Sentimentos, pensamentos e ateísmo

Ouço muitos religiosos usarem o termo ateu fanático, e muitos ateus se revoltando com tal termo, então decidi escrever um pouco sobre o tema, diferenciando os tipos psicológicos dos dois tipos de ateu que identifiquei e depois emitindo um julgamento de valores sobre o ateísmo em si.

Seria muito bom que, se não quiserem ler os tipos psicológicos de Jung, que leiam ao menos sobre o MBTI.

Lendo se verificará a diferença do ser guiado pelos sentimentos e de ser guiado pela razão, e partir dessa diferenciação poderíamos muito bem diferenciar um ateu do outro.


O primeiro que vou tratar é o ateu sentimental.


Em geral esse tipo de ateu era seguidor ou foi criado em meio a seguidores de uma religião patriarcal. Aquelas que falam de um Deus pai e protetor, que ajuda quando os “filhos” precisam e que acima de tudo os ama.

Esses ateus se vêem diante da afirmação de que Deus é bom, mas aí entram em contato com o que há de mal no mundo. Uma hora não conseguem dizer que o mal é a ausência de deus. Uma hora encontram uma criançinha sofrendo e não conseguem adaptar sua religião a isso. Mais especialmente, uma hora eles se tornam essa criançinha sofredora e o papai não está ali para proteger.

Então eles fogem de casa, brigam com o pai. Colocam no Deus judaico cristão a culpa de todos os males, tal como Nietzsche disse ter feito aos treze anos.

Eles se revoltam, porque aquela figura tão linda e amada os enganou, os traiu.

Entram no pessimismo que defini no post logo abaixo desse, e acabam por deixar de ver amor nas coisas. Aí começam a amesquinhar os homens, tal como Nietzsche disse em sua genealogia da moral sobre os ingleses. Buscam sempre os motivos mais estúpidos para serem a causa dos comportamentos humanos. É daí, creio que surge a psicologia evolucionista e seu reducionismo absurdo que simplesmente finge que não há plasticidade.

Ao invés de entender o ateísmo intelectualmente, eles o sentem. Nesse sentido, para um sentimental, o ateísmo representa a miséria, a desgraça, a falta de esperança. E como todo bom pessimista, ele sente o peso dessas opiniões. Sente que embora não queira ser iludidamente feliz, ele quer ser feliz. Então decide dividir seu peso com os outros, principalmente na internet, e sai por aí pregando ateísmo.

O ateu sentimental pode muito bem cair na lábia de um religioso de novo, porque não foi à essência do ateísmo.

Entre esse que defini e o próximo há um meio termo, mas esse é obvio demais, com a leitura dos dois, e vou deixar pra que seja pensado por quem desejar.

Em geral os tipos pensadores não são muito seduzidos pelos sentimentos, então para eles a musica, a gritaria e todos os rituais da religião não têm efeito algum. São imunes à manipulação, então avaliam o mundo racionalmente. fazerem isso, primeiro percebem as contradições da religião, depois percebem a inutilidade prática dela, e depois acabam por desconstruí-la filosoficamente.

Contradições tais como, na bíblia, Deus dizer não matarás, mas mandar dilúvio, matar primogênitos etc. não há um efeito tão sentimental nos racionais, mas observando racionalmente da pra perceber que religião é uma casa construída na areia e sem alicerce, porque avaliações racionais as excluem como possibilidade.

Depois observam o mundo e sua vida. Percebem que suas conquistas não são influenciadas por Deus. Vêem outras pessoas emocionadas com a influência de Deus e se perguntam o porquê de isso não acontecer com eles. Mas avaliando sem sentimentos da pra perceber que as pessoas conquistam e fracassam segundo sua força de vontade e capacidade, e que Deus nada mais é do que uma forma de aumentar a força de vontade delas. Daí pensam: "eu não preciso de Deus", Ou: "Deus não faz nada", tudo depende de nós. O que, em termos práticos, é equivalente a não existir, pois se existe e não faz nada é irrelevante.

Apesar disso, continuam caminhando religiosamente por acreditarem que há fundamento na base metafísica. Ou seja, porque acreditam em céu, inferno, vida eterna, e um Deus que não faz nada, mas existe.

