Sobre Materialismo e Hedonismo como o fundamento da desordem social


Já falei nesse blog sobre uma natureza ontológica e universal do mal enquanto força destruidora. Nesse caso, o mal seria como uma reação catabólica e o bem como uma reação anabólica. Destruição e construção cooperando para o inacabável processo de modificação de todas as coisas. Não pretendo me aprofundar em tais afirmações agora, mas que fique claro que esse paradigma não justifica ou torna legítimo o ato destrutivo sendo praticado por seres conscientes: O próprio mal em sua manifestação pura na consciência existe em contraposição ao bem e não para se afirmar como absoluto. Sem o mal, sem a dor, o homem não se move. Porque o prazer não busca sua causa, mas a dor sim. Assim falou Nietzsche.
Mas o mal que aqui coloco em pauta nada mais é do que decorrência da ignorância do que de uma fonte metafísica. É um mal que afeta tanto os valores sentimentais quanto os paradigmas racionais e que causam severos estragos em ambos. Apesar de abordar os dois, pretendo dar ênfase num deles: O Hedonismo, que é conseqüência sentimental do materialismo.
Considero ao menos ingênua a afirmação de que as premissas científicas são objetivas e de que suas conclusões deveriam nos levar apenas a proposições racionais, das quais a subjetividade e os sentimentos deveriam estar separados.
Não só o paradigma científico traz conseqüências limitadores no que se refere à compreensão da consciência, como ele traz severas implicações sentimentais na formação dos valores da sociedade.
Não quero, com isso, defender a moral de alguma religião ou algum ponto de vista religioso, mas é obvio que os homens formam seus valores segundo critérios racionais, e os critérios materialistas só levam quem acredita neles ao Hedonismo.
Afinal, ao presumirmos que tudo é matéria e que nossa consciência nada mais é do que uma conseqüência acausal no meio do caos atômico, o valor da própria consciência se diminui drasticamente. Na verdade, essa visão simplesmente esvazia o ser humano de qualquer senso profundo de conexão, e isso já causa um enorme sentimento de perda e vazio. Aliado a isso, o homem vê diante de si premissas que afirmam que a vida é assim. Que realmente não possui nenhum sentido ou finalidade. Os paradigmas científicos atuais (os do mainstream, para não ser injusto) só oferecem alternativas para o bem estar do indivíduo se essas estiverem dentro do seu espectro de compreensão. Daí decorre que, se presumem que a consciência é apenas um resultado do acaso na matéria e que a matéria representa a realidade ontológica, somente serão aceitas as propostas para o bem estar que surgirem fundamentadas na matéria.
Chegam, aliás, a afirmar de maneira mesmo desonesta que todos os tipos de prazer que não decorrem de algum efeito materialmente comprovado são “só psicológicos”. O juízo de valor implícito é que o que é psicológico não é propriamente material, e assim, é ilusório. Interpretar o efeito placebo segundo essas premissas é irônico, pois assim se presumiria que o homem se cura simplesmente porque é enganado.
Ao negar a consciência universal (não confundir com a idéia de Deus) e, conseqüentemente, negar que há conexão profunda entre todas as coisas, o indivíduo passa a buscar fora de si as respostas que ele deveria encontrar dentro. E pensa encontrar alguma coisa quando os nossos cientistas (xamãs) os mostram com suas mirabolantes racionalizações que tudo o que eles precisam e praticar esportes, tomar esse ou aquele remédio, fazer mais sexo ou qualquer outra coisa que seja essencialmente material e externa, porque o universo imaterial e interno (falo no singular porque estão conectados de forma tão profunda que os vejo como um) não se adéquam ao paradigma materialista.
Daí decorre que o ser humano começa a buscar compulsivamente fora de si o que está faltando através desse hedonismo, e que percebe que não basta. Mas não deixa seu paradigma por isso. Apenas presume que precisa de satisfação mais intensa desses impulsos para que seja feliz. É mais ou menos assim que acontecem com as drogas: o viciado usa cada vez mais em busca da felicidade. No final, ele está destruindo tudo o que ama, se afastando das pessoas e se autodestruindo.
O paradigma hedonista materialista não dá margem à conexão profunda entre os indivíduos, mas apenas à conveniências. Noutras palavras, a conexão que um homem tem com uma mulher não passa de uma troca de favores sexuais, e no momento em que um dos dois descobrir outra pessoa que o traga mais satisfação sexual, a anterior deve ser simplesmente abandonada, porque a outra trará mais felicidade.
Ignoram todos os aspectos imateriais (que são, em essência, consciência ou, no caso dos que acreditam nesses paradigmas, inconsciência) na relação e a reduzem ao ridículo só para manter um paradigma ultrapassado.
Podem dizer que é o dinheiro que causa a maior prisão na vida dos homens, e que num mundo sem dinheiro as coisas seriam muito melhores. Mas a verdade é que o homem só deixará de ser um animal compulsivo e infantil quando sua consciência se elevar acima dessas coisas. Existe a possibilidade de, num mundo com dinheiro, o indivíduo se encontrar liberto desse hedonismo de tal maneira que nem todo o dinheiro do mundo parecerá ter algum valor. O maior problema das pessoas não se encontra fora, mas dentro delas. Porque é o que está dentro da maioria das pessoas é que constrói o fundamento sobre o qual toda a desordem social se firma.
Afinal, o que é lucro senão uma busca desenfreada por bens materiais que prometem a felicidade? Se o homem busca alguma coisa, é porque essa está em falta. Mas se os homens mais ricos e poderosos do mundo continuam buscando riquezas e poder, não é porque isso deveria estar em falta?
Enquanto o paradigma materialista reinar e fundamentar o hedonismo, a despeito de que ambos são injustificáveis, o mundo não melhorará. Pelo contrário, tal forma de tratar a existência traz destruição e auto-destruição.

