Minha própria tradição

A independência sempre foi parte de mim. Jamais foi fácil aceitar o que me ensinaram desde pequeno. Aos doze anos eu era obrigado a cantar canções que diziam coisas que me eram estranhas. Sou pobre e necessitado, preciso de ti.

“Não”, dizia eu. Eu não sou pobre e nem necessitado. Deus pra mim não é um senhor que vai garantir minhas necessidades. É meu amigo, só isso.

Mas eles não tinham aquele Deus para mim, e acabei me rebelando contra aquela tradição, pois ela queria que eu me ajoelhasse e que fosse um servo. Mas aquilo não parecia certo. Não parecia justo colocar os meus pecados para serem pagos pelo sangue de outro homem. Não posso aceitar que o fato de alguém me dizer que as coisas são como Deus quer me tire a motivação de mudar o mundo. Não é a minha natureza.

Não posso aceitar a orientação divina, porque minha alma clama por liberdade.

É por isso que eu passei por um difícil processo de desenvolvimento, e acabei por criar os meus próprios valores. Muitos desses valores são similares aos de outras culturas. Aliás, todos os valores religiosos são belos enquanto são individuais. A partir do momento em que um homem é forçado a seguir um valor desde a infância os valores se tornam corruptos. Quando um valor tem o poder de moldar as atitudes dos homens eles deixam de atrair aqueles que são desprendidos, e passam a atrair aqueles que têm amor ao poder.

Mas não os valores individuais. Esses não podem ser usados contra as pessoas. Não posso acreditar que todos os homens sejam maus, pois se assim fosse toda a minha vida seria sem propósito. Acredito que se todos os homens ouvissem seus pensamentos e sentimentos a divergência entre eles jamais permitiria que um homem reunisse outros para seu próprio interesse. Um homem jamais poderia matar milhares de outros, simplesmente porque ninguém faria isso por ele.

Se as pessoas seguissem a si mesmas não haveria poder, e sem poder um homem mau não pode destruir o mundo. Mesmo com valores perversos ele terá que aceitar que ninguém é obrigado a servir seus propósitos, e uma sociedade assim não criará tantos delinqüentes, justamente porque não haverá poder, para ter miséria e guerras. É isso que faz uma criança se tornar um homem mau. É o fato de que ela pensa que todos os homens são maus, e de que precisa ser assim.

E é por isso que eu criei meus próprios valores. Porque com os meus valores eu posso ser quem eu realmente sou ao invés de ser guiado por outra pessoa. Porque com esses valores eu posso dar minha mínima contribuição para a sociedade, e quem sabe ajudar outras pessoas a encontrarem a si mesmas.

As pessoas muitas vezes ficam rindo dos meus valores, porque muitos deles são diferentes.

Mas não são agressivos, e não pretendem reunir discípulos. Meus valores pretendem, com base na minha própria natureza, criar um mundo ao menos um pouco mais feliz para as pessoas. Liberdade, Amor, Justiça e Conhecimento. Uso os meios que minhas capacidades permitem para alcançar para mim e, na medida do possível, para todas as pessoas.

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