Enganos no amor

 

O destino está traçado
Sempre esteve ao que parece
E ignorou completamente
Minhas acusações de engano

Primeiro se mostrou em loucura
Depois em volúpia
Mais tarde se tornou um sonho
E depois uma invenção arbitrária

Em cada fase, em cada momento
Identifiquei falhas e erros
Enganos no amor, do amor
Sobre o amor

A loucura me matou
E me fez renascer
Sem ela eu não chegaria aqui
Louco, são e nenhum dos dois

A volúpia destruiu a ordem
Tudo se reduziu ao impulso
Soltou meus braços duros
Aprendi a dançar

Meu sonho me mostrou o caminho
Eu aprendi a andar
Num caminho de mentira
Minhas pernas estão fortes por isso

E a invenção abriu meus olhos
Não sou senhor do meu destino
Nem mesmo sei quem sou
Como posso dizer

Que há enganos no amor?

Um esboço sobre a Dicotomia Feminino/Masculino – Eros/Logos – Anima/Animus

 
 Quando Jung produziu sua obra e introduziu os conceitos de Anima/Animus, que declarou análogos aos de Eros/Logos ou Yin/Yang, a sociedade ainda era muito tomada pela Persona. Noutras palavras, a sociedade ainda era muito presa à tradições comportamentais que definiam estereotipadamente a função da mulher e a função do homem.

A mulher (Anima, Yin, Eros) acolhe e é sentimental. É uma grande mãe e voltada para o externo: Os filhos, o marido, e todo o círculo social. Normalmente não possui força física considerável, não se envolve em conflitos físicos (que não sejam ridículos) e não vive pairando sobre abstrações filosóficas.

O homem(Animus, yang, Logos) É racional e lida com idéias, sejam elas práticas ou abstratas. Além disso é líder, vai para guerras e luta, o que envolve agressividade. Normalmente não possui grande sensibilidade e não se importa profundamente com as relações pessoais.

A mulher sente, o homem pensa. A mulher acolhe, o homem invade. A mulher é úmida e macia, o homem é seco e duro (sim, isso é uma analogia sexual).

E na época de Jung, por mais que a pessoa não fosse perfeitamente adequada à “função” prognosticada pro seu sexo, havia intensa pressão coerciva por parte da sociedade para que o homem tomasse para si a função “adequada”. Havia uma estereotipação coletiva, da qual Jung se serviu para definir os conceitos de Anima e Animus. Anima é o feminino no homem, e Animus o masculino na mulher. Não só isso, mas tais arquétipos são como um portal para o inconsciente.

Ora como na época de Jung o masculino era estereotipado, Jung associou Anima ao feminino do Homem, pois o homem tinha a tendência de não desenvolver a própria “feminilidade”, que permanecia inconsciente, e o mesmo ocorria com a mulher. Mas tal conceito só ocorreu pelo fato de que, naquela época, a cultura ainda tinha essa barreira entre os sexos¹, que foi radicalmente atacada pelo movimento feminista.

Com a mudança na nossa cultura, o homem pode se “feminilizar” e a mulher se “masculinizar”, embora ainda existam resistências. Isso ocasionou algo como um incoerência no sistema de pensamento de Jung, que foi desenvolvido com material empírico de sua época.

Isso porque, na nossa época, o homem passou a poder demonstrar sua feminilidade e a mulher sua masculinidade. Daí decorre que surgiram o que se chama de Macho Beta: um homem que exerce a função que seria, no passado, a da mulher. O Macho beta tende a se unir com uma “Fêmea Alfa”, que agrega em si mais características tidas por masculinas do que femininas. Nesses casos o que ocorre é que a Anima do homem, ou seja, sua imagem feminina interna, é “masculinizada” e a mulher tem sua imagem masculina interna “feminilizada”.

Assim, os conceitos de Anima e Animus de Jung se tornam nebulosos para definir a realidade do nosso “Zeitgeist” e precisa ser revisto.

Há duas saídas conceituais, ambas que realmente alteram a teoria Junguiana original e que tornam a questão coerente.

Antes de falar sobre isso, é bom salientar que, ao postular a existência do feminino no homem e do masculino na mulher, Jung afirma que nossa mente é psicologicamente andrógina.

Uma das soluções propostas é de que o homem possui tanto Anima e Animus em sua constituição psíquica, assim como a mulher. Dessa forma, embora sua característica somática seja masculina, ele pode efetivamente ser Anima e ter um Animus. O mesmo se aplica à mulheres.
Isso trás diversas implicações, dentre as quais a de que poderia haver uma relação entre tal dinâmica e a homossexualidade. Confesso que não me aprofundei com cuidado nessa questão, mas pelo que expus o juízo racional me leva a crer que não há coerência em tal colocação.

