Percebi que há um princípio para o mal que vai além de todas as formas de corrupção. Essas, conforme percebemos, se guiam em determinadas direções em busca de certos objetivos, mas o mal em si não é pessoal. É tão impessoal quanto universal: todos os homens têm essa essência maligna em si.
Esse fator sombrio que reveste os homens é visto e tratado por eles de formas diversas. Para alguns, com o paradigma maniqueísta, esse mal é projetado no mundo externo. Assim, o mal reside no Diabo, no capitalismo, no comunismo, no fascismo, na religião alheia, etc.
É difícil para um religioso que acredita numa figura como a do Diabo assumir que essa “entidade” possua o mesmo direito de perdão. Pelo contrário, o paradigma deles é: “Satanás, debaixo do meu pe”.
Isso ocorre basicamente porque essas pessoas precisam de um objeto externo para direcionarem seu ódio. Precisam, acima de tudo projetar a própria essência maligna num objeto externo, já que seus paradigmas racionais negam o mal e sua consciência não parece estar pronta para confronta-lo.
Não posso deixar de citar o caso de um indivíduo chamado Lindomar, que ficou célebre na internet por ter atacado uma empregada que havia agredido crianças das quais tomava conta. Ora, não há nenhuma diferença entre o ataque de Lindomar e o da empregada a não ser o fato de que, socialmente, Lindomar estava justificado e foi apoiado em massa.
Isso porque quem não tem consciência do mal dentro de si necessita depositar o que há de maligno nalgum vilão e, especialmente, precisa descarregar sua raiva contra esse vilão. Como tais projeções são irrefletidas, é comum que o vilão não seja de fato um vilão.
Outros, por outro lado, se identificam com esses complexos sombrios em suas mais diversas formas, e, motivados por essa identificação sucumbem ao domínio de impulsos incontroláveis e destrutivos.
Dessa forma, se identificam com algum tipo de mal: alguns são assassinos, outros ladrões, outros hipócritas, outros compulsivos por poder. Criam racionalizações para justificarem suas atitudes. Por exemplo, há ladrões compulsivos que alegam a necessidade do roubo, há assassinos que encontram as mais diversas justificativas para dar continuidade aos seus impulsos de assassínio, e assim em diante, todos encontram sua justificativa.
A partir disso fui levado a concluir que os criminosos e aqueles que se sentem indignados com esses são movidos justamente pelos mesmos impulsos: os impulsos sombrios.
Quem rouba de ladrões é ladrão, assim como um matador de assassinos é um criminoso. Se deixarem de tentar justificar seus impulsos com eventos externos perceberão que participam de um conflito em que um alimenta o outro.
Esse é um dos motivos pelos quais a guerra no oriente médio não acaba, e também é um dos motivos pelos quais o bandido odeia e polícia e a polícia o bandido. A polícia está socialmente justificada para publico (ou parte dele) quando ataca bandidos, e esses estão justificados entre si.
O que observei é que o que alimenta esses conflitos não são apenas as circunstancias, mas apenas o fato de que eles querem algo para odiar, algo para destruir. Afinal, por mais que sejam precárias, há escolhas para as pessoas: ela decidem entrar num dos lados da guerra.
Mas o mal em si é impessoal. Ele não visa destruir essa pessoa, essa organização ou mesmo esse mundo¹. É apenas uma força natural que se contrapõe com o bem direta e indiferenciadamente. Tomar consciência de que seu ódio não precisa de um inimigo, mas que na verdade ele existe por si só ajuda o indivíduo e controlar tais impulsos². Temos, na nossa época, diversas ferramentas para deixarmos fluir tais impulsos, tais como jogos eletrônicos, manifestações artísticas diversas e artes marciais. Dessa maneira, podemos matar, roubar, escravizar civilizações e cometer diversas outras atrocidades através do ambiente virtual, e, dependendo do indivíduo, isso pode bastar para aliviar suas tensões malignas, sendo uma via de saída. Isso, por outro lado, também pode despertar o mal do indivíduo, trazendo comportamentos destrutivos: Só depende do indivíduo em si. Eu mesmo, aliás, costumava apreciar um jogo repleto de violência, no qual minhas próprias pulsões agressivas extravazavam. Hoje em dia, tais pulsões saem em contos e poesias como minhas obras de arte, mas poderia sair em pinturas, música, dança, escultura e qualquer tipo de arte.
