Continuei pela estrada a uns 110 por hora até chegar no caminhão do exercito que vi da praia. Apontaram metralhadoras para o carro, ao que parei o carro.
- Sai do carro com as mãos na cabeça
- To com uma pistola na mão direita. Não vou atirar. Olhem estou segurando só com dois dedos.
- Matamos ele ou não?
- Não sei, não parece ferido.
- Me matar é um desperdício. Não to infectado.
- Como sabe que é uma infecção?
- Deduzi. Enfim, também tenho uma arma. Apesar de não saber atirar eu posso aprender e acho que pra enfrentar essas coisas você precisarão de ajuda.
- Sei não. Você tem cara de lerdo.
- Se eu atrasar vocês é só me deixar pra trás.
- Ta certo então.
- O que vocês tão fazendo aqui?
- Acabamos de fugir do bairro mais próximo: completamente infectado.
- Puta que pariu! Lá pra Angra também ta?
- Ta tudo infectado pra esse lado da estrada. Só paramos aqui porque não temos mais gasolina.
- Se souberem como podem tirar a gasolina desse carro que eu vim dirigindo. Se não, podemos nos amontoar nele mesmo e ir.
- Somos cinco: um vai ser que ir no porta-malas.
Um deles quebrou o vidro do porta-malas com o fuzil, tirou os cacos de vidro e entrou.
- Fico aqui de olho atirando neles se vierem atrás da gente.
- Tem zumbis vindo de onde você vieram?
- Eles correm pelas estradas quando dão com carros, mas quando não tem eles vêm andando. Devem levar algumas horas até chegarem aqui.
- Tinha alguns vindo atrás de mim de onde eu vim também, mas a vila não tem tanta gente.
- Tem mercado lá?
- Tem.
- Temos que parar num mercado. É ponto de suprimentos.
- Só voando, cara. Ta cheio deles lá.
- Disse que o moleque e lerdo. Cara, nós temos como matar eles com explosivos. Temos detonadores de controle remoto.
- Como vão fazer pra juntar eles em volta do detonador?
- A gente ta com uns sinalizadores sonoros. Só ligar que eles vêm correndo atrás do barulho.
- Caralho, pensaram nisso quando?
- A uns quatro dias.
- Puta que o pariu! Pensei que isso era dessa madrugada.
- Dessa madrugada aqui. Lá pro centro do rio já ta tudo destruído. Estamos fugindo pro sul porque disseram que lá ta seguro.
- Certo. Deve haver um aglomerado deles perto da entrada da usina a estrada principal tava com pelo menos cem que estavam me seguindo, mas se formos pela usina tem uma passagem direto pra vila. Se não formos por lá não vai ter como entrar com o caminhão.
- Tem monstros perto dessa entrada da vila?
- Vi um grupo grande numa rua próxima. Nesse momento devem estar parados. Com seu detonador podemos pegar eles e chegar até o mercado.
- Não é tão lerdo assim. Só temos dois sinalizadores, embora ainda tenhamos uns cinco detonadores. Vamos explodir eles na entrada da usina e na vila. Daí entramos no mercado e fechamos tudo.
- E depois? – perguntou um dos soldados
- Depois não sei, porra. Tenho cara de comandante. Lá a gente decide.
- Beleza, bora. O motorista do caminhão assumiu o comando do carro. Pegaram mais uns cinco fuzis com silenciador e cinco bombas.
Dirigimos até um ponto próximo à usina: bem na entrada havia vinte deles. Pararam com o carro e atiraram de longe. Um barulho insignificante no tiro. Pareciam mesmo preparados para enfrentar essa praga. Preparados demais...
- deve haver mais deles la pra baixo. Vamos colocar o explosivo naquele ponto, onde não danificaremos a passagem da estrada e nem a entrada.
Fui com eles, que agiam como se eu não existisse. Alguns zumbis nos avistaram e vieram correndo e berrando.
- Esses aí vão atrair outros.
- Vão nada. Se matamos rápido os outros meio que interpretam como alarme falso.
- O que são essas coisas?