Outra solução, precisamente aquela que me convenceu, é que o limite entre masculino e feminino é relativamente arbitrário. Assim sendo, a Anima do homem pode conter conteúdos que são tidos como masculinos e o Animus da mulher pode conter características femininas.
Na verdade, Anima/Animus é como um(a) porteiro(a) do inconsciente. Daí decorre que se, num homem é o lado masculino que está reprimido, então é para isso que o Porteiro o levará e vice-versa.
Noutras palavras, outro conceito deve ser usado para substituir o de Anima e Animus, porque os limites entre as funções psicológicas dos sexos se tornaram mais frouxos.

Aliás, tal questão entra em profunda contradição com o problema dos tipos: Atribuir à Anima certos caracteres “femininos” implicaria dizer que homens não podem ter o tipo extroversão com sentimento², por exemplo, e que esse é um tipo exclusivamente da mulher. Na realidade vemos que não é assim que acontece, embora seja raro.

Deixo claro, nesse texto, que não estou abordando a opção sexual e nem nada relacionado a isso: a questão aqui tratada é meramente abstrata, embora possa envolver material empírico, e não aborda tais questões, mas apenas a efemeridade dos conceitos de masculino e feminino psíquico no nosso tempo. Até porque um homem homossexual pode muito bem se enquadrar na definição de masculino e o mesmo se aplica à mulher.

Com o valor equivalente entre as funções atribuídas à mulher e àquelas atribuídas aos homens, é útil salientar que todas essas qualidades deveriam ser desenvolvidas por quem tem interesse em levar uma vida plena do ponto de vista psicológico. Eros e logos, ou, segundo a minha definição, Liberdade e Amor.

___________________ X ___________________ X__________________


1) Poderíamos especular sobre o motivo de que na grande maioria das sociedades a função da mulher é o que é por duas perspectivas, que quero explorar nesse texto (que não tem pretensão de exatidão nem mesmo dentro dos autores citados, quanto mais do ponto de vista metafísico e psicológico).
A primeira perspectiva é pragmática, e, embora eu não me familiarize com ela, possui sentido do ponto de vista racional e merece menção: Por sua função determinada nas sociedades, a mulher teria formado uma estrutura física(maior resistência nas pernas para sustentar peso de bebê no colo e na barriga) e psicológica por seleção natural: simplesmente foi uma vantagem evolutiva pra mulher assumir tal postura e característica, e por isso que se convencionou assim.
No caso do homem dentro dessa teoria, sua função e condicionou a executar funções que exigiram mais força e raciocínio lógico, então ele desenvolveu tais características por pressão seletiva.
Outra perspectiva, que me agrada psicologicamente, é a de que, do ponto de vista somático e psicológico, ambos os sexos já estavam condicionados a tais funções, e que, como nas civilizações primitivas os indivíduos possuíam (e possuem em tribos isoladas) pouca ou nenhuma consciência individual, a tendência era simplesmente assumir a função que seu corpo tornava mais fácil. Daí decorre que isso moldou a nossa cultura.
Colocando parte da primeira perspectiva em adendo, poderíamos dizer que isso acabou gerando uma pressão seletiva contra os que não se adequavam à função atribuída ao próprio sexo. No entanto, nossa cultura atual transcendeu tais paradigmas, o que coloca em cheque a intensidade com que a pressão seletiva moldou o comportamento de homens e mulheres. Aliás, coloca em cheque até a idéia de que houve pressão seletiva significativa.

2) Estou me referindo à tipologia introduzida por Jung em seu livro Tipo psicológicos. O tipo em questão é focado para o mundo de fora e orientado por sentimentos. Falando numa linguagem prática, se trata de uma pessoa que preza os valores trazidos do mundo de fora e que tem a tendência se usar tais valores sentimentais antes da razão. Geralmente são valores apaziguadores do tipo “tudo mundo está certo”, onde a consideração pelas pessoas é superior a qualquer argumento. Esse tipo era mais comum em mulheres na época de Jung, mas, com o tempo e a mudança na nossa cultura, se tornou também muito freqüente em homens.

Sobre a vocação para a profissão de analista


O presente texto é um fragmento do livro psicoterapia, De Marie-Louise Von Franz. Para o leito intuitivamente atendo, ressalto a conexão profunda entre tais palavras e meu segundo livro Biohazard, a limpeza.

