu sou tudo que o gueto despreza e minhas relações, de uma forma geral, são coisas que vivem à luz do dia. Posso ser anarquista, mas isso é um posicionamento intelectual sociológico e epistemológico (Feyerabend): não uma atitude, não há muito de estilo de vida nisso, mas no estilo de pensamento. Isso sem falar que, por conseqüência, as pessoas com quem me envolvo não fazem parte de guetos e não vivem, de forma alguma, qualquer tipo de anomia. São de “família”.

O resultado disso tudo é que não há um espaço na nossa sociedade onde a poligamia se encaixe e, simultaneamente, eu possa me encaixar. Relações, no meu contexto, se constroem de maneira íntima, amorosa e aberta. Na realidade, pensando bem, se não fosse pela poligamia, estaria na posição de dizer que me relaciono de maneira bem saudável. Mas o saudável é algo culturalmente constituído, e como a professora disse, quem não é monógamo é safado.

Mas o que um polígamo nessa situação pode fazer? Compartilhar, de um modo geral, significaria perder a confiança, o amor das pessoas mais próximas. Não compartilhar significaria não tê-las como próximas. O problema é que uma espécie de censura que as pessoas têm, algo que as impede de amar outras pessoas quando estão comprometidas, não é algo dado aos polígamos. Não há a experiência de um amor ofuscando, acabando com o outro. 
O que se procura é colocar as cartas na mesa, compartilhar e viver constantemente com o terror de que, num dia dessas, quem você ama não mais tolere sua condição e te deixe. Ou então acreditar na mentira de que tudo pode ficar sobre controle e viver sempre no risco de cair em tentação ou simplesmente surtar por essa vida de negação de si mesmo. Mesmo assim, não há como todo os amores se tornarem realidade, pois a esmagadora maioria das pessoas não aceitam dividir; e se aceitam, geralmente há condições específicas que são impostas pra manter a estabilidade.

Se o polígamo tiver sorte, se ele for profundamente amado, talvez consiga viver mais de um desses amores, mas não pode haver conflito de papéis. 
Isso me lembra da relação de Jung com Emma e Tony. Em seu coração e em seu discurso, pelo que sei, ele as amava e as considerava suas esposas. Mas ela nunca foi reconhecida, nunca teve filhos e nem podia participar dos almoços com a família. Por mais que eles se amassem, ela nunca pode conflitar com Emma, que era a mãe dos filhos de Jung. Talvez esse tenha sido um caso de sucesso, pois, até onde sei, o próprio temperamento de Wolff era independente demais pra levar uma vida tal como a de Emma, mas ela não foi a única. Há rumores de que Jung teve uma relação com Sabina Spielrein e cartas que parecem dar créditos a eles (ver memórias, sonhos e omissões - Dr. Sonu Shamdasani). No entanto, nesse caso não houve qualquer tipo de acordo. Ela quis Jung por completo e ele não pôde ceder. O que não significa, é claro, que ele não a amou. Apenas que houve um conflito com relação aos papéis, pois Emma Jung era, para Jung, seu fundamento, Toni Wolff era a essência e Spielrein, aquela que não teve lugar. Diríamos que esse caso foi de menos amor, de menos importância do que os outros? Creio que não. Mas de uma coisa eu sei: por mais que tenham aceitado, Toni e Emma sofreram. 

Tudo o que resta, portanto, é lutar com todas as forças para não deixar alguns amores se tornarem vividos, é se evadir do próprio coração! É ver quem nós amamos desamparado, desprotegido, sem que possamos fazer qualquer coisa a respeito. É ter para uma pessoa um lugar quente no coração e, ainda assim, assistir ela congelar diante dos olhos.

Na realidade, me vejo com o temperamento tão parecido com o de Jung em certos aspectos que chego a questionar e rejeitar certas características de sua obra, por mais que a admire. Talvez eu consiga fazer como ele, talvez eu faça como a figura que se encontra no topo desse post. Mas a realidade é que, de uma forma ou de outra, essa condição será sempre um podre, algo a ser escondido, a ser, inclusive, negado em sua existência; sempre trará, aliás, sofrimento e insegurança pra quem estiver envolvido, talvez pela bagagem cultural.

Talvez algum dia isso mude, talvez um dia um homem possa erguer sua cabeça, se declarar polígamo e ainda assim ser reconhecido como um cidadão decente que preza pelo bem de todos. Mas isso só vai acontecer que houver união.



