Acerca do amor entre o caos e a ordem

Todos os grandes líderes proclamam a mesma coisa. É a ordem que eu desejo! Disciplina, justiça, equidade!
Poderíamos pressupor que alguns desses têm boas intenções. É bem provável, aliás. Mas o fato é que nunca haverá apenas um neurótico querendo controlar o mundo. Cada um desses líderes pensará uma coisa a respeito da ordem. Logo, pela justiça, dois homens de boa intenção podem criar uma guerra. E o que é guerra senão caos?
Dois indivíduos criam o caos para conseguir a ordem! Isso pra mim é a prova de que a ordem ama o caos. Não existiria sem ele!
Quando um homem busca o amor sem ter entendido a liberdade é isso que acontece. Nenhum homem obedecerá à ordem de amar o próximo sem entender o amor. Na verdade buscando passar o amor adiante tudo o que se cria é o desejo da liberdade. O que é sentido como oposto à ordem. Caos.
Aí o caos tome uma forma nítida. Sai nas ruas com pessoas gritando por liberdade! E olhem só como é divertido. O caos organiza as pessoas em nome da liberdade. Aí quem lidera essas pessoas se torna o próximo tirano.
Há um troca-troca entre caos e ordem, se amam!
Só haverá harmonia no mundo quando o amor e a liberdade andarem lado a lado.
Enquanto isso não acontecer, liberdade será caos, amor será ordem e viveremos assistindo o circo pegar fogo!


Caos e ordem tão fortemente unidos que se misturarão um no outro. Forças eternamente atraentes e, ainda assim, tão alheias uma a outra!

Zeitgeist addendum: revolution begins!

Sobre mestres, conselhos e crescimento pessoal

Quando uma criança é pequena, se faz necessário que seja disciplinada e que tenha referencia externa, já que é nova, não se desenvolveu e, portanto, não tem discernimento sensitivo sobre as coisas. Pode acabar se matando por causa de sua própria ignorância.


Depois a criança se desenvolve na questão sensitiva a ponto de descobrir as sensações. A partir daí começa uma busca compulsiva pela satisfação do impulso de ter sensações boas. Quer doces à todo o custo. Brinquedos, jogos. Brinca de todas as maneiras.

Quando chega à fase adulta as brincadeiras já foram substituídas por outros impulsos. Impulso de posse, de satisfação sexual e de diversos complexos mal-resolvidos. Dessa forma, as mazelas acumuladas na infância voltam sob forma de neurose para o indivíduo.

Mas o ser humano é exímio em buscar subterfúgios. Não aceita que grande parte de seus problemas internos são causados por falta de consciência. Ao invés de buscar a si mesmo, busca um mestre para dar-lhe conselhos, e daí decorre que sua vida se torna um equívoco.

O mestre é um líder religioso, um livro de auto-ajuda, um deus personificado. É algo externo que promete a solução dos problemas. Diante de todas as privações materiais e psicológicas, isso é tudo o que o indivíduo quer. Alguém que tome suas responsabilidades.

Quando falo de responsabilidade não me refiro ao sustento dos filhos, e nem tampouco à pagar os impostos. Não é nada prático. Falo de responsabilidade pelo próprio crescimento e autoconhecimento. Uma responsabilidade que ninguém é obrigado a seguir e que muito poucos conhecem.

Como diz Gibran:

“O professor que caminha na sombra do templo, entre os seus discípulos, não dá a sua sabedoria, mas antes a sua fé e amor.
Se for realmente sábio, não vos convida a entrar na casa da sua sabedoria, mas antes vos conduz ao limiar do vosso próprio espírito.”

Ou ainda, como dito nas Pequenas lições:

Um homem não pode libertar o outro
Não pode amar pelo outro
Não pode tornar o outro sereno e nem pleno.
A salvação é individual.

Nenhum Deus, nenhum homem, nenhuma estrela.
Nada tira dos homens a responsabilidade,
De amar porque liberta
E libertar porque ama

Noutras palavras, a sabedoria não pode ser transmitida. O desenvolvimento e a “salvação” são individuais. Vejam que quando falo de salvação não me refiro a qualquer visão religiosa. Falo de salvar-se das determinações mesquinhas do Ego.

Quando um homem toma o lugar de mestre e começa a dar conselhos ele, na verdade, não faz mais do que falar de si mesmo. É exatamente o que eu estou fazendo aqui. Falando de mim. Cada um que o ouvir interpretará o conselho segundo sua própria visão, porque um homem não pode ver o mundo segundo a ótica do outro.

A partir daí chega-se numa conclusão desconcertante: ser mestre é enganar os outros, e ser discípulo é enganar-se a si mesmo. Porque por melhor que seja a intenção do mestre, ele só transmite amor ao próximo.

Nenhum homem pode ter a pretensão de se responsabilizar pelo crescimento dos outros, e é por isso que os conselhos são inúteis. Porque quando uma pessoa ouve um conselho, por mais agradável que ele pareça, ela não assimila seu significado sem ter vivido algo análogo, e se ele já viveu, provavelmente o conselho será inútil. Se for de alguma utilidade será de lembrete.

A sabedoria real vem de dentro do homem e nunca de fora. Eis o motivo pelo qual não existem mestres ou conselhos a serem seguidos: segue-te a ti mesmo, busca teu próprio crescimento e seja livre!

Apesar de isso parecer um conselho, não especifico como isso deve ser feito. É minha contradição. Se desejar seguir-me, toma a tua capa e segue-te a ti mesmo. Seja teu próprio mestre e ouça teu próprio espírito.

Meu maior pesadelo



- Você conhece o terror, Roberto?
- Quem é você?
- Eu? Eu sou você!

Havia um gigante diante de mim, com as mãos sujas de sangue. Ele tinha um sorriso maléfico no rosto.

- Conhece o terror?
- Nada me traz terror.
- A não? Bem, isso é o que veremos...

Uma faca penetrou meu peito e saiu. Tinha sangue na minha boca. Meu corpo foi ficando fraco, eu tentava me arrastar, mas aquele gigante não me deixava.

- Não adianta fugir, Roberto. Nunca vai se livrar de mim!

Eu tentei gritar, mas não pude encher os pulmões de ar. Tudo foi ganhando um aspecto mais escuro, mais sombrio.

- É a hora do show!

O homem colocou a mão na minha boca, e deslocou minha mandíbula. Num instante todo o braço dele tinha passado pela minha boca. Ele se remexia dentro de mim. Apertou alguma coisa que me fez desmaiar.

- Deixe o espetáculo acontecer, Roberto. Deixe a fera tomar conta!
- Não!

Acordei num leito de hospital. Talvez tenham me salvado daquilo. Talvez eu ainda esteja sonhando. Eu não sei dizer. Minhas mãos e meus pés estão amarrados. Não reconheço a mim mesmo. Estou grande, minha voz quando grito é outra. Eu não sou eu. Quem será que sou? Isso é um sonho?

A porta abriu e um homem de branco entrou.

- Como concordamos, Joana, a esposa do falecido Roberto está aqui para vê-lo.
- Olhe, senhor, deve haver um engano. Eu não sou quem você pensa que eu sou. Sou o Roberto!
- Ele está delirando, não pode receba-la.
- Eu não estou delirando! Não! Joana!

Joana entrou com lagrimas de ódio nos olhos, mas nesse ponto eu estava dopado. Perdi a consciência logo depois de ouvir. Você é um doente! Um doente! Ela gritava como eu nunca havia visto antes, e aquilo me tomou no íntimo de tal forma que tudo em mim parecia imerso num caos insuportável.

- Você conhece o terror, Roberto?
- Quem é você? O que eu fiz contra você?
- Eu sou você. O que você fez? Você se matou!
- Do que você está falando? Eu nunca me mataria. Eu era feliz!
- Sabe que eu fico me perguntando sobre isso? Você era feliz sim. Como é que foi se matar? Talvez não fosse tão feliz quanto achava.
- Não! Isso não é real!
- Quem é você, Roberto? Quem é você?
- Eu sei quem eu sou!
- Sabe é? Então o que você acha que faz nessa cama?
- Você não é o Roberto não. Na verdade nada disso é real.
- Quem é você?
- Eu sou a única coisa que sobrou em você que tem contato com o mundo real.
- Eu tenho contato com o mundo real, você não sabe do que está falando!
- Você sabe? Acorde e verá!

Acordei naquela mesma cama. Estava anoitecendo, e havia uma mulher sentada numa cadeira de plástico me olhando.
- Está mais calmo, Augusto?
- Quem é augusto? Eu sou Roberto!

Ela pegou um rádio e falou:

- Ainda está alucinado, quer aumentar a dose?
- Não. Quero tentar algo novo hoje.
- Certo.

