Introdução
Para colocar a idéias que tive disponíveis à todo o publico eu me vejo forçado a contestar dois grandes pilares que parecem estar em conflito. Precisarei desconstruir premissas teóricas do fundamento do método científico e rever grande parte dos padrões morais.
Isso me custaria, por certo, a fama, se eu a tivesse. Felizmente eu não a tenho e nem desejo algo do gênero, o que me dá maior segurança em desafiar quilo que há de sagrado no mundo moderno.
Eu não poderia começar meu trabalho sem explicar as razões pelas quais eu me nego a aceitar várias premissas difundidas no nosso tempo e o motivo pelo qual busco outras premissas que são, de um modo geral, negadas até mesmo com piadas, e por isso essa será a primeira parte do meu trabalho.
Depois de demonstrar a validade das minhas premissas, colocarei sobre elas as minhas observações, que têm o intuito de, em primeiro lugar, trazer à tona tudo aquilo que é maléfico sem, no entanto, emitir julgamentos de valor para, assim, tentar explicar esses acontecimentos. Seguir-se-ão, nesses casos, alguns dos diversos casos freqüentemente divulgados na mídia. Daí eu pretendo extrair um fundamento parecido com a pulsão de morte de Freud, mas com certas ressalvas teóricas que serão percebidas no trabalho (afinal, aceito premissas Junguianas).
A partir daí, pretendo demonstrar detalhadamente e com exemplos os mais diversos tipos de comportamentos destrutivos e corruptos, desde um simples ladrão compulsivo que rouba coisas sem valor a um banqueiro, ou desde um marido que bate na esposa até um serial killer. De acordo com as premissas da nossa ciência, (uma premissa que não nego) pretendo demonstrar como todos esses comportamentos têm fundamentos análogos por generalização e que possuem suas origens no fato de que os fundamentos da sociedade são essencialmente anti-sociais. Em especial, e não estou certo de já estar apto a isso, pretendo buscar uma forma de ao menos amenizar os efeitos dos complexos que movem os homens a tais comportamentos, buscando, assim, uma forma de convívio mais pacífica.
Cometerei uma série de erros, mas esse é um trabalho de toda uma vida e não apenas de uma monografia terminada, e por isso provavelmente será alterado em contato com novas evidências.
Que fique claro, no entanto, que não busco provar certas premissas como verdadeiras, mas que, pelo contrário, os próprios fatos me levaram a tais fundamentos.
Isso me custaria, por certo, a fama, se eu a tivesse. Felizmente eu não a tenho e nem desejo algo do gênero, o que me dá maior segurança em desafiar quilo que há de sagrado no mundo moderno.
Eu não poderia começar meu trabalho sem explicar as razões pelas quais eu me nego a aceitar várias premissas difundidas no nosso tempo e o motivo pelo qual busco outras premissas que são, de um modo geral, negadas até mesmo com piadas, e por isso essa será a primeira parte do meu trabalho.
Depois de demonstrar a validade das minhas premissas, colocarei sobre elas as minhas observações, que têm o intuito de, em primeiro lugar, trazer à tona tudo aquilo que é maléfico sem, no entanto, emitir julgamentos de valor para, assim, tentar explicar esses acontecimentos. Seguir-se-ão, nesses casos, alguns dos diversos casos freqüentemente divulgados na mídia. Daí eu pretendo extrair um fundamento parecido com a pulsão de morte de Freud, mas com certas ressalvas teóricas que serão percebidas no trabalho (afinal, aceito premissas Junguianas).
A partir daí, pretendo demonstrar detalhadamente e com exemplos os mais diversos tipos de comportamentos destrutivos e corruptos, desde um simples ladrão compulsivo que rouba coisas sem valor a um banqueiro, ou desde um marido que bate na esposa até um serial killer. De acordo com as premissas da nossa ciência, (uma premissa que não nego) pretendo demonstrar como todos esses comportamentos têm fundamentos análogos por generalização e que possuem suas origens no fato de que os fundamentos da sociedade são essencialmente anti-sociais. Em especial, e não estou certo de já estar apto a isso, pretendo buscar uma forma de ao menos amenizar os efeitos dos complexos que movem os homens a tais comportamentos, buscando, assim, uma forma de convívio mais pacífica.
Cometerei uma série de erros, mas esse é um trabalho de toda uma vida e não apenas de uma monografia terminada, e por isso provavelmente será alterado em contato com novas evidências.
Que fique claro, no entanto, que não busco provar certas premissas como verdadeiras, mas que, pelo contrário, os próprios fatos me levaram a tais fundamentos.
