A pouco mais de um ano algo me ocorreu de repente e acabei desenvolvendo isso racionalmente como “as múltiplas personalidades comuns”. O título, na época, me pareceu perfeito.
O que observei, naquela época, foi que as pessoas possuem, não uma, mas varias personalidades. Observei, também, quem algumas personalidades predominam sobre outras em certos indivíduos segundo o ambiente em que ele foi criado. Se ele se criou num ambiente agressivo, seria forçoso aceitar que seu psiquismo sentiu a necessidade de adapta-lo a esse ambiente tornando-o violento. Para mim, tal esquema poderia realmente definir a plasticidade humana. Eram formas primordiais que esperavam apenas um estímulo externo para se manifestarem.
A despeito da minha pretensão de ser original, esse assunto já havia sido explorado por Jung, e no final das contas as nossas conclusões são extremamente parecidas. É como se tivéssemos acessado a mesma fonte e definido o que vimos com diferentes formas de racionalização.
Como eu não havia encontrado a totalidade (e ainda não encontrei) meu esquema não presumia essa ordem teleológica de caminho para o total.
Pelo contrário, o indivíduo estaria destinado a se dividir de forma absoluta.
Assim, ele teria sua personalidade agressiva para a hora oportuna, sua personalidade amorosa para a hora oportuna. Todas as personalidades com suas peculiaridades estavam sob o controle de uma maior. Eu tinha um dúvida fatal, que minou a construção do meu raciocínio. Seria uma dessas personalidades (a dominante) que coordenava as outras?
Para mim parecia irracional, pois a personalidade que eu acreditava ser minha principal entrava em contradição direta com outras, e ainda assim as aceitava.
Ora, a dominante era claramente parcial, e como todas as outras, abominava seu oposto. Daí decorre que deveria haver mais uma personalidade, que estaria coordenando todas as outras.
Mas que personalidade seria essa? Eu não fazia a menor idéia.
Aos poucos essa idéia adormeceu, pois eu concentrei minha energia noutros assuntos, e acabou por voltar depois, quando comecei a estudar a psicologia junguiana.
Segundo Jung, existem complexos psicológico que são atrelados à arquétipos do inconsciente coletivo. Esses arquétipos são, como no meu pensamento, imagens primordiais. Há relativa autonomia no complexos, de forma que ele podem, efetivamente, ser tomados por personalidade separadas.
Mas o pensamento de Jung se difere do meu quando postula que esses complexos devem ser explorados e integrados. Talvez eu tenha entendido mal o pensamento do notável psicólogo, mas na minha visão, certos fragmentos deveriam ser reservado à funções específicas e não integrados: porque se fossem parte do nosso pensamento central, então as implicações éticas seriam terríveis. Entrei em contato com conteúdos verdadeiramente inaceitáveis para chegar a tais conclusões.
O interessante do pensamento Junguiano é que esses complexos são definidos de forma mais completa, apesar de muito parecida. Digo isso porque, depois de ler algumas obras de Jung, voltei-me para tudo o que se passava na minha mente e descobri um caminho bem definido. Era como se, efetivamente, tudo o que se construiu em mim (tanto sentimentos como pensamentos) estivesse acontecendo para me levar a algum lugar. Mas que lugar eu não fazia (não faço) a menor idéia.
Paixões aparentemente sem nenhuma causa observável, depois de aceitas e, na fantasia ou na vida, vividas, traziam lições inestimáveis. Muitas dessas lições eu conhecia pela razão, mas somente a vivência me trouxe verdadeiro entendimento. E foi o fato de Jung disse isso que me fascinou em sua obra. Conforme explorei suas obras, percebi que o pensamento dele poderia ser definido como uma amplificação do meu. Como meu próprio pensamento maturado.
Partindo dessa introdução, quero falar sobre assuntos pertinentes: aquilo que chamam de individualidade. Aquela imagem com a qual as pessoas se identificam e dizem: eu sou isso ou, eu sou assim. Para falar sobre isso, usarei em paralelo o que sei sobre a abordagem Junguiana e a minha desenvolvida como uma brincadeira de construção de conhecimento psicológico.
As personalidades parciais ou os complexos são, de um modo geral, aquilo que as pessoas definem como o que são. Assim, quando um indivíduo, por sua vivência, diz que se tornou agressivo, ele nada mais faz do que dar a uma parte um caráter total. Afinal, todo o ser humano possui em si o germe do mal, dando a esse mal a função que ele quiser. Um pacifista possui dentro de si tanto mal quando um psicopata.
Só que no caso do psicopata, ele se identificou com seu fragmento maligno à despeito do todo.