Ela se levantou e esperou um pouco, até que cinco homens entraram na sala. Seguraram meus braços e minhas pernas. Sei que pensam que sou louco, e por isso esperam que eu seja agressivo. Acho que com minhas atitudes eu posso provar que não sou louco.

- O que vocês querem?
- É a hora de comer.
- Não precisam me segurar, não vou fazer nada.

Os homens hesitaram, mas me soltaram. Percebi que ficaram alertas para o caso de eu ataca-los. Um deles tinha um spray de pimenta. Eu me sentei e minha cabeça estava muito alta. Levantei e percebi que a cama não era tão alta. O homem mais alto dali batia com a cabeça um pouco acima do meu cotovelo. Eu estava gigante como Aquele homem que me veio falar no sonho. Num lampejo eu percebi que eu estava exatamente igual a ele.

- Quem sou eu?
- Não somos autorizados a conversar com você.
- Eu sei que isso é mentira. Seus olhos me dizem. Porque você não quer falar comigo?
- Escuta aqui seu louco. Não troco uma palavra com gente como você. O que você fez com aquelas pessoas não tem perdão.
- O que foi que eu fiz?
- Fingir que não sabe de nada não vai te inocentar. Espero que você seja condenado à morte
- Morte? Mas eu sou inocente! Não podem me matar!


Os homens me seguraram e me derrubaram no chão.

- Você vai por bem ou vai por mal?
- Eu vou por bem.
- Depois da refeição você conversará com um psiquiatra e com um padre.
- Tudo bem.

Isso não pode ser real, mas talvez tenha algum significado. Vou ver o que acontece.
Uma mulher trouxe um prato com talheres descartáveis.

- Não quero isso. A faca não corta.
- Brilhante observação.

Eu comecei a comer e senti o sabor da comida de Joana. Estava delicioso.

- Isso aqui está muito bom. Quem foi que cozinhou?
- Você sabe muito bem que cozinhou...
- A Joana?
- Quantas vezes vou ter que te dizer que meu nome é Elisa?
- Foi você quem fez isso?
- Meu deus! Todo o dia a mesma história? Como você não enjoa?
- Enjoa de que?

A mulher não me respondeu. Somente fez uma cara de quem já não tem paciência.
Decidi comer em silêncio, pois parece que todos ali me odiavam. Só queriam me ver morto.
Eles me levaram pra fora do refeitório em total silencio, mas eu podia sentir o ódio deles. Ele me penetrava e me assustava. Eu só queria acordar desse pesadelo, isso me assusta.

Um dos homens sussurrou no meu ouvido.

- Escuta aqui seu animal, você nunca será bem vindo em nenhum lugar. Espero que você morra e que vá pro inferno.

Comecei a chorar. Não podia me controlar.

- O que está acontecendo? Quem são vocês? Quem sou eu!?
- Não se faça de inocente, seu maníaco maldito!
- Hey! Quantas vezes vou ter que dizer que vocês não podem conversar com o prisioneiro?
- Prisioneiro? Mas que lugar é esse?
- Venha Augusto, vamos até nossa sala.
- Que sala?
- Você logo verá.

Eu continuava a chorar. Não sabia o que está havendo. Nada estava certo. Isso não podia ser real!
Uma raiva repentina tomou conta de mim. Senti vontade de destruir, de matar todos aqueles homens e me livrar daquilo.

- Você não me conhecem! Não sabem que eu sou!

Derrubei os cinco homens e corri em direção do médico, que parecia assustado, mas não tentou fugir ou reagir. Levantei ele do chão pela camisa.

- O que vocês fizeram comigo? Isso é algum tipo de experimento doentio? Eu vou matar todos vocês! Cada um de vocês irá morrer!

Algo me atingiu e eu perdi a consciência. Quando me dei conta estava novamente na cama. Amarrado, e tive mais um surto repentino de raiva. Arrebentei o que me prendia e olhei ao redor. Havia uma janela que me mostrava a luz e uma campina. Tudo escuro.

Um alarme tocou, e uma luz ficou brilhando do outro lado da porta do quarto.

- Atenção, O prisioneiro da ala psiquiátrica no leito 45 se soltou da cama.
- Desgraçados! Vou comer a sua carne! Deixem-me sair!

Eu bati na porta e percebi que não há via como abri-la. Era de ferro. A janela era de vidro, mas havia barras de ferro.

- Porque vocês estão fazendo isso comigo!? Vocês são doentes! Deixem-me ir embra.

Um homem parou diante da porta. Era o psiquiatra.

- Vamos conversar, Augusto. Fique calmo.
- Não em diga pra ficar calmo! Eu não me chamo Augusto! Meu nome é Roberto!
- Você prefere conversar ou ser imobilizado por 10 agentes penitenciários?

Parecia tudo uma mentira. Agentes penitenciários, psiquiatras. Tudo o teste para verem como eu reagiria a isso. Pensei em superar as expectativas deles.

- Vamos conversar. Estou indo me deitar na cama.
- Muito bem.

Deitei e os dez agentes entraram. Rapidamente me seguraram e não reagi. Posso provar que não sou um assassino pelo simples fato de que sei quem sou. Eles verão.

- Incomoda-te estar sendo segurado?
- Sim, mas como não posso dar nenhuma garantia da minha sanidade creio que devemos conversar assim. Não vou apresentar nenhuma objeção.
- Então não deve se objetar a vestir a camisa de força também, certo?
- Não.

Vestiram a camisa em mim, e algemaram minhas pernas. Amarraram-me contra as barras da janela. Eu estava totalmente imobilizado.

- O senhor pode me dizer o que está acontecendo aqui?
- Vou te explicar. Tragam o notebook, por favor.

O homem pegou o notebook e colocou diante de mim. Eram imagens daquele homem que me matou matando outras pessoas.

- Eu conheço esse homem! Ele me atacou. Enfiou uma faca no meu peito.
- Conhece sim, é fato. Fale-me da faca.
- Ele veio à minha cama durante a noite, e falou algumas loucuras sobre terror. Depois afundou uma faca no meu peito.
- E você acha que sobreviveria a isso?
- Não, e isso me deixa confuso.
- Vou te mostrar uma coisa.

O homem pegou um espelho e colocou diante do meu rosto.

- Eu sei que minha aparência é igual à dele. Mas estou lhe dizendo, eu sou Roberto. Não sei como te explicar isso, e sei que parece loucura, mas é verdade. Eu não sou um assassino.

O médico suspirou e se sentou na cama. Parecia não saber o que fazer.

- O que vou fazer contigo, augusto?
- Do que você está falando?
- Todas as manhãs você acorda dizendo isso. Que é Roberto. Já está aqui há cinco meses. Às vezes perde a memória e acorda achando que é Roberto de novo. Acho que não progredimos em nada, e seu julgamento é depois de amanhã.
- Vou processar vocês. Não têm o direito de fazer uma pegadinha dessas.
- Como você pode ser tão repetitivo?
- Isso é algum tipo de teste?
- Não é teste, Augusto. Roberto foi sua ultima vítima. Você o matou e seqüestrou a mulher dele, mas foi capturado. Ela foi encontrada amarrada numa cama.
- Do que você está falando?
- Você, por algum motivo, pensou ser o Roberto, e por isso seqüestrou Joana, mas na verdade você não é Roberto. Ela concordou vir aqui para conversar com você depois de cinco meses insistindo ser Roberto, e quando ela apareceu você teve um ataque de agressividade. Amanhã estará aqui de novo, e espero que você fique calmo. Sei que não quer aceitar que é Augusto, mas vai ter que enfrentar a verdade.

Queremos separação

Tentamos doar nossas vidas. Tentamos transmitir as lições de amor, união, mutabilidade...

Mas não fomos ouvidos, e por isso desejamos separação.
Queremos distancia daqueles que se preocupam apenas consigo. Ir embora para um lugar mais harmonioso. Somos separatistas do mundo, pois ele foi moldado para ser o lar dos ímpios e dos ignorantes.
Não se trata de separa-nos de uma nação ou de um continente. Queremos distancia do materialismo, da compulsão pela propriedade e todas as outras tendências infantis dessa raça.
Nossas almas não pertencem a esse mundo, e por isso queremos a nossa separação.

Sobre a Conversa - Kahlil Gibran

Então um erudito disse, Fala-nos da Conversa.


E ele respondeu, dizendo:

Vós falais quando deixais de estar em paz com os vossos pensamentos, e quando já não conseguis lidar com a solidão do vosso coração, viveis com os lábios e o som é uma diversão e um passatempo.

E, em muita da vossa conversa, o pensamento fica amordaçado.

Pois o pensamento é um pássaro do espaço que numa gaiola de palavras pode abrir as asas, mas não pode voar.

