Certa vez, havia um grupo muito animado. Estavam numa sala de aula comentando sobre uma viagem. Volta e meia alguém fazia uma piada e todos riam, menos um dos alunos. Ele ficava ali no canto esquerdo da sala, lá no fundo. Parecia nem estar lá...
- Nossa, mas eu Amo viajar. Dá uma sensação de liberdade... – disse uma das alunas
- Pois é. Ninguém te conhece, você pode fazer o que quiser! Eu da última vez que viajei... – respondeu outro colega.
Esse foi um fragmento que ele ouviu, retomando posteriormente à sua introspecção. Foi interrompido logo depois por risadas violentas. Provavelmente o cara fez alguma merda.
Alguém discordou, e disse que o amor por viagens não pode ser legítimo. Disse que em viagens você busca coisas que só pode encontrar dentro de si. Que lugares são só lugares e nada mais.
Em pouco tempo a turma estava debatendo sobre o que torna legítimo, real, algum tipo de amor. Alguns falaram da sensação no corpo. Frio na barriga, atenção focada, inquietação. Outros falaram de ideais, de inspiração, de uma forma de conexão mais... espiritual.
Embora um considerasse o lado do outro, o embate se prolongou por uns 15 minutos, até que o professor decidiu interferir.
- Hey, você aí atrás. Participe conosco. Está tão quieto hoje...
- Alguém falou comigo? - respondeu o aluno
A turma riu.
- Ta no mundo da lua, ele. Chapadão! Disse um dos alunos
- Eu falei – respondeu o professor – estávamos aqui discutindo sobre o que torna o amor legítimo. Tem alguma opinião?
- Tenho sim.
- Então compartilhe conosco.
- O amor pra ser verdadeiro precisa ser como a fênix.
- Aquela ave de fogo? - perguntou uma das alunas.
- É, essa mesmo. A das cinzas.
- Pode explicar com mais detalhes por que? - disse o professor
- É que a fênix não é efêmera. Ela é imortal. Não importa se foi o mundo lá fora que a destruiu ou se foi o próprio calor dela. Em sua essência, ela nunca morre. Sempre se renova das cinzas, sempre continua. Não há tempo, não há adversidades. Não existe, para a fênix nenhum obstáculo. A fênix, diferente de outras aves, carrega muito peso. É poderosa, resistente. Se o amor que queima dentro de nós não for como uma fênix, então ele não é amor. Ele é apego, é projeção, quem sabe paixão. Não amor. Se nosso amor não renasce, se ele não é poderoso o bastante para suportar as adversidades. Então não é verdadeiro. Não é nada. Nada além de imaturidades, bobagens de um espírito que vive de mentir para si mesmo.
A turma ficou em silêncio. Alguns concordaram balançando a cabeça, outros viraram o rosto pro teto. Depois de uns dois minutos, alguém fez um comentário:
- É, definitivamente eu amo conhaque!
E todos começaram a rir. Diferentemente de antes, o aluno do canto também riu. A aula continuou, porque papo de viagem e amor não cai na prova...
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