Profissão e vocação

Uma das questões mais difíceis no treinamento dos futuros analistas é a que concerne sua adequabilidade à profissão. Mesmo o programa mais abrangente que se dedique exclusivamente a fornecer o indispensável conhecimento, por mais necessário que seja, não pode transmitir às pessoas aquele "algo" que cria nelas uma emanação curativa. É verdade que a integridade moral e a necessidade de ajudar são indispensáveis, mas sozinhas não são capazes de produzir o resultado em questão. De acordo com minha experiência, todo aquele que dedicou longo tempo em sua análise ao reconhecimento consciente de seus problemas tornou-se atraente para as pessoas que o cercam. Elas sentem que ele possui algo que as atrai. Elas começam a apresentar seus sonhos e problemas para ele fora do ambiente profissional. Não obstante, parece-me que nem mesmo isso é sempre prova suficiente da adequabilidade da pessoa. Talvez ela tenha outras obrigações particulares a cumprir para as quais ela tem uma maior vocação do que passar adiante o estado de consciência relativamente mais elevado que alcançou. Lembro-me de uma mulher que estava nessa situação. Embora os pré-requisitos tivessem sido preenchidos, seus sonhos não pareciam apoiar a possibilidade dela se dedicar ao trabalho analítico. Somente depois que seus dois filhos saíram de casa é que ela teve o seguinte sonho: "Uma voz me dizia que agora eu podia construir uma piscina pública no pátio de minha casa e trabalhar ali como piscineira". Obviamente significava que agora ela podia tornar possível para os outros mergulharem nas águas profundas do inconsciente e garantir que eles iriam aprender a nadar nessas águas sem afundar. Ela se tornou uma prendada analista. É evidente que antes disso sua família precisava mais dela, o que não possibilitava que ela pudesse despender sua energia com terceiros.

Um problema difícil se apresenta pelos possíveis estagiários que são possuídos pelo arquétipo da cura. A imagem arquetípica do curador está relacionada com a do puer aeternus, filho-deus criativo da Grande Mãe. Número considerável de jovens que têm um complexo materno tem a tendência de se identificar com esse arquétipo. Eles costumam manifestar uma qualidade "maternal" como relação a todos que são indefesos ou sofredores, e freqüentemente também têm um dom para o ensino1. A partir desse ponto de vista, eles seriam adequados à profissão de analista; no entanto, por causa de sua identificação com o arquétipo, esses jovens sofrem de uma inflação. Nesses casos, é proveitoso compeli-los a empreender um sério estudo, talvez até estudos na área da medicina, porque a pessoa que está inflada não gosta de trabalhar; ela acha que já sabe tudo melhor e mais profundamente do que os outros. Um trabalho árduo, portanto, aliado aos necessários esclarecimentos através da análise, com freqüência tornam possível superar a inflação. É importante para essas pessoas compreender que é o consciente que, em última análise, causa e dirige o processo de cura, e que o analista é apenas aquele que ajuda e apóia o processo, e não seu autor. Gostaria de ilustrar o que acabo de dizer através do sonho vocacional de um jovem colega, que o teve na noite anterior à sua primeira sessão de análise. Um pouco mais cedo, na mesma noite, ele estivera meditando a respeito de o que efetivamente eram uma interpretação "adequada" do sonho e a análise no sentido junguiano. Ele sonhou então o seguinte:

Estou sentado em uma praça retangular e aberta, em uma velha cidade. Um jovem, vestindo apenas calças, senta-se diante de mim de pernas cruzadas. Seu tronco é forte e cheio de vitalidade. O sol brilha através do seu cabelo louro. Ele conta seus sonhos para mim e quer que eu os interprete para ele. Os sonhos são como uma espécie de tecido que ele estende diante de mim, enquanto os narra. Cada vez que relata um sonho, uma pedra cai do céu e acerta o sonho. Isso faz com que o sonho se despedace. Quando apanho os pedaços na mão, fica claro que são feitos de pão. Quando os pedaços do sonho se soltam, revelam uma estrutura interior que lembra uma escultura abstrata moderna. A cada sonho que é narrado, outra pedra cai sobre ele, e assim uma parte cada vez maior da estrutura básica, que é feita de porcas e parafusos com pontos de solda, começa a aparecer. Eu digo ao jovem que isso mostra como expor o significado de um sonho - ponto por ponto. Nesse ponto, surge a idéia de que a interpretação dos sonhos é a arte de saber o que jogar fora e o que reter, que também é a maneira como as coisas são na vida. A cena do sonho então muda. O jovem e eu estamos agora sentados de frente um para o outro, à margem de um rio largo e maravilhosamente belo. Ele ainda está me contando seus sonhos, mas a estrutura construída pelos sonhos assumiu uma forma diferente. Eles não formam uma pirâmide composta de porcas e parafusos, e sim uma pirâmide constituída de milhares de pequenos quadrados e triângulos. É como um quadro cubista de Braque, sendo porém tridimensional e vivo. As cores e as nuanças dos pequenos quadrados e triângulos estão constantemente se modificando. Expliquei que é essencial à pessoa manter o equilíbrio de toda a composição, sempre opondo imediatamente a uma mudança de cor uma modificação compensatória do outro lado. Essa questão de equilibrar as cores é incrivelmente complexa, porque todo o objeto é tridimensional e está em constante movimento. Olhei então para o alto da pirâmide do sonho. Não há nada lá. Esse é, na verdade, o único ponto em que toda a estrutura se aglutina, mas nesse ponto existe um espaço vazio. Quando olho para ele, começa a irradiar uma luz branca.

Uma vez mais a cena do sonho muda. A pirâmide permanece, mas agora é feita de material fecal solidificado. O topo ainda irradia. De repente compreendo que é como se o cume invisível se tornasse visível através do excremento sólido, e, inversamente, o excremento torna-se visível através do topo. Examino profundamente o excremento e percebo que estou olhando para a mão de Deus. Em um momento de iluminação, compreendo porque o pico é invisível: é a face de Deus.