Só que essa é apenas uma forma de amenizar o problema, pois assim ninguém precisa sofrer com os efeitos práticos do nosso mal. Enquanto não entendemos o significado do nosso mal, não o integramos e continuamos sujeitos a sermos dominados por eles.
Ora, para falarmos do lado sombrio do ser humano não basta a racionalidade (que nos manteria num lugar moralmente cômodo). Não basta observarmos de forma sistemática o comportamento daqueles que apresentam tais condutas. Para termos uma visão mais completa e, acima de tudo, mais humana, precisamos dar lugar à subjetividade, fazendo uma viagem pelo próprio lado negro sem restrições morais maniqueístas. Somente através da consciência vivencial é que poderemos realmente entender o lado negro da existência. Assim, é bom que se tenha em mente que apresentarei certos modelos que não passam de ideais. Eu jamais aceitaria que esses ideais fossem plasmados em outras pessoas, pois o grau de subjetividade do próprio mal é enorme e não pode se enquadrado em padrões. Pretendo dar, no entanto, um fundamento teórico sobre o qual poder-se-á perceber pela intuição o mal se manifestando. Assim poderemos entender pessoas que se encaixam em tais padrões em maior ou menor intensidade, e também aqueles que são possuídos por um tipo de mal que vai para além desses ideais. Com o passar do tempo, espero ter acumulado experiência suficiente para dar uma boa luz e um bom fundamento intuitivo para a percepção do mal e para lidarmos com ele. Nesse momento, no entanto, o que escrevo é elementar: Chega a ser uma brincadeira.
Quero, também, ressaltar que o mal é, por vezes mascarado, mas que seus efeitos são sempre idênticos. Sempre resulta em mentiras, manipulação, assassínios, obsessão pelo poder, etc. Pode ser chamado de justiça, de revolução, de proteção contra ameaças ou de Nova ordem mundial. As facetas do mal não o revelam por inteiro, pois quando identificamos o mal apenas por uma de suas vertentes ele se torna nebuloso.
O mal, em primeiro lugar, não é unilateral. Pelo contrário, não só ele se confronta com o bem, mas também contra si mesmo. Assim, é provável que aqueles que proclamam uma revolução contra o mal sejam igualmente maléficos: todo ditador já foi um salvador.
Sempre que algo que consideramos maligno é combatido com o mau em si, isso quer dizer que o que vem em seguida não difere em nada do que veio antes. É apenas o mal, que vai além de “ismos”, sob uma nova mascara.
Um bom exemplo é a sucessão de presidentes americanos financiados pela wall street, que, um atrás do outro, são a esperança no começo e a desgraça no fim.
Ora, o ódio contra o mal é o próprio mal: só se pode realmente apresentar uma contraposição ao mal com o bem. De outra maneira, o mal se manterá através de sua natureza cíclica e tomando “ismos” como máscara.
As diferentes formas de manifestação do mal não se excluem, de maneira que um só indivíduo pode se encaixar em todos os “tipos”. Para isso, basta que ele tenha passado por uma experiência que tenha despertado o arquétipo em questão (como o de Hermes para ladrões) para que este tenha se tornado complexo.
É ingenuidade pensarmos que o bem simplesmente vence o mal: não podemos ajudar um raivoso ou um ladrão simplesmente dando amor a eles. Alguns nem concebem o que seja amor, outros podem apenas pensar que mentimos. Tratar o mal com o mal, por outro lado, só alimenta este: podemos remediar o mal usando mal, mas não elimina-lo. Logo que o indivíduo se perceber livre de vigia ele deixará sair seu mal, que foi ampliado com punições.