Capítulo 1
Sobre os fundamentos do método
Sobre os fundamentos do método
As premissas que aceito como fundamentos do pensamento destituem deste todo o poder que lhe atribuem no nosso tempo. Pelo contrário, o que procuro demonstrar, em primeiro lugar, é a extrema fragilidade de nossas formas de pensamento.
Por vezes percebi como, de forma explícita, as pessoas observam certos eventos e revestem estes de significados totalmente metafísicos.
Mas, diferente do que se assume normalmente, não é só o conhecimento religioso que se baseia em metafísica: todas as formas de pensamento possuem algo de metafísico, pois a metafísica é sempre o fundamento dos pensamentos. Sempre partimos de um ponto no nosso pensamento que simplesmente não pode ser provado de forma absoluta, e isso destitui de sentido nossas tentativas de dar um ar definitivo às nossas idéias.
A ciência, apesar de se afirmar empirista, se guia por certos fundamentos metafísicos, que pretendo explicitar.
Em primeiro lugar, nossa ciência está receptiva apenas aos conteúdos oriundos dos sentidos. Assim, foram criados (e continuam sendo) métodos com os quais podemos observar melhor todas as coisas com os sentidos, já que é só esse tipo de observação que é considerada correta nos dias de hoje.
A despeito do nosso sensacionalismo sobre a grande descoberta que é o fato de que a mente humana se encontra em constante mutação, Heráclito já havia chegado a tal conclusão sem acesso a isso por meio dos sentidos. Foi uma forma intuitiva de se conseguir o conhecimento. Uma abstração filosófica inteligentíssima, que o modo sensitivo de observação só pode entender milênios depois.
Esse e outros exemplos demonstram que existe outra forma de adquirirmos conhecimento que não apenas a observação objetiva e submetida ao rigoroso e dogmático método científico.
É claro que não pretendo generalizar a outra forma de se ver as coisas: ambas têm sua utilidade e validade contanto que não tentem invadir o campo da outra, como acontece hoje.
Essa forma Jung chama de intuição, e considero o termo adequado, e por isso me sirvo dele.
Através do conhecimento intuitivo, que não é menos válido do que o da sensação, percebemos como são ridiculamente óbvias e preconceituosas algumas idéias da ciência moderna sobre os fundamentos do comportamento humano.
Uma delas é a tentativa que vem sendo empreendida de submeter o comportamento humano, e traços comuns, ao paradigma evolucionista. Ora, considero esse paradigma excepcionalmente bem sucedido em integrar de forma didática o estudo sistemático dos seres vivos, e reconheço as diversas evidências que colocam o evolucionismo como teoria válida para justificar a origem das espécies, tais como os fósseis.
Apesar de ser logicamente plausível admitir que, se o ser humano se formou através de sucessivas mutações, ele deve ter tido grande parte de seus comportamentos inatos formados através da pressão seletiva, não deixo de notar certas características no próprio comportamento humano que contradizem esse paradigma de forma gritante.
Aliás, pelo que eu observei, o próprio paradigma, que é muito apoiado por ser o fundamento de nossa sociedade, parece estar fundamentado num complexo específico, que denomino o complexo de Frederico.
É claro que não podemos, já há muito tempo, colocar as premissas do evolucionismo no convívio entre os humanos, pois as variáveis são tão numerosas que até mesmo o mais inapto de todos os indivíduos pode deixar mais descendentes do que um extremamente hábil.
Ao contrário do que se diz, o que deu ao ser humano a possibilidade de subordinar as outras espécies não é um impulso essencialmente competitivo, mas sim cooperativo. Foi através da união que o ser humano formou a vida em sociedade, e encontramos em diversas sociedades essa mesma idéia: devemos amar ao próximo como amamos a nós mesmos.
Mas, do ponto de vista evolucionista, seria muito mais vantajoso criarmos uma imagem de que amamos ao próximo sem que isso seja verdade. Noutras palavras, nessa forma de pensamento e na sociedade que se baseia nela, o que trás “sucesso” é efetivamente o que os políticos fazem. Isso se plasma em certos livros propagados no meio corporativo, que proclamam ter encontrado uma forma revolucionária e nova de medir a inteligências das pessoas. Eu chamaria o que eles chamam de inteligência emocional de capacidade de manipulação, pois o paradigma está obviamente direcionado á ampliação do potencial de trabalho. Sendo fundamentado pelo evolucionismo, o livro é claramente um manual de hipocrisia.
Não fico admirado, então com o ímpeto com o qual os cientistas criacionistas buscam desacreditar o evolucionismo. Afinal, tal paradigma torna comuns certos comportamentos totalmente destrutivos, como mesmo o nosso capitalismo selvagem. Afinal, é natural que o mais forte tenha sucesso e o mais fraco seja derrotado.