Mais uma vez o sonho muda. A Dra. von Franz e eu estamos caminhando ao longo do rio. Ela diz, rindo: "Tenho sessenta e um anos, não dezesseis, mas os algarismos de ambos os números somam sete".
Acordo abruptamente, com a sensação de que alguém batera com força na porta. Para meu espanto, o apartamento está completamente quieto e vazio.

Na linguagem dos povos primitivos, esse é um "grande" sonho ou, na linguagem de Jung, um sonho arquetípico, que encerra um significado suprapessoal, universal. Como já o interpretei em "A auto-realização na terapia individual de C. G. Jung", que começa na página I, recomendo ao leitor que releia essa discussão. No atual contexto, o importante é apenas o fato de que no sonho o incosnciente vem à tona como ponto principal do tratamento, que a mão de Deus é vista no "humano, demasiadamente humano", e que o trabalho no desenvolvimento pessoal continua. Esse parece ser o aspecto crucial neste caso.

Esse grande sonho leva meu jovem colega para bem longe de seus temores e responde às suas perguntas com uma filosofia de vida, no centro da qual reside a questão da auto-realização. Toda a situação é apresentada como um acontecimento que ilumina meu colega. Isso não deve, contudo, levar-nos erroneamente a pensar que a análise não requer um esforço da parte do ego. Sabemos, a partir da experiência, que a análise envolve um trabalho árduo e requer muito conhecimento. Esse sonho, que apresenta o trabalho como mero acontecimento, importa em uma compensação, pois o meu colega, em sua ruminação que precedeu o sonho, levou seu ego e o papel do terapeuta excessivamente a sério. As pacientes que na vida real lhe haviam sido designadas, duas mulheres jovens, não aparecem no sonho; em vez disso, o paciente, o "sofredor", é uma figura interna no meu colega, um pedaço do seu Si-mesmo.

O sonho mostra que a parte principal do desenvolvimento interior do analista é algo puramente entre seu ego e o Si-mesmo (ou, em uma linguagem antiquada, a imagem de Deus dentro dele). O sonho também significa claramente que, para meu colega, é importante perceber a "mão de Deus" que governa o destino humano, em vez de querer "fazer alguma coisa" ele mesmo.

Toda a verdade psicológica pode ser, e até deve ser, revertida: nenhum analista deveria deixar de ter um sólido fundo de conhecimento, o mais abrangente possível. Freqüentemente, tem sido salientado que os psicólogos que não possuem treinamento médico facilmente não se dão conta dos estados psicossomáticos. É de indubitável importância que o analista que não é médico aprenda in totum a sintomatologia das doenças psicossomáticas, para que seja capaz de encaminhar ao médico os pacientes que precisam de tratamento clínico. Mas também existem outras áreas com relação às quais um conhecimento completo me parece indispensável. Lembro-me aqui de um estudante mexicano que estava em sua análise de treinamento. Eu tinha a sensação de que na verdade não o compreendia, e ele também parecia incapaz de entender o que eu tinha a dizer. A causa de tudo isso eram completamente misteriosa para mim, pois eu gostava muito dele. Ele então me trouxe o seguinte sonho:

Ele viu na bifurcação dos galhos de uma árvore uma grande pedra obsidiana. Quando ele avançou na direção dela, a pedra pulou da árvore e começou a segui-lo. Ele sentiu que ela era muito perigosa. Quando fugia, ele deparou com alguns trabalhadores que haviam cavado no chão um buraco retangular. Eles indicaram a ele, por meio de sinais, que ele deveria entrar no buraco e ficasse imóvel no meio dele. Quando ele fez isso, a pedra obsidiana que o seguia foi ficando cada vez menor e, finalmente, deitou-se aos pés dele como um pequeno seixo domesticado.

Quando ouvi esse sonho, exclamei: "Qual a sua relação com o deus Tetzcatlipoca?" Ele então desabafou. Disse-me que era três-quartos asteca. Ele não havia mencionado o fato em sua anamnese, porque no México, ao que parece, o preconceito racial ainda predomina. De repente, eu o compreendi. Interiormente, sem ter consciência disso, ele vivia na tradição espiritual dos astecas, mas havia negado isso dentro de si mesmo. Com esse sonho, sua individuação teve início bem como sua criatividade intelectual. Tetzcatlipoca, a suprema divindade asteca, tornou-se seu guru interior na imaginação ativa.