- Para de falar, porra.
Me calei e observei como eles trabalhavam coordenadamente. Simplesmente não atiravam no mesmo zumbi, e sempre acertavam a cabeça. Provavelmente eram soldados de elite ou algo assim. Ativaram a bomba e em seguida o som. Parecia o sinal do meu colégio.
Correram imediatamente e eu fui junto. Felizmente consegui acompanhar o ritmo.
Do ponto em que estávamos era possível que os monstros nos avistassem, mas apenas poucos nos viram. Todos correram em direção ao som. Quando se aglomerou uma grande quantidade eles detonaram o explosivo, que lançou alguns longe.
Alguns estavam em chamas, outros desmembrados. Somente alguns pareciam começar a se levantar. Arrancaram com o carro. Três ficaram do lado de fora atirando nos que nos perseguiam. Eram poucos.
- É pra onde, moleque?
- Vira pra direita ali. Vai direto e quebra a cerca
Seguimos por aquele caminho que eu nunca havia visto e acabamos na estação de tratamento de água da vila. Lá de cima deu para ver muitos zumbis tentando sair do valão. Provavelmente desceram por outra parte atrás daquele meu colega que escapou. Será que ele sobreviveu?
- Há muitos deles presos no valão, mas se correrem até a praia se libertam.
- Foda-se, não vou gastar bala com zumbi que não ataca. Aliás, falando em praia, tem cais nessa praia?
- Não, não é permitido nem permanecer com barcos na praia.
- Que merda...
Seguimos pela rua da extremidade. Tudo estava deserto por ali. Alguns zumbis estavam sozinhos espalhados pelo local. Os soldados os mataram rápido. Muitos nem perceberam nossa presença. Na parte de trás do mercado havia aquele típico cheiro ruim. Um caminhão de refrigerante estava com a porta aberta, e a entrada estava escancarada. Provavelmente lá dentro confrontaríamos problemas. Entramos e passamos por alguns corredores escuros.
- Moleque. Volta e pega os rifles.
- Porra. Sozinho?
- Vai logo, porra.
Voltei contrariado, mas não tinha escolha. Eram cinco, e pensei que poderia carregar todos de uma vez. Um erro, pois eram muito pesados. Com dificuldade peguei dois e levei pra dentro. Quando sai para a segunda viagem ouvi berros de dentro do mercado e tiro. O barulho por certo atrairia mais monstros, e por isso me apressei em carregar outros dois rifles. Quando voltei, vi uns dez deles vindo correndo. Coloquei a pistola na cintura e usei o rifle para atirar neles. Segurei a arma como os personagens dos jogos fazem e dei uma rajada. Caí no chão e acertei apenas um na perna. Ele caiu e outro tropeçou nele, mas seria inútil tentar enfrentálos. Entrei e tentei fechar a porta, mas um deles colocou o braço pra dentro antes. Apoiei as duas pernas na parede e fiz força para não abrirem, mas percebi que não agüentaria muito: os malditos são muito fortes.
- ajuda aqui! Caralho, vão entrar!
Um dos soldados veio e começou a atirar pela fresta aberta graças ao braço do zumbi. Depis que o braço parou de se mover eu tirei os pés da parede e ele continuou atirando. Joguei o braço do monstro pra fora e fechei a porta.
- Trouxe os explosivos?
- Não. Não deu tempo.
- Porra, seu animal. Agora vamos sair como? Tomar no cu! Lerdo pra caralho!
Peguei barras de ferro e travei a porta com elas. Estava em choque e não queria falar nada. Lá dentro, uma carnificina. Uns trinta zumbis estirados no chão.
- vão apodrecer. Temos que tirar os corpos daqui. Vai levar pra onde? Pro jardim da sua casa?
- Não sei, cara. Mas deixar aqui vai ser foda.
- Larga eles no frigorífico. – Falou uma voz feminina vinda do acouge. – Tem espaço lá e não vão apodrecer, feder e nem trazer pestes.
O olhar dela era maio vazio. Nem quero imaginar o que ela presenciou aqui. Parece que suas emoções estão escondidas dela mesma.
