Em primeiro lugar, para desenvolver o raciocínio, vou definir os principais termos que pretendo utilizar.
O pensamento passivo é um tipo de raciocínio que vai fluindo sem o controle do Eu¹. É quase que um tipo involuntário de pensamento que, no entanto, nos leva a conclusões, por vezes interessantes. Segundo a tipologia Junguiana, esse é o pensamento orientado pela intuição. O que o contrapõe, que é o pensamento orientado pela sensação, é estruturado e planejado em busca de uma conclusão ou resposta. Diferente do pensamento passivo, o pensamento ativo é controlado pelo Eu.
Já que o pensamento passivo é aquele que determina nossa metafísica (porque esta é algo irrefletido), é forçoso que o pensamento ativo é submetido a ele, embora se deseje que as determinações do eu sejam absolutas.
Evitando discussão sobre a conceituação da moral, quero deixar claro que falo de um aspecto desta, aqui. Não falo da moral como um sistema de regras para o comportamento objetivo, mas apenas de moral como regras para pensamentos e sentimentos. A moral que define o que pode ser pensado e o que pode ser sentido.
Por vezes um pensamento passivo, já que está fora do nosso controle, contraria certos paradigmas ou valores do Eu. Assim, se eu tenho uma visão maniqueísta baseada numa religiosidade dogmática, é provável que meus valores rejeitem certos sentimentos (a saber, raiva, ressentimento, etc.) e que meus paradigmas rejeitem certas idéias (ateísmo, outra visão religiosa, etc.).
Apesar desse funcionamento imperativo do Eu em relação ao filtro de idéias e sentimentos, podendo reprimir certos pensamentos alcançados de forma passiva, seria essencial para o desenvolvimento do indivíduo que ele seguisse o conselho de Nietzsche: Se transformar em leão, a fim de matar o dragão, que possui em suas escamas o “tu deves”.
Não quero passar aqui uma idéia de que deve-se abrir a mente a outras (todas as) perspectivas. Não adianta tentarmos assimilar idéias que contrariem nossa essência ou estágio, pois a idéia não passará de um conjunto de palavras sem valor (eis aí um argumento contra a disciplina). Somente seria saudável reconhecer o caráter efêmero das idéias. Como já disse noutras postagens, nossos pensamentos, em sua maioria, nada mais são do que um reflexo de nossa identidade ou do estágio no qual no encontramos.
Daí decorre que abraçar dogmaticamente a alguma idéia é se prender ao passado e impedir o próprio desenvolvimento.
Poder-se-ia objetar que é escolha do Eu decidir se quer desenvolver-se ou não. E seria plausível tal objeção em nível filosófico. Só que em nível psicológico, a deliberação do Eu não é assim tão poderosa quanto queremos que seja: O impulso para o desenvolvimento e o equilíbrio continua acontecendo na psique inconsciente.
O juízo de valor sobre uma idéia alcançada de forma passiva deveria ser sempre positivo, embora, mesmo com boa vontade, nem sempre isso seja possível, já que esse tipo de idéia flui do inconsciente com certas mensagens, que podem, por vezes, integrar conteúdos reprimidos ou que nunca foram conscientes. Assim a consciência seria expandida e mesmo a qualidade de vida seria melhorada.
No entanto, quando um padrão moral toma conta da mente do indivíduo, alguns símbolos são negados e ele se mantém estagnado em seu desenvolvimento.
Tudo isso por uma moral que, embora possa parecer firme, é tão efêmera quando os paradigmas que vem e vão. É de suma importância entender que nem sempre pensamentos passivos são equivalentes a algo que precede os atos. Muitas vezes (senão todas) eles são símbolos que nos ocorrem com o objetivo de expandir a consciência.
Concluindo, a mensagem aqui é que deve haver sempre uma reflexão crítica sobre a metafísica: é dela que fluem nosso desenvolvimento de raciocínio e nossa conclusão. Por mais que queiramos, escolher nossa metafísica é impossível. Até porque, do ponto de vista racional, uma metafísica não é melhor do que a outra. Apenas aquela que mais se adequar à nossa identidade ou estágio parecerá mais agradável e aceitável. Uma reflexão sobre nossa metafísica nos leva a uma maior compreensão sobre nossa própria identidade. Quando digo identidade ou estágio, quero postular que, embora mudemos, não mudamos. Noutras palavras, a mudanças pelas quais passamos na vida nada mais são do que estágios para a realização do que verdadeiramente somos. Para a individuação.
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1: O Eu a que me refiro é o Ego. O centro da consciência. É aquilo que é identificado na consciência como o que somos.