It's not over till it's over



Paraty, Rio de janeiro

A vida tinha acabado. Nada mais restava. Ele teve um ataque de ciúmes mais intenso do que os outros. Bateu na namorada e saiu sangue. Acabou preso, mas ela retirou a queixa. Já havia mais de um mês que eles não se falavam, e seu coração estava parado. A vida não tinha mais sentido e ele até largou o emprego. Era balconista de farmácia.
À noite ele não conseguia dormir. Lembranças o assombravam. Ligou a TV e ouviu notícias de violência generalizada no centro do rio. Quando o repórter que documentava foi atacado e morto, a transmissão foi cortada e ele se preocupou. Ganhou um ânimo de vida, decidiu ir até a casa dela. Chegando perto, decidiu se esconder, já que ninguém o receberia bem. Até os vizinhos sabiam de seus ataques públicos de ciúmes e do mais recente. Ficou aquela noite toda no meio da mata.
Ele estava no topo de uma árvore, de onde tentava olhar pra dentro do quarto dela. “patético” – pensava ele – “eu já passei tantas noites aí e agora nem consigo olhar o interior”.
Ela estava como sempre, com a luz do banheiro acesa porque não gostava de dormir em total escuridão. Encontrou galhos rígidos nos quais pode se acomodar enquanto fixava o olhar na janela dela.

- Como eu pude ser tão demente? - sussurrou ele – ela era tudo.

Ele queria fazer faculdade de farmácia, mas não havia nenhuma por perto e ele não tinha disposição para se mudar. Seria muito custoso, ele teria que trabalhar muito. Preferiu se acomodar. Ela estava pra se formar veterinária, já trabalhava no consultório com a mãe. Era muita areia pro caminhão dele.
Era confuso o modo como ela lhe fazia poesias, declarações. Uma vez até compôs uma música meio desajeitada que ele desdenhou. Pensando naquele momento, ele não podia entender como ela podia amá-lo.

Ele ouviu passos de corrida pela estrada. Era nítido que o corredor que os seguia usava sapatos sociais. Não faz sentido alguém correr no meio da noite com sapatos sociais. O corredor passou perto de um pequeno lago que refletia a luz da lua. Deu pra perceber que ele estava usando uma gravata. Afinal, porque alguém correria de roupa social numa rodovia federal de madrugada?

Deve estar fugindo de uma dessas ondas de violência, talvez as pessoas estivessem sendo possuídas pelo diabo no centro da cidade. Ele só se perguntava por que Deus não fazia nada enquanto o diabo e seus lacaios possuíam tanta gente. Seriam mesmo demônios? E se fosse tudo planejado por pessoas?

Ela acendeu a luz do quarto e se levantou. Deu pra ver a sombra na cortina. Estava uma correria pela casa, ele ouvia murmúrios, mas não conseguia entender. Sabia que estavam com pressa. Ele tentou se mover pra descer, mas o galho quebrou e ele caiu.

- Cuidado cara, tem um ali. – alguém disse.

Ele ia falar, mas ouviu um berro assustador. O homem de gravata atacou dois homens que estavam escondidos num arbusto. Os gritos foram bem ouvidos pelos moradores da casa, que correram pra garagem.
Ele notou que a situação estava ficando desesperadora quando os gritos cessaram. Ele ouviu barulho de carne se rompendo, mato sendo revirado. Andou abaixado até seu carro, ou melhor, o carro de seu pai, e entrou. Ela e a família saíram em disparada pela estrada e ele ligou o motor.
De repente, um homem surgiu e bateu as mãos no vidro, da janela do motorista, sujando-a de sangue.

- Me ajuda, cara! Pelo amor de deus!

Ele não teve tempo de se recuperar do susto quando o homem foi puxado por outros dois homens. Quando o terceiro chegou, o do terno, ele pisou fundo. Mas a imagem do rosto ensangüentado e inexpressivo ficou na sua mente. Se não fosse pelo medo, esse seria ele. Um monstro destruidor e sem emoções. Mas ele tinha que salvá-la. O carro que ele dirigia era rápido, um Ecosport. Não foi difícil alcançar o UNO dela. Eles entraram numa fazenda que sinalizava “Propriedade privada, não ultrapasse”. O portão estava aberto e eles foram à direção de um casarão. Ele desligou o farol e o seguiu, mas estava bem visível com a luz da lua. Chegando lá, foi recebido com uma pistola apontada para o para brisas.