Há muitos de entre vós que procurais a conversa com medo de estardes sozinhos.

O silêncio da solidão revela aos vossos olhos os vossos eus despidos e eles querem escapar.

E há aqueles que falam, e sem conhecimento ou premeditação revelam uma verdade que nem eles próprios entendem.

E há aqueles que têm a verdade dentro de si, mas não a dizem por palavras.

E é no seio destes que o espírito habita em silêncio rítmico.

Quando encontrais o vosso amigo na rua ou no mercado, deixai que o vosso espírito conduza os vossos lábios e dirija a vossa língua.

Deixai que a voz dentro da vossa voz fale ao ouvido do seu ouvido, pois a sua alma guardará a verdade do vosso coração tal como se guarda o sabor do vinho.

Quando já se esqueceu a cor e já não temos a taça.

Suas cores

Às vezes eu via cores
Mesmo sendo “colorblind”
Eram as suas cores
Eu via com o coração

Você brilhava
Animava minha alma
Fazia-me querer viver
Eu te olhava e pensava:

A vida vale a pena

Mas aí você desaparecia
Ia para trás da sua parede
De sensatez, ética.
Mantinha-se pura, imaculada.

Sei que existo sem você
Minha vida continuou
Mas sem a sua luz
Eu acabei me amigando

Com essa escuridão

Porque aqui no escuro
Não há cores e nem brilho
Então não lembro de você
E nem da alegria daquele vinho

E que alegria!

Mas algo me atormenta
Queima minha alma
Então te trago pra dentro
E sinto aquela tristeza

Que não chora e nem passa

Queria ver suas cores
Só mais uma vez
Ver um sorriso, dizer oi.
Brincar com aquele sapinho

Queria ir até a pedra
De novo fazer poesia
Ficar sem idéias
Apenas admirando

Suas cores...

Sobre a convicção


Convicção: “Certeza obtida por fatos ou razões que não deixam dúvida nem dão lugar à objeção”.

Tomei emprestada essa definição obtida no dicionário UOL Michaelis pra poder dar prosseguimento à minha argumentação. É justamente a essa significação que minha crítica será direcionada.

Primeiro deve-se avaliar mais de perto qual é o fundamento das certezas: todos os nossos pensamentos são orientados segundo premissas determinadas. Assim, nosso raciocínio percorre as premissas, o desenvolvimento e a conclusão. O desenvolvimento e a conclusão dependem das premissas, então segundo certas premissas podemos fazer qualquer coisa ser razoável.

A conclusão pode estar em contradição com o desenvolvimento e a premissa, e o desenvolvimento pode contar falácias lógicas. Nesse caso, pode-se pegar uma premissa e tirar dela uma conclusão que contradiz seu próprio fundamento.

Exemplo:

Premissa: Deus é bom

Desenvolvimento: Por isso, deus ordenou que o rei Saul matasse crianças na fase de amamentação.

Conclusão: Deus é mau.

O desenvolvimento pode conter uma série de falácias lógicas, que estão presentes, sobretudo em refutações. Há um guia ótimo de falácias lógicas no site Ateus.Net.

Exemplo:

Premissa: Deus criou o mundo

Desenvolvimento: logo, qualquer evidência do evolucionismo é um teste para a fé dos homens.

Conclusão: Evolucionismo é falso.

Exemplo 2:

Premissa: o monstro do espaguete voador controla a gravidade

Desenvolvimento: logo, qualquer evidência contrária a isso deve ser vista como um teste de fé.

Conclusão: a lei da gravitação é falsa.

Por mais absurdo que isso possa parecer, em níveis mais arcaicos de convicção as pessoas podem chegar a acreditar nessas coisas. Isso se chama fé, que é, na verdade, uma fraude usada para manipular as pessoas. Postula que a dúvida é um erro e que a convicção é uma virtude. Oferece recompensas bizarras pós-morte e as pessoas aceitam, pois foram condicionadas a tal desde a infância.

Depois desses tipos arcaicos vêm outros menos arcaicos que não possuem os mesmos erros grosseiros de raciocínio, mas que também não deixam de ser frágeis.

A moral e a ciência.

Ordenando do pior para o melhor, falarei primeiro da moral.

Se formos avaliar bem, a moral não tem nenhum fundamento. É exatamente isso! Na verdade a única coisa que pode justificar a moral é a implicação prática. Ou seja, deve-se aceitar a moral somente pelo fato de que sem ela não haveria vida social. O certo e o errado são conceitos socialmente condicionados e que raramente têm suas premissas questionadas, e por isso a moral cria comportamentos bizarros e dá mais poder a quem sabe lidar com ela.

Exemplo:

Premissa: É errado fazer sexo antes ou fora do casamento.

Desenvolvimento: Já que é proibido, deve-se impor essa regra dentro dessa sociedade.

Conclusão: É justificável chicotear uma pessoa por transgredir essa regra.

Mas não refletiram sobre os motivos de ser proibido o sexo fora do casamento, pois se assim fizessem perceberiam que essa regra é totalmente absurda, já que entra em contradição com impulsos naturais e também não tem um fundamento sólido o bastante para ser imposta. Pode-se buscar as razões com todos os sofismas do mundo que nunca se encontrará um fundamento realmente sólido, porque esse fundamento simplesmente não existe. Só quem quer ter convicção sobre o que é certo e errado de forma irrefletida que acredita numa coisa dessas. Quem realmente reflete percebe que o certo e o errado são ilusão, e que o que existe são atitudes e suas conseqüências. A ética é a moral com reflexão, e essa sim deveria ser avaliada.

Tendo encerrado o que tenho dizer sobre convicção e moral, vou para a convicção na ciência.

A ciência coloca o princípio da dúvida no pensamento das pessoas e por isso está longe de ser um erro como as demais formas de pensamento. Mas houve uma glorificação quase de fé feita pelo cientificismo, que atribuiu à ciência o papel de encontrar a verdade através da observação sistemática.

Então é assim:

Premissa: A realidade pode ser observada.

Desenvolvimento: O método científico é rigoroso quanto à observação dos fatos.

Conclusão: A ciência pode revelar a verdade.

Mas a mecânica Quântica comprovou que o fato de um fenômeno estar sendo observado muda a sua natureza, de forma que mesmo a observação altera a realidade. Isso se aplica profundamente à observação do comportamento humano, que se altera quando posto em observação, de forma que o método científico, por mais rigoroso que seja, simplesmente não pode interpretar com exatidão o ser humano enquanto ser pensante.

A ciência é um grande avanço para a humanidade, já que através dela muitas implicações positivas são possíveis, tais como a tecnologia. Se aplicada racionalmente e pensando no bem da humanidade, a ciência pode, sim, ser uma salvadora, mas jamais deve ser “adorada”.

Só que o cientificismo faz justamente isso: coloca a ciência num pedestal, fazendo com que ela tome o lugar da religião na função de revelar a verdade. Atualmente virou moda só aceitar fatos comprovados cientificamente porque a ciência possui o paradigma capaz de dizer o que é real e o que não é.

Dessa forma, a ciência que deveria ser um nível total de dúvida se torna uma convicção e, conseqüentemente, um erro.

Num nível mais amplo, podemos ver que todos os tipos de pensamentos são fundamentados em algo que jamais poderá ser comprovado de forma absoluta. Todos são frágeis e quem quiser pode muito bem desconstruir todos os pensamentos raciocinando segundo premissas diferentes. Sendo assim, nenhum pensamento tem validade de “verdade”, e deve-se pensar nas implicações das premissas escolhidas. Por exemplo: se admitirmos o capitalismo como premissa de pensamento, nossa conclusão será fatalmente o individualismo e a desigualdade social. Por outro lado, pensando no anarquismo como premissa, a sociedade poderia se basear no trabalho cooperativo e em cidades auto-sustentáveis. Tudo é uma questão do ponto de partida do pensamento, que sempre estará sujeito a mudança, desde que o próximo paradigma tenha implicações mais favoráveis (isso é claro, partindo da premissa de que igualdade é o objetivo).

As convicções são um erro justamente por causa da mutabilidade do ser humano. A idéia de que nunca mudar é uma coisa boa vem da prisão do homem numa neurose. Aquele sentimento de que devemos estar pisando num chão concreto e firme quando na verdade esse chão não existe. O que existe são pessoas insistindo em erros ao invés de buscarem o próprio crescimento.

14 verdades sobre o dinheiro

1) Money is just an interference between what one needs and what one is able to get. It is not money that people need, it is access to resources. (O dinheiro é só uma interferência existente entre o que o indivíduo precisa e o que ele pode conseguir. Não é de dinheiro que as pessoas precisam, mas sim dos recursos só acessíveis com ele).