Dessa forma, seguindo o ponto das sensações e do materialismo, se coloca em questão que o ser humano é essa maquina, que nada mais faz do que servir a esses impulsos egoístas.
É claro que, como se vê, existe outra questão a ser avaliada, que é a espiritualidade. As crenças religiosas em todos os tempos têm sido o fundamento para o comportamento mais ético para com os outros, fazendo com que os homens evitem buscar apenas o benefício próprio.
Algumas visões religiosas modernas não passam de fraudes dos sentidos. Noutras palavras, elas prometem justamente aquilo que vai contra a religiosidade: recompensas depois da morte, sucesso mesmo nessa vida. A teologia da prosperidade, que gerou um novo império no nosso país é um bom exemplo desse tipo de corrupção da religiosidade, que é notado pelos religiosos.
De fato, a maior mensagem que todas as religiões querem passar é aquela da conexão. Amai ao próximo como a ti mesmo, quer dizer, efetivamente, que devemos evitar o paradigma de que nós somos independentes do próximo, pelo contrário, é um sentimento comum no ser humano em todos os tempos e lugares: a necessidade de conexão. É por isso que existem religiões, e não porque alguns indivíduos desejam se iludir com ilusões vazias de sentido.
Dessa forma, no próprio desenvolvimento da psiquê humana, se percebe essa busca pela espiritualidade que contradiz abertamente a idéia de competição e à de separação. Se o ser humano, na sua constituição psíquica, busca a união, então é forçoso que ele não poderá moldar seus comportamentos com utilitarismo obviamente ridículos do evolucionismo. Até porque, a plasticidade do ser humano vai para muito além daquela vista nos animais, e, por conseguinte, seus comportamentos são moldados para muito além de questões meramente adaptativas.
É fato consumado que a vivência humana transcende a racionalidade, e a própria espiritualidade é prova disso. Além disso, a fragilidade da racionalidade ficou clara com a demonstração sobre a metafísica: não existe nenhuma forma de pensamento que não tenha um fundamento metafísico, e a metafísica se forma em paralelo à identidade dos indivíduos.
Com o paradigma evolucionista não é diferente: uma certa maneira de se ver o mundo como projeção da própria identidade torna totalmente plausível que o vejamos segundo tais premissas. Segundo a tipologia Junguiana, essa forma de pensamento seria fundada no materialismo, que é pensamento com função auxiliar de sensação ou sensação com auxiliar pensamento.
Mas a origem psicológica do evolucionismo vai para além da tipologia, pois, como percebi, ela também está pautada em certos complexos, que são conectados a arquétipos.
Muitos imperadores por toda a história da humanidade demonstraram ser dominados por tais complexos. Aliás, hoje não é diferente. Diversos documentários expõem aos olhos de quem quiser ver certos esquemas que homens criam para alcançar benefício material próprio. Por, no momento, não dispor de material mitológico que represente o que quero expor, usarei a história de um dos meus personagens, mas isso nos capítulos subseqüentes.
A questão aqui é que o próprio paradigma capitalista é um propulsor que pretende levar indivíduos a acreditarem que o benefício real é o material, já que toda a história da evolução assim o demonstra. É um fundamento doentio que se espalha rapidamente pela sociedade e que aumenta os índices de depressão. Ainda hoje, confusos pela falha de suas racionalizações, alguns indivíduos dizem: “ele tem de tudo, cheio de dinheiro. Como pode se deprimir?”.
Entra em depressão porque a mente humana é um projeto esperando para ser realizado, e este nada tem a ver com adquirir benefícios materiais. Muito pelo contrário, o equilíbrio que o Inconsciente induz leva os indivíduos buscarem coisas para além da matéria. Usar uma racionalização através da qual se afirma que são motivados por mesquinharia todos os tipos de manifestação religiosa não muda o fato de que essas manifestações continuam acontecendo, já que são naturais. Acerca do que vem após a morte não temos nenhuma garantia de nada, nem de que deixaremos de existir. Acreditar, então, em alguma metafísica para isso é seguir a própria natureza, enquanto que negar em nome de uma pretensa honestidade é impor uma interpretação a si mesmo e sofrer inutilmente (já que o fundamento desta visão é tão metafísico quanto o da religião).
No entanto, se até aqui um leitor religioso se manteve (imagino) satisfeito com o ponto de vista exposto, na continuação desta primeira parte ele deve mudar radicalmente de idéia. Tal como Jung, não busco agradar a gregos e nem a troianos.
A questão da religiosidade, em primeiro lugar, muitas vezes não passa de projeção de conteúdos inconscientes, como o arquétipo maternal projetado sobre a igreja. Na impossibilidade de integrar a vivência religiosa à consciência, o indivíduo faz projeções que, por vezes, tomam forma visível em visões, e, diante disso, ele atribui um caráter objetivo à sua vivencia religiosa, quando ela é subjetiva.
