A perspectiva dos meus textos sempre acabará sendo introvertida, devido à minha própria personalidade não individuada, mas garanto que isso não torna esse post menos importante, pois a perspectiva interna no que se refere á existência íntima do ser humano é tão importante quanto medidas objetivas extrovertidas.
Como Jung disse: “O que há de mais perigoso no mundo são os homens.”
Portanto, o que eu vou tratar aqui é de extrema importância para o progresso da humanidade enquanto um conjunto de indivíduos que buscam a felicidade em ilusões de forma sistemática e controlada por agentes externos. São “eles”.
Para apresentar o assunto eu colocarei a origem da minha reflexão, citando outras fontes interessantes sobre o assunto e depois narrarei visões distorcidas do que vem a ser felicidade, desconstruindo-as.
Minha reflexão a respeito disso veio, inicialmente, junto com O andarilho, que foi de inspiração tanto pessoal quanto externa. Ou seja, graças a uma pessoa eu encontrei esse andarilho, que me ocorreu na minha própria linguagem. Na forma de andarilho, talvez poucos o entendam, mas eu expandi esse pequeno conto no post “Vontade de amor”. Nesse post eu falei muito superficialmente sobre a questão da felicidade, pois eu presumia e ainda presumo que através do amor a encontraremos, mas a reflexão está incompleta, pois a definição do amor em si ficou vaga e especialmente porque ficou faltando uma perspectiva do que é a felicidade em si. Falei da vontade de amor mas não de motivação, então esse novo post é uma tentativa de objetivar um conteúdo subjetivo, e tornar a vontade de amor mais aplicável a um contexto coletivo ao invés de deixa-la apenas como uma narração do meu próprio desenvolvimento mental.
Depois disso eu assisti o documentário Zietgeist: Addendum, que é como um Zietgeist 2. Se você nunca ouviu falar nesse documentário e fala inglês eu recomendo o link onde eles estão disponíveis na íntegra:
http://www.zeitgeistmovie.com/
Esse documentário foi escrito obviamente duma perspectiva extrovertida, e falou incrivelmente bem a respeito das questões externas do mundo, mas falou, apear de corretamente, superficialmente a respeito da felicidade, justamente, talvez, por esse não ser o tema. Por isso eu pretendo, nesse blog, mesmo sabendo que poucos chegarão a lê-lo, expandir, segundo meu entendimento, o conceito ali tratado superficialmente cm maior profundidade da perspectiva introvertida, ou seja, da perspectiva interna.
O ponto de vista do introvertido é assim: assim que subimos de um degrau para o outro, o degrau abaixo deixa de existir, pois no nosso mundo só o que achamos existe. Ou seja, se eu superei uma idéia que não em fazia feliz a respeito de como viver e encontrei outra que é revolucionária então todo o mundo também encontrou. Isso é um terrível erro, pois eu ainda vejo pessoas cometendo os três erros fundamentais na busca pela felicidade, e o fato de que eu descobri uma forma de ser feliz e livre não muda o fato de que existem pessoas deprimidas pelo sistema, ou que têm felicidades ilusórias, tais como a religiosa ou a do consumo compulsivo.
Portanto, pretendo agora demonstrar o caráter falacioso de casa uma dessas três visões sobre a felicidade na ordem que, através do meu próprio julgamento de valores, parece adequada: uma ordem ascendente de profundidade, onde a mais superficial das idéias enganosas sobre a felicidade é o consumismo e a mais profunda, e digna de profundo debate é a de que a felicidade não existe. Provavelmente eu não chegarei a falar a totalidade de coiss que penso a respeito disso, pois isso tornaria o post grande demais, mas no final eu recomendarei textos complementares, tanto meus quando de outras pessoas, que complementarão o post e deixarão a minha visão total a respeito do assunto clara(se é que alguém se importa honestamente com isso).
O consumismo
Certa vez, no segundo grau, eu fiz um teste que definiria, por brincadeira, o nível de loucura de uma pessoa. Talvez sem perceber todas as implicações daquele meu ponto de vista, pois ele era para mim intuitivo, eu elaborei a seguinte pergunta:
Você faz compras para compensar as suas frustrações?
Segundo o teste, a pessoa poderia responder sempre, nunca ou ocasionalmente, sendo que, segundo a estrutura de pontos que criei, a maioria das pessoas que respondia sempre era considerada louca, pois isso acrescentava três pontos de loucura dos dez necessários para a pessoa ser classificada como insana.