Mas o que teria acontecido a essa análise, se eu não soubesse que a obsidiana era um símbolo do deus Tetzcatlipoca? É claro que uma analista experiente não pode conhecer todos os temas mitológicos existentes, que montam a centenas de milhares. Por conseguinte, é importante educar o analista em perspectiva para que ele não interprete os sonhos de maneira precipitada e, sim, que continuamente se dê ao trabalho de procurar informações na literatura especializada dos símbolos e, além disso, precisa ser treinado para saber onde procurar. Afinal de contas, o médico também tem manuais que pode consultar para obter pormenores sobre medicamentos e sintomas. Na análise junguiana, o conhecimento da mitologia é significativamente mais importante do que na análise em outras escolas. Estas geralmente fundamentam sua abordagem em uma teoria de sonhos existentes, que desde o início sugere certas interpretações. Na abordagem junguiana existe o princípio de que todo o sonho expressa algo ainda desconhecido, algo novo para o paciente. Enquanto o analista está lidando com as imagens oníricas do incosnciente pessoal, um cuidadoso registro das associações do paciente freqüentemente são suficientes. Mas no caso de imagens arquetípicas, as pessoas amiúde têm muito pouco a dizer sob a forma de uma associação. Neste caso, é necessário procurar um material mitológico objetivamente comparável.

Embora esse problema diga principalmente respeito ao treinamento intelectual e ao conhecimento do futuro analista, não devemos nos esquecer do sentimento, ou seja, do coração. Por mais inteligente que um analista insensível possa ser, nunca vi nenhuma pessoa desse tipo curar alguém! E o "coração" não pode ser instilado. A pessoa que não o possui, na minha opinião, é a menos adequada para a profissão. Não obstante, existem aqueles que realmente têm sentimento e capacidade de sentir compaixão, mas não ousam expressá-lo. Esses indivíduos podem ser ajudados, através de treinamento, a se tornarem bons analistas.

Com efeito, idealmente falando, o analista precisa ter treinado as quatro funções da consciência. Precisa da função sensação, porque tem que ser realista e capaz de ver os fatos internos e externos para poder funcionar. Nunca deveria acontecer (embora eu já o tenha testemunhado) que o analista não saiba nada a respeito da situação financeira do paciente, ou não perceba que este não está se alimentando bem. A intuição, é claro, também é indispensável, porque sem ela é impossível compreender a função prospectiva e prognóstica dos sonhos, bem como adivinhar todas as coisas que o analisando deixou de contar, o que é, geralmente, particularmente importante.

É claro que é quase impossível, sob o aspecto prático, que todos os analistas sejam tão perfeitos e completos a ponto de terem assimilado as quatro funções da consciência. Freqüentemente precisamos ficar satisfeitos em tornar o futuro analista consciente de quais são suas funções não desenvolvidas, para que ele conheça suas fraquezas e fique atento a elas e, nos casos de incerteza, quando houver motivo para suspeitar de que algo na análise não está indo bem, para que ele se consulte com um colega.

Os problemas do conhecimento e do desenvolvimento das funções da consciência estão relacionados com o estado de normalidade do futuro terapeuta, com seu ajustamento ao mundo exterior e à sociedade. Mas a palavra vocação está relacionada com algo ainda mais profundo e essencial - a ligação com Deus ou com os deuses, ou seja, com as forças que se manifestam dentro da psique. Se examinarmos isso de uma maneira histórica, veremos que na Idade Média não era particularmente a pessoa "normal" que era considerada como tendo vocação para ser um benfeitor da psique ou da alma (embora ele também tivesse que ser relativamente normal), e sim o padre; ou então as pessoas procuravam ajuda no túmulo dos mártires ou dos santos, imaginando que a influência sobrenatural da personalidade deles talvez curasse aqueles que tinham distúrbios psicológicos. Se recuarmos mais na história, a cisão especificamente cristã entre religião e medicina nos vem à mente. Se recuarmos ainda mais, chegamos à figura do médico-sacerdote, que trabalhava, por exemplo, nos lugares consagrados a Asclépio (Cós, Epidauro e outros).2 Aprendemos, por exemplo, com Apuleio, que vivia a serviço da deusa Ísis como um katocho (internado voluntário)3, o que a vocação significava naqueles dias.

O sacerdote-curador da última fase da Antigüidade é uma variante arquetípica do tipo curandeiro ou xamã encontrado no mundo inteiro. Para ele, a vocação continua a encerrar o significado original da palavra: um chamado dos deuses ou dos espíritos para que ele se torne um curador. Os xamãs (bem como muitos dos curandeiros e curandeiras de outros povos) passam por período específico de treinamento e desenvolvimento. São chamados por espíritos do clã ou por outros espíritos, freqüentemente contra a vontade deles. "Antes que o xamã se apresente, a alma da pessoa destinada a essa função é tomada por espíritos e arrastada para o mundo subterrâneo ou o mundo superior."4 As almas dos futuros xamãs são então colocadas em ninhos de diferentes níveis nos galhos de uma árvore, sendo geralmente incubadas e criadas por uma mãe do reino animal sob a forma de um corvo ou outro pássaro, ou por um alce ou veado alado, etc. Essa mãe do reino animal é o alterego do xamã, seu duplo, seu espírito protetor e seu princípio vital. Às vezes, ela devora o xamã e o dá à luz novamente, ou então o choca enquanto ele está no ovo. Além disso, a iniciação xamanística geralmente também consiste, como sabemos, na mutilação do candidato e da sua redução a esqueleto. Este último representa a substância básica imperecível a partir da qual o xamã renovado pode ser reconstituído. Nem sempre o novo xamã está no controle de sua nova forma; às vezes, ele a encontra apenas nos momentos cruciais, durante a iniciação ou na hora da morte, mas é através desse alterego interior que ele realiza suas curas.5

