- Vocês não estavam por falar dos fundamentos metafísicos da ciência?
- Sim. A questão aqui é que há três fundamentos epistemológicos metafísicos na sua ciência que limitam o conhecimento à infantilidade dos pensadores.
- Espera aí. - disse Frederico. - o que é epistemologia e metafísica?
- Um conhecimento metafísico é aquele que não pode ser refutado ou provado. Deus, por exemplo. Uma base epistemológica é o ponto do qual um pensamento parte. Esse ponto, por mais que esteja relacionado ao empirismo, sempre sofre influências da metafísica. Sabe o que é empirismo, certo?
- Sim. É o conhecimento que vem através da experiência.
- Então. Toda a ciência tem fundamentos metafísicos, e isso é inevitável. Até onde eu sei, a nossa ciência também é fundamentada assim. O problema é que muitos dos seus pensadores simplesmente não admitem isso. Há pessoas que estão convencidas de que a observação empírica científica é destituída de metafísica, e é justamente esse o erro da sua ciência. Vocês querem se fundamentar em coisas sólidas, e por isso ficam mais próximos da religião.
- Como assim? Que fundamentos são esses?
- O primeiro é que vocês presumem que o universo é. Ou seja, presumem que estudam as coisas como ela são no infinitivo e não como elas estão. Aliás, na linguagem mais difundida nem há distinção entre ser e estar. É o classico verbo “to be”. A questão é que, segundo essa premissa, vocês conseguem um bom entendimento matemático, já que a matemática é essencialmente estável, mas encontram dificuldades em encontrar padrões nos seres vivos e, especialmente, na natureza humana. Dizer que as coisas são, e não que estão, dificulta profundamente o estudo das obras de arte. Justamente por isso os cientistas não dão muita atenção à arte no seu planeta.
- Você está sendo injusto com os cientistas do meu planeta. Nunca ouviu falar no pensamento sistêmico?
- Sim. Foi como o zero um disse. Vocês têm o paradigma do holograma e o pensamento sistêmico à disposição, mas há homens que negam essas premissas por infantilidade.
- Fale mais sobre o paradigma do holograma.
- Eu não costumo levar meus raciocínios pela tangente. Deixe eu terminar de falar sobre os fundamentos metafísicos e aí eu te falo do paradigma holográfico.
- Certo.
- Pois bem. Outro paradigma metafísico da sua ciência é o pressuposto da simplicidade, ou a Navalha de Occam. Segundo essa premissa, a maneira mais simples e explicar um evento deve ser a verdadeira. Noutras palavras, vocês não buscam investigar algo além dos seus conhecimentos. Tentam englobar coisas novas no seu conhecimento prévio, simplificando o universo de forma absurda. Um bom exemplo disso é que chamam muito do que a mente humana produz de loucura, quando isso nem sempre é verdade. Se fugir dos paradigmas aceitos na época a navalha de Occam retalha o conhecimento novo. Um erro.
- Imagina a surpresa de Occam quando pegaram a navalha dele pra cortar o filme do holograma! – Disse Matias
- Hahahahaha! Deve ter levado um susto.
- O que?
- Isso vai ser explicado, Roberto. Vamos nos focar no assunto.
- Você é muito coerente para ser um artista!
- Eu fui pensador como o zero quatro por quarenta anos. Sou músico a dois, e não abandonei o pensamento. Só estou explorando outras possibilidades.
- Certo. Continue.
- A ultima das premissas metafísicas da sua ciência é, para mim, e mais absurda de todas elas. Segundo essa premissa, para ter conhecimento sobre uma coisa qualquer deve-se separá-la em partes do seu contexto e estudar cada parte, para depois unir as partes e entender o todo.
- Ora, mas a biologia funciona muito bem nessa premissa!
- Não funciona não. Vocês pensam que funciona, mas a verdade é que os seus médicos têm incríveis dificuldades para identificar os quadros patológicos. Aliás, eles ficam loucos em casos de comorbidade. Isso sem falar que estão totalmente despreparados para entender a indivisibilidade corpo/mente. Fazem drogas que, supostamente, deveriam ajudar as pessoas e que não ajudam, além de tentarem justificar problemas de humor com falhas na produção de hormônios.
- Seus organismos são similares ao nosso?
- Meus Deus, como você foge do assunto! Enfim, esteticamente são sim, mas nossa constituição química e a estrutura do código genético são diferentes. Você entendeu porque a sua ciência é infantil? Todas essas bases metafísicas se resumem numa frase: “está tudo sob controle”
- Me fale sobre o paradigma holográfico.
- Certamente. Já fizeram esse experimento no seu planeta. Um objeto qualquer é banhado por dois feixes laser, e através desses é capturado num filme o espectro holográfico desse objeto. Quando outro laser banha o filme, ele mostra a imagem do objeto banhado tridimensionalmente.
- Incrível!
- Não terminei. Veja que esse experimento foi feito no seu planeta a mais de vinte anos.
- Como eu não soube disso?
- Porque seus meios de comunicação são repletos de conteúdo alienante, e entretenimento vazio. - disse zero um enquanto se equilibrava numa pilastra.
- Então, se você olhar para o filme, só verá alguns vultos, mas o laser faz daquele filme uma imagem nítida. O mais interessante é que em cada parte desse filme há o todo. Ou seja, você não pode dividir uma imagem holográfica, porque se cortar a metade ainda assim poderá ver todo o holograma, só que menor.
- O que?!
- Você entendeu. É justamente isso. Não há como dividir um holograma, e portanto, isso desconstrói o paradigma de que tudo deve ser dividido para ser compreendido, já que o todo está em cada parte do universo. Isso também se prova pelo fato de que elétrons se comunicam com uma velocidade maior do que a da luz. Os outros princípios são muito bem refutados pelo pensamento sistêmico, que você conhece. Em resumo, a moral é a limitação racional imposta aos sentimentos, e a ciência é a limitação sentimental imposta aos pensamentos. Tudo separado, tudo parcial. E a parte mais estranha disso tudo é que existem homens no seu planeta que já sabem disso. Eles simplesmente não conseguem passar adiante. É justamente essa a finalidade dessas visitas. Dar apoio aos homens que já descobriram como emancipar o pensamento e o sentimento no seu planeta. Nós só queremos que vocês aprendam sobre o conhecimento que já existe no seu planeta, para aí sim podermos entrar no seu planeta sem ter que enfrentar reações absurdas. Aí sim nós poderemos mostrar a vocês até onde o nosso conhecimento vai.
- Você acha que é disso que a humanidade precisa? - perguntei
- Vocês precisam disso, mas não é “disso” que precisam. Noutras palavras, isso não é tudo, mas é minha contribuição como artista. Sabe, a filosofia é uma arte! E com elas que a revolução acontece dentro da mente!
Fiquei estupefato com aquelas coisas. Eu precisava de tempo para refletir sobre aquela informação.
- opa, chegou a hora. - disse Matias.
- Hora de que?
- De ir. A apresentação sobre história da nossa civilização acabou e precisamos nos unir aos outros do grupo.
- Certo.
- Foi bom conversar com vocês, Gigantes - disse zero um.
- Também acho. - Disse zero três. - mas olha a cara deles! Parecem perturbados! Acho que falamos coisa demais de uma vez só!
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