Infelizmente, o número de pessoas que respondeu sempre ao meu teste foi muito maior do que eu previa: a maiorias das pessoas que responderam não foram crianças(já que foi brincadeira) ou adolescentes que não tinham dinheiro próprio, sendo que aproximadamente 60% dos adultos ou adolescentes com renda que foram entrevistados responderam sempre.
É claro que isso foi uma entrevista superficial com poucas pessoas respondendo, mas certamente me trouxe preocupação, hoje, suficiente para que eu escreva algo que a mim parece óbvio, mas que parece não ser para todas as pessoas: o dinheiro não trás felicidade.
A prova disso é que as pessoas ricas não são livres da depressão, que é justamente o oposto da felicidade. Afinal, porque essas pessoas são infelizes. Já ouvi comentários deprimentes do tipo: “Esses aí são uns idiotas. Como podem ser infelizes se têm tanto dinheiro?”. Essa pergunta, infelizmente, no ponto de vista dessas pessoas, é retórica.
Mas para mim não é, e vou tentar responde-la.
Para isso é necessário entendermos uma coisa que coloquei no título, que é a definição de felicidade e alegria. Para esse post eu vou usar as seguintes definições:
Alegria: um sentimento temporário de contentamento que pode ser causado por um número inconstável de coisas, dentre as quais muitas estão na sua TV. Filmes, jogos, musicas etc.
Felicidade: um estado de contentamento contínuo, que tem sua origem sendo debatida mais profundamente nesse texto.
Não quero dizer, vejam só, que a felicidade sobre ponha a alegria, no sentido de que para vivermos na felicidade devemos nos abster da alegria. Segundo minha vida são ciosas diferentes e que não se excluem de qualquer maneira.
E é justamente em não diferenciar uam coisa da outras que o primeiro ponto de vista sobre a felicidade erra, pois, segundo este, a felicidade não é nada mais do que a repetição ininterrupta de eventos que causam alegria. Sendo assim, a felicidade vem de fora e não de dentro, pois ela é condicionada através das alegrias.
Segundo esse pontod e vita, uma pessoas feliz é aquela que é rica, e que sendo rico tem muitos carros, é famosa e reconhecida pelos outros, e usufrui de todos os tipos de prazer que a mídia e os meios tecnilógicos têm para oferecer. Em suma, a pessoa feliz é aquela que pode viver dentro dum circo cheio de atrações com os quais ela irá se distrair.
Esse ponto de vista pra mim é estúpido desde que me entendo por gente, mas parece que ainda há pessoas que não entendem que o princípio da redundância destrói essa visão diante dos olhos de qualquer pessoa racional.
Por mais divertido que seja jogar um jogo de azar como o poker, essa alegria se tornará logo menos intensa do que antes. Por siso, se antes era divertido jogar apostando um real, depois só será se forem apostados dez reais. E o valor vai aumentando cada vez, porque a redundância torna o jogo entediante.
Para todos os tipos de alegria superficial acontece o mesmo. Se você decide, por exemplo, começar a transar com todas as melhores prostitutas, isso não te tornará uma pessoa feliz. Pelo contrário, uma hora a redundância acabará com a alegria desse contato superficial e você sentirá que, mesmo tendo todas alegrias que o sistema tem pra te oferecer, você ainda é infeliz.
Em suma: com as melhores roupas, os melhores carros, os melhores jogos, etc. você sempre cairá na redundância, e sempre continuará infeliz.
Há dois pontos de vista que transcendem essa ilusão, que são o religioso e o de negação da vida.
A religião
A religião, como muitos religiosos dizem, é a forma de religar o homem à Deus. Eu poderia dizer que a religião, em teoria, seria o meio de unir todas as pessoas de torna-las felizes, mas não é bem assim que as coisas funcionam na prática.
Pelo que eu observei, em troca do sentimento de felicidade que a integração trás, a religião exige que o indivíduo nega diversas facetas de sua existência, dentre as quais está a racionalidade.
O pensamento abstrato, que é o tipo de raciocínio responsável pela reflexão acerca da existência em si, é completamente reprimido por premissas absurdas. Em outras palavras, a religião limita o pensamento dos indivíduos à princípios como: Porque Deus fez isso? Ou Porque Deus permitiu aqui?
Fazendo assim, a religião reprime o pensamento das pessoas e institui uma máxima doutrinária, que estabelece que todas as informações necessárias para a vida estão nos livros sagrados, e criam um forte laço de culpa e coação social.