2) The use of money results in social stratification and elitism based primarily on economic disparity. (O uso de dinheiro causa estratificação social e elitismo, baseado em disparidades econômicas).


3) People are not equal without equal purchasing power. (As pessoas não são iguais sem um idêntico poder aquisitivo).

4) Most people are slaves to jobs they do not like because they need the money. (A maioria das pessoas são escravas de empregos que não gostam porque precisam de dinheiro).


5) There is tremendous corruption, greed, crime, embezzlement, and more caused by the need for money. (A necessidade de se obter dinheiro causa corrupção, ganância, criminalidade, desvio de recursos e muitos outros problemas).

6) Most laws are enacted for the benefit of corporations, which have enough money to lobby, bribe, or persuade government officials to make laws that serve their interests. (A maioria das leis é criada para o benefício de corporações que têm dinheiro suficiente para pressionar, subornar ou persuadir governadores e, assim, colocar em prática leis que atendam seus interesses).


7) Those who control purchasing power have greater influence. (Aqueles que têm mais poder aquisitivo possuem mais influência).

8) Money is used to control the behavior of those with limited purchasing power. (O dinheiro é usado para controlar o comportamento daqueles de baixo poder aquisitivo).


9) Goods such as foods are sometimes destroyed to keep prices up; when things are scarce prices increase. (Bens de consumo como comida são, por vezes, destruídos para manter os preços em alta; Quando as coisas são escassas o preço aumenta).

10) There is tremendous waste of material and strain on available resources from superficial design changes for newer later fads each year in order to create continuous markets for manufacturers. (Há grande desperdício de matéria prima e energia nos recursos disponíveis por causa de mudanças superficiais no design (moda) para criar um mercado contínuo para os fabricantes).

11) There is tremendous environmental degradation due to the high cost of better methods of waste disposal. (Há grande degradação ambiental por causa do alto custo de melhores métodos de tratamento de lixo).

12) The Earth is being plundered for profit. (A terra está sendo destruída para a obtenção de lucros).

13) The benefits of technology are only distributed to those with sufficient purchasing power. (Os benefícios da tecnologia só são aplicados para aqueles que possuem poder aquisitivo suficiente).

14) Most important, when the corporation’s bottom line is profit, decisions in all areas are made not for the benefit of people and the environment, but primarily for the acquisition of wealth, property, and power. (A mais importante, quando o objetivo primário de uma empresa é o lucro, todas as decisões são feitas não para o benefício das pessoas e do meio ambiente, mas para a aquisição de riqueza e poder).

Retirado diretamento do livro: Desinging the Future, escrito por Jacques Fresco, que é o fundador do Projeto Venus.

Sobre meu maior sonho


"Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo." Proudhon

Sobre a pseudo-sabedoria: inteligência emocional

 

Vivemos num mundo onde a prioridade é o bom desempenho nos escritórios, e o bem estar, por não ser tão lucrativo, fica em segundo lugar.
É claro que o livro não poderia ir até o fundamento filosófico da vida e responder a pergunta: “o que é ter sucesso?” Simplesmente porque isso não pode ser colocado em questionamento. O livro foi escrito para uma premissa doentia do mundo moderno: o mercado de trabalho.

Como Foi dito no Zeitgeist: o trabalho hoje em dia não passa de escravidão remunerada. Não me surpreende que homens se aposentem aos 65 anos, idade em que os escravos deveriam ser libertados segundo a lei do sexagenário.
Sobre os fundamentos históricos da escravidão é bom que vejam no próprio documentário, pois falar disso me faria sair do foco.

O livro parte de uma premissa de que o sucesso é alcançado de forma mais eficiente pelas pessoas que possuem empatia no lugar daquelas que possuem grandes capacidades mecânicas de raciocínio, já que o sistema econômico em que vivemos é muito mais simples do que parece, e tudo o que você realmente precisa é de habilidades sociais para manipular as pessoas e conseguir o quer: “sucesso”.

Depois que foi provado que entender os sentimentos alheios e saber lidar com eles (para ampliar a eficiência) é uma forma de se obter sucesso numa empresa, começou uma torrencial de matérias totalmente superficiais sobre um novo tipo de inteligência.

Mas em teoria é menos risível do que na prática: disseram que inteligência emocional é algo que se exercita e que todos podem ter, mas se esqueceram de mencionar os aspectos mais sombrios e escondidos da mente humana.

O que eu vejo, na verdade, é um funcionário sorrindo pra todo mundo e seguindo padrões “agradáveis” de comportamento. Como é tudo falso, quando ele chega em casa, no ambiente em que não precisa fingir, ele descarrega toda a raiva em quem estiver por perto: a família. A pessoa parece muito agradável para os amigos de trabalho, mas a verdade é que não tem nenhuma consciência sobre si mesma: apenas vive atuando num mundo falso.

Ao perceber isso algumas podem mergulhar em neuroses, justamente porque não têm qualquer preocupação em resolverem suas mazelas internas: basta fingir certos comportamentos. Basta parecer.

Honestidade, afetividade, companheirismo. Nada disso importa quando seu comportamento começou justamente por causa de sucesso empresarial: esse sucesso presume o fracasso do outro.

Termino com uma poesia:


Mate o próximo.
Consuma sua carne
Mas faça isso sorrindo
É uma questão de inteligência.

Você é um selvagem
Mas precisa fingir que não é
Não me importo com você
Só com meu lucro.

Contradição no amor


Precisa de um conselho?
Darei aquele que tenho.
Precisa desabafar?
Serei um ouvido amigo.

Dedico minha energia
Para o seu bem estar

Você existe, e por isso te amo.
Não quero nada em troca.
Apenas lhe aviso:
Não me toque

Não sou seu semelhante
Não somos da mesma raça
Vivo num mundo
E você noutro

Você não existe individualmente
Não vale mais que seu irmão
Você é diferente de mim
Indiferenciado, diluído nos outros...

Você é um fragmento no todo
Eu sou um inteiro no nada...

De cabeça pra cima


A lua não me ilumina
As estrelas desapareceram
Fui abandonado pela noite
Traído pela minha natureza

Meus sonhos eram neurose
Meus hábitos, tormento.
Fui traído pelo meu remédio
Prometia o fim da dor

Fui traído pela solidão
Não cumpriu a promessa
De tranqüilidade, paz,
Sabedoria

Meus inimigos me atraem
O sol, as cores...
Minha vida está se invertendo
Ficando de cabeça pra cima

Prostituição artística


Fará sucesso?
Pessoas elogiarão?
Serei adorado?
Darei autógrafo?

Venderei a minha alma,
Para o publico voraz?
Consumirei minha essência
Buscando a fama?

Limparei minhas lágrimas,
Usando drogas
Em troca do sorriso alheio
Pra ser celebridade?

Bem, nesse caso sou puto.
Vendo minha alma
A quem quiser pagar
Não me importo comigo,
Apenas com o dinheiro

Porque isso é prostituição
E não combina com amor...

O déspota das cores


O pássaro rei era colorido. Daqueles que chamam a atenção quando passam voando. Como era o mais colorido de todos, era forçoso querer ser o único. Afinal, quem ousaria entrar no seu caminho?

Certo dia outro como ele apareceu. Um concorrente. Deveria ser afastado imediatamente, pois poderia atrair as atenções já direcionadas ao rei. Talvez não. Olhando com atenção O déspota das cores percebeu suas falhas. Era cheio de gafes. A asa direita não batia direito. Voava tão desajeitado que jamais chamaria a atenção de alguém. E os olhos do invasor? Totalmente desalinhados, nem parecia da mesma espécie: um horror! Com a pata esquerda como era, ele jamais se manteria fixo num graveto ou num fio!

Ele tinha que sumir, pois era uma má referência. Que credibilidade sobraria aos pássaros plumados se um tão imperfeito fosse visto?

Mas o intruso não pensava em ir embora. Olhava o rei de volta com o mesmo olhar de desprezo. Quem ele pensava ser para olhar pro rei dessa maneira? Provavelmente pensava ser muito mais do que era pra pensar que seria capaz de enfrentar um pássaro tão saudável.

O déspota das cores perdeu a paciência e decidiu que o intruso deveria ir embora. Era desajeitado, mas não inspira pena: o olhar maligno dele sugeria algum plano ruim. Deve estar se preparando para atacar. Para descontar a frustração de ser tão imperfeito. Seus olhos não mentiam, nenhum pássaro escondia as coisas do déspota.

A hora do duelo entre os pássaros chegou. O rei ficou parado observando a tática de combate do seu oponente, que parecia fazer o mesmo, só que meio torto por causa da pata ruim. Pelo menos besta ele não era. Seu olhar era concentrado e agressivo, embora seus olhos fossem desalinhados.