Além disso, a própria religião, na maioria dos casos não permite a integração dos conteúdos psíquicos á consciência, porque parte de premissas doutrinárias. Assim, na maioria das vezes, a religião não passa de um organismo que, através do poder das organizações coletivas, impõe certos códigos de conduta.
A vivência que Jung costumava definir como Participation Mystique não se trata do contato objetivo com Deus ou mesmo sua imagem arquetípica interna: na verdade o profundo sentimento dos participantes se deve ao contato com o grupo. Tanto isso é verdade que eles se unem em grandes grupos ao invés de realizar seus rituais sozinhos: porque sozinhos eles poderiam efetivamente integrar isso a consciência.
Na verdade, o que se vê são indivíduos, cegados pelo poder massificador da coletividade, seguirem códigos morais irrefletidamente, o que possibilita a manifestação dos indivíduos corruptos que eu me presto a avaliar, que, nesse contexto, surgiriam para manipula-los.
O paradigma evolucionista, objetivamente, leva à idéia de opressão do mais fraco e hipocrisia, e grande parte da moral religiosa leva à idéia de submissão. Noutras palavras, os dois juntos são dois fundamentos de mentalidade que causam a maior parte das nossas mazelas.
Eu não poderia, então, olhar essa questão do ponto de vista moralmente aceito, com indignação, e nem com o ponto de vista da ciência moderna, porque essa não passa de um complexo racionalizado.
Pelo contrário, para avaliar tais questões será preciso, em primeiro lugar, haver um confronto profundo com o lado negro da existência, transcendendo o maniqueísmo, e também será necessário expandir a compreensão das coisas para além de paradigmas parciais. Ir para além do bem do mal e para além da racionalidade.
Por um e por outro motivo que considero esse livro de difícil leitura: excluindo minha dificuldade de expressão, a mensagem simplesmente não será aceita por aqueles que se mostrarem racional ou sentimentalmente resistentes aos assuntos tratados, embora sejam de extrema importância.
Por vezes percebi como, de forma explícita, as pessoas observam certos eventos e revestem estes de significados totalmente metafísicos.
Mas, diferente do que se assume normalmente, não é só o conhecimento religioso que se baseia em metafísica: todas as formas de pensamento possuem algo de metafísico, pois a metafísica é sempre o fundamento dos pensamentos. Sempre partimos de um ponto no nosso pensamento que simplesmente não pode ser provado de forma absoluta, e isso destitui de sentido nossas tentativas de dar um ar definitivo às nossas idéias.
A ciência, apesar de se afirmar empirista, se guia por certos fundamentos metafísicos, que pretendo explicitar.
Em primeiro lugar, nossa ciência está receptiva apenas aos conteúdos oriundos dos sentidos. Assim, foram criados (e continuam sendo) métodos com os quais podemos observar melhor todas as coisas com os sentidos, já que é só esse tipo de observação que é considerada correta nos dias de hoje.
A despeito do nosso sensacionalismo sobre a grande descoberta que é o fato de que a mente humana se encontra em constante mutação, Heráclito já havia chegado a tal conclusão sem acesso a isso por meio dos sentidos. Foi uma forma intuitiva de se conseguir o conhecimento. Uma abstração filosófica inteligentíssima, que o modo sensitivo de observação só pode entender milênios depois.
Esse e outros exemplos demonstram que existe outra forma de adquirirmos conhecimento que não apenas a observação objetiva e submetida ao rigoroso e dogmático método científico.
É claro que não pretendo generalizar a outra forma de se ver as coisas: ambas têm sua utilidade e validade contanto que não tentem invadir o campo da outra, como acontece hoje.
Essa forma Jung chama de intuição, e considero o termo adequado, e por isso me sirvo dele.
Através do conhecimento intuitivo, que não é menos válido do que o da sensação, percebemos como são ridiculamente óbvias e preconceituosas algumas idéias da ciência moderna sobre os fundamentos do comportamento humano.
Uma delas é a tentativa que vem sendo empreendida de submeter o comportamento humano, e traços comuns, ao paradigma evolucionista. Ora, considero esse paradigma excepcionalmente bem sucedido em integrar de forma didática o estudo sistemático dos seres vivos, e reconheço as diversas evidências que colocam o evolucionismo como teoria válida para justificar a origem das espécies, tais como os fósseis.
Apesar de ser logicamente plausível admitir que, se o ser humano se formou através de sucessivas mutações, ele deve ter tido grande parte de seus comportamentos inatos formados através da pressão seletiva, não deixo de notar certas características no próprio comportamento humano que contradizem esse paradigma de forma gritante.