A culpa vem de um sistema moral que é imposto aos indivíduos desde sua infância e que acaba guiando a consciência deles ao ponto de se sentirem mal por causa de qualquer impulso natural que tenham, tais como o desejo sexual ou o impulso abstrativo.
Os indivíduos que, mesmo tendo sido criados no meio religioso, conseguem superar o pensamento predominante são excluídos pelos outros sem a necessidade da intervenção de um líder, já que os outros estão sob o efeito da culpa causada pela fé.
Mas a culpa e a coação social são fatores pequenos frente à maior fonte de poder das religiões, que para mim é a vontade de amor. Colocando em outras palavras, já que para mim amor presume união, eles exploram o sentimento de necessidade de integração com o todo. De religar-se com Deus.
Depois de sentirem esse amor e de chamá-lo de Deus, eles estão provavelmente presos por toda a sua vida, porque a religião consegue, com sucesso, fazer os indivíduos se sentirem felizes, com a adição de que a essa felicidade natural eles adicionam imagens mitológicas que têm caráter antropomórfico, e assim eles manipulam o comportamento das pessoas através da vontade de amor. Qualquer um que já sentiu a alegria dessa integração sabe a sensação de harmonia que ela trás. É como se estivéssemos verdadeiramente ligados à Deus quando amamos ao próximo, e garanto que para alcançar esse tipo de felicidade sentimental não é necessários eguir nenhum dogma irracional: a ética e o bom senso sentimental bastam.
Viver segundo dogmas religiosos, apesar de trazer essa felicidade sentimental da integração, causa a infelicidade da repressão da função do pensamento, o que geralmente causa revolta e negação das religiões, gerando o outro oposto da visão sobre liberdade, que, assim como a visão da religião, acerta num aspecto sobre a felicidade e erra noutro. A religião trás a felicidade do amor ao próximo, enquanto que a liberdade(ateísmo) trás a felicidade do amor a si mesmo, e acaba que a parcialidade das pessoas tornam as duas visões contrárias quando na verdade são complementares.
Um religioso pode muito bem ser livre. Contanto que ele tenha religião própria, e não um conjunto de dogmas impostos por outra pessoa e que não respeita sua individualidade. Ser religioso não é o mesmo que ser ovelha. Acreditar em Deus não é o mesmo que ser um escravo.
Igualmente um ateu pode muito bem ser integrado ao todo através do amor, contanto que ele elimine a hostilidade em relação às religiões que tomou conta dele provavelmente logo que abandonou a vida religiosa. Ser ateu não é o mesmo que ser infeliz e egoísta.
A religião não é inimiga do homem, mas também não é a redentora do mundo: pelo menos não as religiões patriarcais, que são as maiores atualmente.
Ceticismo e negação
Essa visão de mundo tem inúmeras variações, mas creio que posso ousar uma generalização de que, independente da atitude pessoal do indivíduo, todos eles buscam o mesmo ideal: a liberdade.
É claro que não é pelo fato de um indivíduo buscar a liberdade que ele deve ir contra as premissas de amor e integração da religião, mas é freqüente que essas pessoas que buscam a liberdade estavam aprisionadas em sua vida intelectual e criativa pela religião, de forma que negam todos os fundamentos desta.
Uns regridem, e ao se livrarem da religião se entregam ao niilismo cego, onde vivem exclusivamente atrás de alegrias fúteis, mas outros conseguem perceber que essas alegrias fúteis não trazem felicidade, mas também não aceitam a religião, e isso cria um conflito aparentemente indissolúvel.
Torna a vida vazia, e na medida em que negam os impulsos de se buscar a alegria eles se tornam cada vez mais fortes. Então são obrigados a negar a tudo e viver num estado onde vegetam sentimentalmente para existirem apenas intelectualmente. Pegam a religião e idéias como a do amor e jogam tudo no saco das ilusões, e isso torna a vida deles miserável.
Gosto de pensar nesse tipo de gente como sendo parecidos com um personagem de um livro meu: foi exilado de um mundo onde havia felicidade e plenitude para um mundo cheio de gente egoísta e ignorante que torna a vida quase insuportável, e com o tempo vivendo com essas pessoas eles passaram a desprezar a si mesmos.
Diferente dos religiosos, esses céticos são completamente livre, mas essa liberdade carrega um pouco de rancor ás religiões que torna qualquer idéia minimamente relacionada a elas um insulto á sua liberdade. Viveram por tanto tempo enjaulados que não aceitam ser dominados. Que negam o coletivo por não quererem perder a si mesmos, e por isso acabam perdendo-se em desespero.