O rei se cansou do jogo e avançou, e em resposta a isso o intruso também avançou. Bateram um na cabeça do outro, e o rei se espantou. Era muito mais dura do que ele imaginava. Mas ele também parecia assustado. Deveria estar, porque a cabeça de um déspota é sempre mais dura do que a dos outros pássaros.

O bico do oponente era torto, então se eles lutassem com o bico o rei teria vantagem. Fechou os olhos para o seu movimento fatal e voou para cima. Como o vento é agradável quando sopra na direção dos vencedores!

Foi direto na direção do intruso, que, para sua surpresa, também vinha atacar. Bateram um no bico do outro, e o rei ficou atordoado. Felizmente o outro pássaro também estava, e tudo o que o rei tinha que fazer era esperar que ele fosse embora. Não podia mais lutar, mas o outro também não. Bastava se manter firme.

O carro foi ligado e começou a andar. Levou embora o retrovisor. O intruso se foi. A luta é sempre difícil, mas a vitória continua a ser gratificante. Por hoje o rei descansa, mas amanhã jura que expulsará qualquer intruso.

Sobre a auto-afirmação com fala e escrita

Como devem ter percebido, a nossa linguagem escrita é ensinada como uma extensão da fala, pois se organiza foneticamente: mesmo palavras desconhecidas podem ser pronunciadas, pois basta que identifiquemos os fragmentos.

Em teoria isso até que funciona, mas na prática vemos que a linguagem falada simplesmente não se equipara com a escrita: nós buscamos meios para acelerar a fala, e daí surgem abreviações cotidianas.

No inglês existe Because, que falam cause. No português você, que falam ce, está, que falam ta.

A linguagem falada parece buscar caminhos para abreviar a comunicação, já que isso maximiza a eficiência da comunicação em si, mas a linguagem escrita só passou por esse tipo de transformação quando chegou a internet. O problema é que as abreviações são tão bizarras e pessoais que muitas vezes dificultam a interpretação, coisa que nunca acontece na fonética cotidiana. O que você entenderia lendo “qq”. Eu levei cinco segundos para entender, pelo contexto, que significava qualquer.

Partindo daí poder-se-ia justificar a repulsa com que o internetês foi recebido. Usar abreviações com lógica fonética como “c” para você, e q para “que” até que faz sentido, mas pela internet você vê tantas aberrações que simplesmente não tem como aceitar essa desordem na comunicação.

Estou longe de ser um conservador, mas as pessoas que criam essas aberrações geralmente não pensam se isso facilitará a comunicação. É simplesmente inadmissível.

Mas existe o outro lado da moeda, que é a auto-afirmação através da linguagem: tanto escrita quanto falada. Eu diria que a feita através da fala é mais grosseira do que a da escrita, mas isso deixo para que cada um julgue.

Na escrita vemos um texto jurídico, que é preparado obviamente para dificultar a interpretação de uma pessoa não habituada ao tipo de leitura. Como observar essa linguagem é algo cansativo, só quem se esforça por se acostumar com ela que interpreta perfeitamente bem o que está escrito: é rebuscado.

Esse tipo de escrita pode ser considerado por alguns como sendo erudita, mas não passa de uma fraude. Uma farsa que algumas criancinhas de terno usam para intimidar os outros e dizer: viu como eu sou inteligente? Eu escrevo difícil e entendo quando escrevem difícil!

Na maioria das vezes o significado do que está sendo escrito é simples, porque uma pessoa que concentra sua energia em complicar a forma de um texto e dificultar sua interpretação dificilmente terá energias sobrando para, junto a isso, criar um significado digno de interpretação. Pegam coisas simples, usam palavras totalmente desnecessárias e incomuns que, “por acaso”, são difíceis de pronunciar foneticamente, e se dizem inteligentes, homens cultos. Pra mim um homem culto deveria saber expressar a idéia mais complexa de forma simples. Mas, infelizmente, isso não dá lucro e também não ajuda na manutenção do sistema, então não vejo perspectiva de mudança.

Além desses, há aqueles que usam a fala como auto-afirmação. Assim como os primeiros, eles memorizam palavras pouco conhecidas para fingir erudição, mas a comunicação deles é ainda mais bizarra. Imagine uma pessoa falando: “siga-me. Estou indo ao banco”.

Se você ri ele enche o peito (a mente) de ar e diz: “mas isso é o correto!” com um ar de superioridade que diz: você é burro e não sabe falar.

Pois isso acontece: há pessoas que fazem questão de pronunciar as coisas faladas exatamente da forma que são escritas simplesmente para dizer a alguém (provavelmente a si mesmos) que não são idiotas. Mas adivinha só: são idiotas!

Pior é quando a pessoa não conhece nem a norma culta e tenta fazer isso. Aí começa aquilo de “adêvogado”, etc.

São estúpidos demais para aplicar as palavras para o que elas realmente servem: expressar significados. Para eles basta que o texto/fala seja emitido da forma mais complicada possível. Falam de forma ineficaz, escrevem de forma ineficaz e, no final, concentraram tanta energia em fingir serem inteligentes que se tornaram toupeiras!

I do it

Every single night
I do it
It feels good
But leaves a hole inside

Should i keep runnig away?

Everything is nothing
But madness, childsplay
Nothing makes sense
Maybe that’s how it’s supposed to be

My heart pumps slowly
Painfully, lonely
Maybe it’s a fase
I hope it is…

Because i can’t do it
Not anymore
I’m full of this shit
I can’t run off anymore

That’s a nice story
But it’s not mine
The impulses are here
And i should face them

I’ll hurt myself
And also other people
Tears will be droped
Instead of staying inside…

My life is a mistake
Can it be fixed?
Thank god there is poetry
I fell much better now…

Sobre o fundamento da amizade: conhecer o próximo

Sempre foi um problema confiar nos outros, e por isso eu não costumava me relacionar com muitas pessoas. Com o tempo, concluí que confiança é expectativa: é esperar de uma pessoa o que queremos que ela seja e não o que ela é. Noutras palavras, confiar é mentir para si mesmo, e a confiança é, em essência, um erro.

Mas todos os pensamentos são baseados em metafísica, e cabe aos nossos sentimentos selecionarmos qual deles será revestido com nossa racionalidade para parecer verdade. E meus sentimentos me impeliam a buscar um fundamento para chegar à conclusão de que as amizades são possíveis. A conclusão foi de que para se ter um amigo deve-se conhecer quem ele é verdadeiramente e não ter expectativas. Noutras palavras, devemos saber o pior e o melhor a esperar desse amigo. Conhecendo-o poderemos evitar as situações onde o comportamento dele se torne desagradável e, acima de tudo, nunca ficaríamos decepcionados.

Partindo desse raciocínio mais uma pergunta surge: é possível conhecer uma pessoa verdadeiramente? Ou mais especificamente: é possível conhecer uma pessoa suficientemente para que a amizade seja possível?

Como deixe claro, o que eu buscava provar é que amizades são possíveis, e encontrei. Provavelmente se estivesse buscando uma justificativa para a solidão eu também encontraria.

Minhas observações e reflexões me levaram a duas maneiras distintas e não excludentes de se conhecer o próximo: estereotipação e Simpsiquismo (união de mentes).

Estereotipar é a mais simples forma de identificar o próximo, pois ela não exige que a pessoa que avalia mude a si mesma: é necessário que exista certa maturidade na pessoa para ela permitir a mudança.

Esse tipo de avaliação é forçosamente superficial, pois identifica apenas características da “Persona”. No entanto, há muitas pessoas tão profundamente identificadas com essa persona que se confundem, como uma pessoa que usa por tanto tempo uma máscara que acaba se identificando com ela e esquecendo o que há por trás. Nesses casos, a estereotipação funciona, porque a pessoa avaliada se identifica com seus rótulos. A grande maioria das pessoas usa esse tipo de técnica para identificar os outros, embora nunca tenham pensado nisso.

Essa consiste em identificar a pessoa com seu olhar, sua expressão facial, a forma como normalmente se comporta (quando observada), sua roupa, seu tom usual de voz, etc. Assim, a pessoa é rotulada como: simpática, chata, etc.

Por exemplo: se olharmos uma mulher que só usa saia e que procura, na medida do possível, ser amigável, poderemos deduzir que ela é evangélica. A partir daí, para quem só usa esse tipo de identificação, se criará uma identidade arbitraria. Se o observador também for evangélico ele terá boas expectativas dela, se não, pensará outras coisas sobre ela.

Por mais absurda que essa forma de avaliar o próximo seja, é normalmente só isso que a maioria das pessoas fazem. Olham uma pessoa, identificam um “padrão” pra ela e dão um rótulo equivalente a esse padrão. Como se percebe, essa forma de avaliação falha, e por si só é um erro. Por isso que o senso comum diz: “as aparências enganam”. Na verdade as pessoas se enganam buscando padrões umas pras outras.

