O conhecimento transcende a informação, porque ele vai para além de só memorizar dados: ele é o resultado de julgamentos racionais e sentimentais acerca de determinada informação. A informação, por outro lado é algo destituído de juízos por si mesmo.
Para desenvolver o raciocínio, vou separar (por didática) dois tipos de pessoa: aquelas que absorvem informação e aquelas que absorvem conhecimento do mundo externo. Claro que não existe uma pessoa que se fixe apenas num pólo, pois isso é completamente impossível na prática em ambos os casos.
Alguns indivíduos, ao absorverem um conhecimento, absorvem também o juízo de valores e das premissas racionais de quem transmite tal conhecimento. Exemplos variam de propaganda à pregações religiosas. Quando um religioso ouve e acata o conhecimento transmitido por seu líder ele passa a se encaixar naquele modelo de pessoa que absorve conhecimento do mundo externo: seus paradigmas e valores vêm de fora e isso caracteriza extroversão. No entanto, como salientei no primeiro parágrafo, não há como ser totalmente passivo o tempo inteiro: se o mesmo líder decidir se opor a tudo o que explicitou até o momento é provável que o mesmo religioso se negue a aceitar a mudança, alegando que o líder perdeu o juízo ou está, de alguma forma, possuído (fora de si).
Outros indivíduos absorvem apenas informação, buscando filtrar os juízos e as premissas usados pelo autor para “purificar” a informação. Isso pode, com efeito, distorcer o pensamento alheio ao adaptá-lo aos próprios paradigmas. Apesar disso, por mais que esse tipo de indivíduo queira se libertar dos juízos do outro, todos os seus julgamentos são fruto dessa informação que ele absorve do mundo externo.
Entre os dois tipos descritos eu poderia criar uma enorme quantidade de sub-variáveis, mas não é minha intenção com esse texto criar uma tipologia psicológica (se fosse eu estaria sendo irresponsável).
Na verdade esse texto não é revolucionário nem para o mundo externo da produção de conhecimento científico e tampouco ao meu blog. Já discuti sobre epistemologia e em diversos posts desse blog. Nada mais escrevo aqui do que a forma de comunicação intelectual que considero mais eficiente.
De início cito uma lembrança de um vídeo que me trouxe algumas reflexões racionais e éticas. Um pálido ponto azul (the pale blue dot) que, se não me engano, é baseado num texto de Carl Sagan.
Falando superficialmente, o que o texto disse foi o seguinte: isso que vemos como imensidão e chamamos de mundo não passa de um pálido ponto azul no meio do universo imenso. Noutras palavras, o texto quis dizer que o nosso mundo não significa nada e que, conseqüentemente, nós também não significamos nada diante da imensidão do universo. Uma mensagem que salienta a necessidade de humildade.
Eu, ao entrar em contato com a informação acerca da dimensão do mundo, pelo contrário, não pensei que não somos nada, mas que somos tudo. Noutras palavras, do ponto de vista ontológico, eu vejo todas as coisas como sendo inseparavelmente conectadas ao ponto de poder dizer que nós somos o universo e vice-versa.
E no final, por mais que tenhamos feito uma viagem de raciocínio diferente, chegamos à conclusões parecidas. Afinal, se todos são um, apenas um indivíduo não pode se considerar como algo à parte (melhor), especial, digno de mais. E a conclusão de Sagan foi parecida: tudo aquilo a que damos valor não é assim tão especial. No final das contas, cada um de nós à sua maneira, estávamos julgando e condenando idealismos e atrocidades cometidas pelo ser humano em nome de algo “especial”.
Nossos pensamentos percorreram caminhos diferentes por causa de uma pequena premissa: ele presumiu que o pálido ponto azul (isso ficou implícito em julgar sua insignificância) é separado do resto do universo e eu que esse ponto é o universo. Noutras palavras, eu vejo tudo como um e ele como uma grande multiplicidade de diferentes e separados fatores.
É claro que as visões, ao menos do meu ponto de vista, são de caráter pessoal: ele olha e ver diversos organismos, eu olho e vejo um só.
Se ele não tivesse emitido seus juízos eu jamais teria pensado a mesma coisa que ele. A pura informação me levaria a conclusões totalmente diferentes, a despeito do fato de que ele acredita que qualquer um que veja tal coisa deva chegar à mesma conclusão que ele.
Daí decorre que nem sempre a mensagem (que existe em forma de pensamento) é traduzida perfeitamente para o agente passivo do processo de comunicação.
Por isso que saliento a importância da exploração de todas as premissas utilizadas na construção de um pensamento bem como a forma através da qual se construirá o conhecimento tendo por base tais premissas (porque uma premissa pode levar a diferentes conclusões). É sempre interessante criar esse itinerário para a expressão do pensamento porque isso facilitará a compreensão (trazendo críticas mais fundamentais e produtivas) como também eliminará a possibilidade de o pensamento ser interpretado como algo imperativo: afinal, assim o leitor tem a possibilidade de questionar fácil e claramente o fundamento do pensamento estando certo de que não está cometendo algum equívoco interpretativo (assim, se torna positivo para ambos os tipos que eu defini). Além disso, dessa maneira uma pessoa que se guia por premissas diferentes e por uma epistemologia diversa pode absorver a informação como o ponto de vista do autor ao invés de simplesmente discordar e não absorver por considerar um mero erro.
Se tal “exploração” das premissas e do método epistemológico não for feita detalhadamente, provavelmente aqueles que não acreditam nas premissas do autor vão começar a discordar do texto no começo e desconstruirão o conhecimento ao invés de agregá-lo e construí-lo.
Depois que tal conflito se inicia com a desconstrução, fica difícil dizer quem distorce o discurso de quem: o autor pode estar distorcendo a crítica e o crítico distorcendo o discurso do autor. Se inicia um “duélogo”.
Um ponto importante e salientado em outros posts é que seja exposto, sem piedade, o caráter metafísico inerente da metafísica escolhida. Do ponto de vista absoluto, sempre há algo no nosso pensamento que é injustificável(de origem psicológica pessoal). Por maior que seja nossa rigidez, o conhecimento é um fluido. Isso se aplica especialmente quando estudamos o ser humano com sua plasticidade. Afinal, não se pode definir um pensamento completamente.
O paradigma ao qual eu fiz alusão sobre a inseparabilidade é um juízo de valor sentimental e traz diversas influências sobre meu pensamento: Ele torna inacetiável o sistema de disputas do capitalismo, já que, segundo tal ponto de partida, eu estaria entrando em conflito comigo mesmo ao conflitar com o outro. Daí decorre que uma visão poilitico-social adequada a esse ponto de partida seria aquela em que ninguém está acima de ninguém (na prática) e que todos cooperam voluntariamente pelo bem coletivo (porque o coletivo coopera para o individual).
No entanto, seria irresponsabilidade substituir o paradigma mecanicista (divisibilidade, simplicidade e estabilidade) por esse de modo absoluto. Isso porque o paradigma citado possui implicações práticas que saltam aos olhos. Por mais que eu acredite que a matéria é, em essência, feita de não-matéria, não há como lidarmos com ela, na prática, partindo de tal premissa (não no presente momento). E esse é um forte argumento sobre a validade do paradigma antigo. Só não é possível, com esse, explicar algo relativo ao convívio humano, porque as premissas simplificadoras simplesmente não dão conta da plasticidade de um pensamento (que não é matéria e nem energia).
Creio que tal forma de expor um pensamento o torne mais inteligível e ordenado, sendo essa uma forma aceitável de expormos nosso pensamento através dessa linguagem deficiente.