Porque a religião tem sua razão de ser, que nada tem a ver com ilusões e senso comum: a única coisa que faz a religião se manter intacta é o fato de as pessoas encontrarem amor e motivação nela. A religião trás felicidade, mesmo imbutindo “impostos” sobre ela.
Da mesma forma que um religiosos corre o risco se perder-se a si mesmo num fanatismo desmedido, um cético corre o risco de perder-se a si mesmo num individualismo deprimente. O nosso mundo prega que devemos pensar somente em nós e em quem está próximo, mas se desintegrar do todo tem implicações muito negativas para quem o fizer.
Isso fere a “Vontade de amor”.
Me lembro de um filme que retrata muito bem o que eu quero dizer. Não me lembro do nome, infelizmente, mas é atual. O médico está conversando com sua amiga a caminho do dormitório dela e diz que a melhor coisa que lhe aconteceu foi ter passado um tempo no sanatório, pois lá ele descobriu que ajudando as pessoas com seus problemas ele podia esquecer os dele.
E é a mais pura verdade. Ajudar as pessoas nos faz um bem que jamais poderia ser limitado através de uma racionalização.
E não se trata de dar esmola a um mendigo na rua, pois é a intenção e a conclusão dessa ajuda que contam. É dar comida e não dinheiro o que gratifica.
Mas a ajuda nem sempre é física. Muito pelo contrário, muitas vezes encontramos pessoas com a alma atormentada. Com angustias de todos os tipos, e com a vida sem esperança e tudo o que ela precisa é de um amigo, que a ouvirá e entenderá seus problemas.
Um amigo vale mais do que uma montanha de ouro.
A felicidade plena
Segundo a minha visão a real felicidade reside numa combinação das três visões que acabei de definir.
Creio que a primeira e mais importante é a liberdade. Nenhum homem pode provar o verdadeiro amor sem antes ser livre, pois senão ele sentirá apenas algo falso que se assemelha ao amor, mas que não passa de uma artimanha de um esperto qualquer para lhe demover se sua consciência.
Um homem livre pensa, pois é nisso que consiste a liberdade. Não adianta amar todas as coisas, mas ser preso a elas. Só canta de forma bela o pássaro que voa livre.
Mas ser livre não é necessariamente o mesmo que servir apenas a si mesmo em intentos mesquinhos. Eu posso, como um homem livre, decidir me integrar no todo. Assim eu serei um individuo único, mas não separado do todo.
Quando um homem é livre de verdade ele perde a necessidade de ter um inimigo, perde a necessidade de ter um oposto que seja equivalente, pois isso só ocorre quando as pessoas estão negando a si mesmas ao ponto de terem que projetar nesse inimigo suas aspirações.
Dessa forma, se eu desejo uma mulher e estou reprimindo com todas as forças esse desejo, possivelmente eu serei hostil a ela como forma de reprimir a mim mesmo no desejo. Viverei numa prisão que existe só dentro de mim mesmo.
Depois de alcançar a liberdade, de ter sua mente emancipada e de ser o próprio mestre, deve haver uma integração com o todo. Não para ser guiado cegamente por este, mas para ser parte atuante, de forma que a felicidade do altruísmo possa inspirar a felicidade.
A felicidade reside em estar inspirado pelo amor, que nos integra com o todo e em sermos guiados apenas por nós mesmo, sendo livres.
A felicidade não exclui a alegria: pelo contrário. Depois de alcançar a verdadeira felicidade as alegrias se tornam menos atrativas, mas não menos satisfatórias. Assim, nós não buscamos a alegria tão compulsivamente, e ela não cai em redundância. Qualquer besteira trás alegria, porque não estamos querendo dar a esta a função da felicidade.
Com essa felicidade, o mundo pode nos abalar uma vez ou outra, mas no fim do dia, quando tudo passou e vamos nos deitar, só sobra a paz. Por pior que seja a nossa situação, nós estamos bem. É como me disse certa vez um homem: “a minha vida é muito difícil, mas eu vivo sorrindo porque eu sei que Deus está comigo”. O homem não estava mentindo. Ele encontrou a fonte de felicidade, que é o amor. Se ele a chama de Deus, isso não me diz respeito.
Ilusões acabam, mas o amor dura para sempre.
primeiro o Andarilho alcançou a liberdade ao sair do castelo, e depois ele alcançou a Vontade de amor como sendo um caminho no qual reside a vida feliz.