A partir do ponto de vista da psicologia profunda atual, essa experiência xamanística importa em sofrer uma invasão do incosnciente coletivo e ter êxito ao lidar com ela. Quando a análise de treinamento do futuro analista permanece presa à discussão de problemas pessoais, de acordo com minha experiência essa pessoa nunca se torna, mais tarde, um analista eficaz. Somente quando experimenta o infinito na sua vida, como Jung o formulou, é que a vida encontra significado. Caso contrário, ela se perde em superficialidades.6 Poderíamos ainda acrescentar que essa pessoa só poderá oferecer aos outros algo superficial: bons conselhos, interpretações intelectuais, recomendações bem intencionadas voltadas à normalização. É importante que o analista viva interiormente no que é essencial, porque assim ele pode conduzir o analisando ao centro interno dele. Certo xamã disse adequadamente a um pedaço de madeira que ele queria transformar em tambor: "Liberta tua mente da contenda e da discórdia, lariço; tu te transformarás em tambor".7

Os símbolos do espírito animal-mãe, do tambor, da árvore e de muitos outros, em tão grande número que é impossível descrevê-los todos, são, sob o aspecto da psicologia junguiana, símbolos do Si-mesmo. Na tradição xamanística, o futuro curador não apenas precisa ter sofrido uma invasão do incosnciente coletivo, como também ter chagado ao seu núcleo, ao que Jung chamava de Si-mesmo. Estranhamente, com freqüência o Si-mesmo primeiro confronta a pessoa de maneira hostil, como algo explosivo que poderia até provocar a loucura.8 Os Tungus siberianos têm consciência disso. Eles dizem até que antes de a pessoa se tornar xamã, precisa ser molestada pelos espíritos durante alguns anos. Trata-se das almas de falecidos xamãs que fazem com que ela tenha delírios. Freqüentemente eles são aqueles que a mutilam durante a iniciação.9

Certo Buryat, por exemplo, ficou doente durante quinze anos. Ele corria nu, a esmo, no inverno, e "se portava como um idiota".10 Depois, encontrou seu espírito auxiliador, que lhe perguntou: "Por que você está se comportando dessa maneira? Você não nos conhece? Seja um xamã. Dependa de nós, seus utcha [antepassados = espíritos auxiliares]. Você concorda?" Ele consentiu, submeteu-se aos ritos de iniciação e começou a agir como um xamã: "onde quer que vá, ele cura e faz o bem". É estritamente proibido agir como xamã enquanto o período da iniciação não termina e o iniciado não está curado da sua doença iniciatória.11
Tudo o que dissemos aqui sobre o xamanismo dos povos circumpolares se aplica, de maneira surpreendente, à problemática vocacional dos terapeutas atuais. A pessoa que não tenha tido acesso às profundezas do inconsciente, e visto ali "a natureza de todos os espíritos da doença", dificilmente pode possuir uma empatia real e suficiente com relação ao grave sofrimento psíquico dos seus semelhantes. Ela só os tratará de acordo com as regras, sem jamais ser capaz de sentir empatia por eles, e este é freqüentemente o fator-chave para os pacientes. Além disso, aquele que começa prematuramente a agir como xamã, antes de haver superado sua doença iniciatória, é uma visão extremamente familiar. Muitos jovens entusiastas querem começar a tratar as pessoas desde os primeiros dias da sua análise de treinamento, antes de terem conseguido lidar com os próprios problemas e os conteúdos de seu incosnciente. Ao fazer isso, em participation mystique com um paciente, eles geralmente acabam no setor cego deste último. O resultado disso é uma folie à deux e não uma cura; ou então o paciente é inteligente o suficiente para detectar que esse suposto "médico" não está pisando em terreno muito firme. "Aquele cara está mais deprimido do que eu", disse-me, certa vez um analisando que estava servindo de "cobaia" para um "curador" ainda não plenamente desenvolvido.