- Quem é você?
- Sou Isabela. Sou gerente do mercado. Tava escondida no açougue. Fecharam lá atrás?
- Sim.
- Então aproveitem que ainda tem eletricidade aqui. Vou tentar acessar a internet la em cima. O combustível do gerador deve acabar logo logo.
Sentei no chão perto das frutas. Peguei uma maçã e me encostei uma prateleira. Imaginei que essa seria a hora em que o pesadelo acabaria...
- ô Maria mole. Sentou porque. Temos que carregar os corpos!
- Beleza.
Me levantei e joguei a maçã numa caixa vazia. Quatro soldados carregavam dois corpos, então provavelmente eu carregaria um com esse que me chamava.
- qual é o seu nome, cara?
- Soldado Costa.
- Não, to falando do seu nome.
- Alberto.
- Então, Alberto. Vocês mataram todos esses ou alguns já estava caídos? Já tinha uns cinco caídos.
- Vamos tomar cuidado com os que já estavam caídos. Sei lá, podem se levantar.
Ele deu um tiro na cabeça de um que estava próximo.
- ta seguro pra você agora?
- Que porra foi essa aí? – chegou gritando outro militar.
- Né nada não, sargento. É que esse moleque ta com medo de os caídos levantarem.
- Para de sacanear o moleque, porra. Os caídos levantam mesmo. E para de enrolar e começa a carregar essa porra.
- Sim, senhor!
Pegamos o corpo, eu pelas pernas e ele pelos braços. Sacudiu o cadáver, o que me deu um susto. Começou a rir. Numa situação dessas eu também riria, mas as imagens que estavam na minha mente me impediam. Chegamos no frigorífico e colocamos o corpo em cima de outros dois, lá no fundo. Tinha um cheiro estranho. Uma mistura de carne crua com cadáver. Até que o cheiro não era assim tão diferente.
Carregamos todos os corpos. No total trinta e um. No final eu estava exausto, mas ainda tivemos que limpar o chão. Quase todo o hospital estava banhado em sangue. Todo aquele trabalho mantia pensamentos distantes da minha mente. Não sei dizer se isso é bom ou ruim. Por um lado, isso alivia a angústia que toma conta de mim, e por outro eu sei que reprimir não vai me ajudar a longo prazo. Mais cedo ou mais tarde vou ter que enfrentar essas imagens.
Quando tudo estava em ordem o sargento nos deu ordem para descansar. Eu tinha, efetivamente, me tornado um soldado. Em meio Àquele desespero ele demonstrava uma firmeza que, de certa forma, me fazia ouvi-lo.
Peguei um saco de arroz, fiz de travesseiro e deitei no chão.
- Já vai dormir, moleque?
- Porra, se eu não dormir eu vou entrar em parafuso, cara. Caralho, ta todo mundo morto!
Tentei segurar, mas uma lagrima escorreu pelo meu rosto. Pensei que Alberto iria rir, mas ele se calou. Com um olhar meio vazio e triste ele se foi ao comando do sargento. Nem quero saber o que vão fazer.
O cavaleiro azul voltou. Eu já o conhecia de outro sonho. É um sonho lúcido, e o ambiente está agradável de novo. Cheiro bom, dia claro. Eu e o cavaleiro azul estávamos no quintal da minha casa.
- E agora? – perguntei
- Agora tudo se renova.
- Tudo está sendo destruído!
- Tinha que ser assim.
- Porque?
- Não tenho nada com explicações ou justificativas. É assim que acontece.
- Acontece o que?
- De que vale minha explicação? Vá adiante e verá!
Acordei com o barulho de tiros. Abriram um buraco no telhado e subiram.
- Da pra pisar, sargento!
- Como é que ta aí fora?
- Ta foda, sargento. Tem pelo menos uns 150 lá atrás. Na frente mais sessenta. Isso sem falar nos que tão vindo pra cá das ruas. Vão chegando um a um.
Levantei e fui até eles.