Daí decorre que grande parte do que é definido pelas pessoas como o que elas são nada mais é do que um reflexo de preconceitos e miopias.
Jung diria que meu “identificar-se com um fragmento” seria o mesmo que se identificar com um complexo, que nada mais é do que o arquétipo que recebeu a substancia pessoal. E o arquétipo é, de certa forma, um fragmento do indivíduo.
No meu pensamento, essas personalidades são reflexos de vivências universais, e se tivermos a oportunidade de conhecer todos eles, então seremos o todo. Claro que eu não queria vive-los: era assustador demais.
Mas, de uma maneira ou de outra, fui levado a viver a maior parte deles. Daí, depois de ver o fundamento do meu esquema cair, eu decidi me debruçar sobre o pensamento Junguiano.
Não considero isso como um atentado à liberdade, justamente porque o que me atraiu em primeiro lugar foi a semelhança dos pensamentos. Além do mais, absorver informações dos outros e integrá-las a si é essencial para o desenvolvimento intelectual. Não se trata de memorizar uma passagem ou de ler centenas de livros num anos. Vai para além, no sentido de realmente refletir sobre o pensamento alheio e integrá-lo a si. Nesse sentido, também é interessante integrar conhecimento contrastantes aos paradigmas atuais. Porque esse conhecimento contrastante se afigura como uma excelente forma de entender o outro. Numa analogia que me agrada, não poderíamos julgar a perfeição de um cubo comparando este a um cubo. Ele não possui qualidades cúbicas. Da mesma forma o pensamento alheio deve ser considerado. Não quero, com isso, legitimar qualquer absurdo. Falo, nesse caso, de idéias que tem algum sentido, mas que negamos assim mesmo. O verdadeiro desafio é notar quando alguém diz algo justificável e nós negamos por razões psicológicas (nossa parcialidade).
Voltando ao assunto, Jung postulou o arquétipo do Self, que representa a totalidade do indivíduo. Esse Self, que permite ao indivíduo ser realmente objetivo, seria o resultado da integração de todos os arquétipos à consciência e da utilização de todas as funções psíquicas (sensação, intuição, pensamento e sentimento).
Mas quando o indivíduo chega à objetividade do Self, aquilo que é meramente fruto de sua história de vida se torna menos relevante. O que ele é, é resultado de um caminho, mas não é mais influenciado por esse caminho. Ou seja, agora que sou individuado (integrado, indivisível), não haveria como realmente me distinguir de outro individuado senão pelo caminho. Como se ambos tivessem alcançado a mesma coisa por caminhos diferentes.
Assim, o conceito de individuação estará, efetivamente anulando aquilo que conhecemos como individualidade, pois essa individualidade nada mais é do que parcialidade tipológica e efeito da ação dos complexos.
Não posso, de maneira alguma, justificar esse pensamento. No entanto, o aceito com profundo entusiasmo. É difícil explicar as causas disso: identifiquei causas psicológicas para todos os meus paradigmas até aqui, mas nesse momento não há explicação. É completamente irracional.
Viajei no mundo obscuro da minha mente e voltei com a certeza de que isso é verdade.
Isso com certeza será difícil de assimilar, pois as pessoas, de uma forma geral, dizem que liberdade é podermos fazer “o que der na telha”. Na verdade o que elas chamam de liberdade não passa de servidão. Servem a complexos, a fragmentos de si mesmas e chamam essa servidão de liberdade apenas porque não há um indivíduo fora deliberando por elas. Só que liberdade é existente dentro de cada um, e até um escravo pode ser livre.
“entrevistador: Do you believe it now?
Jung: I don’t have t believe. I know.”
O que observei, naquela época, foi que as pessoas possuem, não uma, mas varias personalidades. Observei, também, quem algumas personalidades predominam sobre outras em certos indivíduos segundo o ambiente em que ele foi criado. Se ele se criou num ambiente agressivo, seria forçoso aceitar que seu psiquismo sentiu a necessidade de adapta-lo a esse ambiente tornando-o violento. Para mim, tal esquema poderia realmente definir a plasticidade humana. Eram formas primordiais que esperavam apenas um estímulo externo para se manifestarem.
A despeito da minha pretensão de ser original, esse assunto já havia sido explorado por Jung, e no final das contas as nossas conclusões são extremamente parecidas. É como se tivéssemos acessado a mesma fonte e definido o que vimos com diferentes formas de racionalização.
Como eu não havia encontrado a totalidade (e ainda não encontrei) meu esquema não presumia essa ordem teleológica de caminho para o total.
Pelo contrário, o indivíduo estaria destinado a se dividir de forma absoluta.