O processo deve ser lento, dando atenção ao tipo psicológico, à história de vida, aos tipos de comportamento (porque são simbólicos) e à receptividade do indivíduo. É provável que resistam, que mintam sobre estarem recuperados dentre outras falcatruas. Encher o peito porque uma pessoa se recuperou será, via de regra, ser apenas uma marionete de um complexo (autônomo) do individuo tratado.
“Sombra e luz, escuridão e claridade. Essa realidade dupla forma o interior do ser humano, que tenta negar-se a cada dia, enganando-se. A maioria das pessoas quer ser apenas luz. Recusam-se a identificar a sombra que faz parte delas. Religiosos de um modo geral falam de um lado sombrio, diabólico, umbralino, como se esse lado escuro fosse algo externo, ruim, execrável. Até quando negar a realidade íntima? Até quando adiar o conhecimento do mundo interno? Várias tentativas foram realizadas para conscientizar o homem terreno de que as chamadas trevas exteriores são apenas o reflexo do que existe dentro dele. Luz e sombra são aspectos internos do ser e não representam necessariamente um lado ruim e outro bom. A sombra não é pior do que a luz. Apenas faz parte de um equilíbrio universal ainda necessário para a visão do homem terrestre. São dois pólos de uma verdade interna, mais profunda. A sombra representa um aspecto transitório, porém necessário para o ser reavaliar-se ante os apelos da vida e as lutas que o fizeram ser o que é. Essa transitoriedade em qualquer plano da vida é uma etapa de aprendizado, adaptação, revisão dos valores adquiridos em lutas e desafios na grande jornada interna, pessoal, íntima. Portanto, viver esse lado de forma mais plena, conhecer-se mais profundamente, enfrentar-se sem mascarar-se talvez seja um caminho mais excelente — parafraseando o apóstolo Paulo — do que aquele que as religiões do mundo vêm oferecendo e que se reflete em fugas da realidade. Quando é proposta a realização de uma excursão aos domínios das sombras, espera-se que haja coragem para admitir que esse reino obscuro tem sua raiz dentro do próprio ser humano. Ele não existe à parte ou em separado. (...). Esse mundo de trevas e escuridão é algo muito enraizado no ser humano; não é realidade extrahumana, mas intra-humana. Se você evita conhecer-se, rejeitando que é simultaneamente sombra e luz, não há razão para prosseguir nesta jornada de descobrimento interno. Adentrar o umbral ou o astral é se obrigar a penetrar na própria sombra. Conhecer as estruturas internas das falanges do mal é, sobretudo, conhecer a própria capacidade de esparzir escuridão em si e em torno de si. Descer aos domínios das trevas e tomar conhecimento de seus métodos, de suas falanges, de sua força talvez seja uma forma de se revelar — trazer à consciência a própria realidade. Admitir-se, sem culpas e sem máscaras. O passado humano é fixo e dependente de conceitos religiosos deturpados e castradores, que foram amplamente difundidos e ainda estão arraigados no psiquismo, mesmo naqueles que afirmam rechaçar atualmente qualquer crença. Isso faz com que o ser humano, principalmente aquele mais apegado às questões religiosas, negue a verdade de sua sombra.”.
(Legião - um olhar sobre o reino das sombras – Ângelo Inácio (Robson Pinheito))
(http://www.scribd.com/doc/3506214/Legiao-Um-olhar-sobre-o-reino-das-sombras-Angelo-Inacio)
1 – Afinal, se destruísse precisaria criar um novo inimigo, porque, por mais que o odeie, precisa dele.
2 – A não ser, é claro, que ele não tenha um ego forte o bastante para suportar a pressão de admitir o mal. Nesse caso, talvez seja melhor apenas encontrar uma forma de canalizar as projeções para que, do ponto de vista coletivo, causem mais construção do que destruição (como já acontece nos casos em que o indivíduo odeia o mal) ao colocar o mal contra si da forma mais isolada possível.