Já que o pensamento passivo é aquele que determina nossa metafísica (porque esta é algo irrefletido), é forçoso que o pensamento ativo é submetido a ele, embora se deseje que as determinações do eu sejam absolutas.
Evitando discussão sobre a conceituação da moral, quero deixar claro que falo de um aspecto desta, aqui. Não falo da moral como um sistema de regras para o comportamento objetivo, mas apenas de moral como regras para pensamentos e sentimentos. A moral que define o que pode ser pensado e o que pode ser sentido.
Por vezes um pensamento passivo, já que está fora do nosso controle, contraria certos paradigmas ou valores do Eu. Assim, se eu tenho uma visão maniqueísta baseada numa religiosidade dogmática, é provável que meus valores rejeitem certos sentimentos (a saber, raiva, ressentimento, etc.) e que meus paradigmas rejeitem certas idéias (ateísmo, outra visão religiosa, etc.).
Apesar desse funcionamento imperativo do Eu em relação ao filtro de idéias e sentimentos, podendo reprimir certos pensamentos alcançados de forma passiva, seria essencial para o desenvolvimento do indivíduo que ele seguisse o conselho de Nietzsche: Se transformar em leão, a fim de matar o dragão, que possui em suas escamas o “tu deves”.
Não quero passar aqui uma idéia de que deve-se abrir a mente a outras (todas as) perspectivas. Não adianta tentarmos assimilar idéias que contrariem nossa essência ou estágio, pois a idéia não passará de um conjunto de palavras sem valor (eis aí um argumento contra a disciplina). Somente seria saudável reconhecer o caráter efêmero das idéias. Como já disse noutras postagens, nossos pensamentos, em sua maioria, nada mais são do que um reflexo de nossa identidade ou do estágio no qual no encontramos.
Daí decorre que abraçar dogmaticamente a alguma idéia é se prender ao passado e impedir o próprio desenvolvimento.
Poder-se-ia objetar que é escolha do Eu decidir se quer desenvolver-se ou não. E seria plausível tal objeção em nível filosófico. Só que em nível psicológico, a deliberação do Eu não é assim tão poderosa quanto queremos que seja: O impulso para o desenvolvimento e o equilíbrio continua acontecendo na psique inconsciente.
O juízo de valor sobre uma idéia alcançada de forma passiva deveria ser sempre positivo, embora, mesmo com boa vontade, nem sempre isso seja possível, já que esse tipo de idéia flui do inconsciente com certas mensagens, que podem, por vezes, integrar conteúdos reprimidos ou que nunca foram conscientes. Assim a consciência seria expandida e mesmo a qualidade de vida seria melhorada.
No entanto, quando um padrão moral toma conta da mente do indivíduo, alguns símbolos são negados e ele se mantém estagnado em seu desenvolvimento.
Tudo isso por uma moral que, embora possa parecer firme, é tão efêmera quando os paradigmas que vem e vão. É de suma importância entender que nem sempre pensamentos passivos são equivalentes a algo que precede os atos. Muitas vezes (senão todas) eles são símbolos que nos ocorrem com o objetivo de expandir a consciência.
Concluindo, a mensagem aqui é que deve haver sempre uma reflexão crítica sobre a metafísica: é dela que fluem nosso desenvolvimento de raciocínio e nossa conclusão. Por mais que queiramos, escolher nossa metafísica é impossível. Até porque, do ponto de vista racional, uma metafísica não é melhor do que a outra. Apenas aquela que mais se adequar à nossa identidade ou estágio parecerá mais agradável e aceitável. Uma reflexão sobre nossa metafísica nos leva a uma maior compreensão sobre nossa própria identidade. Quando digo identidade ou estágio, quero postular que, embora mudemos, não mudamos. Noutras palavras, a mudanças pelas quais passamos na vida nada mais são do que estágios para a realização do que verdadeiramente somos. Para a individuação.
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1: O Eu a que me refiro é o Ego. O centro da consciência. É aquilo que é identificado na consciência como o que somos.
3 comentários:
Concordo com tudo o que foi dito, salvo questões menores de terminologia.
Me surpreende que concorde. Talvez porque eu tenha deixado de lado (pelo menos recentemente) o cor de rosa.
Se dispor de tempo e paciência, gostaria de tomar conhecimento sobre as questões menores de terminologia.
achei o artigo fantástico....gosto de deixar o pensamento no "piloto automático"...pq sempre que tento me reprimir ou me ater à alguma mora(isto em tempos passados),surgem em mim fobias....concordo com tudo...
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