Assim, ele teria sua personalidade agressiva para a hora oportuna, sua personalidade amorosa para a hora oportuna. Todas as personalidades com suas peculiaridades estavam sob o controle de uma maior. Eu tinha um dúvida fatal, que minou a construção do meu raciocínio. Seria uma dessas personalidades (a dominante) que coordenava as outras?
Para mim parecia irracional, pois a personalidade que eu acreditava ser minha principal entrava em contradição direta com outras, e ainda assim as aceitava.
Ora, a dominante era claramente parcial, e como todas as outras, abominava seu oposto. Daí decorre que deveria haver mais uma personalidade, que estaria coordenando todas as outras.
Mas que personalidade seria essa? Eu não fazia a menor idéia.
Aos poucos essa idéia adormeceu, pois eu concentrei minha energia noutros assuntos, e acabou por voltar depois, quando comecei a estudar a psicologia junguiana.
Segundo Jung, existem complexos psicológico que são atrelados à arquétipos do inconsciente coletivo. Esses arquétipos são, como no meu pensamento, imagens primordiais. Há relativa autonomia no complexos, de forma que ele podem, efetivamente, ser tomados por personalidade separadas.
Mas o pensamento de Jung se difere do meu quando postula que esses complexos devem ser explorados e integrados. Talvez eu tenha entendido mal o pensamento do notável psicólogo, mas na minha visão, certos fragmentos deveriam ser reservado à funções específicas e não integrados: porque se fossem parte do nosso pensamento central, então as implicações éticas seriam terríveis. Entrei em contato com conteúdos verdadeiramente inaceitáveis para chegar a tais conclusões.
O interessante do pensamento Junguiano é que esses complexos são definidos de forma mais completa, apesar de muito parecida. Digo isso porque, depois de ler algumas obras de Jung, voltei-me para tudo o que se passava na minha mente e descobri um caminho bem definido. Era como se, efetivamente, tudo o que se construiu em mim (tanto sentimentos como pensamentos) estivesse acontecendo para me levar a algum lugar. Mas que lugar eu não fazia (não faço) a menor idéia.
Paixões aparentemente sem nenhuma causa observável, depois de aceitas e, na fantasia ou na vida, vividas, traziam lições inestimáveis. Muitas dessas lições eu conhecia pela razão, mas somente a vivência me trouxe verdadeiro entendimento. E foi o fato de Jung disse isso que me fascinou em sua obra. Conforme explorei suas obras, percebi que o pensamento dele poderia ser definido como uma amplificação do meu. Como meu próprio pensamento maturado.
Partindo dessa introdução, quero falar sobre assuntos pertinentes: aquilo que chamam de individualidade. Aquela imagem com a qual as pessoas se identificam e dizem: eu sou isso ou, eu sou assim. Para falar sobre isso, usarei em paralelo o que sei sobre a abordagem Junguiana e a minha desenvolvida como uma brincadeira de construção de conhecimento psicológico.
As personalidades parciais ou os complexos são, de um modo geral, aquilo que as pessoas definem como o que são. Assim, quando um indivíduo, por sua vivência, diz que se tornou agressivo, ele nada mais faz do que dar a uma parte um caráter total. Afinal, todo o ser humano possui em si o germe do mal, dando a esse mal a função que ele quiser. Um pacifista possui dentro de si tanto mal quando um psicopata.
Só que no caso do psicopata, ele se identificou com seu fragmento maligno à despeito do todo.
Daí decorre que grande parte do que é definido pelas pessoas como o que elas são nada mais é do que um reflexo de preconceitos e miopias.
Jung diria que meu “identificar-se com um fragmento” seria o mesmo que se identificar com um complexo, que nada mais é do que o arquétipo que recebeu a substancia pessoal. E o arquétipo é, de certa forma, um fragmento do indivíduo.
No meu pensamento, essas personalidades são reflexos de vivências universais, e se tivermos a oportunidade de conhecer todos eles, então seremos o todo. Claro que eu não queria vive-los: era assustador demais.
Mas, de uma maneira ou de outra, fui levado a viver a maior parte deles. Daí, depois de ver o fundamento do meu esquema cair, eu decidi me debruçar sobre o pensamento Junguiano.