Aliás, pelo que eu observei, o próprio paradigma, que é muito apoiado por ser o fundamento de nossa sociedade, parece estar fundamentado num complexo específico, que denomino o complexo de Frederico.
É claro que não podemos, já há muito tempo, colocar as premissas do evolucionismo no convívio entre os humanos, pois as variáveis são tão numerosas que até mesmo o mais inapto de todos os indivíduos pode deixar mais descendentes do que um extremamente hábil.
Ao contrário do que se diz, o que deu ao ser humano a possibilidade de subordinar as outras espécies não é um impulso essencialmente competitivo, mas sim cooperativo. Foi através da união que o ser humano formou a vida em sociedade, e encontramos em diversas sociedades essa mesma idéia: devemos amar ao próximo como amamos a nós mesmos.
Mas, do ponto de vista evolucionista, seria muito mais vantajoso criarmos uma imagem de que amamos ao próximo sem que isso seja verdade. Noutras palavras, nessa forma de pensamento e na sociedade que se baseia nela, o que trás “sucesso” é efetivamente o que os políticos fazem. Isso se plasma em certos livros propagados no meio corporativo, que proclamam ter encontrado uma forma revolucionária e nova de medir a inteligências das pessoas. Eu chamaria o que eles chamam de inteligência emocional de capacidade de manipulação, pois o paradigma está obviamente direcionado á ampliação do potencial de trabalho. Sendo fundamentado pelo evolucionismo, o livro é claramente um manual de hipocrisia.
Não fico admirado, então com o ímpeto com o qual os cientistas criacionistas buscam desacreditar o evolucionismo. Afinal, tal paradigma torna comuns certos comportamentos totalmente destrutivos, como mesmo o nosso capitalismo selvagem. Afinal, é natural que o mais forte tenha sucesso e o mais fraco seja derrotado.
Dessa forma, seguindo o ponto das sensações e do materialismo, se coloca em questão que o ser humano é essa maquina, que nada mais faz do que servir a esses impulsos egoístas.
É claro que, como se vê, existe outra questão a ser avaliada, que é a espiritualidade. As crenças religiosas em todos os tempos têm sido o fundamento para o comportamento mais ético para com os outros, fazendo com que os homens evitem buscar apenas o benefício próprio.
Algumas visões religiosas modernas não passam de fraudes dos sentidos. Noutras palavras, elas prometem justamente aquilo que vai contra a religiosidade: recompensas depois da morte, sucesso mesmo nessa vida. A teologia da prosperidade, que gerou um novo império no nosso país é um bom exemplo desse tipo de corrupção da religiosidade, que é notado pelos religiosos.
De fato, a maior mensagem que todas as religiões querem passar é aquela da conexão. Amai ao próximo como a ti mesmo, quer dizer, efetivamente, que devemos evitar o paradigma de que nós somos independentes do próximo, pelo contrário, é um sentimento comum no ser humano em todos os tempos e lugares: a necessidade de conexão. É por isso que existem religiões, e não porque alguns indivíduos desejam se iludir com ilusões vazias de sentido.
Dessa forma, no próprio desenvolvimento da psiquê humana, se percebe essa busca pela espiritualidade que contradiz abertamente a idéia de competição e à de separação. Se o ser humano, na sua constituição psíquica, busca a união, então é forçoso que ele não poderá moldar seus comportamentos com utilitarismo obviamente ridículos do evolucionismo. Até porque, a plasticidade do ser humano vai para muito além daquela vista nos animais, e, por conseguinte, seus comportamentos são moldados para muito além de questões meramente adaptativas.
É fato consumado que a vivência humana transcende a racionalidade, e a própria espiritualidade é prova disso. Além disso, a fragilidade da racionalidade ficou clara com a demonstração sobre a metafísica: não existe nenhuma forma de pensamento que não tenha um fundamento metafísico, e a metafísica se forma em paralelo à identidade dos indivíduos.
Com o paradigma evolucionista não é diferente: uma certa maneira de se ver o mundo como projeção da própria identidade torna totalmente plausível que o vejamos segundo tais premissas. Segundo a tipologia Junguiana, essa forma de pensamento seria fundada no materialismo, que é pensamento com função auxiliar de sensação ou sensação com auxiliar pensamento.
Mas a origem psicológica do evolucionismo vai para além da tipologia, pois, como percebi, ela também está pautada em certos complexos, que são conectados a arquétipos.
Muitos imperadores por toda a história da humanidade demonstraram ser dominados por tais complexos. Aliás, hoje não é diferente. Diversos documentários expõem aos olhos de quem quiser ver certos esquemas que homens criam para alcançar benefício material próprio. Por, no momento, não dispor de material mitológico que represente o que quero expor, usarei a história de um dos meus personagens, mas isso nos capítulos subseqüentes.