- Se matarmos eles e ficarmos em silêncio, talvez aqui seja seguro. A entrada principal ta destruída e aquela de onde viemos é meio escondida. Duvido que muitos venham de lá.
- Ta, mas e depois. Rapa, o coronel deu o papo antes de sair que quem chegar no sul será levado pro hemisfério norte. Pra lá não tem infecção.
- Onde isso começou?
- Sei lá, porra.
- Como sabe que não tem no hemisfério norte?
- Porque o coronel disse.
- Isso é burrice. Se sairmos daqui pro sul a gente vai acabar morrendo. Ou morremos no meio do caminho ou morremos lá: é só em filmes que os americanos sobrevivem às piores tragédias.
- Isso não é verdade. – interferiu um dos soldados. – diz pra ele sargento.
- Porra, não é pra ficar passando essas informações!
- E quem vai reclamar?
- Ta legal. Se liga, nosso coronel nos treinou contra esses monstros um mês antes de a pandemia começar.
- Caralho, você estavam prontos?
- Mais ou menos. Sabemos como eles se comportam, mas na prática é complicado. Éramos um grupo de dez.
- Puta que o pariu!
- Que foi? – disse o soldado.
- Isso foi um plano de extermínio, cara. Eles exterminaram nosso país!
- Que se foda. Vou pros estados unidos e la terei vida boa.
- Porra, pensei que no exercito ensinavam patriotismo. Quer dizer que os caras destruíram sua vida e sua nação e você não se importa. E sua família
- Eu não tenho família, e esse papo de patriotismo é balela. Na hora do vamos ver as pessoas só pensam em si.
O outro soldado pareceu movido pelas coisas que eu disse. Não acredito com tanta convicção em patriotismo. Na verdade também me sinto indignado por todos os outros países que provavelmente também foram dizimados por essa praga. Só estava tentando me articular na linguagem deles, o que pareceu inútil.
- Sai do carro com as mãos na cabeça
- To com uma pistola na mão direita. Não vou atirar. Olhem estou segurando só com dois dedos.
- Matamos ele ou não?
- Não sei, não parece ferido.
- Me matar é um desperdício. Não to infectado.
- Como sabe que é uma infecção?
- Deduzi. Enfim, também tenho uma arma. Apesar de não saber atirar eu posso aprender e acho que pra enfrentar essas coisas você precisarão de ajuda.
- Sei não. Você tem cara de lerdo.
- Se eu atrasar vocês é só me deixar pra trás.
- Ta certo então.
- O que vocês tão fazendo aqui?
- Acabamos de fugir do bairro mais próximo: completamente infectado.
- Puta que pariu! Lá pra Angra também ta?
- Ta tudo infectado pra esse lado da estrada. Só paramos aqui porque não temos mais gasolina.
- Se souberem como podem tirar a gasolina desse carro que eu vim dirigindo. Se não, podemos nos amontoar nele mesmo e ir.
- Somos cinco: um vai ser que ir no porta-malas.
Um deles quebrou o vidro do porta-malas com o fuzil, tirou os cacos de vidro e entrou.
- Fico aqui de olho atirando neles se vierem atrás da gente.
- Tem zumbis vindo de onde você vieram?
- Eles correm pelas estradas quando dão com carros, mas quando não tem eles vêm andando. Devem levar algumas horas até chegarem aqui.
- Tinha alguns vindo atrás de mim de onde eu vim também, mas a vila não tem tanta gente.
- Tem mercado lá?
- Tem.
- Temos que parar num mercado. É ponto de suprimentos.
- Só voando, cara. Ta cheio deles lá.
- Disse que o moleque e lerdo. Cara, nós temos como matar eles com explosivos. Temos detonadores de controle remoto.
- Como vão fazer pra juntar eles em volta do detonador?
- A gente ta com uns sinalizadores sonoros. Só ligar que eles vêm correndo atrás do barulho.
- Caralho, pensaram nisso quando?
- A uns quatro dias.
- Puta que o pariu! Pensei que isso era dessa madrugada.