Não considero isso como um atentado à liberdade, justamente porque o que me atraiu em primeiro lugar foi a semelhança dos pensamentos. Além do mais, absorver informações dos outros e integrá-las a si é essencial para o desenvolvimento intelectual. Não se trata de memorizar uma passagem ou de ler centenas de livros num anos. Vai para além, no sentido de realmente refletir sobre o pensamento alheio e integrá-lo a si. Nesse sentido, também é interessante integrar conhecimento contrastantes aos paradigmas atuais. Porque esse conhecimento contrastante se afigura como uma excelente forma de entender o outro. Numa analogia que me agrada, não poderíamos julgar a perfeição de um cubo comparando este a um cubo. Ele não possui qualidades cúbicas. Da mesma forma o pensamento alheio deve ser considerado. Não quero, com isso, legitimar qualquer absurdo. Falo, nesse caso, de idéias que tem algum sentido, mas que negamos assim mesmo. O verdadeiro desafio é notar quando alguém diz algo justificável e nós negamos por razões psicológicas (nossa parcialidade).
Voltando ao assunto, Jung postulou o arquétipo do Self, que representa a totalidade do indivíduo. Esse Self, que permite ao indivíduo ser realmente objetivo, seria o resultado da integração de todos os arquétipos à consciência e da utilização de todas as funções psíquicas (sensação, intuição, pensamento e sentimento).
Mas quando o indivíduo chega à objetividade do Self, aquilo que é meramente fruto de sua história de vida se torna menos relevante. O que ele é, é resultado de um caminho, mas não é mais influenciado por esse caminho. Ou seja, agora que sou individuado (integrado, indivisível), não haveria como realmente me distinguir de outro individuado senão pelo caminho. Como se ambos tivessem alcançado a mesma coisa por caminhos diferentes.
Assim, o conceito de individuação estará, efetivamente anulando aquilo que conhecemos como individualidade, pois essa individualidade nada mais é do que parcialidade tipológica e efeito da ação dos complexos.
Não posso, de maneira alguma, justificar esse pensamento. No entanto, o aceito com profundo entusiasmo. É difícil explicar as causas disso: identifiquei causas psicológicas para todos os meus paradigmas até aqui, mas nesse momento não há explicação. É completamente irracional.
Viajei no mundo obscuro da minha mente e voltei com a certeza de que isso é verdade.
Isso com certeza será difícil de assimilar, pois as pessoas, de uma forma geral, dizem que liberdade é podermos fazer “o que der na telha”. Na verdade o que elas chamam de liberdade não passa de servidão. Servem a complexos, a fragmentos de si mesmas e chamam essa servidão de liberdade apenas porque não há um indivíduo fora deliberando por elas. Só que liberdade é existente dentro de cada um, e até um escravo pode ser livre.
“entrevistador: Do you believe it now?
Jung: I don’t have t believe. I know.”
2 comentários:
Não sei o que dizer. Embora eu não entenda nada de Jung eu consigo "reconhecer" "alguma coisa" com o que eu concordo, e que, no fundo, deve vir dos meus estudo de Schopenhauer (que como vc sabe defende uma forma de monismo).
Em várias passagens das suas obras Schopenhauer considera o que indivíduo "de certa forma" é uma "idéia", isto é, que o caráter individual "de certa forma" existe individuado independentemente do espaço-tempo (serão essa as imagnes arquétipicas de Jung?). Porém o próprio Schopenhauer reconhece ser incapaz de dar uma resposta mais produnda para essa questão (Parerga e Paralipomena, VIII, § 116):
"Disto se segue ainda que a individualidade não repousa unicamente no principium individuationis e destarte não é inteiramente simples fenômeno mas que ela se enraíza na coisa-em-si, na vontade do indivíduo, pois seu próprio caráter é individual. Qual a profundidade aqui atingida pelas suas raízes, constitui uma das questões cuja resposta não empreendo."
Mas como eu nunca estudei psicologia de verdade ,só li uma coisa aqui ou outra ali, fica difícil para mim formar um entendimento mais profundo dessa questão.
Mais uma coisa: li a sua postagem sobre o Leito de Procusto e o debate entre as correntes da psicologia e percebi um padrão que se repete também na economia (conforme eu apreseitei no cap 82 do meu blog) e na sociologia (conforme eu tomei conhecimento recentemente) e na filosofia (na qual esse debate se arrasta desde o século XVIII, e, antes do Renascimento, já era fonte de escândalo entre os pré-socráticos). Parece que isso se trata de um padrão imemorial da experiência humana.
É muito parecido com o conceito de arquétipo sim. De fato, inicialmente o que me atraiu no pensamento Junguiano foi que, na juventude, se dedicou a estudar a filosofia de Schopenhauer e essa está espalhada por sua obra (as representações e considerações sobre o fundamento da moral, por exemplo), embora o filósofo mais influente seja Kant.
Que seja, então, uma semente.
De fato, Jung sustenta que essas diferenças na formulação intelectual são, em sua maioria, causadas pela diferença tipológica.
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