A questão aqui é que o próprio paradigma capitalista é um propulsor que pretende levar indivíduos a acreditarem que o benefício real é o material, já que toda a história da evolução assim o demonstra. É um fundamento doentio que se espalha rapidamente pela sociedade e que aumenta os índices de depressão. Ainda hoje, confusos pela falha de suas racionalizações, alguns indivíduos dizem: “ele tem de tudo, cheio de dinheiro. Como pode se deprimir?”.
Entra em depressão porque a mente humana é um projeto esperando para ser realizado, e este nada tem a ver com adquirir benefícios materiais. Muito pelo contrário, o equilíbrio que o Inconsciente induz leva os indivíduos buscarem coisas para além da matéria. Usar uma racionalização através da qual se afirma que são motivados por mesquinharia todos os tipos de manifestação religiosa não muda o fato de que essas manifestações continuam acontecendo, já que são naturais. Acerca do que vem após a morte não temos nenhuma garantia de nada, nem de que deixaremos de existir. Acreditar, então, em alguma metafísica para isso é seguir a própria natureza, enquanto que negar em nome de uma pretensa honestidade é impor uma interpretação a si mesmo e sofrer inutilmente (já que o fundamento desta visão é tão metafísico quanto o da religião).
No entanto, se até aqui um leitor religioso se manteve (imagino) satisfeito com o ponto de vista exposto, na continuação desta primeira parte ele deve mudar radicalmente de idéia. Tal como Jung, não busco agradar a gregos e nem a troianos.
A questão da religiosidade, em primeiro lugar, muitas vezes não passa de projeção de conteúdos inconscientes, como o arquétipo maternal projetado sobre a igreja. Na impossibilidade de integrar a vivência religiosa à consciência, o indivíduo faz projeções que, por vezes, tomam forma visível em visões, e, diante disso, ele atribui um caráter objetivo à sua vivencia religiosa, quando ela é subjetiva.
Além disso, a própria religião, na maioria dos casos não permite a integração dos conteúdos psíquicos á consciência, porque parte de premissas doutrinárias. Assim, na maioria das vezes, a religião não passa de um organismo que, através do poder das organizações coletivas, impõe certos códigos de conduta.
A vivência que Jung costumava definir como Participation Mystique não se trata do contato objetivo com Deus ou mesmo sua imagem arquetípica interna: na verdade o profundo sentimento dos participantes se deve ao contato com o grupo. Tanto isso é verdade que eles se unem em grandes grupos ao invés de realizar seus rituais sozinhos: porque sozinhos eles poderiam efetivamente integrar isso a consciência.
Na verdade, o que se vê são indivíduos, cegados pelo poder massificador da coletividade, seguirem códigos morais irrefletidamente, o que possibilita a manifestação dos indivíduos corruptos que eu me presto a avaliar, que, nesse contexto, surgiriam para manipula-los.
O paradigma evolucionista, objetivamente, leva à idéia de opressão do mais fraco e hipocrisia, e grande parte da moral religiosa leva à idéia de submissão. Noutras palavras, os dois juntos são dois fundamentos de mentalidade que causam a maior parte das nossas mazelas.
Eu não poderia, então, olhar essa questão do ponto de vista moralmente aceito, com indignação, e nem com o ponto de vista da ciência moderna, porque essa não passa de um complexo racionalizado.
Pelo contrário, para avaliar tais questões será preciso, em primeiro lugar, haver um confronto profundo com o lado negro da existência, transcendendo o maniqueísmo, e também será necessário expandir a compreensão das coisas para além de paradigmas parciais. Ir para além do bem do mal e para além da racionalidade.
Por um e por outro motivo que considero esse livro de difícil leitura: excluindo minha dificuldade de expressão, a mensagem simplesmente não será aceita por aqueles que se mostrarem racional ou sentimentalmente resistentes aos assuntos tratados, embora sejam de extrema importância.
6 comentários:
Hey Silas, o texto está dificil de ler (não por estar complicado, mas por estar da mesma cor do fundo).
Por isso mesmo não lí tudo, mas a coisa toda parece interessante.
Do que pude ler até agora só faço a ressalva de que a ciência realmente não deveria ser a nossa fonte de ética e moral.
Você fala que o 'paradigma evolucionista' justifica a competição captalista e o comportamento egoista. De fato ele não o faz. A meu ver o tal 'paradigma evolucionista' apenas nos mostra que devemos transcender nossas raizes animais para ter uma vida completa em sociedade.