- Quem é você e o que quer aqui!? - disse um senhor de uns 60 anos com barba branca
- Sou o Rodolfo, eu segui o carro da minha namorada, quer dizer, minha ex pra proteger ela! – disse ele ofegante
- Quem é sua namorada?!
- A Fernanda, filha da Olívia.
- Então corre rapaz, porque nós vamos lacrar essa merda.

Ele saiu do carro e deixou a chave na ignição. Correu na direção da entrada e logo chegou lá. Viu janelas barradas por madeira e móveis e algumas pessoas se movimentando. Eram todos da família dela, menos esse senhor, que era um caseiro recém contratado. Não o conhecia, e por isso convidou-o tão apressadamente. Chegando lá dentro, Fernanda o viu e derrubou um copo de água que estava bebendo.

- Rodolfo! – ela gritou

Correu na direção dele e deu-lhe um abraço forte

- Quem deixou esse filho da puta entrar!? – gritou Olívia
- Fui eu senhora. Disse que era conhecido – disse o homem.
- Porra, Marcinho, esse cara aí foi aquele vagabundo marginal que bateu na Fernanda!

Enquanto eles falavam, a vontade de viver de Rodolfo retornava a ele enquanto sentia novamente o calor dela. Ela o largou e ficou parada olhando pra ele enquanto todos esperavam pra ver sua reação.

- Você ficou me seguindo por aí esses dias, não ficou? - perguntou ela
- Algumas vezes sim.
- Por quê?
- Achei que alguém iria querer te passar cantada.

Ela fez uma expressão de nojo.

- Eu sempre quis acreditar que você era muito mais, que no fundo você era tudo. Mas a verdade é que todos estão certos e eu que fui teimosa. Você é um covarde, um merda. Já viu que todo mundo aqui é da minha família, que ninguém aqui vai me comer? Ou você acha que meu tio vai dar em cima de mim?
- Vai embora daqui, seu desgraçado! – gritou o tio
- O tio Alberto ta certo, Rodolfo. Vai embora. Eu não quero nunca mais ver você. Acabou, entendeu? Acabou!
- Mas, eu só queria ver se você está bem...
- Não importa, some daqui! – gritou Fernanda segurando o choro
- Se ele sair, vai acabar morto. Eles estão vindo pra cá – disse Marcinho.
- Eu não ligo mais de morrer. Só queria restaurar um pouco da honra que um dia eu tive. Quero que saiba, Fernanda, que tudo o que fiz foi mesmo porque sou um merda. Eu sempre me senti uma sombra fraca, um reflexo pálido de tudo o que você queria e esperava que eu fosse. Sempre soube que você é boa demais pra mim e nunca deixei de me sentir inseguro. Em cada rua, em cada esquina, poderia surgir alguém melhor, mais merecedor. E você faz amizade com os outros tão facilmente que isso me enlouqueceu! Enfim, só queria dizer que te amo. Se eu morrer, a última coisa que vou lembrar é do teu rosto.
- Prego a porta? - disse Marcinho

Os familiares ficaram confusos, mas Rodolfo saiu. Desceu uma pequena escadaria e virou-se pra olhar pra Fernanda por uma última vez quando um deles o atacou por trás. Uma mordida fatal no pescoço.

- Derruba ele! – gritou Alberto pra Marcinho

Rodolfo começou a lutar contra o invasor até que um tiro certeiro foi disparado. Atravessou a cabeça do monstro e se alojou na coluna de Rodolfo, que caiu no chão imóvel, inconsciente. A porta foi trancada.

Pode-se cruzar com ele nessas redondezas. Há rumores de que ele se arrastou pra longe depois que “despertou”, atrás de sons na mata, e de que quando os refugiados finalmente fugiram seu corpo não foi morto.

Sobre a imposição da lei de Biossegurança



Introdução

O presente trabalho tem como objetivo ilustrar a teoria de Howard S. Becker com o exemplo da lei de Biossegurança, parcialmente aprovada em 2007 no congresso brasileiro. O intuito é mostrar como cada grupo envolvido atuou na imposição dessa lei, ilustrando essas ações com declarações de membros de cada um dos lados do conflito. Vamos, ainda, demonstrar como cada um parte de uma noção de vida diferente e como a lei, se ficasse fixa com os argumentos de apenas um lado, prejudicaria diretamente as instituições envolvidas: A Igreja e a Ciência.