- Dessa madrugada aqui. Lá pro centro do rio já ta tudo destruído. Estamos fugindo pro sul porque disseram que lá ta seguro.
- Certo. Deve haver um aglomerado deles perto da entrada da usina a estrada principal tava com pelo menos cem que estavam me seguindo, mas se formos pela usina tem uma passagem direto pra vila. Se não formos por lá não vai ter como entrar com o caminhão.
- Tem monstros perto dessa entrada da vila?
- Vi um grupo grande numa rua próxima. Nesse momento devem estar parados. Com seu detonador podemos pegar eles e chegar até o mercado.
- Não é tão lerdo assim. Só temos dois sinalizadores, embora ainda tenhamos uns cinco detonadores. Vamos explodir eles na entrada da usina e na vila. Daí entramos no mercado e fechamos tudo.
- E depois? – perguntou um dos soldados
- Depois não sei, porra. Tenho cara de comandante. Lá a gente decide.
- Beleza, bora. O motorista do caminhão assumiu o comando do carro. Pegaram mais uns cinco fuzis com silenciador e cinco bombas.
Dirigimos até um ponto próximo à usina: bem na entrada havia vinte deles. Pararam com o carro e atiraram de longe. Um barulho insignificante no tiro. Pareciam mesmo preparados para enfrentar essa praga. Preparados demais...
- deve haver mais deles la pra baixo. Vamos colocar o explosivo naquele ponto, onde não danificaremos a passagem da estrada e nem a entrada.
Fui com eles, que agiam como se eu não existisse. Alguns zumbis nos avistaram e vieram correndo e berrando.
- Esses aí vão atrair outros.
- Vão nada. Se matamos rápido os outros meio que interpretam como alarme falso.
- O que são essas coisas?
- Para de falar, porra.
Me calei e observei como eles trabalhavam coordenadamente. Simplesmente não atiravam no mesmo zumbi, e sempre acertavam a cabeça. Provavelmente eram soldados de elite ou algo assim. Ativaram a bomba e em seguida o som. Parecia o sinal do meu colégio.
Correram imediatamente e eu fui junto. Felizmente consegui acompanhar o ritmo.
Do ponto em que estávamos era possível que os monstros nos avistassem, mas apenas poucos nos viram. Todos correram em direção ao som. Quando se aglomerou uma grande quantidade eles detonaram o explosivo, que lançou alguns longe.
Alguns estavam em chamas, outros desmembrados. Somente alguns pareciam começar a se levantar. Arrancaram com o carro. Três ficaram do lado de fora atirando nos que nos perseguiam. Eram poucos.
- É pra onde, moleque?
- Vira pra direita ali. Vai direto e quebra a cerca
Seguimos por aquele caminho que eu nunca havia visto e acabamos na estação de tratamento de água da vila. Lá de cima deu para ver muitos zumbis tentando sair do valão. Provavelmente desceram por outra parte atrás daquele meu colega que escapou. Será que ele sobreviveu?
- Há muitos deles presos no valão, mas se correrem até a praia se libertam.
- Foda-se, não vou gastar bala com zumbi que não ataca. Aliás, falando em praia, tem cais nessa praia?
- Não, não é permitido nem permanecer com barcos na praia.
- Que merda...
Seguimos pela rua da extremidade. Tudo estava deserto por ali. Alguns zumbis estavam sozinhos espalhados pelo local. Os soldados os mataram rápido. Muitos nem perceberam nossa presença. Na parte de trás do mercado havia aquele típico cheiro ruim. Um caminhão de refrigerante estava com a porta aberta, e a entrada estava escancarada. Provavelmente lá dentro confrontaríamos problemas. Entramos e passamos por alguns corredores escuros.
- Moleque. Volta e pega os rifles.
- Porra. Sozinho?
- Vai logo, porra.