Tem sido afirmado que os xamãs e curandeiros têm muita coisa em comum com as pessoas mentalmente doentes, ou pelo menos com aquelas que são psicologicamente instáveis, mas Eliade salientou, por exemplo, que os esquimós conseguem distinguir claramente uma doença "xamanística" de um caso comum de distúrbio mental.12 No decurso da doença iniciatória xamanística, o iniciado consegue encontrar a própria cura, o que é precisamente o que a pessoa comum que sofre de doença mental não consegue fazer. Além disso, os xamãs são os indivíduos criativos, os poetas e os artistas, das suas comunidades. Isso traz à baila uma questão que também é importante para os terapeutas de hoje - o chiste popular está bastante familiarizado com a figura do psiquiatra que é louco.13 Com relação a isso, gostaria de me associar à perspectiva dos esquimós: a pessoa que consegue curar a si mesma não é a pessoa doente e, sim, aquela capaz de ajudar os outros, pois essa pessoa está intacta em seu núcleo mais íntimo e possui a força do ego, dois pré-requisitos indispensáveis à profissão de terapeuta. Ela sofre sua doença iniciatória não por causa de uma fraqueza, e sim a fim de se familiarizar com "todos os tipos de doenças", para saber a partir de sua experiência o que significam a possessão, a depressão, a dissociação esquizóide, e assim por diante.

Tampouco seu desmembramento iniciatório é esquizofrenia. De acordo com a descrição mitológica, trata-se de uma redução ao esqueleto. Mas o que isso significa segundo os povos que criaram esses mitos é o indestrutível, o eterno no ser humano, e também aquilo que é perpetuado através da continuidade das gerações. Transportado para a linguagem atual, significa que o iniciado passa por uma "análise" no sentido de uma dissolução de todas as suas características não autênticas - por exemplo: convencionais ou infantis -, a fim de conquistar o caminho em direção ao que ele é em seu verdadeiro ser. Na linguagem junguiana, significa que ele se torna individuado, uma personalidade sólida que não é mais um futebol de afetos internos e projeções ou de tendências e modismos externos da sociedade.

No contexto etnológico, contudo, o curador também tem uma sombra específica, ou seja, essa vocação também possui um contra-aspecto sombrio. Trata-se da figura do xamã ou curandeiro demoníaco. A forma mais superficial disso é o terapeuta que é governado por um complexo de poder. É evidente que nessa profissão, na qual o indivíduo é seu próprio senhor e amo, e na qual as outras pessoas freqüentemente se agarram a ele de maneira ingênua e infantil, o abuso do poder representa uma enorme tentação. Por exemplo, o analista pode se ver tentando assumir o papel do pai ou do sábio, aquele que sabe o que está certo. Por mais repugnante que isso seja, não é, na minha opinião, o mais perigoso, visto que esses terapeutas são de modo geral devidamente importunados por pacientes igualmente possuídos pelo poder, ou punidos através do fato de que eles tendem a reunir ao redor de si um tedioso jardim-de-infância de pacientes que os atormentam com exigências.

O curador “demoníaco” é algo em escala maior, algo mais perigoso. Os Yakuts, por exemplo, acreditam que no momento da iniciação, o xamã tem a escolha de ser iniciado pelos espíritos da "fonte da destruição e da morte" ou pelos espíritos "da cura e da salvação".14 O que é confuso neste caso é que aquele iniciado pelos espíritos do mal também pode ser considerado um grande xamã.15 Mas para que esse indivíduo se torne xamã, muitas pessoas (freqüentemente do seu clã) tem que morrer16, ao passo que o clã de um xamã do lado da luz floresce.17 Por conseguinte, o primeiro tipo de xamã é chamado de "sanguinário". A partir de um ponto de vista psicológico, os xamãs do mal são aqueles que encontraram o acesso ao incosnciente e se mostraram suficientemente fortes para não serem derrubados por ele, mas que, por assim dizer, intencionalmente se rendem aos impulsos sombrios do inconsciente.

Jung descreveu o "demoníaco", que também poderia ser chamado de "magia negra", nos seguintes termos.18 Enquanto a "magia branca" se esforça para expulsar do inconsciente as forças da desordem, "a magia negra exalta os impulsos destrutivos como a única verdade válida em oposição à ordem até então prevalcente, além de aplicá-los a serviço do indivíduo em vez de a serviço de toda a comunidade. Os meios utilizados para isso são idéias, imagens e expressões primitivas, fascinadoras ou assustadoras, incompreensíveis para o entendimento normal, palavras estranhas", e assim por diante. "O demoníaco... se baseia no fato de que existem forças inconscientes de negação e destruição, e de que o mal é real". A pessoa que exerce essas forças de magia negra está geralmente possuída por um conteúdo incosnciente. Jung menciona aí o exemplo, de Hitler como um salvador negativo ou um destruidor. Na esfera da tradição xamanística, são conhecidos perigosos xamãs desse tipo, dos quais todo o mundo tem medo. Mircea Eliade fornece muitos exemplos da arrogância dos xamãs, que freqüentemente é vista como a verdadeira fonte do mal e como a causa do atual estado deteriorado do xamanismo.19 Na minha opinião, essa arrogância também existe entre os terapeutas modernos, e os que são marcados por ela são, creio eu, mais perigosos do que aqueles com treinamento profissional inadequado. Imagino que não haja nenhum procedimento organizacional ou racional para manter esses indivíduos fora da profissão da análise. Só podemos esperar que o público tenha discernimento suficiente para evitá-los.