Não é porque essa forma de avaliação parece risível que ela seja inválida: ela só é insuficiente por conta própria. Se formos avaliar os outros assim nunca poderemos conhecer ninguém, e, portanto, a amizade será impossível. No entanto, esse tipo de avaliação é perfeitamente normal se a pessoa nunca for passar de uma colega.

Aliás, para não ser injusto, esse tipo de avaliação pode se aprimorar com o tempo. Pelo que constatei, a experiência de vida ajuda as pessoas a criarem estereótipos cada vez mais próximos da realidade. Ainda assim essa forma de conhecer o próximo não é tão eficaz quanto a seguinte.

O “Simpsiquismo” é o resultado da interação profunda, e, por conseguinte, leva tempo. Para ser capaz de ter contato com outras pessoas de uma forma mais profunda a pessoa deve aceitar sua mutabilidade. Não há Simpsiquismo entre pessoas que estão fixadas num tipo de pensamento e acreditam que a mudança é um erro ou uma fraqueza. O convívio e a interação com uma pessoa diferente criam conflitos de todas as formas entre pessoas assim.

Se a pessoa for mutável, o contato com uma pessoa diferente não será desagradável: pelo contrário, será uma forma de prazer. Instigará curiosidade. As pessoas que se aproximam trocam idéias, falam de seus sentimentos, aspirações e sobre sua história. Com o tempo, essa pessoa se aproxima tanto que a forma dela de pensar e sentir o mundo influencia a sua, e aí se cria uma ligação mais forte. Através das mudanças que essa pessoa causou é possível identifica-la, pois em essência nós só observamos com exatidão a nós mesmos. Observando o que essa pessoa mudou na nossa essência estaremos observando a marca dela em nós, e essa marca representará a pessoa.

Essa representação é muito mais detalhada e pessoal do que um estereótipo, e se constrói com o tempo, de forma que as pessoas acompanham as mudanças uma da outra. Acredito que essa forma de se conhecer uma pessoa permite que a amizade seja possível, então por hora eu declaro o problema da amizade resolvido: a amizade é possível.

A criatividade como potencial humano

Em tempos remotos a força física era aquilo que dava valor a um homem, porque isso determinava a sua força de trabalho e sua capacidade de se defender. Hoje em dia, para ambas as funções, a força física se tornou praticamente irrelevante, já que existem armas de fogo e maquinaria industrial. A tendência, com a evolução da robótica, é o trabalho pesado ser totalmente erradicado. Assim, o homem não está sendo substituído pela maquina e se tornando irrelevante: ele está se libertando de trabalhos pesados que não permitiriam o pleno uso do raciocínio. Hoje em dia a força física, no homem, não passa de vaidade.

Nos tempos modernos existe o qi, que é a forma pela qual costumam medir a inteligência das pessoas. Há propagandas de teste de qi em cada canto da internet justamente porque querem passar a idéia de que ter o qi alto é ser mais inteligente. No entanto preciso apresentar minhas objeções sobre esse conceito de inteligência, pois não só ele é falso como também é prejudicial.

Um teste de qi possui operações de lógica mecânica. Noutras palavras, nele você irá resolver anagramas, associar logicamente seqüências de números, associar fugiras. Noutras palavras, você jamais será colocado para questionar qualquer coisa nesse teste. Irá apenas interpretar complicadas e inúteis operações lógicas. Se pergunte: será que Nietzsche tinha um qi alto?

O teste de qi jamais poderá medir a inteligência humana realmente, pois o que ele mede é a capacidade para calcular coisas mecanicamente, e são ínfimas as situações em que esse tipo de lógica é útil. Quase sempre o ser humano resolve problemas usando sua criatividade. Aliás, esse tipo de medida de inteligência negligencia totalmente a arte. Afinal, se a mulher melancia tiver um QI maior do que o Mozart nós deveríamos dizer que ela é mais inteligente?

Não só é falso esse tipo de visão sobre a inteligência como se torna cada vez mais irrelevante. As fórmulas que decoramos podem ser colocadas num programa simples. As operações matemáticas chatas que fazemos podem ser feitas por computadores. O Word pode decifrar nossos anagramas, e com o tempo a inteligência artificial será avançada o bastante para tornar todo esse exercício irrelevante. Os cálculos elementares, que dependem dessa lógica crua serão totalmente realizados por maquinas, sobrando para as pessoas apenas a liberdade de criar coisas a partir desses princípios, sem terem de se preocupar com cálculos.

Hoje em dia te dizem que sua mente é exercitada pelo exercício cansativo e repetitivo da matemática. Que a mente é como um músculo. Mas isso é uma fraude que existe para a alienação. A partir do momento em que você concentra sua energia em cálculos inúteis para os quais você não dará nenhuma aplicação que seja uma prova(vestibular) você na verdade está se tornando mais idiota, porque você não está criando. Está se tornando uma maquina de interpretar e calcular, que poderá, em breve ser substituída por um programa de computador. Aliás, pior, como esse tipo de exercício mecânico é exaustivo, você provavelmente não irá querer ficar perto do conhecimento que ele decorre depois de passar na prova. Exercitar a capacidade de calculo exaustivamente é um erro, e uma pessoa com boa capacidade para calcular não é inteligente! Uma pessoa capaz de dar aplicação prática sim, essa é inteligente. Porque inteligência é criatividade, e essa é a qualidade essencialmente humana que jamais será substituída pela maquina. Afinal de contas, criar não é exaustivo como levantar pesos e resolver equações matemáticas entediantes.

A criatividade é mais incrível porque não engloba só o pensamento e a inteligência. Também é uma qualidade que engloba a sensibilidade. Um artista é sensível e criativo. Uma pessoa só sensível e sem criatividade provavelmente só será constantemente movida por aproveitadores. É o caso de muitos religiosos. Se fossem criativos, no entanto, dificilmente cairiam nas garras de um religioso, pois teriam seus sentimentos canalizados na arte.

No futuro tudo o que restará ao homem será o raciocínio crítico e a criatividade, tanto sentimental quanto racional. Você seria capaz de sobreviver nesse futuro?

I’ve seen

I’ve seen the pretty colors
Of those dark eyes
They shine, like heaven would
They where looking at me

Oh yes, i have seen.

I've seen a beautiful smile
Shiny, brings light to the soul
Gets you thinking
That live is really worth it

Dam right, i've seen it!

I've seen a beautiful soul
Full of love, open minded
Honest, innocent, clever.
Touched me deeply.

Hell yeah, i've seen that!

I saw her black hair
When she went away
My tears made her fade
I couldn't see her anymore

No, i see nothing now

Now my eyes are filled
With endless tears
My heart pumps slowly
My mind works slowly

I'm all alone, and it hurts
Hurts to see all the hope going away
And being unable to do anything
Makes you desperate.

I've seen happiness
But i don't see that anymore.
Maybe i'll see it tomorrow
But not today...

Today all i see is darkness

Livro novo!

Foi a uma da manhã do dia 7 de julho que meu primeiro livro ficou pronto. 71 páginas de um misto entre filosofia e paixão.

Criarei um marcador para alguns trechos desse livro que já estão no blog e, assim que terminar a correção, farei o upload dele pra a internet, deixando-o disponível para quem for louco o bastante para ler.

Vejam minha introdução:

Não sei porque escreverei isso. Não sei se aconteceu, se foi sonho, se tive algum tipo de alucinação. Em primeiro lugar estou certo de que só lerá isso até o fim quem for meu amigo. Afinal, quem mais estaria interessado em ler o que eu escrevo? Não escrevo de forma dramática, arrebatando as pessoas. Por mais que eu seja um apaixonado o pensamento acaba sendo um pouco maior do que essa paixão. Acho que eu queria tornar isso tudo real. Fazer esse sonho se tornar realidade. Queria que uma das pessoas que ali estavam comigo lessem e me dissesse que não sou louco. Para quem estou mentindo além de mim mesmo? Eu só estou escrevendo isso porque queria que ela lesse. Queria que ela visse isso e me dissesse: “ela sou eu”. Aquela que simplesmente acalma meu coração. Sem explicação, sem razão. Só alivia os tormentos e traz paz. Numa noite eu consegui me apaixonar por ela profundamente, e meu maior medo é que ela não exista. Que ela seja eu mesmo. Que eu esteja sozinho. O livro também tem reflexões filosóficas. Reflexões importantes para esse mundo. Mas não sou mentiroso ao ponto de dizer que escrevi isso por querer passar qualquer idéia adiante. Cada palavras desse livro, cada descrição. É tudo por ela. Eu só sou eu mesmo quando falo dela. Aí sim minha paixão transparece. Longe dela eu sou um pensador frio. Acho que é só depois de conhecer essa sensação que você pode passar a sentir falta. Não sei dizer se rogo uma maldição pela falta que isso faz ou uma benção pelo bem que fez.