Esse fator sombrio que reveste os homens é visto e tratado por eles de formas diversas. Para alguns, com o paradigma maniqueísta, esse mal é projetado no mundo externo. Assim, o mal reside no Diabo, no capitalismo, no comunismo, no fascismo, na religião alheia, etc.
É difícil para um religioso que acredita numa figura como a do Diabo assumir que essa “entidade” possua o mesmo direito de perdão. Pelo contrário, o paradigma deles é: “Satanás, debaixo do meu pe”.
Isso ocorre basicamente porque essas pessoas precisam de um objeto externo para direcionarem seu ódio. Precisam, acima de tudo projetar a própria essência maligna num objeto externo, já que seus paradigmas racionais negam o mal e sua consciência não parece estar pronta para confronta-lo.
Não posso deixar de citar o caso de um indivíduo chamado Lindomar, que ficou célebre na internet por ter atacado uma empregada que havia agredido crianças das quais tomava conta. Ora, não há nenhuma diferença entre o ataque de Lindomar e o da empregada a não ser o fato de que, socialmente, Lindomar estava justificado e foi apoiado em massa.
Isso porque quem não tem consciência do mal dentro de si necessita depositar o que há de maligno nalgum vilão e, especialmente, precisa descarregar sua raiva contra esse vilão. Como tais projeções são irrefletidas, é comum que o vilão não seja de fato um vilão.
Outros, por outro lado, se identificam com esses complexos sombrios em suas mais diversas formas, e, motivados por essa identificação sucumbem ao domínio de impulsos incontroláveis e destrutivos.
Dessa forma, se identificam com algum tipo de mal: alguns são assassinos, outros ladrões, outros hipócritas, outros compulsivos por poder. Criam racionalizações para justificarem suas atitudes. Por exemplo, há ladrões compulsivos que alegam a necessidade do roubo, há assassinos que encontram as mais diversas justificativas para dar continuidade aos seus impulsos de assassínio, e assim em diante, todos encontram sua justificativa.
A partir disso fui levado a concluir que os criminosos e aqueles que se sentem indignados com esses são movidos justamente pelos mesmos impulsos: os impulsos sombrios.
Quem rouba de ladrões é ladrão, assim como um matador de assassinos é um criminoso. Se deixarem de tentar justificar seus impulsos com eventos externos perceberão que participam de um conflito em que um alimenta o outro.
Esse é um dos motivos pelos quais a guerra no oriente médio não acaba, e também é um dos motivos pelos quais o bandido odeia e polícia e a polícia o bandido. A polícia está socialmente justificada para publico (ou parte dele) quando ataca bandidos, e esses estão justificados entre si.
O que observei é que o que alimenta esses conflitos não são apenas as circunstancias, mas apenas o fato de que eles querem algo para odiar, algo para destruir. Afinal, por mais que sejam precárias, há escolhas para as pessoas: ela decidem entrar num dos lados da guerra.
Mas o mal em si é impessoal. Ele não visa destruir essa pessoa, essa organização ou mesmo esse mundo¹. É apenas uma força natural que se contrapõe com o bem direta e indiferenciadamente. Tomar consciência de que seu ódio não precisa de um inimigo, mas que na verdade ele existe por si só ajuda o indivíduo e controlar tais impulsos². Temos, na nossa época, diversas ferramentas para deixarmos fluir tais impulsos, tais como jogos eletrônicos, manifestações artísticas diversas e artes marciais. Dessa maneira, podemos matar, roubar, escravizar civilizações e cometer diversas outras atrocidades através do ambiente virtual, e, dependendo do indivíduo, isso pode bastar para aliviar suas tensões malignas, sendo uma via de saída. Isso, por outro lado, também pode despertar o mal do indivíduo, trazendo comportamentos destrutivos: Só depende do indivíduo em si. Eu mesmo, aliás, costumava apreciar um jogo repleto de violência, no qual minhas próprias pulsões agressivas extravazavam. Hoje em dia, tais pulsões saem em contos e poesias como minhas obras de arte, mas poderia sair em pinturas, música, dança, escultura e qualquer tipo de arte.