Mas aí vem a lógica filosófica terminar o caminho do ateu racional.

O céu e o inferno são completamente abstratos, então se deve considerá-los dessa forma. Sendo assim, como não são observáveis, dependem da lógica para existirem, e não se sustentam nela por um erro de proporção.


Diz-se que um sujeito que não acredita em Deus, ou que comete qualquer outro pecado irá para o inferno, mas se quisermos ver o ateísmo como pecado ainda assim isso não tem sentido.

Afinal, o sofrimento eterno não é a mesma coisa que uma prisão perpétua que conhecemos.

Se um assassino ficar não só preso como sofrendo pro, digamos, 200 anos sem parar eu tenho certeza de que isso o faria rever seus conceitos. Agora aumentem só a proporção. E se ele ficar lá por 2000 anos, por milhões de anos!

É obvio que essa idéia não tem fundamento, pois nossos erros não são eternos para serem punidos de forma eterna.

Como uma pessoa pode sofrer por infinitos trilhões de anos?

Mesmo se ela matou pessoas durante toda a sua vida adulta, isso não é justificável.

Além de ser ilógico é cruel, o que entra em contradição com o fato de que Deus é infinitamente bom.

Mas aí chega o argumento final: para alguns filósofos o real é aquilo que percebemos, e para outros, pelo contrario, é aquilo que pensamos.


portanto, para que uma coisa seja real ela deve fazer sentido e/ou ser perceptível.

Eu já tentei de todas as formas perceber Deus com todos os sentidos que tenho e não percebi.

Dizem que ele é como o vento, que você não vê, mas sente, só que o vento eu percebo com os ouvidos e com o tato, Deus não.

E Deus é totalmente inconcebível. Alguns admitem, e dizem que não há como imaginarmos Deus por ele ser maior do que nós, mas outros atribuem a Deus suas características pessoais, tais como ressentimento em relação aos que nele não acreditam. Daí se percebe que Deus é um fruto puramente subjetivo e sem fundamento objetivo, ou é algo não observável e não concebível.

Em suma, se só quem acredita (baseado em fé) consegue conceber Deus (ou diz que consegue) então Deus é uma ilusão. Não existe.

Tendo definido os dois ateus, vou agora para o julgamento de valores do ateísmo.

Primeiro é bom sempre tomar cuidado com ateus sentimentais, pois é freqüente que eles deixem de lado qualquer tipo de ética, que é fundamental para o coletivo, pois eles não fundamentam suas opiniões racionalmente. Injetar racionalidade neles é sempre positivo.

Ora, dizer que o que não podemos conceber e nem perceber não existe é irresponsabilidade, justamente porque nossa capacidade de concepção pode se expandir e porque nossos sentidos(através de mecanismos tecnológicos) podem evoluir igualmente.

Pessoalmente, não acho que esse progresso nos levará a ver Deus, mas o ponto é que não é lógico negar uma coisa só por falta de qualquer evidencia. Por outro lado, na vida prática, isso em nada influencia. A diferença é que ao invés de afirmar que Deus não existe se estará afirmando que Deus é irrelevante. Não faz nada, não pode ser visto, não pode ser concebido. Pra que perder tempo mesmo negando isso?

2 comentários:

Unknown disse...

Entendi claramente sua exposição e principalmente seu questionamento final, no entanto se negar por não encontrar evidências não é lógico, muito menos lógico seria a contrapartida ou seja acreditar simplesmente porque lhe foi ensinado e sem demonstrações, pois se tenho que acreditar em um deus, então posso acreditar em qualquer deus da mitologia antiga seja ela grega, escandinava, egípcia. O problema vai além disso, no ocidente só se acredita na religião cristã porque esta foi a religião dominante na Europa, e quem colonizou a América? Os europeus, se tivéssemos sido colonizados pelos povos árabes hoje em dia ao invés de templos cristãos teríamos mesquitas mulçumanas.

Iara De Dupont disse...

Muito interessante teu blog ! Se puder me visite, http://sindromemm.blogspot.com