Conflitos ideológicos

Os grupos religiosos cristãos se engajaram na discussão da lei de biossegurança com o intuito de impedir que qualquer tipo de pesquisa e tratamento com células tronco embrionárias fosse feita. Nesse conflito, diversos argumentos falaciosos foram utilizados por religiosos.

“A mídia tem explorado os testemunhos de portadores de doenças crônicas para as quais ainda não existem tratamentos que, justa e honestamente, buscam a cura para seus males. Esses testemunhos muitas vezes visam sensibilizar a opinião pública no sentido de se obter a rápida aprovação de leis que autorizem os cientistas a utilizarem embriões humanos como se isso pudesse "apressar" os resultados desses trabalhos de pesquisa, o que não é verdade porque as pesquisas com células-tronco retiradas de outros tecidos humanos (placenta, medula, entre outros) continuam se desenvolvendo a passos largos, no sentido de se alcançar os benefícios para a saúde de todos, o que é também o anseio da Igreja.” ( Pe. Vando Valentini - Coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC/SP)

Pode-se notar que o padre procura ocultar o fato de que células tronco totipotentes e pluripotentes, que são mais eficientes para a pesquisa com células tronco, só podem ser encontradas em embriões. Claro que ele usa esse argumento por conta de toda uma visão de mundo. Isso fica ilustrado na fala do autor no mesmo artigo[1]:

“O que fazer com as pessoas doentes que poderiam esperar ser curadas a partir do uso da vida de embriões humanos? É preciso cuidar delas. Tenho certeza de que ninguém quer salvar sua vida à custa da vida de outro homem inocente.”

Aqui podemos perceber que há a noção de homem inserida no zigoto, dependente de toda uma visão de mundo, segundo a qual o zigoto já possui uma alma. Ora, nos discursos que afirmam que a vida começa na nidação[2], ou que começa na formação do sistema nervoso central a noção de alma fica em segundo plano, dando lugar à noção de que a vida é um fenômeno biológico. Ter essa crença disseminada como conseqüência das práticas de pesquisa e de tratamento significa enfraquecer o poderia político da igreja. Isso significa, basicamente, que a igreja está se defendendo enquanto instituição contra uma prática que lhe será prejudicial.
Outro exemplo ilustrativo dessa posição parcial que visa defender os interesses da igreja consta na fala de Dalton Luiz de Paula Ramos[3]:

“Um dos pontos que se coloca é o uso de zigotos/embriões humanos como fonte das células tronco, que suscita duas perguntas: Os zigotos/embriões são a única fonte possível dessas células? Qual o estatuto dos zigotos/embriões humanos?
À primeira pergunta, muitos cientistas respondem NÃO. Afirmam que, com células tronco retiradas de tecidos de indivíduos adultos, é possível obter sucesso terapêutico.
Quanto à segunda pergunta, o dado incontestável da genética é que, desde o momento da fecundação, ou seja, da penetração do espermatozóide no óvulo, os dois gametas dos genitores formam nova entidade biológica, o zigoto, que carrega em si um novo projeto-programa individualizado, uma nova vida individual.”

É explícito que o autor busca exibir apenas parcialmente a questão da fonte das células, pois não é útil para a sua causa exibir a diferença gritante entre as células-tronco de tecidos adultos e a dos zigotos. Além disso, ele usa o termo embriões junto com o do zigoto, parecendo indicar que pesquisas são feitas com embriões. Mas não são.
No segundo argumento, voltamos à posição de que o zigoto, somente por possuir um código genético diplóide, é uma pessoa. Isso depende da noção de que há um espírito nesse zigoto. Caso contrário, só consideraríamos uma pessoa em potencial aquele zigoto que pelo menos sofreu a nidação, e que se encontra em desenvolvimento. O objetivo aqui não é falar contra a noção de espírito, mas deixar claro que essa não é uma noção científica, mas que é apropriada pelos religiosos como um dado científico incontestável porque isso dá ao argumento deles maior peso, por mais que seja falacioso, diante dos leigos. E isso é suficiente para gerar força política no sentido de impor a lei.




[1] http://www.ghente.org/temas/celulas-tronco/artigos_padre.htm
[2] Fixação do zigoto no útero materno
[3] Professor Associado da Universidade de São Paulo - http://www.ghente.org/temas/celulas-tronco/artigos_dalton.htm