7 comentários:

Duan Conrado Castro disse...

Já que vc gosta de ser questionado, então lá vai:

1. O que é consciência?

2. O que é consciência universal?

3. Como a consciência existe independentemente da matéria (se é que existe dessa maneira)?

4. Como e por que os materialistas confundem consciência e inconsciência?

5. Que evidências indicam que o materialismo é um "paradigma ultrapassado"?

(Leia a minha próxima postagem, ### 26, e vc verá uma opinião materialista para sempre irreconciliada com a sua.)

Silas disse...

Desculpa a demora. Eu viajei e fiquei sem acesso à internet. Vamos às questões, que tentarei responder.

1) Consciência é tanto o comportamento imprevisível do elétron quanto uma flor carnívora que se fecha quando um inseto sobre ela pousa. A consciência é a fonte da ação.

2) Para isso é interessante te remeter a um post que li no seu blog sobre o paradigma holográfico. A conexão entre todas as coisas em nível molecular nos dá a idéia de um monismo universal. E, como coloca Amit Goswami, um elétron tem consciência ao se comportar de maneira diferente só porque está sendo observado.

3) Na verdade, a idéia que trouxe faz um caminho inverso. A consciência não é um fruto acidental dos eventos caóticos da matéria. Pelo contrário, a matéria é fruto da consciência universal.

4) Ora, se a consciência humana é fruto de outra consciência universal, é natural que uma imagem dessa consciência existe na nossa mente. Mas os conteúdos que são nossos e negamos não desaparecem: eles vão para o inconsciente. Foi isso que eu quis dizer.

5) sobre isso, veja O Universo Autoconsciente, por Amit Gowami. Tem na internet:

http://www.scribd.com/doc/3079992/Amit-Goswami-O-UNIVERSO-AUTOCONSCIENTE-Como-a-Consciencia-Cria-o-Mundo-Material

Duan Conrado Castro disse...

Bem, imagino que você concorde que esses seus pressupostos são definições apriorísticas que não podem ser provadas como verdadeiras. Imagino que você concorde que essa sua opinião é UMA forma de racionalizar a construção de um discurso do mundo, mas que não é a ÚNICA, e que NÃO HÁ como provar que a sua racionalização é "verdadeira", isto é, que corresponde à "realidade". A vontade em Schopenhauer, por exemplo, é inconsciente. E. von Hartmamm, para outro exemplo, buscou sintetizar os conceitos de vontade schopenhauriana e espírito hegeliano no conceito de inconsciente. No marxismo em geral, a consciência deriva da matéria, da forma mais "tosca" possível (assim como no positivismo e na visão científica do mainstream).