Só que essa é apenas uma forma de amenizar o problema, pois assim ninguém precisa sofrer com os efeitos práticos do nosso mal. Enquanto não entendemos o significado do nosso mal, não o integramos e continuamos sujeitos a sermos dominados por eles.
Ora, para falarmos do lado sombrio do ser humano não basta a racionalidade (que nos manteria num lugar moralmente cômodo). Não basta observarmos de forma sistemática o comportamento daqueles que apresentam tais condutas. Para termos uma visão mais completa e, acima de tudo, mais humana, precisamos dar lugar à subjetividade, fazendo uma viagem pelo próprio lado negro sem restrições morais maniqueístas. Somente através da consciência vivencial é que poderemos realmente entender o lado negro da existência. Assim, é bom que se tenha em mente que apresentarei certos modelos que não passam de ideais. Eu jamais aceitaria que esses ideais fossem plasmados em outras pessoas, pois o grau de subjetividade do próprio mal é enorme e não pode se enquadrado em padrões. Pretendo dar, no entanto, um fundamento teórico sobre o qual poder-se-á perceber pela intuição o mal se manifestando. Assim poderemos entender pessoas que se encaixam em tais padrões em maior ou menor intensidade, e também aqueles que são possuídos por um tipo de mal que vai para além desses ideais. Com o passar do tempo, espero ter acumulado experiência suficiente para dar uma boa luz e um bom fundamento intuitivo para a percepção do mal e para lidarmos com ele. Nesse momento, no entanto, o que escrevo é elementar: Chega a ser uma brincadeira.
Quero, também, ressaltar que o mal é, por vezes mascarado, mas que seus efeitos são sempre idênticos. Sempre resulta em mentiras, manipulação, assassínios, obsessão pelo poder, etc. Pode ser chamado de justiça, de revolução, de proteção contra ameaças ou de Nova ordem mundial. As facetas do mal não o revelam por inteiro, pois quando identificamos o mal apenas por uma de suas vertentes ele se torna nebuloso.
O mal, em primeiro lugar, não é unilateral. Pelo contrário, não só ele se confronta com o bem, mas também contra si mesmo. Assim, é provável que aqueles que proclamam uma revolução contra o mal sejam igualmente maléficos: todo ditador já foi um salvador.
Sempre que algo que consideramos maligno é combatido com o mau em si, isso quer dizer que o que vem em seguida não difere em nada do que veio antes. É apenas o mal, que vai além de “ismos”, sob uma nova mascara.
Um bom exemplo é a sucessão de presidentes americanos financiados pela wall street, que, um atrás do outro, são a esperança no começo e a desgraça no fim.
Ora, o ódio contra o mal é o próprio mal: só se pode realmente apresentar uma contraposição ao mal com o bem. De outra maneira, o mal se manterá através de sua natureza cíclica e tomando “ismos” como máscara.
As diferentes formas de manifestação do mal não se excluem, de maneira que um só indivíduo pode se encaixar em todos os “tipos”. Para isso, basta que ele tenha passado por uma experiência que tenha despertado o arquétipo em questão (como o de Hermes para ladrões) para que este tenha se tornado complexo.
É ingenuidade pensarmos que o bem simplesmente vence o mal: não podemos ajudar um raivoso ou um ladrão simplesmente dando amor a eles. Alguns nem concebem o que seja amor, outros podem apenas pensar que mentimos. Tratar o mal com o mal, por outro lado, só alimenta este: podemos remediar o mal usando mal, mas não elimina-lo. Logo que o indivíduo se perceber livre de vigia ele deixará sair seu mal, que foi ampliado com punições.