Já ha algum tempo eu me pergunto se a evolução pode explicar todas as facetas da mente humana. Sua reposta parece interessante...
Fica na Paz
Ahhh. A cor do texto ficou certa agora. Vou ler o resto
Fica na Paz de Cristo Silas
Esse blog de vez em quando fica rebelde e o fundo muda de cor. Coisa de louco!
Temos que ver as coisas de outro ponto de vista, emiliano. Os paradigmas aceitos pela ciência acerca da natureza influencia, em muito, na moral da maioria das pessoas.
Pra mim não tem sentido algum em mudar a forma de se pensar só porque o heliocentrismo foi exposto, mas isso aconteceu.
Como eu ja te disse, eu saio por aí atrás de debates. Já encontrei muita gente usando, efetivamente, o paradigma evolucionista para legitimar o mundo como ele é hoje.
Veja só no nosso cotidiano como somos forçados à competições totalmente artificiais e, por vezes, desnecessárias...
Eu simplesmente não posso aceitar tais premissas, porque minha fonta vai para além da racionalidade: não sou o unico a ter sentimento de amor pelo próximo bem como vários outros que simplesmente não me auxiliariam a deixar mais descendentes.
Esse texto é só a primeira parte de um trabalho maior que começei recentemente.
Valeu pelo coment.
Abraços.
Fica na paz...
Hum....Quantos capítulos terá esse seu trabalho? Seria legal, também, fazer um marcador exclusivo para ele (assim como eu fiz um para a breve crítica do cristianismo...). Quanto ao conteúdo: ainda é cedo para eu emitir um parecer. Vamos ver onde esse método lhe levará.
Mas...é claro que eu não concordo com afirmações do tipo "É por isso que existem religiões, e não porque alguns indivíduos desejam se iludir com ilusões vazias de sentido", e não acredito que a religião seja a salvaguardora da moral. Antes, concordo com o ateu e evolucionista...Richard Dawkins, que, junto a outros autores, apresenta a religião como um MAL RADICAL, que insulfla o ódio às pessoas que não participam do grupo. Com relação a Jung, o seu mentor, eu não conheço nada do pensamento dele, e provavelmente nunca terei tempo para conhecer. Justamente por isso, não me julgo capaz de criticar o seu pensamento, que pressupõe o dele.
Você sabe que eu me preocupo com afirmações do tipo "ele não poderá moldar seus comportamentos com utilitarismo obviamente ridículos do evolucionismo". Não vejo como "obviamente ridículo" esse utilitarismo...E olha que eu não sou fã do utilitarismo. Que tal se você tentasse demonstrar isso? Ou pelo menos indicasse autores que já teriam feito essa demonstração? Aliás, onde estão as citações desse trabalho? Ou ele é apenas um esboço? Além disso, "ridídulo" é um juízo de valor, uma mera opinião sua. A menos que, também, você demonstre como esse predicado pode ser seguramente aplicado, a ponto de ser "óbvio". Eu, aliás, tendo a acreditar que não existem obviedades, e que afirmar que algo é óbvio é apenas um artifício para aumentar a convicção pessoal (a fé) nesse algo.
"É fato consumado que a vivência humana transcende a racionalidade, e a própria espiritualidade é prova disso." Novamente me assusto: você consegue declarar "fatos consumados". Meus parabéns, pela sua convicção...No meu agnosticismo eu não sou capaz de ousar tanto.
"Temos que ver as coisas de outro ponto de vista, emiliano". Ah! Você usou mais uma expressão que me choca: "tem que". De novo, isso apenas serve para fundamentar a sua convicção...Sabe o que Schopenhauer diz do imperativo categórico kantiano? Que ele instaura uma moral de escravos!
Outra coisa...Como um quase bacharel em economia, eu me surpreendo com a facilidade com que você afirma que um discurso (no caso o evolucionismo) pode ser uma "causa" de um comportamento...Eu, antes, tendo a ver os discursos como formas de justificação de comportamentos que tem as suas verdadeiras causas ocultas na infra-estrutura social e econômica determinada historicamente. Perceba que eu disse "tendo a ver", e não que isso é um fato consumado, ou que é óbvio. Mas eu não sou o psicólogo aqui...
Com relação à legitimação do mundo, você sabe muito bem que não encontrará em mim um "opositor": para mim, qualquer discurso questionador é melhor que a justificação e a aceitação passiva da vida como ela se apresenta.
No aguardo pelo "confronto profundo com o lado negro da existência"...
E que é o cara da foto deste post?
Boa sugestão. Ainda não sei quantos serão exatamente. Na verdade eu não escrevo as coisas de forma tão planejada quanto você.