Ou seja, o seu discurso, assim como o meu ou como qualquer outro, pode ser desconstruído.

Silas disse...

Não te indiquei aquele livro atoa: ele mostra evidências científicas. Meu texto é só uma formiga perto do livro. Veja só algumas citações dele.

"A física quântica oferece uma nova e emocionante visão do mundo e contesta velhos conceitos, tais como trajetórias determinísticas de movimento e continuidade causal. Se as condições iniciais não determinam para sempre o movimento de um objeto, se, em vez disso, em cada ocasião em que o observamos, há um novo começo, então o mundo é criativo no nível básico."

(Pag 65 – integração entre ciência e espiritualidade)

ou ainda:

"Os princípios da teoria quântica tornam possível abandonaras suposições injustificadas do realismo material.

Suposição 1: objetividade forte. A suposição básica feita pelo materialista é que há lá fora um universo material objetivo, um universo independente de nós. Esta suposição tem alguma validade operacional óbvia e freqüentemente se presume que é necessária para praticar com seriedade a ciência. Mas será ela realmente válida? A lição da física quântica é que escolhemos que aspecto — onda ou partícula — um objeto quântico revelará em uma dada situação. Além disso, a observação faz com que entre em colapso o pacote quântico de ondas e se transforme em uma partícula localizada. Sujeito e objeto estão inextricavelmente misturados. Se sujeito e objeto se entrelaçam dessa maneira, de que modo podemos manter a suposição de objetividade forte?

Suposição 2: Determinismo causal. Outra suposição do cientista clássico, que empresta credibilidade ao realismo material, diz que o mundo é fundamentalmente determinista—que tudo que precisamos conhecer são as forças que atuam sobre cada objeto e as condições iniciais (a velocidade e a posição iniciais do objeto). O princípio da incerteza quântica, contudo, afirma que jamais poderemos determinar simultaneamente, com absoluta certeza, a velocidade e posição de um objeto. Haverá sempre erro em nosso conhecimento das condições iniciais, e o determinismo estrito não prevalece. A própria idéia de causalidade torna-se mesmo suspeita. Uma vez que o comportamento de objetos quânticos é probabilístico, torna-se impossível uma descrição rigorosa de causa e efeito do comportamento de um objeto isolado. Em vez disso, temos uma causa estatística e um efeito estatístico quando falamos sobre um grande grupo de partículas.
Suposição 3: Localidade. A suposição de localidade — que todas as interações entre objetos materiais são mediadas através de sinais locais — é fundamental para a idéia materialista de que eles existem basicamente independentes e separados uns dos outros. Se, contudo, ondas se espalham por enormes distâncias e, em seguida, instantaneamente desmoronam quando fazemos medições, então a influência da medição não viaja localmente. A localidade, portanto, é excluída. Este constituiu outro golpe fatal no realismo material.



Suposições 4e5: Materialismo e epifenomenalismo. O materialista sustenta que fenômenos mentais subjetivos são apenas epifenômenos da matéria. Podem ser reduzidos apenas à questão de cérebro material. Se queremos compreender o comportamento de objetos quânticos, contudo, parece que precisamos introduzir a consciência — nossa capacidade de escolher — de acordo com o princípio da complementaridade e a idéia da mistura sujeito-objeto. Além do mais, parece absurdo que um epifenômeno da matéria possa afetá-la: se a consciência é um epifenômeno, de que modo pode ela provocar o colapso de uma onda espalhada de objeto quântico e transformá-la em uma partícula localizada quando realizamos uma medição quântica."

Duan Conrado Castro disse...

Tá legal então, se vc acha que esse livro é realmente científico...Ainda eu vou escrever alguma coisa sobre o determinismo causal, mas será baseado nos escritos do físico Stephen Hawking, o famoso físico materialista e positivista que continua a defender o determinismo A PESAR da física quântica.

Silas disse...

Você estará sempre autorizado e bem vindo no intuito de desconstruir meus paradigmas quando considerar necessário.

Drieli Soares disse...

Gosto e me identifico bastante com o seu modo de pensar! (:

Muito bacana seu blog.

Quando crescer quero conseguir argumentar assim. E também quero ter bastante conhecimento pra poder fazê-lo, claro.

Abraço!