O processo deve ser lento, dando atenção ao tipo psicológico, à história de vida, aos tipos de comportamento (porque são simbólicos) e à receptividade do indivíduo. É provável que resistam, que mintam sobre estarem recuperados dentre outras falcatruas. Encher o peito porque uma pessoa se recuperou será, via de regra, ser apenas uma marionete de um complexo (autônomo) do individuo tratado.
“Sombra e luz, escuridão e claridade. Essa realidade dupla forma o interior do ser humano, que tenta negar-se a cada dia, enganando-se. A maioria das pessoas quer ser apenas luz. Recusam-se a identificar a sombra que faz parte delas. Religiosos de um modo geral falam de um lado sombrio, diabólico, umbralino, como se esse lado escuro fosse algo externo, ruim, execrável. Até quando negar a realidade íntima? Até quando adiar o conhecimento do mundo interno? Várias tentativas foram realizadas para conscientizar o homem terreno de que as chamadas trevas exteriores são apenas o reflexo do que existe dentro dele. Luz e sombra são aspectos internos do ser e não representam necessariamente um lado ruim e outro bom. A sombra não é pior do que a luz. Apenas faz parte de um equilíbrio universal ainda necessário para a visão do homem terrestre. São dois pólos de uma verdade interna, mais profunda. A sombra representa um aspecto transitório, porém necessário para o ser reavaliar-se ante os apelos da vida e as lutas que o fizeram ser o que é. Essa transitoriedade em qualquer plano da vida é uma etapa de aprendizado, adaptação, revisão dos valores adquiridos em lutas e desafios na grande jornada interna, pessoal, íntima. Portanto, viver esse lado de forma mais plena, conhecer-se mais profundamente, enfrentar-se sem mascarar-se talvez seja um caminho mais excelente — parafraseando o apóstolo Paulo — do que aquele que as religiões do mundo vêm oferecendo e que se reflete em fugas da realidade. Quando é proposta a realização de uma excursão aos domínios das sombras, espera-se que haja coragem para admitir que esse reino obscuro tem sua raiz dentro do próprio ser humano. Ele não existe à parte ou em separado. (...). Esse mundo de trevas e escuridão é algo muito enraizado no ser humano; não é realidade extrahumana, mas intra-humana. Se você evita conhecer-se, rejeitando que é simultaneamente sombra e luz, não há razão para prosseguir nesta jornada de descobrimento interno. Adentrar o umbral ou o astral é se obrigar a penetrar na própria sombra. Conhecer as estruturas internas das falanges do mal é, sobretudo, conhecer a própria capacidade de esparzir escuridão em si e em torno de si. Descer aos domínios das trevas e tomar conhecimento de seus métodos, de suas falanges, de sua força talvez seja uma forma de se revelar — trazer à consciência a própria realidade. Admitir-se, sem culpas e sem máscaras. O passado humano é fixo e dependente de conceitos religiosos deturpados e castradores, que foram amplamente difundidos e ainda estão arraigados no psiquismo, mesmo naqueles que afirmam rechaçar atualmente qualquer crença. Isso faz com que o ser humano, principalmente aquele mais apegado às questões religiosas, negue a verdade de sua sombra.”.
(Legião - um olhar sobre o reino das sombras – Ângelo Inácio (Robson Pinheito))
(http://www.scribd.com/doc/3506214/Legiao-Um-olhar-sobre-o-reino-das-sombras-Angelo-Inacio)
1 – Afinal, se destruísse precisaria criar um novo inimigo, porque, por mais que o odeie, precisa dele.
2 – A não ser, é claro, que ele não tenha um ego forte o bastante para suportar a pressão de admitir o mal. Nesse caso, talvez seja melhor apenas encontrar uma forma de canalizar as projeções para que, do ponto de vista coletivo, causem mais construção do que destruição (como já acontece nos casos em que o indivíduo odeia o mal) ao colocar o mal contra si da forma mais isolada possível.
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