Eu não vejo a religião, de forma absoluta, como a salvaguarda da moral. O que eu disse aí é que há um sentimento íntimo (compaixão, talvez) que é plasmado nas religiões. A religião como um mal não passa de um reflexo dos religiosos, que não lidam bem com o mal. Toda a metafísica traz o mal quando se quer: veja Eugenia, bombas atômicas como sendo manifestação do mal através da ciência. O mal existe independentemente de religiões ou ideologias, apesar de se manifestar através desses. O Dawkins sai por aí que pode negar todas as religiões sem conhece-las: é por isso que nunca se aprofunda de verdade na questão e se mantém nas religiões patriarcais. De forma prática, vemos as religiões propagarem sim a moral pela sociedade, da mesma forma que a ciência pode trazer ética. Tudo tem bem e mal, e nunca apenas um dos dois.
Esse utilitarismo será demonstrado nos próximos capítulos. Estou falando especificamente da psicologia evolucionista. Basicamente se diz que cada um dos nossos comportamentos de hoje são um espectro de outros que tornaram nossa espécie melhor adaptada ao ambiente. Eu poderia te indicar Jung ou autores que aceitam metafísica espírita(Jung não é espírita) sobre idéias e comportamentos totalmente alheios à adaptação (Sócrates seria um bom exemplo). Sobre o oposto, há toneladas de autores de psicologia evolucionista nos estados unidos. Lembro do nome de uma autora dum livrão que li. Sarah Blaffer Hrdy.
As citações do trabalho eu não coloquei justamente porque isso é um blog e não levo tão a sério. Aqui eu só vomito minhas ladainhas. É um juízo de valor e o demonstrarei. O seu comportamento (desculpe te usar como exemplo) é (ou era) totalmente auto-destrutivo: não seria passado adiante com a evolução. Acontece que eles vão ao comportamento humano, o reduzem à neurologia e usam o evolucionismo para explicar tudo. É ridículo, em primeiro lugar, porque não traz nenhuma implicação que não reforçar o evolucionismo. Ou seja, não tem utilidade prática. E também é risível porque a organização social de humanos é muito mais plástica e complexa: não há como determinar nosso comportamento da mesma maneira que fazem com o de um cão (que faz cara de miserável para conseguir nossa comida).
Sobre a convicção, não se engane: são meras palavras. É pouco provável que isso permaneça assim. Esse trabalho será ainda muito alterado e pretendo até mesmo alterar esse post no blog com o decorrer da minha pesquisa. A espiritualidade, no entanto, é algo vivencial: algo que muitos buscam e que vai para além do simples desejo de vida eterna. A vida humana transcende a racionalidade porque não é só a razão que existe no homem.
As suas impressões sobre minha linguagem contradizem a mensagem que quero passar. Esse temos que não tem a intenção de dar um tom definitivo. É só uma questão de palavras. Eu poderia usar “poderíamos” e isso não mudaria o sentido do que quis dizer. Aliás, vou reler meu texto, pois acho que mesmo essa argumentação no comentário já mudou a idéia.
Sobre a dualidade causa/efeito entre capitalismo e evolucionismo, minha idéia é que um legitima o outro. Ou seja, o evolucionismo dá lugar ao capitalismo, que, por sua vez, dá lugar ao evolucionismo. Um é o fundamento do outro: algo difícil de definir com analogias espaciais.
Fico grato pelo seu comentário: me fez raciocinar melhor sobre a questão e organizar melhor a idéia. Sempre receberei suas críticas de braços abertos. O cara da foto de cima é o David Rockerfeller, talvez você reconheça como o pai de Nicholas Rockerfeller, citado, se não me engano, no Zeitgeist Addendum. O de baixo você já deve saber: é o Macedo.
Preciso continuar minhas pesquisas para continuar postando. É provável que eu leve pelo menos um mês para terminar a primeira versão do segundo capítulo.
Tá legal então. Apenas um "esclarecimento" sobre a questão dos marcadores: por exemplo, atualmente esse seu capítulo tem 19 (!) marcadores, mas nenhum que permitiria ao leitor ir direto ao capítulo II (a menos, é claro) que você não escreva mais nada enquanto estiver postando esse livro, de forma que os capítulos apareçam em seqüência. Caso contrário, um futuro leitor teria que ficar correndo o blog todo e ir "catando" os capítulos desse livro.
Só uma outra coisa, percebi que você cita a "modernidade" no seu blog. Por acaso você sabe que já estamos na pós-modernidade? Se não, pesquise o assunto!
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pós-modernidade
modernidade
(moderno + -idade)
s. f.
1. Estado ou qualidade do que é moderno.
2. Coisa nova ou recente. = novidade
Ta com letra minuscula, Duan.
Criei agorinha o marcador. É mesmo uam boa idéia...
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