Ah, mas vai ter birita pra comemorar isso!

A filosofia do Zombie Walk

Acredito que algumas pessoas podem ver como uma contradição as coisas que eu escrevo com essa imagem de perfil, que me mostra sorrindo com uma cicatriz(muito bem feita pelo João). Afinal, as coisas que escrevo têm a pretensão de ser sensatas, e o zombie walk é, dum ponto de vista “sensato” uma insensatez. Decidi escrever esse post pra falar sobre o que o zombie walk significa pra mim. Digo pra mim porque cada pessoa atribui um significado a ele.

Antes de falar do zombie walk é preciso voltar á paixão por filmes de zumbi e do motivo pelo qual ele causa tamanho impacto em mim.

Segundo a minha visão de mundo, muitas pessoas vivem como zumbis atrás de “cérebro” e estão tão habituadas a isso que já não pensam. Gosto de lembrar de uma cena do filme “madrugada dos mortos” em que os sobreviventes estão no terraço de um shopping onde estão se escondendo e os zumbis vêm andando para o lugar. Um dos sobreviventes pergunta:

- Porque eles estão vindo pra cá?
- Instinto. Talvez não estejam atrás de nós. – responde o policial.

Acho que as implicações dessa fala são enormes. Nesse filme você repara que os zumbis tendem a repetir hábitos que eram muito comuns no tempo de vida. Assim, Andy, enquanto zumbi, esfrega a mão no quadro, porque quando era vivo ele escrevia muito neste, e por esse mesmo motivo os zumbis cercaram o shopping e sabiam exatamente por onde entrar, por mais que, como zumbis, não tivessem muito raciocínio.

Assim, nos filmes de zumbi eu vejo críticas sociais a respeito do comportamento das pessoas, que são condicionadas por impulsos que nunca questionam. Vão seguindo uma coisa que não é parte delas. Como nos zumbis, é o agente causador (vírus, bactéria, componente químico, espírito) que condiciona os zumbis. Eles não passam de escravos de impulsos que nem são deles. No meio dos zumbis, todo aquele que é humano acaba sendo devorado.

No filme REC, produzido na Espanha, não há uma crítica social tão intensa. Eles usam as mortes e a violência como uma forma de aterrorizar. Nesse filme você fica em desespero, porque não se sabe o que esperar de nada. É tudo sempre uma surpresa até o final. Não há como fazer conjecturas sobre o que acontecerá depois. É puro e belo terror.

Isso tira do espectador a sensação de segurança e dá uma nova perspectiva. A forma impulsiva de agir. Por mais que nós estejamos sempre buscando ser racionais, sempre haverá impulsos, e eles só são ruins quando são condicionados pelos outros ou quando, fazem mal a nós e aos outros em termos práticos. Não há nada de errado em se masturbar, beber, gritar, se vestir de zumbi e caminhar pela cidade ou qualquer outra loucura, contanto que a pessoa que o faz tenha consciência de que não prejudica os outros com suas loucuras.

Pra mim o zombie walk representa essa dualidade. Quando eu me visto de zumbi, em primeiro lugar tenho a boa sensação de estar fazendo uma coisa totalmente irracional e sem justificativa sensata. É um simples impulso, que me dá uma sensação de liberdade, pois viver de forma sensata reprimindo os impulsos é sempre sufocante e estúpido. Bem disse Erasmo no Elogio da loucura.

Por outro lado eu também estou mandando uma mensagem. Estou fazendo exatamente o que querem que eu faça. O zombie walk é uma paródia do nosso estilo de vida. Eles não querem um zumbi? Então que seja, dou o zumbi a eles! Não falo. Não penso. Não escolho. Sou só um zumbi.

E é exatamente isso. Pra mim o zombie walk é uma forma de rir do sistema, rir do consumismo. Acima de tudo, é uma forma de rir de mim mesmo e de me divertir.

Você acha idiota? Que bom! Eu também! Quem disse que algo idiota é ruim? É estúpido e, de um ponto de vista sensato, sem sentido. Mas é só quem sente a liberdade, a quebra de todas as normas que poderá entender a verdadeira essência do zombie walk: A liberdade!

O poder e o fim do mundo

A religião perdeu o seu poder. É o que costumam no dizer. Na época do iluminismo a mente humana se emancipou. Mas o que é a mente humana? Só consegue alcançar a emancipação por esforço próprio! Se formos pensar bem, a religião ainda é um método alienante aplicado de forma conveniente.

Se por um lado se prega que a religião é o fundamento da moral, e que sem ela a humanidade estaria reduzida à selvageria, por outro as pessoas simplesmente não percebem que a religião está pregando, atualmente, em muitas vertentes, uma ideologia que sustenta o sistema selvagem no qual vivemos.

É claro que, como demonstrei no primeiro post desse blog, a moral não pode ser efetivamente fundamentada pela metafísica religiosa, pois o pensamento crítico simples tornaria a moral ineficaz. Para quebrar essa moral o indivíduo só precisaria de uma risada, só precisaria perceber a fraude da metafísica religiosa.

Mas o tema aqui não é debater a moral, e sim o contexto em se coloca, de forma conveniente, teorias sobre o anticristo e o fim do mundo.

Primeiro é bom deixar claro que nada garante a um indivíduo que lê a bíblia que as coisas escritas ali são profecias para os tempos de hoje. Aliás, é fundamental entendermos que, no processo histórico, todas a profecias foram “cumpridas” inúmeras vezes. Uma curta argumentação demonstra isso. A bíblia é um livro que pode ser interpretado de diversas maneiras. Pessoalmente, creio que há interpretações bonitas e úteis para a humanidade, mas a linguagem vaga empregada nesse livro dá abertura a interpretações funestas.

Recentemente correu o boato mundialmente de que querem criar microchips para controlar a população mundial, localizando os indivíduos. Para isso dariam a garantia de que esse sistema era apenas uma forma de manter o dinheiro de cada indivíduo seguro. Ignorando a discussão filosófica que demonstra que o dinheiro é uma farsa, vamos à base epistemológica, com a qual interpretaremos isso.

Minha primeira reação foi uma risada. Pensei: “mas que burrice, é claro que isso pode ser falsificado e é claro que o dinheiro poderá ser roubado. Não é mais fácil controlar as “finanças” através de uma avaliação rápida do material genético do que com microchips?”

A partir daí cheguei a uma conclusão simples: o sistema teria a utilidade de controlar o lugar em cada pessoa do mundo está. Isso é dá aos indivíduos que dominam a tecnologia um poder enorme, pois poderão saber onde cada pessoa do mundo está. Não só isso. Como o microchip funcionaria como forma de controle monetário, uma pessoa poderia simplesmente ter o chip desativado e se tornar indigente. Ou seja, isso impediria qualquer pessoa de reagir, de lutar contra o sistema.

A tentativa de justificar esse microchip com o fato de que ele estaria monitorando a saúde do indivíduo é risível, já que nós já temos mecanismos internos que detectam a maior parte das doenças. Mesmo assim, porque um aparelho monitorador de saúde precisaria ter um dispositivo que permite que a pessoa seja rastreada?

Não precisa.

Quando entrei em contato com essa informação fiquei indignado. Obviamente, meu sentimento foi de que isso deve ser combatido, pois eu estou partindo da premissa de que todos os cidadãos (incluindo eu mesmo) devem lutar por uma sociedade mais justa e igualitária.

É aí que a religião entra em cena, com seu maldito poder alienante. Foram lançados filmes chamados “deixados para trás”, que tratavam desses eventos como sendo o cumprimento de uma profecia. Segundo o paradigma apresentado, o homem que estaria por trás disso é o diabo. Por mais ridículo que seja, esse pensamento poderia ser útil, se não fosse acoplado a outro funesto. O de que Jesus voltará e levará os fiéis.

Em contato com essas informações as pessoas pensam: “É o fim dos tempos, Jesus voltará e me levará daqui.” E o que isso estimula?

Indiferença!

Afinal, de que adianta lutar contra o diabo se a profecia diz que ele tomará o mundo? De que adianta preservar um planeta se nós seremos levados dele? É tudo uma perda de tempo, segundo esse paradigma!

Diante disso, os indivíduos entram em contato com outra informação. A de que só serão levados para longe desse mundo que está prestes a ser dominado pelo “diabo” se forem fiéis. Em outras palavras, só se eles se mantiverem debaixo da orientação(manipulação) da religião é que serão salvos. O paradigma vai num nível tão podre que diz ao indivíduo que Deus está vigiando cada uma de suas ações, e isso acaba se tornando uma guerra mental.

