Acerca do deplorável papel de substituto do “homem ideal”


A mim parece que a lógica dos relacionamentos está tão completamente alheia aos esquemas racionais do senso comum que toda essa compreensão não passa de uma grande farsa.

Todas as mulheres falam sobre o que queriam nos homens. Usando muitas palavras ou poucas, no fundo tudo se resume a atenção e interesse genuíno: com isso, ele ouvirá, será carinhoso e todos os outros detalhes espontaneamente sem nenhum esforço racional.

Noutras palavras, as mulheres querem ser amadas. E é aí que o engodo começa.

O que se vê na prática é completamente diferente disso: de um modo geral, tudo o que a mulher faz é ter fé num ideal que nunca existiu. A atenção espontânea não lhes é dada, mas têm esperança de que isso venha mais cedo ou mais tarde. Mas nunca vem. Mesmo se o homem se esforçar, aquilo que não é espontâneo e natural não pode ser criado por uma mera decisão.

Então entra o substituto. Aquele que vai se entregar e que tem exatamente o que a mulher quer (ou diz querer). Ele possui precisamente o que o companheiro precisaria para ser perfeito, mas não é o companheiro. Conversa com ela, ouve, entende e se importa de forma genuína. Não raro, conhecendo-a profundamente, a ama profundamente. Mas nunca deixa a posição humilhante de substituto.

O substituto devolve a alegria subtraída pelo companheiro, que pode acabar virando um corno. Nem sempre, no entanto.

Por algum motivo, a mulher continua perdidamente apaixonada pelo homem que não é responsável por um pingo de sua alegria. Ela o ama profundamente, tem fé no que ele pode ser e não perde as esperanças. Enquanto que o segundo, o substituto, já é o que o outro poderia ser. Mas o segundo não é um protagonista. Não passa de uma muleta que a sustentará enquanto o potencial do personagem principal não aflorar.

Jamais pode o substituto ser amado, precisamente porque quando ele chegou o amor já existia, e ele nunca poderia ultrapassar o patamar de amigo. A mulher preferiria, aliás, que ele fosse gay.

O homem que desempenha tal papel deplorável jamais espera qualquer coisa em troca, mas no fundo quer. Uma espécie de drama, no qual há um desejo que ele não aceita. Afinal, como “o homem ideal” poderia admitir que, mesmo por um segundo, se dedicou completamente a alguém por interesse próprio?

Não. O homem ideal tem que ser santo. Ele tem que se entregar de corpo e alma sem esperar nada em troca e se sentir feliz com ele. Tem que aquecer a mulher em suas noites frias e passar as suas próprias imaginando como ela deve estar naquele exato momento com o protagonista. Porque ele é o dublê. É só ele que consegue agüentar todos os momentos ruins.

Sua raiva existe, e vai aumentando na medida em que sua presença vai deixando de ser necessária. Quando, nas conversas com a mulher, ele consegue encontrar uma maneira de ajudá-la em seu próprio relacionamento, o que, progressivamente, o torna obsoleto. Num momento ele não suporta mais sua posição deplorável, e toda a sua dedicação cai por terra. Um castelo destruído pela erosão constante. Ele se torna como uma muleta diante da perna recuperada. Como um remédio antidepressivo diante do paciente recuperado e feliz. Perde a utilidade, e conseqüentemente o valor.

Aí tudo explode num pequeno instante.

Então ele se torna o vilão, o psicopata, do qual ninguém esperava tal crueldade. Tudo porque não quis mais se sacrificar não ter nada em troca. Porque pensou que a relação poderia ser recíproca.

Mas destino é destino, e o substituto sempre acaba na mesma situação.

Aparecerá mais uma carente justamente daquilo que ele quer doar. E será bom fazê-lo até chegar o ponto em que ele se tornar obsoleto e for descartado novamente. Um algoz de si mesmo sendo tratado como um algoz das mulheres que ele tanto ama.

Onde estão os homens ideais?

Estão num lugar onde jamais poderão ser mais do que substitutos. Porque mulher nenhuma quer mesmo o homem ideal.

2 comentários:

Duan Conrado Castro disse...

Para você "pensar": e o que você ganha com isso? Por que alimenta esse tipo de relação? Um dia conversaremos sobre isso.

Silas disse...

hehehehehe

Já conversei sobre isso várias vezes com a Mali. No sábado eu te atualizo sobre essa questão...

Definitivamente não ganho nada.