Refletindo sobre os pontos apresentados até agora, vemos que a profissão do analista faz exigências eminentemente altas, exigências essas que dificilmente alguém é capaz de satisfazer inteiramente. Graças aos céus os povos nativos também têm consciência de que não são apenas os grandes xamãs, mas também os xamãs secundários e menos importantes que podem curar as pessoas. A grandeza ou a importância de um xamã depende da freqüência e da profundidade com que ele penetrou no inconsciente e de quanto sofrimento ele suportou para fazer isso. É por isso que, na minha opinião, o que é absolutamente necessário não é nos tornarmos um grande curador e, sim, conhecermos nossos limites. Porque pode acontecer - e não é tão raro assim - que um paciente cresça mais do que nós, ou seja, avance mais no processo interior do que nós já avançamos.

A tendência instintiva do analista é então tentar trazer o paciente de volta para baixo, de uma forma redutiva, para seu nível de consciência. É somente quando está consciente de seus limites que ele pode evitar esse perigo e não rebaixar o elemento significativo e crescente nos outros através de um estilo de interpretação !"nada mais do quê". Quando o analista permanece consciente dos seus limites, ele pode às vezes até mesmo ajudar um paciente que esteja além dele, sendo sincero e contentando-se em contribuir estritamente com a ajuda de que é capaz, deixando o resto por conta do paciente. Ele deve admitir seus pontos fracos e, invertendo as posições, pedir a compreensão do paciente. Nesse ponto, o processo deixa de ser um "tratamento", tornando-se um relacionamento que envolve um mútuo dar e receber. Isso, é claro, deve ser levado em conta na questão financeira na análise.

Um problema especial na profissão da análise é a criatividade. Sem sombra de dúvida, os melhores analistas são aqueles que, ao lado da profissão, estão envolvidos em alguma atividade criativa. Não é à toa que, nas sociedades primitivas, os curandeiros são também, de modo geral, os poetas, pintores e artistas do seu povo. Os elementos criativos e curativos estão muito próximos. "O ímpeto do caos ascendente", explica Jung, "procura novas idéias simbólicas que abarcarão e expressarão não apenas a ordem anterior como também os conteúdos essenciais da desordem. Essas idéias teriam um efeito mágico, mantendo enfeitiçadas as forças destrutivas da desordem, como foi o caso do cristianismo e em todas as outras religiões".20
O que Jung está dizendo aí, com relação ao nível coletivo em geral, também se aplica tanto a grupos menores quanto ao indivíduo. Em todos os contextos permanece a questão de encontrar no mais profundo de nós a influência ordenada do Si-mesmo e expressá-la nos símbolos, na arte, nas nossas ações. Se além de dar as consultas, o analista não estiver trabalhando também em sua tarefa, como salientou Jung, ele se torna escravo da rotina e, com tempo, torna-se uma analista insípido. Pude observar que nesta difícil profissão certo azedume e desprezo pelos nossos semelhantes tende a se insinuar em nós. É somente trabalhando continuamente em nossa tarefa criativa interior que podemos evitar essa deterioração. E não basta termos sentido uma única vez o chamado da vocação; o direito de praticarmos esta profissão precisa ser repetidamente conquistado dentro de nós.

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1 Ver Jung, "Psychological Aspects of the Mother Archetype", em CW 9/i
2 Ver C. A. Meier, Der Traum als Medizin (O sonho como remédio), Daimon Verlag, Einsiendeln, Suíça, 1985
3 Cf. G. Preusschen, Mönchtum und Serapiskult (O monasticismo e o culto de Serápis), Giessen, 1903, passim.
4 Citado em A. Friedrich e L. G. Budruss, Schamanengeschichten aus Siberien (Histórias dos xamãs siberianos), Munique, 1955, p. 45
5 Ibid, pág. 48
6 Jung, Memories, Dreams, Reflections, p 325. (Cf. trad. bras.: Memórias, sonhos, reflexões, Nova Fronteira, Rio de Janeiro)
7 Friedrich e Budruss, Schamanengeschichten, p. 80
8 Ver Jung, "The Philosophical Tree", in CW 13.
9 Cf. Friedrich e Budruss, Schamanengeschichten, pp. 212-13
10 Ibid., p. 209
11 Ibid, p. 159
12 Ver Mircea Eliade, Shamanism: Archaic Techniques of Ecstasy, Bollingen Series, Princenton University Press, 1964, pp. 23ss.
13 Mais ou menos como na seguinte piada: Qual a diferença entre a pessoa mentalmente perturbada e o psiquiatra? Resposta: O psiquiatra tem a chave do consultório.
14 Friedrich e Budruss, Schamanengeschichten, p. 171
15 Cf. ibid., p. 158
16 Ibid., p. 154
17 Ibid., pp. 150, 147
18 Jung, carta a Horst Scharschuch, 1º de setembro de 1952, Letters, vol. 2, pp. 81-82.
19 Eliade, Shamanism, p;. 72
20 Jung, Letters, vol. 2, p. 81