No final, muitos se rendem, porque estão num mundo injusto(todos estamos) e na igreja prometem algo melhor a eles(que nunca virá). Nesse sentido a religião se torna um importante fator alienante, e uma das engrenagens que mantém a sociedade estagnada. Hoje em dia não se pensa em Deus como algo maior à que estamos conectados. Não. Hoje Deus é um sujeito que vai te dar tudo aquilo que aqui você não tem se você fechar seus olhos e sua mente. Se você não comer da fruta da ciência do bem e do mal. Na igreja eles idolatram a ingorancia e a servidão. Nós nunca saímos da idade média!

Meu conselho é: nunca caia nessa idéia. A situação do mundo é crítica demais para permitirmos que a ilusão da religião tome conta do mundo. A crença é, sim, válida, mas nunca em contexto coletivo. Não aceite a religião do outro, e não pense que alguma coisa justifica a indiferença.

Esse é só um dos exemplos de como a religião distorce a realidade e a mente das pessoas, criando ambiente alienadores e fazendo parecer que a convicção, quando na verdade ela é uma prisão.

Eu não quero o fim da religião. Até porque, isso seria uma ilusão. O que quero é o fim da manipulação da opinião acerca do mundo. Que a ciência deixe de ser combatida, e que a igreja passe a formar ativistas ao invés de pregar o fim do mundo. Se a humanidade vai sucumbir ou não ainda é escolha nossa!

Um diálogo sobre o fundamento metafísico da ciência

- Vocês não estavam por falar dos fundamentos metafísicos da ciência?
- Sim. A questão aqui é que há três fundamentos epistemológicos metafísicos na sua ciência que limitam o conhecimento à infantilidade dos pensadores.
- Espera aí. - disse Frederico. - o que é epistemologia e metafísica?
- Um conhecimento metafísico é aquele que não pode ser refutado ou provado. Deus, por exemplo. Uma base epistemológica é o ponto do qual um pensamento parte. Esse ponto, por mais que esteja relacionado ao empirismo, sempre sofre influências da metafísica. Sabe o que é empirismo, certo?
- Sim. É o conhecimento que vem através da experiência.
- Então. Toda a ciência tem fundamentos metafísicos, e isso é inevitável. Até onde eu sei, a nossa ciência também é fundamentada assim. O problema é que muitos dos seus pensadores simplesmente não admitem isso. Há pessoas que estão convencidas de que a observação empírica científica é destituída de metafísica, e é justamente esse o erro da sua ciência. Vocês querem se fundamentar em coisas sólidas, e por isso ficam mais próximos da religião.
- Como assim? Que fundamentos são esses?
- O primeiro é que vocês presumem que o universo é. Ou seja, presumem que estudam as coisas como ela são no infinitivo e não como elas estão. Aliás, na linguagem mais difundida nem há distinção entre ser e estar. É o classico verbo “to be”. A questão é que, segundo essa premissa, vocês conseguem um bom entendimento matemático, já que a matemática é essencialmente estável, mas encontram dificuldades em encontrar padrões nos seres vivos e, especialmente, na natureza humana. Dizer que as coisas são, e não que estão, dificulta profundamente o estudo das obras de arte. Justamente por isso os cientistas não dão muita atenção à arte no seu planeta.
- Você está sendo injusto com os cientistas do meu planeta. Nunca ouviu falar no pensamento sistêmico?
- Sim. Foi como o zero um disse. Vocês têm o paradigma do holograma e o pensamento sistêmico à disposição, mas há homens que negam essas premissas por infantilidade.
- Fale mais sobre o paradigma do holograma.
- Eu não costumo levar meus raciocínios pela tangente. Deixe eu terminar de falar sobre os fundamentos metafísicos e aí eu te falo do paradigma holográfico.
- Certo.
- Pois bem. Outro paradigma metafísico da sua ciência é o pressuposto da simplicidade, ou a Navalha de Occam. Segundo essa premissa, a maneira mais simples e explicar um evento deve ser a verdadeira. Noutras palavras, vocês não buscam investigar algo além dos seus conhecimentos. Tentam englobar coisas novas no seu conhecimento prévio, simplificando o universo de forma absurda. Um bom exemplo disso é que chamam muito do que a mente humana produz de loucura, quando isso nem sempre é verdade. Se fugir dos paradigmas aceitos na época a navalha de Occam retalha o conhecimento novo. Um erro.
- Imagina a surpresa de Occam quando pegaram a navalha dele pra cortar o filme do holograma! – Disse Matias
- Hahahahaha! Deve ter levado um susto.
- O que?
- Isso vai ser explicado, Roberto. Vamos nos focar no assunto.
- Você é muito coerente para ser um artista!
- Eu fui pensador como o zero quatro por quarenta anos. Sou músico a dois, e não abandonei o pensamento. Só estou explorando outras possibilidades.
- Certo. Continue.
- A ultima das premissas metafísicas da sua ciência é, para mim, e mais absurda de todas elas. Segundo essa premissa, para ter conhecimento sobre uma coisa qualquer deve-se separá-la em partes do seu contexto e estudar cada parte, para depois unir as partes e entender o todo.
- Ora, mas a biologia funciona muito bem nessa premissa!
- Não funciona não. Vocês pensam que funciona, mas a verdade é que os seus médicos têm incríveis dificuldades para identificar os quadros patológicos. Aliás, eles ficam loucos em casos de comorbidade. Isso sem falar que estão totalmente despreparados para entender a indivisibilidade corpo/mente. Fazem drogas que, supostamente, deveriam ajudar as pessoas e que não ajudam, além de tentarem justificar problemas de humor com falhas na produção de hormônios.
- Seus organismos são similares ao nosso?
- Meus Deus, como você foge do assunto! Enfim, esteticamente são sim, mas nossa constituição química e a estrutura do código genético são diferentes. Você entendeu porque a sua ciência é infantil? Todas essas bases metafísicas se resumem numa frase: “está tudo sob controle”
- Me fale sobre o paradigma holográfico.
- Certamente. Já fizeram esse experimento no seu planeta. Um objeto qualquer é banhado por dois feixes laser, e através desses é capturado num filme o espectro holográfico desse objeto. Quando outro laser banha o filme, ele mostra a imagem do objeto banhado tridimensionalmente.
- Incrível!
- Não terminei. Veja que esse experimento foi feito no seu planeta a mais de vinte anos.
- Como eu não soube disso?
- Porque seus meios de comunicação são repletos de conteúdo alienante, e entretenimento vazio. - disse zero um enquanto se equilibrava numa pilastra.
- Então, se você olhar para o filme, só verá alguns vultos, mas o laser faz daquele filme uma imagem nítida. O mais interessante é que em cada parte desse filme há o todo. Ou seja, você não pode dividir uma imagem holográfica, porque se cortar a metade ainda assim poderá ver todo o holograma, só que menor.
- O que?!
- Você entendeu. É justamente isso. Não há como dividir um holograma, e portanto, isso desconstrói o paradigma de que tudo deve ser dividido para ser compreendido, já que o todo está em cada parte do universo. Isso também se prova pelo fato de que elétrons se comunicam com uma velocidade maior do que a da luz. Os outros princípios são muito bem refutados pelo pensamento sistêmico, que você conhece. Em resumo, a moral é a limitação racional imposta aos sentimentos, e a ciência é a limitação sentimental imposta aos pensamentos. Tudo separado, tudo parcial. E a parte mais estranha disso tudo é que existem homens no seu planeta que já sabem disso. Eles simplesmente não conseguem passar adiante. É justamente essa a finalidade dessas visitas. Dar apoio aos homens que já descobriram como emancipar o pensamento e o sentimento no seu planeta. Nós só queremos que vocês aprendam sobre o conhecimento que já existe no seu planeta, para aí sim podermos entrar no seu planeta sem ter que enfrentar reações absurdas. Aí sim nós poderemos mostrar a vocês até onde o nosso conhecimento vai.
- Você acha que é disso que a humanidade precisa? - perguntei
- Vocês precisam disso, mas não é “disso” que precisam. Noutras palavras, isso não é tudo, mas é minha contribuição como artista. Sabe, a filosofia é uma arte! E com elas que a revolução acontece dentro da mente!

Fiquei estupefato com aquelas coisas. Eu precisava de tempo para refletir sobre aquela informação.

- opa, chegou a hora. - disse Matias.
- Hora de que?
- De ir. A apresentação sobre história da nossa civilização acabou e precisamos nos unir aos outros do grupo.
- Certo.
- Foi bom conversar com vocês, Gigantes - disse zero um.
- Também acho. - Disse zero três. - mas olha a cara deles! Parecem perturbados! Acho que falamos coisa demais de uma vez só!