Voltei contrariado, mas não tinha escolha. Eram cinco, e pensei que poderia carregar todos de uma vez. Um erro, pois eram muito pesados. Com dificuldade peguei dois e levei pra dentro. Quando sai para a segunda viagem ouvi berros de dentro do mercado e tiro. O barulho por certo atrairia mais monstros, e por isso me apressei em carregar outros dois rifles. Quando voltei, vi uns dez deles vindo correndo. Coloquei a pistola na cintura e usei o rifle para atirar neles. Segurei a arma como os personagens dos jogos fazem e dei uma rajada. Caí no chão e acertei apenas um na perna. Ele caiu e outro tropeçou nele, mas seria inútil tentar enfrentálos. Entrei e tentei fechar a porta, mas um deles colocou o braço pra dentro antes. Apoiei as duas pernas na parede e fiz força para não abrirem, mas percebi que não agüentaria muito: os malditos são muito fortes.
- ajuda aqui! Caralho, vão entrar!
Um dos soldados veio e começou a atirar pela fresta aberta graças ao braço do zumbi. Depis que o braço parou de se mover eu tirei os pés da parede e ele continuou atirando. Joguei o braço do monstro pra fora e fechei a porta.
- Trouxe os explosivos?
- Não. Não deu tempo.
- Porra, seu animal. Agora vamos sair como? Tomar no cu! Lerdo pra caralho!
Peguei barras de ferro e travei a porta com elas. Estava em choque e não queria falar nada. Lá dentro, uma carnificina. Uns trinta zumbis estirados no chão.
- vão apodrecer. Temos que tirar os corpos daqui. Vai levar pra onde? Pro jardim da sua casa?
- Não sei, cara. Mas deixar aqui vai ser foda.
- Larga eles no frigorífico. – Falou uma voz feminina vinda do acouge. – Tem espaço lá e não vão apodrecer, feder e nem trazer pestes.
O olhar dela era maio vazio. Nem quero imaginar o que ela presenciou aqui. Parece que suas emoções estão escondidas dela mesma.
- Quem é você?
- Sou Isabela. Sou gerente do mercado. Tava escondida no açougue. Fecharam lá atrás?
- Sim.
- Então aproveitem que ainda tem eletricidade aqui. Vou tentar acessar a internet la em cima. O combustível do gerador deve acabar logo logo.
Sentei no chão perto das frutas. Peguei uma maçã e me encostei uma prateleira. Imaginei que essa seria a hora em que o pesadelo acabaria...
- ô Maria mole. Sentou porque. Temos que carregar os corpos!
- Beleza.
Me levantei e joguei a maçã numa caixa vazia. Quatro soldados carregavam dois corpos, então provavelmente eu carregaria um com esse que me chamava.
- qual é o seu nome, cara?
- Soldado Costa.
- Não, to falando do seu nome.
- Alberto.
- Então, Alberto. Vocês mataram todos esses ou alguns já estava caídos? Já tinha uns cinco caídos.
- Vamos tomar cuidado com os que já estavam caídos. Sei lá, podem se levantar.
Ele deu um tiro na cabeça de um que estava próximo.
- ta seguro pra você agora?
- Que porra foi essa aí? – chegou gritando outro militar.
- Né nada não, sargento. É que esse moleque ta com medo de os caídos levantarem.
- Para de sacanear o moleque, porra. Os caídos levantam mesmo. E para de enrolar e começa a carregar essa porra.
- Sim, senhor!
Pegamos o corpo, eu pelas pernas e ele pelos braços. Sacudiu o cadáver, o que me deu um susto. Começou a rir. Numa situação dessas eu também riria, mas as imagens que estavam na minha mente me impediam. Chegamos no frigorífico e colocamos o corpo em cima de outros dois, lá no fundo. Tinha um cheiro estranho. Uma mistura de carne crua com cadáver. Até que o cheiro não era assim tão diferente.
Carregamos todos os corpos. No total trinta e um. No final eu estava exausto, mas ainda tivemos que limpar o chão. Quase todo o hospital estava banhado em sangue. Todo aquele trabalho mantia pensamentos distantes da minha mente. Não sei dizer se isso é bom ou ruim. Por um lado, isso alivia a angústia que toma conta de mim, e por outro eu sei que reprimir não vai me ajudar a longo prazo. Mais cedo ou mais tarde vou ter que enfrentar essas imagens.
