Gaia e Daemon


- You’re wrong!
- Como posso estar errado se nem ao menos estou certo de nada?
- Está certo sim. Você sabe. Está errado em negar isso.

Estava eu e Gaia num escuto total. A voz de fora clamou por um caminho cercado por flores, e ele surgiu. Gaia começou a flutuar por ele, e eu a acompanhei andando até que também consegui flutuar.

- Porque tão calada, minha Deusa?

Ela nada respondeu e a voz de fora clamou por um portal e ele surgiu. Gaia o abriu e entrou por ele, ao que eu a segui. Lá dentro tudo era escuro até que a voz de fora camou por um jardim, que surgiu. Mandou-nos sentar num banco, que surgiu. Gaia se sentou e recebemos a escolha de deitar. Fomos a um pano forrado na grama e ficamos olhando para o céu.

- Porque tão calada, minha amada?
- Pra que falar mais? Já disse o que tinha que dizer, agora você precisa sentir.

A deusa colocou-se sobre mim com sua boca no meu pescoço. No beijamos, nos abraçamos. Senti o calor, o contato. Uma sensação muito agradável. Nos beijamos suavemente.
A voz de fora clamou que visualizássemos aquilo definido como Anima, ao que Gaia se transformou numa menina. Aquela com a qual me relacionei a algum tempo. Ela se tornou pó e foi embora. Não me tocou em nenhum momento. Tão bela e, no entanto, tão frágil que o vento a carrega. De aparência tão concreta, mas tão desconexa.
Depois disso ela se transformou numa mulher mais velha, com a qual me relacionei. Tão alta. Quase do meu tamanho. Ela se transformou em fumaça e me envolveu como um tornado. Mas não me atormentava: me abraçava. Levou-me até o céu e depois me soltou.
A terceira era uma paixão impossível que tive, que mesmo sendo impossível causou um envolvimento beirando as barreiras éticas, mas nunca as transgredindo. Ela era gigante, e seu rosto, antes tão amistoso e amável, tinha um ar de malícia. Me fitava do alto e eu a fitava. Não havia reação da minha parte em relação a ela assim como as três primeiras.
Depois ela desapareceu e surgiu uma com seus cabelos loiros, ao que, logo em seguida, surgiu outra com os cabelos cacheados. Elas eram uma, e se uniram. Num aspecto meio fantasmagórico, era metade uma e metade outras, mas eu sabia que ambas eram inteiras. Elas se mantinham juntas por serem, ambas, filhas de Gaia.

Então a voz de fora me falou algo que ignorei. Gaia voou até o alto céu, e eu fui capaz de acompanha-la. Voamos rápido, e o terreno do mundo mudava enquanto nos movíamos. Primeiro vi uma floresta densa. Nada se via senão um verde intenso de arvores. Depois o inferno. Era um solo negro e rachado com algumas partes repletas de magma vulcânico. Havia algumas nuvens ali que surgiam e sumiam.
Depois eu vislumbrei uma grande montanha no horizonte e chegamos em calotas de Gelo. Ignorando-as, voamos até o sue limiar e descemos até o mar. Era negro e estava calmo.
Voamos na beira da água e nosso rastro ficava como o de uma lancha na água.
Paramos no meio do mar, entre as calotas e a montanha e a Deusa afundou minha cabeça na água como quem vai afogar, mas eu não me assustei.
- Está fria?
- Não.

Ela afundou minha cabeça na água de novo e me mandou abrir os olhos. Havia luz de cima penetrando a água, embora ela fosse negra. Estava vazia em principio, mas logo se formou um vulto. Esse vulto foi se aproximando e percebi que era uma grande baleia. Ela nadou até mim e ficou parada diante de mim. A fitei, mas nada senti ou pensei.
Gaia me levantou e voamos até a base da montanha, onde havia uma entrada circular. Nos levava a um túnel que daria no fundo da montanha. Gaia permaneceu do lado direito da entrada.

- Você não vem comigo, minha deusa?
- Não. Este é o fim do meu domínio.

Através de uma intuição, uma certeza íntima, eu sabia que isso era verdade, então entrei.
O túnel estava escuro, mas eu sabia exatamente quando mudar de direção. Depois de alguns instantes eu acendi uma luz que ficava na minha cabeça, como de um minerador até que isso se tornou desnecessário porque o caminho passou a apresentar iluminação própria.
Cheguei ao fim numa grande luz. Abri os olhos.
A voz de fora disse algo, mas a tempo que eu havia me tornado incapaz de ouvi-la. Fechei meus olhos e me encontrei em meio a escuridão. Surgiu um tornado envolvido por radio e começou a percorrer uma trilha cíclica. Nessa trilha se formou um circulo luminoso e esse determinava onde era o chão em meio a escuridão. Então os raios passaram a atingir o chão aleatoriamente até que um maior atingiu o centro e surgiu uma chama onde ele caiu. Era Daemon.

- Ela te levou à epistemologia e você não aprendeu nada? Eu sou você e não sou. Às vezes estou contigo e as vezes estou no espaço.

A voz de fora me convocou para voltar ao mundo real, e foi o que fiz.

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