Quando tudo estava em ordem o sargento nos deu ordem para descansar. Eu tinha, efetivamente, me tornado um soldado. Em meio Àquele desespero ele demonstrava uma firmeza que, de certa forma, me fazia ouvi-lo.
Peguei um saco de arroz, fiz de travesseiro e deitei no chão.
- Já vai dormir, moleque?
- Porra, se eu não dormir eu vou entrar em parafuso, cara. Caralho, ta todo mundo morto!
Tentei segurar, mas uma lagrima escorreu pelo meu rosto. Pensei que Alberto iria rir, mas ele se calou. Com um olhar meio vazio e triste ele se foi ao comando do sargento. Nem quero saber o que vão fazer.
O cavaleiro azul voltou. Eu já o conhecia de outro sonho. É um sonho lúcido, e o ambiente está agradável de novo. Cheiro bom, dia claro. Eu e o cavaleiro azul estávamos no quintal da minha casa.
- E agora? – perguntei
- Agora tudo se renova.
- Tudo está sendo destruído!
- Tinha que ser assim.
- Porque?
- Não tenho nada com explicações ou justificativas. É assim que acontece.
- Acontece o que?
- De que vale minha explicação? Vá adiante e verá!
Acordei com o barulho de tiros. Abriram um buraco no telhado e subiram.
- Da pra pisar, sargento!
- Como é que ta aí fora?
- Ta foda, sargento. Tem pelo menos uns 150 lá atrás. Na frente mais sessenta. Isso sem falar nos que tão vindo pra cá das ruas. Vão chegando um a um.
Levantei e fui até eles.
- Se matarmos eles e ficarmos em silêncio, talvez aqui seja seguro. A entrada principal ta destruída e aquela de onde viemos é meio escondida. Duvido que muitos venham de lá.
- Ta, mas e depois. Rapa, o coronel deu o papo antes de sair que quem chegar no sul será levado pro hemisfério norte. Pra lá não tem infecção.
- Onde isso começou?
- Sei lá, porra.
- Como sabe que não tem no hemisfério norte?
- Porque o coronel disse.
- Isso é burrice. Se sairmos daqui pro sul a gente vai acabar morrendo. Ou morremos no meio do caminho ou morremos lá: é só em filmes que os americanos sobrevivem às piores tragédias.
- Isso não é verdade. – interferiu um dos soldados. – diz pra ele sargento.
- Porra, não é pra ficar passando essas informações!
- E quem vai reclamar?
- Ta legal. Se liga, nosso coronel nos treinou contra esses monstros um mês antes de a pandemia começar.
- Caralho, você estavam prontos?
- Mais ou menos. Sabemos como eles se comportam, mas na prática é complicado. Éramos um grupo de dez.
- Puta que o pariu!
- Que foi? – disse o soldado.
- Isso foi um plano de extermínio, cara. Eles exterminaram nosso país!
- Que se foda. Vou pros estados unidos e la terei vida boa.
- Porra, pensei que no exercito ensinavam patriotismo. Quer dizer que os caras destruíram sua vida e sua nação e você não se importa. E sua família
- Eu não tenho família, e esse papo de patriotismo é balela. Na hora do vamos ver as pessoas só pensam em si.
O outro soldado pareceu movido pelas coisas que eu disse. Não acredito com tanta convicção em patriotismo. Na verdade também me sinto indignado por todos os outros países que provavelmente também foram dizimados por essa praga. Só estava tentando me articular na linguagem deles, o que pareceu inútil.
1 comentários:
"- Ta legal. Se liga, nosso coronel nos treinou contra esses monstros um mês antes de a pandemia começar."
hahaha, deu até arrepio ler essa parte!
no início dessa segunda parte me lembrei das bombas do jogo Left 4 Dead, que disparam um sinal sonoro pra atrair os zumbis antes de explodirem.
está bastante real, parecendo um diário mesmo, melhor que muito filme com o tema!
vou aguardar a continuação.
Adriano
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